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No meu Palato

No meu Palato

Um jardim muito bem cuidado | Longroiva Hotel Rural

"O segredo não é correr atrás das borboletas... É cuidar do jardim para que elas venham até ti."  Mário Quintana

Cada local que passa pela nossa vida, não passa sozinho, porque cada sitio e pessoas que nele coabitam são únicos e nenhum substitui o outro! Quando um lugar é mágico, para além de não passar sozinho, também não nos deixa sós, uma vez que deixa algo dele e leva um pouquinho de nós. Essa é a mais bela responsabilidade de qualquer relação, seja ela de que tipo for, dar e receber alguma coisa; e é também a prova de que as pessoas/locais não se encontram por acaso.

Tudo isto a propósito da visita que fiz ao Longroiva Hotel Rural, um local que deixou muito em mim e que se encontra a três passos de dois patrimónios mundiais, Foz Côa e o Alto Douro vinhateiro...

Este bonito empreendimento, é de autoria do arquitecto Luís Rebelo de Andrade, que deu uma roupagem contemporânea ao antigo edifício termal de estilo neoclássico.

Longroiva Hotel Rural - Exterior

Longroiva está carregada de história, os cavaleiros Templários, a quem foi doada esta vila, beneficiaram das suas águas sulfurosas e quentes, onde, segundo reza a lenda, a rainha Santa Isabel (a do milagre das rosas), em 1282, tomou banho numa banheira em granito de forma antropomórfica, antes de casar com o rei D. Dinis (o Rei poeta e lavrador), em Trancoso. 

O Hotel herdou todo esse peso histórico e encontra-se bem harmonizado nesta zona rural, de onde emergem diversas fontes termais com propriedades diferentes (nascentes de águas purgativas, férreas e minerais). 

Sempre que penso neste hotel, vem-me sempre a mesma expressão à cabeça, «bom gosto», pois é um local de charme muito tranquilo, acolhedor e onde ruralidade, inovação e requinte encontram uma simbiose perfeita. Trata-se de um conceito hoteleiro que vem colmatar uma falha grave na oferta desta região, abraçando um espaço termal de excelência, para proporcionar o máximo conforto a quem o visita, descanso ao corpo e retempero à mente.

Fiquei rendido logo à chegada, muito bonito, em completa sintonia com a natureza, respirei imediatamente uma sensação de paz e tranquilidade.  

O arquitecto Luís Rebelo de Andrade dotou o complexo hoteleiro com duas suites, onde impera a elegância, e doze quartos twin/duplos em ambiente de charme. 

Longroiva Hotel Rural - Quartos

Todos os quartos são amplos, confortáveis, funcionais, acolhedores e possuidores de uma decoração de extremo bom gosto. A casa de banho é muito espaçosa, repleta de azulejos e a banheira é lindíssima (quiçá inspirada na da rainha Santa Isabel??!!! :-P), a sala de estar permite que nos sentemos num dos belos cadeirões a ler um livro, dar-mos graças pela vida que temos, ou simplesmente a pensar na história e beleza deste fantástico local. 

Num registo mais moderno,  este hotel rural oferece ainda vinte quartos design twin/duplos, com vista privilegiada, e dez românticos bungalow´s, concebidos e construídos desde o zero. 

As áreas comuns do hotel prolongam o bom gosto e a música ambiente ajuda à melancolia e elegância do momento.

Longroiva Hotel Rural - Interior

 

Descobri mais tarde, um dos grandes atractivos do hotel, o Restaurante Isabel de Aragão, que bonita homenagem a tão ilustre rainha...

Nele pude degustar com bastante prazer e alegria as deliciosas iguarias da gastronomia beirã e duriense. Este bonito restaurante permite o contacto in loco com a labuta do chef e da sua equipa, numa sala simples mas elegante, funcional e tentadora. Mais uma vez, o bom gosto, esteve aqui presente...

O restaurante possui uma simbiose fantástica com o conceito do hotel, pois nele também é dada uma nova imagem, uma nova roupagem, uma aparência moderna a criações do antigamente, terá sido intencional? Acredito que sim...

Os chefs de cozinha Fábio (ex Castas & Pratos) e Luís (ex Côa Museu) criaram uma Posta de vitela mirandesa com batatas e legumes, um Lombo de bacalhau assado com batata a murro e grelos saltados ao alho e um Esparguete preto de gambas incríveis.

Restaurante Isabel de Aragão | Pratos Principais

Acreditem em mim, as imagens não fazem jus ao sabor de cada um destes pratos;  neles encontrei produtos de qualidade, inovação na apresentação, conjugação de aromas alucinantes, textura, temperatura e doses no ponto e sobretudo um palato único, tradicional e com evidente marca de autor.

A carta de vinhos é excelente, da qual escolhi o vinho produzido por um parceiro do Hotel, o Tinto Quinta do Vale d'Aldeia Grande Reserva 2011, que foi produzido a partir das castas Touriga Nacional, Touriga Franca, Tinta Roriz, Sousão e Tinta Amarela das melhores parcelas situadas na região da Meda (conhecida pelas suas uvas com acidez fantástica), a 3 Km do restaurante.

Restaurante Isabel de Aragão - Vinhos

 

No copo mostrou logo ao que vinha,  entrando com uma cor vermelha ruby ainda bastante carregada apresentando-se muito concentrado no nariz com aroma a frutos vermelhos bem maduros, ameixa, chocolate, especiarias e uma deliciosa resina  bem integrada em notas de madeira. A boca é muito elegante e dócil, com excelente acidez (daquela que só a Meda produz) e taninos suaves, aveludados, quase que domesticados, resultando num vinho longo, denso, complexo e com uma óptima estrutura e harmoniosidade. Dançou de uma maneira elegante com a Posta de vitela mirandesa :-P

Quem me conhece, sabe que não sou muito de sobremesas, mas, e há sempre um mas, quem seria capaz de resistir a elas? 

 Restaurante Isabel de Aragão - Sobremesas

O Mil folhas de chocolate branco e morango com gelado de bolacha Maria, o Pudim de amêndoa e a Tentação de chocolate com Sorvet de framboesa foram o melhor "até já" que o restaurante me podia ter dito... Para além disso, o Mil folhas, entrou directamente para uma das minhas sobremesas favoritas, tem tudo, desde a concepção, sabor e apresentação, genial!!!

Muito mais ficou guardado na minha memória, a amabilidade dos funcionários, a idílica piscina exterior de água termal, o jacuzzi com a melhor hidromassagem que encontrei em Portugal, as termas rodeadas de vinhas, oliveiras, amendoeiras e o wellness center que alia  saúde, prevenção e bem estar.

 Por tudo isto, recomendo-o vivamente, é sem dúvida um lugar repleto de encantos e mistério.

Obrigado Eloi Gouveia pelo convite, continuem a tratar assim do vosso jardim, borboletas não vos faltarão :-P



Longroiva Hotel &Termal SPA

Telefone Hotel: 00351 279 149 020

Telefone Termal SPA: 00351 279 849 230

Email: geral@hoteldelongroiva.com | geral@termasdelongroiva.com





O vinho sentido a escutar milagres | 5º Festival do Vinho do Douro Superior

"Só entendemos verdadeiramente o milagre da vida quando deixamos que o inesperado aconteça. Todos os dias Deus nos dá – junto com o Sol – um momento em que é possível mudar tudo o que nos deixa infelizes. Quem presta atenção ao seu dia descobre o instante mágico. Este momento existe – um momento em que toda a força das estrelas passa por nós e nos permite fazer milagres. A felicidade às vezes é uma bênção – mas geralmente é uma conquista. O instante mágico do dia nos ajuda a mudar, nos faz ir em busca de nossos sonhos. Vamos sofrer, vamos ter momentos difíceis, vamos enfrentar muitas desilusões – mas tudo é passageiro e não deixa marcas. E, no futuro, poderemos olhar para trás com orgulho e fé." Paulo Coelho, Na margem do rio Piedra

 

Margem do Rio

Como já devem ter percebido, no fim de semana passado tive a oportunidade de participar no 5º Festival do Vinho do Douro Superior, inicialmente pensava que iria participar no programa geral, mas mais tarde (inesperadamente) fui convidado a participar no programa da comunicação social, nesse momento pensei logo nesta passagem do livro Na margem do rio Piedra.

 

Inicialmente ainda hesitei em aceitar o convite, uma vez que o blog ainda é recente e talvez fosse demasiado cedo para este tipo de coisas, no entanto sempre me ensinaram que derrotado está aquele que tem medo de correr riscos. Porque se não os corrermos talvez nunca nos decepcionemos, nem nunca tenhamos desilusões, nem soframos como aqueles que perseguem um sonho difícil de alcançar. Mas também soube, naquele momento, que um dia mais tarde, quando olhasse para trás, porque sempre olhamos para trás, me iria arrepender de não ter embarcado nesse inesperado. Aceitei, abrindo a porta ao inesperado...

 

Esta jornada inesquecível começou na sexta feira com uma viagem de autocarro entre o Porto e o Vale Meão, nela participavam jornalistas, críticos, bloggers consolidados, e uma generala; basicamente, eu era um outsider :-P Ia aproveitando a viagem para cheirar cada conversa, brindar cada diálogo e beber cada conselho.

Vista da Quinta do Vale Meão a partir do autocarro

 

Chegamos ao Vale Meão por volta do almoço, berço de sonhos, esta Quinta é mágica, nela, não só estão preservadas as memórias de uma das famílias mais importantes do Douro mas estão ali também alicerçados os mais ímpares vinhos da nossa história. Certos lugares são assim, podem ser arrasados por pragas, perseguições e dilúvios, mas permanecem sagrados. Quem por lá passa, sente para sempre falta de algo que reconstrói a cada visita.

Se há quinta do Douro Superior com um legado verdadeiramente peculiar, é esta, foi construída em terreno virgem há mais de 130 anos, por vontade de D. Antónia Adelaide Ferreira – que ficou conhecida carinhosamente como a “Ferreirinha” – foi mãe do famoso vinho Barca Velha, e em 2014 colocou o seu melhor vinho tinto DOC, o Quinta do Vale Meão 2011, entre os quatro melhores do Mundo, na avaliação feita pela conhecidíssima revista norte-americana Wine Spectator.

Vinhos Quinta do Vale Meão, Francisco Javier de Olazabal, Maria Luísa Nicolau de Almeida, e Luísa Olazabal

Tive ainda o privilégio de conhecer Francisco ‘Vito' Javier de Olazabal, Maria Luísa (Zinha) Nicolau de Almeida Olazabal (filha de Fernando Nicolau de Almeida), e Luísa Olazabal. O Francisco é um contador de histórias nato, daqueles que nos fazem lembrar os nossos avôs, conversador eloquente, empresário astuto e bem sucedido, possuidor de toque hábil com as pessoas, elegante no trato e com um intelecto cortês procura sempre mascarar as suas qualidades especiais com humildade e salpicos ocasionais de auto-depreciação, mas essas qualidades, aquelas que verdadeiramente contam, que vêm do suor, alma e coração, dificilmente se deixam ocultar. É o melhor embaixador que a sua amada quinta poderia ter


Junto com Zinha (que ajudou a preparar um bacalhau na brasa divinal) e Luísa (que parece ter herdado do pai a elegância no trato) formaram uma equipa de anfitriões "multidisciplinar". A grande profundidade, complexidade, elegância e harmonia que encontrei na conversa com estas três pessoas, também as encontrei no Quinta do Vale Meão Tinto 2012, todos os vinhos contam uma história, este é um excelente narrador das memórias desta família.

 

Mais tarde, depois de termos estado nos Colóquios "Douro Superior: Fronteiras da Liberdade" e "Caminhos com futuro", passamos na loja Vinhos & Evento a caminho da Quinta Muxagat.

 

Vinhos & Evento

 

Uma garrafeira com o que de melhor o Douro Superior pode oferecer, as imagens falam por si :-P

Finda a visita era tempo de visitar a Muxagat Vinhos.

Apercebi-me que este projecto sofreu uma grande remodelação, Susana Lopes assumiu a gerência, acompanhada por seu pai. A produção de vinhos de qualidade excelente continua a ser a marca desta casa, com a enologia entregue a Luís Seabra, que durante muitos anos esteve ao serviço da Nieport.

 

Muxagat Vinhos

A nova filosofia que se pretende incutir na empresa baseia-se sobretudo em interferir o menos possível na vinificação permitindo que as características do solo de cada vinha (terroir) possam desenvolver-se e mostrar-se no vinho, com um acompanhamento constante e próximo dos trabalhos na vinha e adega. Como a Muxagat Vinhos não tem vinha própria, a criação de valor assenta sobretudo nesse processo de vinificação com toque de midas.

Em cada vinho que provei na Muxagat, senti o copo  expressar o seu terroir, apresentar-me as uvas e queixar-se das características e das condições meteorológicas que lhe deu origem. Não é isto que procuramos num vinho?

Despedi-me da Muxagat com a estrutura, complexidade e aroma do Cisne 2011 e saboreando o melhor Tinta Francisca que provei até hoje, frutos vermelhos em compota, fruta doce, especiarias e folha seca, numa base mineral e fumada. 

O corpo ficou com sono, as mãos ficaram geladas, as pernas entorpecidas pela posição, e eu precisava descansar a todo instante, para que pudesse guardar em cada gaveta da minha memória as lembranças deste dia extraordinário.

O Sábado, depois de uma breve vista ao muito bem conseguido museu do Côa, amanheceu com a curiosidade de conhecer a Quinta da Cabreira, do projecto Quinta do Crasto.

 

Quinta da Cabreira, projecto Quinta do Crasto

 

 O desafiante caminho de terra teve de ser percorrido por um todo-terreno que nos permitiu chegar a um local idílico, no qual seriam servidos o almoço e os maravilhosos néctares que esta quinta produz.

 

Quinta da Cabreira, projecto Quinta do Crasto

 

O enólogo Manuel Lobo de Vasconcellos introduziu um sistema de rega gota a gota, que complementado por uma estação meteorológica própria, permite fazer frente ao clima mais seco e agreste que é característico do Douro Superior, fazendo com que a uva sofra, mas continue viva, esse sofrimento controlado nota-se bem em todos os vinhos Quinta do Crasto Douro Superior. Como defende José Mauro de Vasconcelos, matar não quer dizer matar mesmo!!! Não é nada disso. Por vezes matamos no coração. Vamos deixando de querer bem. E um dia a pessoa morreu. Estas uvas estão bem vivas no coração do Manuel Lobo de Vasconcellos, porque nunca as deixou de as querer bem, sobretudo as Syrah :-P O Syrah Crasto Superior tinto 2013 é mais um magnífico exemplar de qualidade que o Douro Superior é capaz de produzir. Na minha opinião, mais tarde ou mais cedo, estes vinhos terão presença assídua nos prémios dos grandes certames da especialidade.


Depois desta visita marcante, tivemos a oportunidade de participar no programa geral do 5º Festival do Vinho do Douro Superior, aquele que inicialmente despertou toda esta história :-P

 

5º Festival do Vinho do Douro Superior

 

O festival foi de entrada livre e nele poderam ser visitados os stands de cerca de mais de 70 produtores de vinho que marcaram presença no ExpoCôa - Pavilhão de Exposições e Feiras, dando a provar os seus melhores vinhos aos visitantes. Os stands de sabores e as tasquinhas completaram esta oferta, tanto no vinho como na comida. A maior parte dos produtos em exposição estiveram à venda no local. O que de mais bonito aqui encontrei foi a democratização do acesso aos grandes vinhos do Douro, todos, pobres ou ricos, produtores ou consumidores, novos e velhos, conhecedores ou curiosos, tiveram acesso ao que de melhor o Douro produz!!!

O tempo passou rápido, e como a barriga já apertava formos em direcção à Quinta da Terrincha

Quinta da Terrincha

Situada em pleno Vale da Vilariça, a Quinta da Terrincha foi, e ainda é uma importante unidade agrícola do norte do país.
É famosa não só pela produção de vinho e de azeite, mas também pelas suas instalações turísticas, em casas de turismo rural lindíssimas. Os vinhos desta Quinta têm corpo e estrutura sem se tornarem pesados, auxiliados por uma boa acidez.

A proprietária Mónica Pinto promoveu desta forma um final elegante e sedutor para a noite de Sábado.

No Domingo a despedida do Festival, do Douro e do Vale Meão.

 

Despedida

 

Saí do Douro Superior, com um até já, é impossível dizer-lhe adeus... Saí também com a certeza que ele está bem entregue, os ideais, sonhos e esperanças permanecerem dentro daqueles que o cuidam, produtores, autarcas, trabalhadores, enófilos, jornalistas e críticos. Trouxe comigo um pouco de cada um deles.
Lembro-me agora do  instante mágico que nos falou Paulo Coelho, daquele momento em que um “sim” ou um “não” pode mudar toda a nossa existência. O meu "sim"levou-me a toda esta viagem que acabei de partilhar com vocês, tinha muito mais a dizer mas o post já vai longo, futuramente falarei dos vinhos de cada uma das quintas em que estive.

Deste fim de semana não esquecerei as vinhas, as estradas, as aves, as montanhas, a vegetação, as conversas, as pessoas e o Douro dos meus sonhos – sonhos que eram meus e que eu não conhecia. 

 

Obrigado a todos

 

Obrigado generala Joana Pratas pelo convite. Ainda não percebi muito bem o porquê dele, mas bebi o mais que pude (e desta vez não estou a falar de vinhos :-P), saboreando e dizendo que sim a cada momento...
#fvds

Restaurante Casa de Chá da Boa Nova | O inesperado batendo à minha porta

"Não quero criar expectativas quanto ao que me espera, cansei de ilusões. Quero a plenitude daquilo que ainda não sei. Quero o inesperado batendo à minha porta. Algo bom, na fé! Não importa o que, só que seja bom." Angella Reis

Casa de Chá da Boa Nova

Começo com a maior sinceridade possível, tinha três ideias pré-concebidas sobre a Casa de Chá da Boa Nova:

1ª) Remodelada pelo prémio Pritzker Siza Vieira, o espaço tem de ser requintado e moderno.  Tem no entanto de ter um toque de romantismo, aliado à mais bonita tradição arquitectónica portuguesa;

2ª) Possui uma localização perfeita e arrebatadora;

3ª) O proprietário e Chefe Executivo Rui Paula é mais mediático que criativo.

Duas das três ideias estavam correctas...

Casa e Chefe Rui Paula

O restaurante encontra-se harmoniosamente inserido na paisagem, aconchegado pelos rochedos e alicerçado na beleza melancólica do horizonte marítimo.

O interior confortável, requintado e bastante funcional cria as condições para uma experiência única.

O som (das ondas), a luz (da lua, aquecedores a gás e iluminação subtil), o cheiro (a mar e sal) e o toque da brisa estimulam quatro dos sentidos, servindo de anfitriões para o quinto, o paladar...

 

Interior Casa de Chá

 

Rui Paula tem um estilo cuidadoso, artístico e harmonioso, cozinhando com produtos da mais alta qualidade, respeitando-os...

Todos os pratos demonstram competência, originalidade e tradição inovada com pinceladas certeiras de modernismo.
O serviço, desde a recepção, sala, entrega de pratos e escanção acompanha a qualidade do restaurante.

Duas pequenas críticas apenas, a divisão de tempo por outros espaços por parte do chefe Rui Paula e a carta de vinhos algo curta são pormenores que devem ser corrigidos. (Há coisas que só se podem fazer depois de já se possuir uma estrela Michelin).

Dito isto, passemos ao que interessa, aos pratos e aos vinhos :-P
 
O jantar começou com uma surpresa por parte do chefe, atum servido no sempre espectacular fumo de gelo seco, mas até aqui, nada de surpreendente...

Atum

Inesperadamente, o inesperado bateu à minha porta uns minutos depois...

 

Com as entradas, percebi logo a filosofia de Rui Paula, a francesinha com lavagante caviar e ovo de codorniz (Soalheiro Espumante 2013) e o foie-gras com presunto pata negra e figo (Rozés Late Harvest 2010) são combinações nada óbvias tocando até na linha do risco, no entanto foram completamente electrizantes, tendo o condão de me fazer querer conhecer mais...


Francesinha e Foi-gras

 

Os minutos de dúvida e salivação seguintes, que me pareceram horas (:-P) foram interrompidos pelos pratos de peixe; Cannelloni de bacalhau com puré de grão-de-bico e coentros (Chocapalha Reserva Branco 2013) e Caldeirada de peixe com rodovalho, mexilhão e lavagante (Principal Branco Reserva 2010).

O aroma fumado resultante da boa madeira, a fruta de grande qualidade com notas de laranja e abacaxi envolveram de uma forma bastante harmoniosa o bacalhau.  Este branco sedoso, fresco, com classe e personalidade foi a melhor companhia que o Cannelloni podia ter encontrado.

A caldeirada  combinada com o Principal é uma obra prima só ao alcance dos grandes mestres. O aroma elegante, a brisa cítrica e a mineralidade subtil do vinho conjugado com as pitadas de sabor de cada um dos peixes, é algo que ainda me faz suspirar, este foi certamente um  dos melhores momentos gastronómicos que tive...
As notas herbáceas, florais e tostadas do Principal alicerçadas na sua mineralidade e acidez extraordinárias levaram a um final duradouro, vigoroso e complexo, que melhor aplauso poderia ter esta caldeirada?


Cannelloni de Bacalhau e Caldeirada de Peixe

 

Na carne, dois pratos completamente reinventados por Rui Paula, o Arroz de pato, magret, aiguillette e cítricos (Ninfa Escolha Pinot Noir 2011) e o Porco preto à alentejana com amêijoa, faceira e molho de porco preto (Quinta do Penedo Reserva Tinto 2010).

O magret pedia um vinho estruturado, sofisticado, complexo, com alguma evolução e aromas terciários, o Pinot Noir para além disso, foi bastante generoso, ainda lhe deu notas de cogumelos, fruta vermelha e especiarias. O prato só ficou completo com o vinho, a gastronomia deveria de ter mais encontros destes.

O Porco preto à alentejana pedia um pouco mais de corpo ao Quinta do Penedo, no entanto as notas de fruta madura,  barrica, baunilha, notas fumadas e taninos discretos proporcionaram uma experiencia agradável. 
  

Arroz de Pato e Porco Preto

Já quase no final da noite, as sobremesas começaram por promover uma viagem pela Ásia (Porto Andresen 20 anos Branco), conjugando a acidez, cremosidade, riqueza e orientalidade dos gelados com a doçura, frescura e irreverência do vinho; para mais tarde provocarem um regresso alucinante ao nosso Portugal com o sabor a tradição do caramelo e frutos vermelhos, elevados a outro nível pelos sabores complexos a damascos secos e figos doces do Niepoort Colheita 2000 Tawny, acho que foi neste momento que comecei a olhar com outro nariz para os colheitas :-P

Viagem pela Ásia, Caramelo e frutos vermelhos

O que aprendi com isto tudo? Algo que a minha mãe já me dizia quando era pequeno: "Não critiques se ainda não provaste." :-)

 

Parabéns Chefe Rui Paula pela lição de haute cuisine que me deu, merece, sem dúvida, a estrela!!!

Quero, no entanto,  que me volte a surpreender com algo, "Não importa o que, só que seja bom".

5º Festival do Vinho do Douro Superior | O Douro em poema

"Se mil versos me contassem do Douro, o Douro, ainda assim, seria o maior poema..."

Teresa Teixeira

 

Lembro-me muito bem de em criança, ainda não conhecendo o sabor do vinho (como é óbvio:-P)  ter visto uma imagem da região do Douro, nunca mais me esqueci dela...
Sem nunca lá ter estado, tive um estranho sentimento de pertença, união e cumplicidade,  a imagem era incrível!!! Nela pude ver os socalcos, as vinhas, o sofrimento da gente e os vultos de pequenos barcos dançando ao som da corrente. Nesse momento o cheiro a mosto que já conhecia da adega humilde do meu avô, abordou-me a alma e preencheu-me a mente, até hoje...

Na altura não percebi como tinha sido possível tirar aquela fotografia, o fotógrafo teria de estar bem alto para conseguir abraçar todo aquele conteúdo, percebi mais tarde, que as arrepiantes encostas íngremes e sinuosas do Douro deram ao fotógrafo as asas que lhe permitiu apanhar aquele momento.

De tirar o fôlego, vinhos geniais, apaixonante, espectacular,  fantasticamente lindo, avô,  essas são as palavras que me percorrem quando penso no Douro.

As minhas memórias do vinho batem sempre nestes versos...

Se vocês nunca estiveram no Vale do Douro, vão lá, vai prender-vos e seduzir-vos, é bastante diferente da maioria das outras regiões vinícolas que eu conheço e certamente um dos cenários mais espectaculares vínicos que existe. Vai tornar-se um fiel amigo ao qual farão visitas frequentes para porem a conversa em dia. Deixo-vos uma sugestão, aproveitem o quinto ‘Festival do Vinho do Douro Superior" para conhecer a região, o que de melhor ela produz, e entrar um pouco neste mundo apaixonante que são os vinhos do Douro e as suas gentes.

Douro Superior

 

Este fascínio e a paixão pelo Douro, que são comuns a quase todos os enófilos,  bem como o reconhecimento do enorme potencial desta Região  para a produção de  grandes vinhos, quer DOC, quer do Porto,  foram factores decisivos e determinantes no arranque do quinto ‘Festival do Vinho do Douro Superior.  É para o celebrar que, de 20 a 22 de Maio, Vila Nova de Foz Côa recebe tão nobre evento. Organizado pelo Município de Foz Côa e produzido pela Revista de Vinhos , este é um encontro que em muito tem contribuído para afirmar a cidade como “Capital do Douro Superior” e divulgar esta sub-região como terra de dinamismo e qualidade.

O Douro é assim o pano de fundo desta  aventura e a região de eleição para a discussão apaixonante sobre cepas e castas. Simultaneamente, Foz Côa é uma inspiração e fonte única e privilegiada dos melhores vinhos Portugueses, faz todo o sentido apadrinhar o Festival.

Penso que o objectivo deste Festival consiste em debater vinhos que façam justiça ao Vale do Douro, e que consigam transmitir um pouco da sua enorme beleza e do seu abençoado terroir.

Coloquio

Partindo desta premissa, o já habitual colóquio, que este ano se realiza na sexta-feira, dia 20 de Maio, no ExpoCôa, está subordinado ao tema “Douro Superior: Fronteiras da Liberdade” e recheado de convidados de peso. São enólogos, proprietários, administradores, comunicadores, criadores, todos de tarimba e prontos a discutir questões como o conflito entre a tradição e a inovação, a adaptação do terroir, a categorização do vinho do Porto e o que define a identidade do Douro.

 

O programa, agora fechado, começará com o colóquio para profissionais do sector do vinho, subordinado ao tema ‘Douro Superior: Fronteiras da Liberdade’ que, apresentado e moderado pelo crítico Luís Antunes, da Revista de Vinhos, contará com grandes nomes do vinho, da gastronomia e do jornalismo português, como Mateus Nicolau de Almeida, Luís Sottomayor e Mário Zambujal, entre outros.

 

Luis Sottomayor

 

 

As habituais provas comentadas serão três apresentando, no primeiro e no último dia, os grandes brancos e tintos do Douro Superior pelas mãos dos jornalistas e críticos de vinhos, da Revista produtora do evento, João Paulo Martins e Fernando Melo, respectivamente. No segundo dia, o Instituto do Vinho do Douro e Porto coordenará a prova estreante ‘Vinhos do Porto em harmonização com chocolates’. Não faltará, também neste dia, o Concurso de Vinhos do Douro Superior, igualmente na sua quinta edição, com anúncio dos resultados marcado para o último dia, às 17h00. De seguida serão conhecidos os vencedores do 1.º Concurso de Azeites de Trás-os-Montes e Alto Douro, uma iniciativa que se estreia este ano.



Profissionais do sector e enófilos em geral são convidados a participar activamente no colóquio, podendo enviar questões para o e-mail do moderador do debate, o jornalista e crítico da Revista de Vinhos Luís Antunes (czater.xarax@gmail.com), que as colocará aos convidados. O programa será o seguinte:

Programa Colóquio

14h30 . Abertura por Luís Antunes, jornalista e crítico da Revista de Vinhos

14h40 . Mateus Nicolau de Almeida (produtor e enólogo da Quinta do Monte Xisto)

15h00 . João Brito e Cunha (enólogo da Quinta da Touriga Chã)

15h20 . António Agrellos (enólogo da Quinta do Noval)

15h40 . Luís Sottomayor (enólogo da Sogrape)

16h00 às 16h30 - Pausa para café

16h30 às 17h00 - Vinho, fronteira e liberdade, por Mário Zambujal

17h00 às 18h30 - Painel “Caminhos do Futuro”

Moderador:             Luís Antunes

Participantes:          Mário Zambujal - Jornalista e escritor

Francisco (Vito) Olazabal - Produtor (Quinta do Vale Meão)

Joaquim de Almeida - Produtor (Quinta de Vale de Pios)

José Cordeiro - Chefe de Cozinha (restaurantes Chefe Cordeiro e Porto Sentido)

Manuel Novaes Cabral - Presidente do IVDP

Pedro Ferreira - Escanção (restaurante Pedro Lemos)

Nuno Magalhães - Professor de Agronomia

Manuel Lobo Vasconcelos - Enólogo (Quinta do Crasto)

Duarte Fernandes - Director Comercial (Heritage Wines . On Wine)

 

 

O Festival do Vinho do Douro Superior tem entrada livre e permite aceder aos stands de cerca de mais de 70 produtores de vinho que vão marcar presença no ExpoCôa - Pavilhão de Exposições e Feiras, dando a provar os seus vinhos aos visitantes. Os stands de sabores e as “tasquinhas” serão também cartão de visita do festival e, tanto no vinho como na comida, a maior parte dos produtos em exposição estarão à venda no local. Serão centenas as iguarias a representar não só a cidade de Vila Nova de Foz Côa, mas também os concelhos circundantes de Carrazeda de Ansiães, Figueira de Castelo Rodrigo, Freixo de Espada à Cinta, Mêda, São João da Pesqueira, Torre de Moncorvo e Vila Flor.

 

Feira

 

 

Um certame que veio para ficar e que conta, ainda, com diversas actividades paralelas: um concurso de vinhos, provas temáticas comentadas pelos jornalistas da Revista de Vinhos, animação de rua e música ao vivo são algumas das “atracções” que irão tornar a visita ao Festival do Vinho do Douro Superior num momento único para os apreciadores.

A inscrição no Colóquio é gratuita, sendo limitada aos lugares da sala. As reservas devem ser feitas para Ana Rita Gonçalves, da Revista de Vinhos, através do e-mail ritagoncalves@masemba.com ou do telefone 215 971 383.

O no_meu_palato vai estar presente, dar-vos-emos conta dos aromas que por lá encontramos...