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No meu Palato

No meu Palato

Obrigado 2015 | Olá 2016

O Ano de 2015 está a chegar ao fim e com ele as festas de Fim de Ano estão aí a bater à porta.

Não sei como é em vossas casas, mas por aqui a noite de passagem de ano é passada em casa e em família.

 Ao contrário do que aconteceu há uma semana atrás, a noite "velha" (como dizem nuestros hermanos) será passada em casa dos meus sogros e com a restante família. Os casados já devem estar familiarizados com esta rotina, Natal num lado, ano novo noutro...

Como a família já é grande, uns trazem umas coisas, outros outras, e é assim que se vai fazendo a festa. Simples e descomplicada. Sem trajes de cerimónia, sem ementas requintadas, mas com muita alegria. Como é obvio, uso a desculpa do último jantar do ano para me esticar um pouco mais nos vinhos :-P

 

À semelhança do que fiz com a ceia de Natal, vou partilhar convosco os vinhos que escolhi para esta noite, que se quer festiva.

 

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Não sei como costumam ser as vossas tradições de fim de ano, mas aqui por casa há algo que nunca falha: queijo, e do bom. Tem de haver queijo de qualidade na mesa de fim de ano. Para o acompanhar escolhi o Taylor Fladgate Late Bottled Vintage 2009 (os mais atentos repararam que já tinha escolhido este LBV no Natal). É um vinho feito, pronto a ser bebido e com uma relação preço/qualidade incrível. É como um vintage de meio caminho, com fruta dos bosques fresca, alguma amêndoa e taninos no ponto. Surpreendeu no Natal, e por isso, voltarei a falar com ele na noite de passagem de ano. Irá dizer adeus a 2015 nos petiscos e queijos, e olá a 2016  nas sobremesas.

 

Para acompanhar as entradas escolhi o Pêra Manca 2013 Branco que veste um amarelo citrino com nuances douradas. No nariz é fresco, com fruta tropical, ameixa amarela, citrinos, maçã verde e amêndoa.
Na boca comporta-se bem, conjugando acidez com frescura, ideal para harmonizar marisco.

O bacalhau terá como par o Meandro Quinta do Vale do Meão 2012 Tinto, que embora ainda um pouco fechado, já mostra aquilo que pode vir a ser.  Possui cor rubi com concentração considerável e algum lilás na aureola. No nariz mostra grande profundidade, complexo, com muitas nuances aromáticas, especiarias e tabaco subtis, mas sem que nenhum aroma se sobreponha a outro. Na boca já é vibrante, com boa madeira e elegante. Surpreende pela grande variedade de sabores (para a idade que tem), com corpo médio e final de boca longo.

 

Para festejar a chegada de 2016 escolhi uma explosão de maçã verde, limão, pêssego e amêndoa condensados no Malard Champagne Cuvée Premium.

 

Que o vosso melhor de 2015 seja o pior que vão encontrar em 2016.

Parafraseando um grande senhor, em 2016 ... façam o favor de ser felizes!!!

O que me vai no palato | A minha mesa de Natal

A ceia de Natal está a chegar, e com ela a vontade de nos sentar-mos com a família à volta de uma mesa.

Há coisas que não podem faltar nesta ceia: bons queijos, marisco, bacalhau cozido com batatas,  rabanadas, formigos, aletria, bolo rei e, claro, (para mim o principal) bom vinho. 

A preparação destes pratos principais segue, normalmente,  tradições regionais bem enraizadas ou um saber-fazer familiar, fazendo com que alguns vinhos se adaptem melhor do que outros.

Longe vai a altura em que esta selecção obedecia a critérios rígidos: vinho branco para o peixe e marisco e vinho tinto para a carne. Nos dias que correm, a escolha de vinhos é muito mais dinâmica e um bom tinto tanto pode acompanhar um prato de carne como um de peixe.

Neste ano, a noite de consoada será passada em casa dos meus pais, sendo a minha mãe a cozinheira de serviço. Para a noite única de mais logo seleccionei os seguintes vinhos:

Mesa Natal

Para a altura em que petiscamos algo antes das refeições, escolhi o Taylor Fladgate Late Bottled Vintage 2009. Com cor vermelha rubi profunda, cereja no nariz e uma grande vibração aromática  fruta fresca. Na boca, cassis, ameixas e amora combinam harmoniosamente com os bem integrados e firmes taninos. Com um final elegante é o vinho ideal para acompanhar um queijo da serra com compota de abóbora e noz. Pode ainda ser degustado mais tarde a acompanhar o bolo-rei.

Tendo o Quinta Mendes Pereira Reserva Branco 2010 um paladar muito jovem e fresco, aromas de boca intensos, bem frutado, volumoso e com nuances de pêssego e damasco é o vinho certo para acompanhar as entradas de marisco. Na boca este vinho apresenta-se fresco, estruturado e persistente, ideal para abrir a porta para o bacalhau.

Para harmonizar o prato principal preparado pela minha mãe, bacalhau cozido com batatas, escolhi o Duorum Reserva Vinhas Velhas 2011 de José Maria Soares Franco. Possuidor de uma cor vermelha profunda e muito densa e com aromas intensos e complexos, dominados pelos frutos do bosque bem maduros, como amora e o cassis, aromas de violeta e de madeiras exóticas é o vinho perfeito para requintar a noite de consoada. Espero surpreender a minha família com a complexidade deste vinho, com a sua acidez perfeita, com os taninos firmes, bem envolvidos e maduros e com a sua voluptuosidade. O seu aroma retronasal e final persistente irão avivar alma e deliciar o palato.

Por último, escolhi o Champagne Moët & Chandon para acompanhar as sobremesas de Natal. 
Com os seus frutos brancos (maçã, pêra, pêssego branco), os citrinos (limão, laranja e tangerina), nuances florais e notas elegantes de frutos secos (nozes e pinhões) será o néctar ideal para esperarmos a abertura dos presentes :-P

Aproveito ainda para com este post vos desejar um excelente Natal de 2015, cheio de saúde, paz, felicidade, e se possível com grandes vinhos :-P


 

Christmas Wine Experience - The Yeatman Hotel | Os 5 sentidos

Já era tempo de fazer um balanço do Christmas Wine Experience 2015 que decorreu no The Yeatman Hotel no passado fim-de-semana...

Foi o primeiro Christmas Wine Experience em que participei, e até hoje, o melhor evento vínico em que estive presente. Qualidade, quantidade e requinte sentados à mesa numa tarde solarenga, à beira Douro...

 

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É, sem dúvida, um excelente momento para falar cara a cara com alguns dos melhores produtores ou enólogos (só por exemplo, José Maria Soares Franco, que já  foi responsável pelo Barca Velha esteve presente)  sem a confusão massiva de alguns dos eventos vínicos a que estamos habituados. Como se isso já não bastasse, o chef Ricardo Costa conjugou os vinhos com as suas criações habituais e com uma selecção criteriosa de queijos e enchidos nacionais que permitiram criar e preparar harmonizações inesperadas. Neste ano a grande novidade foi o Bazar de Natal com produtos artesanais portugueses, que me pareceu ser um sucesso.

Como tinha prometido aqui fica o Top 5 dos vinhos do Christmas Wine Experience 2015. Curiosamente, cada um deles, despertou-me um sentido diferente, a saber:

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 5. Mouchão Colheitas Antigas 2003: Olfacto

Produtor: Herdade do Mouchão

Castas: Alicante Bouschet e Trincadeira

Região: Alentejo, Portugal

Álcool: 14,5%

Preço: 50€

Avaliação: 94/100

Notas de prova: Cor granada surpreendentemente intensa e com nariz arrebatador, finíssimo, intenso e largo. Bastante complexo com lufadas de menta, folhas de eucalipto, compota de amoras e pimenta preta.

Na boca tem uma impressionante concentração de taninos sedosos, frescura e persistência gorda.

 

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 4. Ramos Pinto Duas Quintas Reserva Especial 1999: Tacto

Produtor: Ramos Pinto

Castas: Castas misturadas de vinhas velhas (provavelmente Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Barroca)

Região: Douro, Portugal

Álcool: 14,5%

Preço: 90€

Avaliação: 95/100

Notas de prova: Sombrio, intenso, elegante e denso.  No copo é grená concentrado com pinceladas violáceas. No nariz ainda revela muita fruta madura, ameixa, groselha, com toques de esteva, pinheiro e pimenta branca.
Na boca é gordo, exibindo taninos muito bem conjugados, com entrada volumosa e saída estruturada e longa. 

 

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3. Fonseca Vintage Guimaraens 2013: Audição

Produtor: Fonseca

Castas: Touriga Nacional, Tinta Roriz e Touriga Francesa

Região: Douro, Portugal

Álcool: 20%

Preço: 56€

Avaliação: 98/100

Notas de prova: Que vinho!!! No copo o núcleo violeta escuro é rodeado por um arco magenta. No nariz começa com arrebatadores e intensos aromas de frutos do bosque e acaba com brisas de alperce, tabaco, resina e chocolate preto. É muito rico, gordo, suculento e enganador. Apresenta-se aveludado, mas os taninos completam-lhe o corpo, despedindo-se com um aperto bastante forte. É um bom vinho para falarmos e irmos ouvindo ano após ano. É excelente agora, pode ser único daqui a 20 anos.

 

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2. Taylors Vintage 1994: Paladar

Produtor: Taylors

Castas: Touriga Nacional

Região: Douro, Portugal

Álcool: 20.5%

Preço: 300€

Avaliação: 99/100

Notas de prova: Poderoso!!! No copo é carmim intenso e opaco, revelando a sua idade na aureola atijolada. O nariz ainda tem (incrivelmente)  aromas de amora e groselha preta em compota, apimentadas pela fragrância de violetas.

Na boca revela alto teor tânico e um estilo reservado. Corpo enorme subtilmente complexo, elegante, intenso, equilibrado e com duração excepcional. Final denso e completo com figos gulosos e cassis.

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1. Fonseca Tawny 40 anos: Visão

Produtor: Fonseca

Castas: Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Barroca, Tinta Roriz, Tinto Cão, Tinta Amarela

Região: Douro, Portugal

Álcool: 20%

Preço: 180€

Avaliação: 100/100

Notas de prova: Arrepiante!!! Um vinho do Porto sublime, requintado e arrebatador, de muita idade e que veste uma cor dourada-verde azeitona, devida a muitos anos de envelhecimento em casco. Quatro décadas de envelhecimento/evaporação concentraram este Porto numa densidade e cor fantásticas. No nariz revela boa madeira de carvalho, especiarias como  canela e noz-moscada, aromas de café e de frutos secos que sugerem nozes e amêndoa. Na boca possui uma textura luxuriante, viscosa, voluptuosa, chega mesmo a quase ser suntuoso.
Um incrível e duradouro final deixa o palato cheio de especiarias envolventes, assim como uma nota persistente de madeira fina e vinhedo.


Resumindo, se tiverem oportunidade, no próximo ano não faltem a este evento, vale mesmo a pena. A relação qualidade/preço do evento  é incrivelmente alta, aquilo que trazemos connosco é muito mais que aquilo que lá deixamos...

 

De todos os vinhos que referi neste post, se tivesse de optar por um para vos recomendar, escolhia o Fonseca Vintage Guimaraens 2013, um vinho surpreendente que só pode melhorar.

O que me vai no palato | História ou Sabor?

Um post diferente, um exercício de imaginação…

Todos nós quando procuramos um novo restaurante, colocámos nos critérios de “pesquisa” a história do mesmo ou então a competência do chef. Mas também já todos nós tivemos uma desilusão quando levamos a primeira garfada à boca…

Pensamos para nós mesmos: “há demasiada comida boa por aí, não iremos voltar cá apenas pelo nome do restaurante”

Agora, se esta experiencia acontecer com um bom vinho, temos a mesma reacção?

Dei por mim a pensar nestas coisas, há uns dias, ao falar com um amigo que tinha provado um Barca Velha 2004 e não tinha gostado (faço já uma declaração de interesses, para mim o Barca Velha é o melhor vinho Português, uns anos melhor, uns anos pior, mas sempre excelente – vai merecer um post exclusivo).

 O que é mais importante para vocês: se o vinho vos enche as medidas ou se tem uma história convincente por baixo da rolha?

 

o que vai

 

 

Faço esta pergunta, porque há uma nova corrente ideológica no sector dos vinhos que argumenta que tudo se resume à história da garrafa e nada (ou pouco) a ver com o seu conteúdo.

Esta visão é um pouco redutora, como se um humilde consumidor não podesse saborear com prazer um vinho sem que para isso necessitasse de tirar um doutoramento sobre o processo de vinha, vinificação e história dos vinhos.

Não me interpretem mal, eu adoro ouvir histórias e começo a ganhar gosto também por as contar (daí este blogue), parece-me um bom ponto de partida, usar as minhas avaliações sobre vinhos ou restaurantes como uma plataforma de lançamento para contar histórias e com isso, que me fiquem a conhecer um pouco melhor.

Voltando aos vinhos, se o sabor de um vinho não for convincente, para quê perdermos tempo com a sua história? Alguma vez comentaram com um amigo: “este bife não presta, mas a vaca de onde ele veio tinha 3 anos, era bastante elegante e a quinta onde cresceu era lindíssima”?

Para mim esta questão central resume-se a isto, para além de nos alimentarmos com vista à nossa sobrevivência, o prazer não é o aspecto essencial que nos faz procurar boa comida e bons vinhos?

 

Às vezes, nós decidimos provar algo como uma experiência ou um desafio. Pratos como perdiz, a lampreia ou o sarrabulho vêm-me agora à mente, e eu ainda me lembro da minha primeira ostra crua, horrível; agora acho-a algo sublime. Acontece o mesmo com o vinho, mas segundo um processo muito mais complexo: um porto vintage jovem não revela todo o seu esplendor, mas com experiência vamos aprender a discernir como ele vai envelhecer.

 

Mesmo com estas ressalvas, acho que é difícil comprar o argumento de que a história dos vinhos prevalece sobre tudo. A maioria dos bebedores de vinho não têm tempo ou inclinação para explorar a história de fundo da garrafa antes de comprá-lo. Eu tento contar tantas boas histórias sobre o vinho quanto aquelas que me for possível, mas quando eu avaliar um vinho nesta página, primeiro faço-o na qualidade do seu sabor, mais tarde contar-vos-ei a minha história sobre ele…


Nota: A garrafa do Barca Velha 2004 do meu amigo tinha de estar estragada, só pode :-P

Carmim Reguengos Garrafeira dos Sócios Tinto 2008 | Madeira, corpo e suavidade

"Cada novo amigo que ganhamos no decorrer da vida aperfeiçoa-nos e enriquece-nos, não tanto pelo que nos dá, mas pelo que nos revela de nós mesmos." Miguel Unamuno

 

Um dos meus vinhos favoritos, senti-lo no meu palato é como receber em casa um velho e querido amigo, daqueles em que podemos confiar e que nunca nos desilude.

 

O ano de 2008 com Inverno frio e  Verão quente, com temperaturas próximas dos 40ºC na altura da maturação ajudou a retirar o melhor das três castas que constituem este néctar; taninos firmes e perfil seco da Aragonez, bom corpo da Castelão e taninos redondos da Trincadeira. Todas estas castas convergem numa característica, bom potencial de envelhecimento!!!

 

No copo apresenta muita cor vermelha rubi cristalina e límpida, com periferia atijolada resultante dos 7 anos de envelhecimento em garrafa.

No nariz  ainda revela fruta madura e ameixa evoluídas a especiarias, tabaco e baunilha. A madeira é elegante resultante de 8 meses em meias pipas de carvalho francês.

Na boca é suave, seco, encorpado, com boa acidez, taninos finos e persistentes e com um final de boca longo e harmónico. Acidez, álcool e taninos sublimemente harmonizados.

Provei meia dúzia de garrafas durante o último ano, todas elas revelaram carácter, elegância e harmonia resultantes da robustez própria de um grande vinho. Bom para beber já ou durante os próximos 3 anos.

 

É um bom amigo com quem podemos contar sempre, que aperfeiçoa e enriquece o nosso palato e revela a nossa paixão por um bom vinho.

Escolha certa e segura para um jantar especial em que a qualidade do vinho não possa falhar!!!

 

 

Produtor: Carmim

Castas: Aragonez, Castelão eTrincadeira

Região: Alentejo, Portugal

Álcool: 15%

Acidez: Não revelada

Prova: 2015

Harmonizações: Perdiz em escabeche, Lombinho de vitela com crocante de presunto, Bacalhau confitado .

Preço: 19€

Avaliação: 85/100

 

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