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No meu Palato

No meu Palato

Imagine. Invente. Sonhe. Voe. Viva | The Yeatman Sunset Wine Parties

"Tente. Sei lá, tem sempre um pôr-do-sol esperando para ser visto, uma árvore, um pássaro, um rio, uma nuvem. Pelo menos sorria, procure sentir amor. Imagine. Invente. Sonhe. Voe. Viva" Caio Fernando Abreu

 

 

 

The Yeatman Sunset Wine Parties

 

Pois é, o ano passou rápido, e o Verão já está aí, o cabelo fica mais claro, a pele mais escura, o vinho fica mais fresco, a água do mar mais quente, as roupas mais curtas e o dia mais longo, desaparece o frio e aparecem as festas de verão do The Yeatman.

 

Este ano podemos contar com três, a primeira já a 21 de julho, depois outra a 25 de agosto e a última a 29 de setembro.

Com uma localização privilegiada sobre o Rio Douro e lado a lado com as históricas caves de vinho do Porto, o pôr do sol sobre o rio das paixões é daquelas imagens que jamais esqueceremos, fica tão entranhado na nossa memória que não é possível ficarmos longe dele por muito tempo. 

 

Este hotel vínico de luxo é doutor na arte de bem receber, reunindo nas Sunset Wine Parties uma combinação de pequenos prazeres: os melhores vinhos nacionais, petiscos e música ao vivo, num ambiente descontraído e requintado.

The Yeatman Sunset Wine Parties

 

 

No ano passado estive em duas delas, as festas contaram com lotação esgotada, reunindo mais de 500 pessoas por evento. Por isso, se quiserem participar, aconselhamos, que sejam o mais breves quanto possível. Uma breve consulta feita agora mesmo ao evento criado no facebook  mostra que para a primeira data já quase 600 pessoas disseram que vão e quase 5000 têm interesse em ir. 

Para conseguirem o vosso lugar o mais rapidamente possível consultem o site oficial de eventos.

The Yeatman Sunset Wine Parties

 

 

Honrando a sua missão de hotel vínico, afirmado-se em cada evento como um embaixador dos vinhos nacionais e mantendo mais uma vez o patamar de qualidade bem lá em cima, o The Yeatman convidou 26 produtores nacionais de vinho para se juntarem à festa e brindarem ao verão. Dos espumantes aos vinhos do Porto, passando pelos Brancos frescos de verão e pelos Tintos mais leves, a selecção é feita por Beatriz Machado, Directora de Vinhos do Hotel. “O convite é para que as pessoas venham provar vinhos de qualidade, num ambiente descontraído, em que podem conversar, conviver e até dançar”, afirma a responsável.   

 

Os sabores ficam a cargo do Chef Ricardo Costa, galardoado com estrela Michelin em 2012, 2013, 2014 e 2015. O formato é também bastante informal, apresentando uma selecção de queijos e enchidos, saladas e buffet de pratos frios, quentes e sobremesas que acompanham na perfeição os néctares em prova. Ao longo da varanda haverá outras iguarias para degustar, como sushi e sashimi, ostras e mariscos nacionais e o já tradicional porco no espeto.

The Yeatman Sunset Wine Parties

 

 

O Spa de Vinotherapie® do The Yeatman assegura pequenos mimos e momentos de descontracção, com massagens de mãos e conselhos de beleza personalizados. 

 

A festa começa às 19h00 e prolonga-se até à 1h00. A entrada tem o custo de 65 € por pessoa e a reserva prévia é obrigatória. Para grupos de 8 pessoas ou mais, a entrada tem o custo de 60 €.

 

Lista de produtores presentes – Sunset Wine Party, 21 de julho:

  • 100 Igual
  • Adega de Favaios
  • Adega Mayor
  • Alves de Sousa
  • Barão de Vilar
  • Borges
  • Casa de Cello
  • Casa de Ermelinda Freitas
  • Churchill's
  • Dona Berta
  • Herdade do Arrepiado Velho
  • Ideal Drinks
  • João Portugal Ramos
  • Murganheira
  • Oboé
  • Quinta da Casa Amarela
  • Quinta de Cottas
  • Quinta de Paços
  • Quinta de Sant'Ana
  • Quinta do Perdigão
  • Quinta do Pessegueiro
  • Quinta Nova
  • Ramos Pinto
  • Raposeira
  • Solar dos Lobos
  • Vale dos Ares

 

The Yeatman Sunset Wine Parties

 

 É também por causa de eventos como este que o The Yeatman tem vindo a merecer vários reconhecimentos internacionais e nacionais, entre os quais se destacam prémio “Most Excellent City Hotel” pela Condé Nast Johansens, “Best of Award of Excellence” pela Wine Spectator, a mais influente revista internacional de vinhos, “Best of Wine Tourism 2014” atribuído pela Rede de Capitais de Grandes Vinhedos, “Melhor Carta de Vinhos” pela Revista de Vinhos, “Restaurante com Melhor Serviço de Vinhos”, pela revista Wine, “Melhor Hotel Independente”, pela Publituris e “Garfo de Platina”, pelo Guia Boa Cama Boa Mesa do Expresso.

O meu conselho é  que aproveitem também estes momentos que a vida nos permite desfrutar... Imaginem. Inventem. Sonhem. Voem. Vivam. E já agora, bebam ... bons vinhos :-P

Restaurante Egoísta | A minha interpretação subjectiva de algo objectivamente saboroso

“De certa forma, o trabalho de um crítico é fácil. Nós arriscamos pouco e temos prazer em avaliar com superioridade os que nos submetem seu trabalho e reputação. Ganhamos fama com críticas negativas que são divertidas de escrever e ler. Mas a dura realidade que nós, críticos, devemos encarar é que, geralmente , a mais simples porcaria talvez seja mais significativa do que a nossa crítica. Mas, há vezes, em que um crítico arrisca de fato alguma coisa como quando descobre e defende uma novidade. O mundo costuma ser hostil aos novos talentos, às novas criações, o novo precisa de ser incentivado. Ontem à noite eu experimentei algo novo, um prato extraordinário, de uma fonte inesperadamente singular. Dizer que tanto o prato, quanto quem o fez desafiam minha percepção sobre gastronomia é extremamente superficial. Eles conseguiram abalar minha estrutura. No passado, eu não mantinha em segredo o meu desdém pelo famoso lema do Chefe Gusteau: «Qualquer um pode cozinhar». Mas eu percebo que só agora compreendo realmente o que ele queria dizer. Nem todos se podem tornar grandes artistas, mas um grande artista pode vir de qualquer lugar. É difícil imaginar origem mais humilde do que esse génio que agora cozinha no Gusteau’s, que é, na opinião deste crítico, nada menos do que o melhor chef da França. Eu voltarei ao Gusteau’s em breve, com muita fome”. 

Anton Ego, Ratatouille


Pode-se dizer que a ideia deste blog teve origem dentro das quatro paredes deste restaurante...

Em Setembro de 2014 num jantar surpresa de aniversário conheci o restaurante Egoísta e o abnegado chef Hermínio Costa.

 

Restaurante Egoísta - Casino da Póvoa de Varzim

Já tinha ouvido falar deste restaurante, pois é sempre o primeiro a esgotar (e bastam algumas horas) no Restaurant Week.

À hesitação inicial por ser um restaurante dentro de um casino, com o seu ambiente ruidoso, caótico e acelerado, surgiu a delicadeza, calma, serenidade e requinte do espaço contíguo ao restaurante.
O ambiente é ecléctico, intimista e acolhedor, onde o bom gosto e a arte são cozinhados em lume brando deste a recepção até ...  (e pasmem-se) à casa-de-banho...
O hall de entrada tira o testo a uma pequena zona de convívio com um bar, onde é preparado o palato para as deliciosas criações do chef.

 

Restaurante Egoísta - Sala

Os tons quentes da sala de jantar contrastam com o fresco jardim de Inverno, que conjugados com o bom-gosto das telas criam um ambiente elegante e confortável. Uma varanda com vista para o mar, tornaria este espaço imbatível!!!

Mas "aquilo" que mais se destaca neste restaurante é o chef Hermínio, que baseia a sua mestria nos sabores tradicionais portugueses dando-lhe um novo "guarda-roupa". Tradição, inovação, saber-fazer e modernidade encontram-se num feliz cruzamento.

Mas nem tudo pode ser conceptual, a cozinha de autor é alicerçada na escolha criteriosa de ingredientes frescos, da época e da máxima qualidade.

Ainda me recordo do primeiro prato!!!

Uma salada de Camarão da Costa e Sapateira com tostas de caril e vinagrete de manga acompanhado por um Curva Reserva 2010...

 

Restaurante Egoísta - Cozinha

Permanece ainda hoje como um dos meus favoritos. Combinava sabores, texturas e aromas, nenhum ingrediente se sobrepunha ao outro, a harmonia era perfeita. Para o chef Hermínio Costa não "basta" saber bem, tem que parecer ainda melhor.

Referi anteriormente numa outra plataforma que os pratos do chef Hermínio parecem quadros comestíveis com um sabor extraordinário, único e bem vincado.

Esta experiencia fez-me querer conhecer melhor este chef. Apesar de na altura ser um autentico desconhecido para mim, possuía já uma longa carreira... Este artista nasceu em Angola, na pequena cidade de N’ Dalatando e abraçou o mundo da culinária bebendo conhecimento no Núcleo Escolar de Vidago da Escola de Hotelaria e Turismo do Porto no inicio da década de 80, onde foi também Assistente de Monitor. Mais tarde, em 1984, foi cozinheiro da Embaixada de Portugal em Bruxelas, para um ano mais tarde, regressar a Portugal para ingressar na equipa do Hotel Meridien, no Porto, onde trabalhou afincadamente durante um ano. Até 1992, foi chef de cozinha no restaurante A Porta Nobre, na Ribeira do Porto, e nos anos seguintes liderou as cozinhas do Hotel Infante de Sagres, do Grande Hotel da Batalha, ambos na cidade invicta, e, em 1995, regressou ao Hotel Meridien, para liderar a sua cozinha. 

 

 chefe Hermínio Costa - Marisco

 

Está no Egoísta a pincelar memórias há mais de 15 anos.

A elegância, sabor e originalidade criaram em mim uma ligação umbilical com este restaurante, depois desta primeira vez, muitas outras vieram (como podem constatar no número de menus que ainda guardo :-P) ... Em todas elas, no peixe, na carne ou nos doces fui surpreendido com algo novo, extraordinário, de uma fonte inesperadamente singular.

Senti então a necessidade de materializar em palavras aquilo que ia sentindo, estavam lançadas as sementes que mais tarde deram origem ao no_meu_palato.

 

Restaurante Egoísta - Menus

Se a selecção de ingredientes de qualidade e frescura é a marca indelével da cozinha de Hermínio Costa, essa exigência é elevada ao expoente máximo nos peixes. Provavelmente aprendeu a seleccionar o bom peixe com o pai, que comprava os peixes para depois os vender na “Peixaria Costa”. A qualidade da matéria prima é mais tarde aliada  aos aromas e memórias das pitangas, muzongué, ginguba e das muambas.

Desses peixes guardo na memória sobretudo dois pratos, um Robalo de linha escalfado em Blanc de Blancs com aveludado de lagostins e alho francês acompanhado por um Mumm de Cramant (Outubro de 2015) e um Lombinho de Bacalhau confitado harmonizado com um Azamor Selected Vines 2010 (Setembro de 2015). 

 chefe Hermínio Costa - Peixe

O sabor a mar inspirador de ambos entra-nos  pelo corpo e fixa-se nos rochedos das nossas recordações. O peixe é cozinhado no ponto, os acompanhamentos pensados ao pormenor, sempre com uma boa dose de surpresa, ali vivem as mais puras recordações do mar poveiro e das suas gentes. Fizeram-me fechar os olhos e abrir novos horizontes.  

Os pratos eram arrebatadores a nível estético mas, no entanto, o sabor supera o efeito visual, com uma explosão de texturas, influências e sabores, com o poder de nos transportar para as dunas numa noite de inverno.

 chefe Hermínio Costa - carne

Da carne, vou falar-vos apenas de um prato, o que mais me marcou até hoje, uma feijoada no final do ano passado (infelizmente é o único menu que devo ter perdido :-()...

Este prato foi  uma monumental epopeia sobre memórias, ainda hoje, recorda-lo ... abala a minha estrutura!!! Lembram-se daquela cena do filme Ratatouille, onde o crítico de culinária Anton Ego degusta um prato do chef Ratatouille que lhe provoca uma epifania, remetendo-o para sua infância, quando comia exactamente o mesmo prato, cozinhado pela mãe? Pois é… senti o mesmo com esta feijoada, uma "simples feijoada" que me sentou de novo à mesa com os meus pais e irmão umas décadas atrás (não acredito que já envelheci o suficiente para poder dizer estas coisas :-P).  Voltei a viver aqueles dias de menino, em que passava o inverno na aldeia, povoada de frio, nevoeiro, cheiros, sons e sensações, quase que era capaz de vos jurar que aquela feijoada tinha o aroma da caruma que ardia na fogueira feita pelos meus avós.

O mais incrível disto tudo, foi que quando contei ao chef que tinha adorado o prato, ouvi um: "já sabia que ia gostar", coisas de génios!!!

 chefe Hermínio Costa - sobremesas

Nas sobremesas o sentido estético do chef atinge níveis que poucos conseguem atingir. Se isto não é arte, o que será? Todas as sobremesas representam um mesmo sabor aglutinado através de diferentes texturas: gelados, reduções, cremes, caramelizações, espumas, crocantes e quase sempre ... uma flor :-P Neste jardim encantado que são as sobremesas do chef Herminio, não há jardineiro em Portugal que o acompanhe. Acho que pela dedicação, paixão e comprometimento que coloca em cada uma delas, devem ser aquilo que o chef mais gosta de preparar, sobremesas encantadas,  serão influencias da sua mãe e da sua avó?!?.

O bolo de amêndoas e pêra Bêbada com molho de chocolate negro (Março de 2016) foi a última criação do chef Herminio que tive o prazer de degustar, compromissos pessoais, profissionais, gastronómicos e vínicos têm-me mantido afastado do Egoísta por um tempo bastante superior ao que seria desejado, já começo a ressacar por estas obras de arte gustativas :-P

Muitas outras coisas abalaram a minha percepção sobre a gastronomia, desde a beleza, requinte e sofisticação dada ao "bicho feio" que é a lampreia, até à conjugação divinal de aromas dos pratos com trufas passando pela maneira inspiradora como cozinha o risoto.

Restaurante Egoísta Vinhos

Pelo impacto que teve na minha maneira de olhar a gastronomia e os vinhos, ainda pensei que o primeiro post do blog poderia ser sobre o chef Hermínio Costa, quis no entanto "amadurecer" um pouco mais aquilo que escrevia de modo a conseguir passar para palavras aquilo que o chef me passa para o palato, tarefa difícil, mas tentei :-P 

Esta minha "interpretação objectivada de uma impressão subjectiva" (como escreveu Fernando Pessoa a respeito das obras de arte) peca por escassa, o chef é muito mais que aquilo que consigo expressar por palavras. Quando as mesmas palavras não conseguem expressar os sentimentos, memórias e sensações, são como flores que não conseguem descrever o seu perfume... pois, algumas coisas precisam somente ser sentidas, e transmitem-se  melhor num olhar, num suspiro ou num sorriso, do que no mais belo dos poemas...  Assim acontece com a cozinha do chef Hermínio!!!

chefe Hermínio Costa

 

Tenho claramente um vinho favorito, não vos vou maçar de novo, todos já sabem qual é :-P, e exactamente pelos mesmos motivos; história, tradição, vida, competência, memória de sabores, bouquet de sensações e excelência em tudo o que o caracteriza, o chefe Hermínio é o meu chef favorito.  
Quando ganhar a estrela (porque sei que a vai ganhar...) ficarei quase tão contente como o chef, tenho-o como o meu alter ego gastronómico :-P Sei que arrisco alguma coisa ao dizer isto, mas é, na minha opinião, nada menos do que o melhor chef Português, tem qualquer coisa que os outros não têm, gosto de lhe chamar abnegação.

O chef costuma dizer que "Nós somos o que vivemos, o que viajamos, o que provamos", muito do que sou, conheci-o através de si...

Voltarei ao Egoísta em breve, com muita fome :-P


 

Restaurante Egoísta

Edifício do Casino da Póvoa de Varzim

4490-403 Póvoa de Varzim

Telefone: 252 690 888

www.casinos-estoril/povoa.com

restaurante.egoista@estoril-sol.pt

 




Prova Vertical de Barca Velha | O coração que (ainda) bate

"O momento das carícias voltou a entrar no quarto, pediu desculpa por ter-se demorado tanto lá fora, não encontrava o caminho, justificou-se, e, de repente, como aos momentos algumas vezes acontece, tornou-se eterno" José Saramago

 7 de Maio de 2016...

Esta história, começa um pouco antes, aqui.

Ao participar na Essência do Vinho 2016, no Palácio da Bolsa do Porto, em Fevereiro passado, conheci uma pessoa que pertencia ao Clube Reserva 1500 (um clube que tem como objectivo proporcionar aos sócios a constituição de uma garrafeira composta por garrafas nacionais e estrangeiras ímpares e sobretudo permitir o acesso privilegiado às reservas da Casa Ferreirinha e Sogrape Vinhos: Barca Velha e Reserva Especial).

Como é obvio, e dada a minha atracção pelo Barca Velha, já tinha tentado entrar para este clube anteriormente, mas como como existe um número restrito de sócios (que não deve ultrapassar os 1500) e em que a entrada apenas pode ser sugerida por um associado, depois de várias tentativas, quase que desisti, quase... :-P

Aproveitei esse encontro ocasional,  no Palácio da Bolsa, para falar com essa pessoa sobre a minha paixão pelo Barca Velha e pela vontade que tinha de integrar esse clube tão restrito, após uns minutos de conversa ouço um "Conheço a pessoa responsável pelo Clube Reserva 1500, posso falar com ela e sugerir a tua entrada"...

Depois de mais algumas conversas, da avaliação da minha entrada como sócio e de alguma burocracia, finalmente consegui entrar para o Clube Reserva 1500.

 

Passadas umas semanas recebo a primeira revista do clube em casa e reparo que em Março tinha havido uma prova vertical de Barca Velha, como o ser humano (e eu em particular) é um ser ingrato, queixei-me logo da sorte, "se tivesse entrado mais cedo"...

Entrei em contacto com a Sogrape, e informaram-me que iriam decorrer mais duas provas, uma em Lisboa e outra no Algarve, mas que ambas já estavam lotadas e que a lista de espera era enormíssima. Ficaram com o meu nome, o último da lista, não fosse um milagre acontecer...

 

Clube Reserva 1500

 

Na quinta feira 5 de Maio recebo um telefonema a informar-me que havia uma vaga para o evento no sábado, dia 7 de Maio ... no Algarve!!!

Sendo eu do Norte, o Algarve não fica propriamente perto, mas o Barca Velha merece, e provavelmente daria para aproveitar também o bom tempo e as águas quentes do Mediterrâneo.

Estava completamente enganado, depois de confirmar na meteorologia, aproximava-se um fim de semana de dilúvio, especialmente no Algarve.

Viagem

 

O meu primeiro Barca Velha tinha de ser assim, num dia de temporal e na outra ponta do país, não podia ser fácil...
Depois de seis horas de viagem, de partilha de sonhos, emoções e expectativas, chegamos ao Hotel, Quinta dos Poetas, nome sugestivo para o fim de semana que se avizinhava :-P

Eram perto das 16h e o jantar tinha hora marcada para as 20h30. O que fazer durante este tempo?  Pensei então numa frase de Antoine de Saint-Exupéry "Quanto mais a hora for chegando, mais eu me sentirei feliz. Às quatro horas, então, estarei inquieto e agitado: descobrirei o preço da felicidade!", não sei porquê associo muitas vezes o Barca Velha a passagens do princepezinho.

Quinta dos Poetas

Saímos da Quinta dos Poetas por volta das 20h em direcção ao Hotel Vila Monte Farm House, local onde decorreria a celebração dos 25 anos do Clube, e onde eu provaria o meu primeiro Barca Velha :-P
Após umas horas de acalmia no tempo, chegamos ao Vila Monte durante uma tempestade: chuva, trovoada e vento...
Corro então para o interior do edifício, abro a porta, e a primeira coisa que vejo são os copos já a oxigenarem, quase que os conseguia ouvir respirarem...
É neste preciso momento que caio na real, isto vai mesmo acontecer...

Vila Monte Farm House - Jantar Clube Reserva 1500

"Bem-vindos" ouvi depois de Manuel Guedes director executivo da  Sogrape, interrompendo o meu momento de nostalgia :-P

Apresentou-me mais tarde a Luís Sottomayor, enólogo responsável pelo Barca Velha, uma pessoa bastante humilde, sem tiques de vedetismo e sempre muito preocupado com os vinhos, para que estivessem no ponto na altura em que fossem provados.
Iria ter o prazer de provar 5 safras: 1965, 1982 e 1985 (Fernando Nicolau D'Almeida), 1991 (José Maria Soares Franco) e 2000 (Luís Sottomayor). 

Prova Vertical Barca Velha

Fui passeando pelo local do evento, mas não me conseguia afastar muito dos copos, quase que tentado a cheirar com os olhos, valeria a pena?

"Bem, vamos dar inicio á prova" disse Luís Sottomayor, "o 1965 está tão complexo que vos aconselho a começarem pelo 2000 e irem viajando até 1965". Sempre pensei que o meu primeiro Barca Velha iria ser do Sr. Fernando Nicolau D'Almeida, afinal, vai ser um "benjamim" de Luís Sottomayor.

Pego no copo, e sou imediatamente apreendido pela sua cor ruby intensa e cristalina, confesso que a mão me tremia um pouco, no entanto, respirei fundo, e num determinado momento fecho os olhos, levo o copo ao nariz e...

 

Barca Velha 200 e Luís Sottomayor

... de repente, como aos momentos algumas vezes acontece, tornou-se eterno... Arrepios, muitos arrepios, quase tantos como a fruta vermelha madura que encontrava (ameixa, framboesa e mirtilos), especiarias (noz moscada, tabaco canela e cravinho) e notas balsâmicas (resina, cedro e menta). A madeira é discreta e subtil, criando o vinho mais harmonioso que tinha bebido até ao momento. Parece que cada um dos aromas foi pesado para ter o tamanho ideal, que fizessem notar a sua presença mas que não abafassem os restantes.

Depois, finalmente a boca...
Opulento, com personalidade, estruturado, equilibrado e gordo. A acidez é electrizante e os taninos ainda agora começaram a "puxar" pelos aromas terciários, mas já fazem sentir a sua presença.

Sensual e delicado no início, envolve-se suavemente ao redor da boca, explodindo mais tarde num final com suculência e frescura. Passados uns minutos o sabor e a textura ainda permaneciam no meu palato.

Conseguem-se identificar perfeitamente a uva, a fermentação e a garrafa, criando um vinho grande, com final longo, complexo e equilibrado. Aliás, equilíbrio é a palavra que para mim resume este vinho.

Foi assim, o primeiro, o que viria em seguida?

 

Barca Velha 1991 e José Maria Soares Franco

 

1991 e José Maria Soares Franco...

Manteve-se o ruby cristalino do de 2000, mas surgiram também pinceladas alouradas nas bordas, são as rugas deste vinho...
No nariz é muito diferente do anterior e remeteu-me imediatamente para uns vinhos que tinha provado há uns anos em Bordéus, é um vinho ainda muito marcado pela uva e pela fermentação. Fruta vermelha madura, muito denso e com madeira fina. Complexa-se mais tarde com amoras, cassis, ameixas, violetas, esteva e especiarias. Tem um final de boca persistente, fino, mas ... quiçá demasiado delicado, o que lhe retira um pouco de irreverência. Após conversa com  Luís Sottomayor percebi que esta é a marca de Soares Franco, a delicadeza em detrimento da voluptuosidade...

Nota principal: mais uma vez, o equilíbrio aromático, começo a conseguir perceber e distinguir o Barca Velha :-P

O meu pensamento já estava no ano seguinte...

Barca Velha 1985 e Fernando Nicolau de Almeida

1985...

O meu primeiro vinho de Fernando Nicolau D'Almeida e logo de um ano muito especial para mim...
Como é possível após tantos anos ainda possuir esta cor ruby?

Lembram-se do de 2000? Bem, neste 1985 os aromas terciários já cresceram e misturam-se na perfeição com os primários e secundários. É um "upgrade" que só se consegue envelhecendo a garrafa. Incrivel como ainda se conseguem saborear a fruta vermelha madura, a violeta, a esteva e as especiarias.

Se os outros eram equilibrados, este desequilibrou o meu conceito de equilíbrio, parece feito com pinças e tubos de ensaio, onde tudo é ponderado, muito, mas mesmo muito bom!!!

Bora lá recuar mais três anos...

1982

O 1982 ainda mantém reflexos vermelhos, mas começa a ser invadido por uma tonalidade atijolada, a idade não perdoa, e no caso dos vinhos, isso até nem é mau :-P

Os frutos vermelhos maduros continuam presentes (como é possível???) e são enriquecidos com aromas balsâmicos e especiarias.

O envelhecimento em garrafa dá ares da sua graça através do couro (foi aqui a primeira vez que o senti num vinho) e algum fumo. É um vinho muito complexo, longo e ... harmonioso :-P
Um atleta de longas distâncias, espero conseguir conversar com ele mais perto da meta...

Poderá isto ficar ainda melhor?

 

Barca Velha 1965

 

1965...

Um hino aos aromas terciários, iodo, farmácia, cedro, verniz,  floresta e caixa de tabaco, tudo isto recebido repentinamente quase como uma estalada... É impossível ficarmos-lhe indiferente...

Surgem também especiarias, notas balsâmicas e trufas. É muito complexo, e de final, que ainda hoje, um mês depois, não consigo traduzir por palavras. Há muitos vinhos que não cabem na garrafa, aquele não cabia na sala...

O carácter profundo e personalidade misteriosa pedem-nos para que nunca nos esqueçamos dele, para que tornemos todos estes arrepios em memórias e que agradeçamos aos céus por esta oportunidade. É um privilégio beber este vinho, acho que não houve nenhum provador na sala que não se tenha sentido desta forma.

As notas de prova, escritas à mão, que normalmente levam três linhas neste 1965 tornam-se livros com vários capítulos, fiquei sem vinho antes de ter ficado sem palavras, frutas, vegetação e especiarias para o descrever.

Foram precisos mais de 50 anos para que ganhasse este bouquet, já pensaram que o Sr. Fernando Nicolau D'Almeida o preparou para que atingisse esta complexidade, sabendo que dificilmente a provaria? Haverá no mundo dos vinhos algo tão altruísta?

Questionado por amigos, disse-lhes que a diferença de um grande vinho para o Barca Velha 1965, é a mesma que distancia um sumo de uva para um grande vinho, juro-vos que é verdade.

O Barca Velha 1965 não é vinho, é vida, cultura, bom gosto  e história, a melhor que me contaram até hoje...

Jantar

No final da prova foi tempo de falar sobre todos estes vinhos, de uma maneira que raramente a posso fazer. Enólogos, directores e apaixonados pelo Barca Velha, todos partilharam o que acabaram de sentir. Neste tipo de encontros, por vezes, encontramos uma postura orientada para o ego, mas, neste caso, a degustação foi mais sobre aprender, descobrir e trocar ideias. Muitos na sala provam Barca Velha há décadas e conhecem os vinhos muito melhor do que eu jamais irei conhecer, no entanto, ao provar com esses especialistas, saí com muito mais conhecimento do que quando cheguei. Não é isso que importa?

O evento prosseguiu mais tarde com um jantar comemorativo dos 25 anos do clube Reserva 1500, onde foram servidos o Quinta dos Carvalhais Reserva Branco 2011, o Legado Tinto 2009 (outro grande vinho!!!), o Sandeman Porto Tawny 20 anos e o Porto Ferreira Vintage 1991, como o post já vai longo, falar-vos-ei deles mais tarde...
O jantar culminou com um brinde e um agradecimento especial por parte de Manuel Guedes, por termos vindo de tão longe. Obrigado.

Obrigado

Eu não quero que provar Barca Velha se torne apenas mais uma prova. Eu quero que ele permaneça especial, a ser aguardado com entusiasmo, e que nunca o tome como garantido. Tem que ser um velho amigo, que em ocasiões especiais o posso visitar. Oxalá a vida nos permita envelhecer juntos.

Quero lembrar-me cada vez que prenda o meu olhar,  invada o meu nariz, toque os meus lábios, surpreenda o meu palato e me preencha a alma.

Obrigado também ao Sr. Nicolau por nunca me ter enganado acerca da sua maior criação e por continuar a alimentar esta minha grande paixão. Os grandes poetas atingiram a imortalidade com as obras que nos deixaram, o Sr. atingiu-a com algo que ainda vive, envelhece e cria, dia após dia, uma nova história, que também é a sua. O seu coração ainda bate em cada garrafa de Barca Velha e é também por isso que as temos de respeitar.

O fim de semana, acabou um dia mais tarde, em grande, melhor que um Barca Velha, só uma Vida ... Nova!!!

Este foi o meu sonho, qual é o vosso?