"A vida é como uma festa a que fomos convidados, mas chegamos tarde. Ao entrar encontramo-nos com as pessoas mantendo conversas animadas sobre toda uma variedade de temas. Aproximamo-nos com um copo de vinho na mão e começamos a ouvir as conversas. Depois começamos a participar nelas. Antes da festa acabar, já estamos apaixonadamente envoltos em alguma dessas conversas; sentimos que existe algo que devemos expressar, que há algo que não devemos dizer, que não podemos deixar sem questionar o que alguém disse, mas já é tarde e temos que partir. E vamos, ainda que a festa prossiga e as conversas também." Kenneth Burke
Para mim, o verdadeiro milagre do vinho, tocado ao de leve por Kenneth Burke, é o milagre da conversa espontânea. Ponham duas pessoas pouco faladoras, uma diante da outra, com dois copos de bom vinho, comida saborosa e uma vista deslumbrante sobre o Douro, e logo verão o que acontecerá. Desta forma, o vinho aquece a frieza das coisas, combate a indiferença, realçando o que nos une diante daquilo que nos separa ou impossibilita de comunicar. É por isso que acho que o brinde é uma homenagem à capacidade de gostarmos de estar juntos.
Quando o sol se põe na cidade do Porto, o Hotel The Yeatman é o local perfeito para pormos essas conversas dinamizadas pelo vinho em dia, brindarmos com os amigos e transformarmos um "simples" final de tarde num momento único e especial. Estive presente na Sunset Wine Party de Julho e só vos posso dizer uma coisa... ES...PE...TA...CU...LAR!!! Porque na vida, o que conta não são os dias, são os momentos como este.
Potenciadores de conversas apaixonadas não faltaram: desde os espumantes aos vinhos do Porto, passando pelos Brancos frescos de verão e pelos Tintos mais leves. Seleccionados pelos próprios produtores e por Beatriz Machado, Directora de Vinhos do Hotel, os néctares foram servidos no terraço, com uma vista deslumbrante, e no quarto piso do hotel, tornando o espaço amplo e propício ao convívio alegre e glamoroso que se vive nestas quintas-feiras de festa e charme.
Começo por destacar 3 vinhos; a frescura, mineralidade e aromas florais do branco Mãos em Granito 2015; a madeira, fruta e corpo do tinto Oboé Superior 2015 e de praticamente tudo no tinto Quinta do Pessegueiro 2014. Este Pessegueiro deu frutas vermelhas (:-P), menta, mineralidade e sous-bois. No palato rebenta em aromas e complexidade. Elegante, fresco e longo. Gostei!!!
Como o estrelato é presença assídua na festa, a gastronomia tem duas estrelas Michelin e mãos do Chefe Ricardo Costa que presentou os comensais com deliciosas obras de arte, desde queijos e enchidos, saladas e buffet de pratos frios, quentes, além de sobremesas, que acompanham na perfeição a selecção vínica.
Enfatizo a riqueza aromática da Moqueca de peixe galo (uma espécie de caldeirada exótica com o sabor muito rico e fresco do peixe, que tinha uma textura e cozedura irrepreensíveis), e a orientalidade do curry de gambas, carregado de sabores ricos e profundos.
Depois e fazendo jus ao carácter vínico do hotel The Yeatman, voltei aos vinhos :-P
O aroma a rosas, os mirtilos e a madeira do Dona Berta Reserva Tinto 2012 foram uma agradável surpresa. Também com madeira mas com mais frutos vermelhos e complexidade, o Zom Reserva 2013 abriu caminho para o Rui Roboredo Madeira Vinhas Velhas 2014. Fruta muito madura, já a começar a compotar, caixa de tabaco, com barrica tostada deliciosa e alguma mineralidade que não o torna chato. Complexo, firme e persistente.
Com tanto vinho que sacia a alma, temos também de ir alimentando o estômago, para que ele não fique triste. Assar um porco preto com vista para o Porto e para a ponte D. Luís só mesmo no The Yeatman... Como se a comida ainda não bastasse, ainda éramos seduzidos por sandes de leitão, cachorros quentes, sushi, ostras fresquíssimas de Aveiro, pães de todos os tipos acompanhados por uma sensacional selecção dos melhores queijos e azeites nacionais, e uns deliciosos Gelados artesanais feitos pela Benareli.
Do século passado chegou o vinho com que iniciei as sobremesas, o Adega de Favaios Moscatel Colheita 1999. Este Moscatel, envelhecido e fortificado em barrica, manteve fruta e adquiriu madeira e tosta. Perfumado e com uma acidez muitíssimo bem integrada, acompanhou na perfeição a compota de frutos vermelhos com gelado de framboesa, mirtilos e amoras silvetres.
Quando passei para os doces à base de chocolate preto (deliciosos, ricos, carregados de sabor e super frescos) mudei de parceiro, voltei a conversar com o Taylor's 20 anos. Ganhou prémios em revistas internacionais de renome como a Wine Spectator (93/100), Robert Parker (93/100) e Decanter (medalha de bronze). Percebe-se imediatamente, mal o colocamos no nariz, que estamos na presença de um grande vinho. Sei que a opinião não é consensual, mas acho que estes 20 anos, têm mais alguma coisa que os seus irmãos mais velhos, e essa coisa é a fruta das uvas (ainda que mais macia) que lhe deram origem, por não estarem demasiado marcados pela madeira. Neste Taylor's adoro a classe da fruta seca, a flor de laranjeira e o acabamento delicado mas untuosamente persistente.
Antes de ir para casa, algo reconfortante: um belo de um caldo verde. Muito fiel ao tradicional caldo verde português, o tempo de cozedura permitiu que a couve adquirisse um sabor a carne e que o fumo do chouriço enobrecesse todo o caldo, muito bom e que apagou os fogos do exagero vínico que se viveu nesse dia :-P
A lista de mimos presente nestas Sunsets cresceu ainda com a presença de DJ e massagens. Ao som da melhor música, os terapeutas do Spa Vinothérapie® Caudalie proporcionaram momentos de tranquilidade, com massagens de mãos e, ainda, conselhos de beleza personalizados. E há uma coisa que melhorou muito na primeira edição deste ano, comparativamente aos anos anteriores, o preço subiu um pouco mas acho que limitaram (e bem) as entradas, desta forma foi muito fácil percorrer todos os espaços (levamos uma bebé connosco e foi super cómodo) e quase que não havia fila para os petiscos e vinhos, tudo isto para que se proporcionasse um ambiente descontraído, mas com requinte.
O serviço, esse, continua a ser à The Yeatman, competência, profissionalismo e amabilidade sempre presentes, parabéns!!!
Não consegui ir embora sem antes dirigir-me à varanda do hotel com as minhas princesas para contemplar mais uma vez o Rio Douro, a Ponte D. Luís, as históricas caves de vinho do Porto e a incomparável vista panorâmica sobre zona histórica da cidade do Porto. Um brinde a isso!!!
Se não foram a tempo de marcar presença nesta Sunset Wine Party de Julho, tenho boas notícias para vocês: este ano, há mais duas à vossa espera e, desta vez, podem pernoitar no hotel. Nos dias 24 de Agosto e 21 de Setembro, a partir das 19h, repete-se o que é bom: vinhos, petiscos, música ao pôr do sol, massagens e muito glamour. A entrada tem o custo de 80€ por pessoa e a reserva prévia é obrigatória (despachem-se porque a de Julho esgotou muito rápido). Para grupos de 8 ou mais pessoas, a entrada tem o custo de 70€.
Foi um fim de tarde/noite que passou tão rápido quanto deliciosas foram as conversas que fui mantendo com uns e com outros. Até por isso, transformar água em vinho não é apenas o ato milagroso dos cristãos: é também o gesto de transformar a sobriedade do silencio na sociabilidade da conversa fraterna, através da criação de pontes para as estranhas emoções que nos aproximam.
Dom Perignon disse uma vez aos seus amigos enquanto provava os seus vinhos “Venham depressa irmãos! Estou bebendo estrelas!“. Antes que a festa prossiga e as conversas também, já sem a nossa presença, apareçam num destes Sunsets para literalmente degustarem estrelas e conversarem connosco. Só mais uma coisa ... não se atrasem :-P