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No meu Palato

No meu Palato

Quinta das Carvalhas | Pensar uma flor

"Às vezes ponho-me a olhar para uma pedra. Não me ponho a pensar se ela sente. Não me perco a chamar-lhe minha irmã. Mas gosto dela por ela ser uma pedra, gosto dela porque ela não sente nada, gosto dela porque ela não tem parentesco nenhum comigo. Outras vezes oiço passar o vento, e acho que só para ouvir passar o vento vale a pena ter nascido." Fernando Pessoa

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

 O vinho não é apenas uma bebida para desfrutar com queijo, chocolates ou gastronomia regional. É um modo de vida, também no Douro. E é simplesmente impossível andarmos por aqueles lados sem visitarmos uma das Quintas produtoras de vinho. E foi isso mesmo que eu fiz ao "dar um salto" à Quinta das Carvalhas. Já sabia que esta Quinta, propriedade da Real Companhia Velha,  possuía grande beleza e alma, com uma posição privilegiada na encosta da margem esquerda do Rio Douro no Pinhão.

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

Não sabia é que esta visita se iria tornar no momento mais marcante deste ano (para já :-P), no que ao vinho diz respeito. Quando entramos na WineShop é impossível evitarmos que os nossos olhos fujam para o Carvalhas Memories. A história deste vinho do Porto remonta à vindima de 1867, nesta mesma quinta. Trata-se, verdadeiramente, de uma recôndita memória viva do século XIX, preservada no tempo com meticuloso cuidado e quase religiosa devoção. 

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

Este vinho do Porto prosseguiu o seu longo e paciente envelhecimento nas sumptuosas caves da Vila Nova de Gaia, em pipas da mais nobre madeira de carvalho, até atingir a perfeição, destacando-se uma sumptuosidade aromática e uma inesquecível dimensão de prova. Após 149 anos de estágio e no ano das comemorações dos 260 anos da Real Companhia Velha foi lançado para o mercado com um PVP de € 2.750,00. Pode ser que um dia a nossa história ainda se cruze :-P

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

Enquanto namorava a garrafa de Carvalhas Memories, ouvi um "olá" do Eng.º Álvaro Martinho, o agrónomo responsável pela viticultura das Quinta das Carvalhas e também pelas visitas Vintage/VIP. Chegou à Quinta das Carvalhas há quase 20 anos e trata dela como se de sua casa se tratasse. A nossa primeira conversa foi sobre o sobreiro e em como usamos o casaco que a mãe natureza lhe deu para sobreviver ao frio. A cortiça nas rolhas. Uma "simples" conversa sobre cortiça deu origem a um envolvente diálogo sobre o Douro.

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

Álvaro exibe com orgulho as diferenças entre o aquilo que encontrou e aquilo que agora apresenta, marca indelével pela sua paixão pela Quinta. Resultado dessa paixão, esta viagem não ia ser apenas "vínica", íamos falar da geografia da região, da história de experiência construída, da agricultura exigente, da sociologia que se engarrafa e da memória que também se bebe. Aqui uma pedra não é só uma pedra, é o xisto que transpira o sofrimento das gentes do Douro, é a rocha que desenha na estrada os limites na região, é ainda a pedra esquelética que alimenta a vinha.  

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

Produzir aqui vinho fica 4 vezes mais caro do que em qualquer outra região do mundo. As temperaturas são inacreditavelmente altas, as encostas possuem declives inimagináveis, chegando a atingir 70º, o solo é pouco fértil e na altura em que é necessária água ... há pouca precipitação... Como é que há vinho aqui? Aliás, como é que há bom vinho aqui? O Eng.º Álvaro Martinho não quis saltar capítulos na sua história e adiou a resposta sobre o segredo do sucesso deste arbusto... Sim, a vinha não é uma árvore nem uma planta, é um arbusto com gavinhas e flor. E não se percebe o vinho, sem que primeiro percebamos coisas mais simples como a flor que esteve na sua origem.

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

Depois de subirmos 550 metros de uma deliciosa conversa, chegamos ao topo jóia da coroa da Real Companhia Velha. Indescritível. Tenho imensa pena que as fotos não transportem o som dos grilos e cigarras, a caricia do vento quente e sobretudo o cheiro a lavanda.  Lá em cima repousam  as magníficas Vinhas Velhas da Quinta das Carvalhas, de plantação pós-filoxerica, a atingir a respeitável idade de 100 anos. Deu para provar uvas Touriga Franca, Tinto Cão, Tinta Amarela, Touriga Nacional, Sousão, Tinta Francisca, Tinta Roriz... Seja qual fosse o lado que olhássemos ... encontrávamos uma casta nova na vinha velha. 

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

E por incrível que pareça, é assim que se resolve o problema da maturação nas vinhas velhas, através da prova. O que estiver bom no palato vindima-se, o que não estiver no ponto, espera-se mais um pouco. Visitei as Carvalhas no final de Agosto, quase todas as castas estavam a atingir a maturação perfeita e com uma doçura e concentração incríveis. Isso levou-me a perguntar, mais uma vez, como é que isto era possível. Num local completamente inóspito, como é que a vinha "decide ir para ali", não seria muito mais fácil instalar-se num local com menos calor, com mais água e com maior densidade de nutrientes no solo?

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

 "O solo ilusoriamente pobre do Douro é a nossa maior riqueza" retorquiu Álvaro. Limita a capacidade produtiva das plantas, mas permite a sua longevidade. É quase como se as vinhas fossem fazer uma caminhada todas as noites, mantendo uma dieta rigorosa. Os arbustos, as vinhas, as castas e as pessoas não são assim tão diferentes. Os excessos levam a problemas, uma vida regrada promove vitalidade. 

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

A descida com o vidro do carro aberto e com as portas a bater na lavanda que delimitava a estrada, originou um vento carregado de aromas arrebatador.  Enquanto, de olhos fechados, ouvia e cheirava aquele vento o Eng.º sorriu e disse: "Aposto que com isto jamais esquecerá a sua visita à Quinta...". E estava completamente certo, só para ouvir passar aquele vento, valeu a pena ter nascido. 

Depois era chegada a hora da prova de alguns néctares da Quinta das Carvalhas, numa renovada sala de provas carregada de história, bom gosto e com vista para o Pinhão, onde as provas passam a ganhar outra sumptuosidade. 

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

 O programa foi este: Quinta das Carvalhas Branco 2015, Quinta das Carvalhas Tinta Francisca 2013, Quinta das Carvalhas Touriga Nacional 2014, Quinta das Carvalhas Vinhas Velhas 2014 e Quinta das Carvalhas Royal Oporto Colheita 1980.

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

 O branco é muito cristalino, refinado e seco, carregado de baunilha, tosta, maçã, pêra, ameixa, frutos exóticos e uma acidez cítrica. Os seis meses em madeira deram-lhe anis e erva doce. O final é muito cremoso, bonito, persistente e saboroso.

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

Depois de 12 meses em madeira, o Tinta Francisca é um  vinho com personalidade, elegante e fino. Exibe um perfume intenso e fresco, onde se destacam os frutos do bosque, romã, mato e notas vegetais que criam uma complexidade notável. 

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

 O palato é intenso, sumarento e com muita presença, sem que seja prejudicada a elegância. Termina longo, fresco, suave e com muita classe. A anunciar o Touriga Nacional apareceu o comboio histórico do Douro, na janela da sala de provas :-P

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

 Muito denso, este vinho é um hino ao envelhecimento em madeira. É seco, fresco, muito firme e intenso, com sabores de chocolate preto, bergamota, amoras e violeta. A estrutura deste vinho absorve em grande medida os aromas primários, precisa de tempo para se equilibrar. Tem tudo para ser enorme no futuro. 

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

Depois meus amigos, um pedaço de história com 90 anos, fermentado em lagares de granito. Com 42 tipos de uva, o Vinhas Velhas é um vinho rico e poderoso. Emana fruta preta bastante madura, baunilha, grão de café torrado, tosta e especiarias. 

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

A cor é densa, quase opaca conduzindo a uma boca voluptuosa com taninos irrepreensíveis. Muito complexo, equilibrado e bastante rico. É um vinho camaleónico, vai mudando ao longo da prova. No último nariz senti ... lavanda, um copo de vinho encerra muito mais que o liquido, nele estão também aprisionadas memórias de quem o prova, e talvez por isso a lavanda passou a fazer parte desse bouquet...

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

 O último vinho iria ser o Carvalhas Royal Oporto Colheita 1980. Apesar de ainda manter uma cor âmbar escurecida apresenta já algumas rugas em forma de tonalidade esverdeada. É muito intenso, com mel, caramelo, lima, noz, café, figos secos, cerejas e pimenta preta. Surgem ainda notas mais sui generis como o  iodo e o verniz que lhe dão uma complexidade muito interessante. 

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha 

A acidez de nível intermédio é completada pela untuosidade e adstringência. Um colheita diferente, em que diferente significa equilíbrio, harmonia e originalidade. Apesar deste ser um vinho extraordinário, o meu coração ainda estava com o Vinhas Velhas e com o que tinha vivido 550 metros acima.

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

 Fernando Pessoa disse através de Caeiro que para conhecermos uma flor é necessário pensar com os olhos e com os ouvidos, com as mãos e com os pés, com o nariz e com a boca. Temos de vê-la, cheirá-la. Para que quando lhe comamos o seu fruto, nos saiba ao seu sentido.

Quinta das Carvalhas - Real Companhia Velha

Acho que agora conheço a Quinta das Carvalhas e os seus vinhos. Iram-me saber sempre a lavanda, não só no palato, mas no vento que me percorre a alma :-P
Esta foi uma viagem no tempo e nas palavras de Álvaro Martinho, por um Douro mais agarrado à terra, explicado desde a raiz à extremidade da videira, com as castas como protagonistas.  Obrigado Álvaro por este memorável final de tarde.  Foi tão intenso e rico que muitas outras coisas ficaram por contar...

 

VINTAGE TOUR

Datas: Mediante marcação.

Horário: A partir das 10h00.

Preço (com IVA): €75,00 (adultos)*| €5,00 (crianças 4-11 anos) | grátis (crianças até 3 anos).

 

*vale cada cêntimo :-P

 

 

João Paulo Martins | Vinhos de Portugal 2018

João Paulo Martins lança Vinhos de Portugal 2018 23ª edição do mais importante guia da área acaba de chegar às livrarias

 João Paulo Martins, jornalista especializado no sector dos vinhos, apresenta a 23ª edição do Vinhos de Portugal 2018, guia que analisa vinhos de todas as regiões do país, devidamente classificados e com notas de prova, assim como elaborou uma selecção dos melhores vinho do ano. Editado pela Oficina do Livro, esta obra inclui um capítulo especial com vinhos até aos 4 euros, uma selecção dedicada aos que custam entre quatro e dez euros e um guia de bolso destacável com uma selecção rápida de alguns vinhos.

 

João Paulo Martins lança Vinhos de Portugal 2018

“O Vinhos de Portugal é o resultado de um trabalho continuo e exaustivo de uma dimensão significativa de vinhos que tive a oportunidade e o privilégio de provar. Para o consumidor final, espero que seja um guia útil, não só no processo de decisão na hora da compra, mas ao mesmo tempo que valorize o trabalho dos produtores que destaquei”, afirma João Paulo Martins.


Um guia obrigatório para quem gosta de vinhos :P

 

Gin Tasting & Spirits Porto 2017 | Gin, cocktails e espirituosos no maior evento do género em Portugal

Gin Tasting & Spirits Porto 2017

O grande evento dedicado ao mundo do gin e cocktails está de regresso à Casa de Serralves. Dia 30, sábado, das 15h às 21h30, GIN TASTING & SPIRITS PORTO promete resgatar o espírito de verão e fechar em grande o mês de Setembro.

Gin Tasting & Spirits Porto 2017

A 5a edição do evento que já se afirma como o maior do género em Portugal garante a presença dos melhores gins, mixers e espirituosos (whisky, vodka, rum, licor, pisco, tequila, vermute, Vinho do Porto, entre outros), com mais de 60 marcas premium adoradas pelo público. Não faltam os icónicos rótulos com projecção internacional, nem as marcas bem portuguesas que já conquistaram lugar cativo. Os grandes nomes do sector trazem personalidade, carisma e originalidade ao GIN TASTING & SPIRITS PORTO.

Gin Tasting & Spirits Porto 2017

São os barmen’s e bartenders de referência em Portugal que asseguram o perfect serve, com um (imprescindível) cunho pessoal. As marcas estarão também devidamente representadas pelos seus entusiastas embaixadores.

Os visitantes têm ainda a possibilidade de explorar o mundo do gin, dos cocktails e dos espirituosos, assim como de conhecer as mais recentes tendências, em informais masterclasses e workshops, dirigidos por especialistas de renome.

Gin Tasting & Spirits Porto 2017


A campanha online de compra antecipada de bilhetes está já a decorrer, a partir do endereço www.gintastingportugal.com. A entrada tem o custo de 15€ e inclui oferta de copo oficial de prova e de três bebidas. No dia e local do evento, a mesma entrada terá um custo de 20€.

Gin Tasting & Spirits Porto 2017

Os eventos GIN TASTING & SPIRITS, realizados em Lisboa e no Porto, são organizados pela EV- Essência do Vinho - especialista na produção e comunicação de eventos e conteúdos relacionados com vinho, bebidas espirituosas e gastronomia, sendo líder em Portugal nesse segmento de mercado – com o apoio da Revista de Vinhos. Recorde-se que, em 2016, o GIN TASTING & SPIRITS PORTO convenceu mais de 4.500 pessoas.

Apareçam por lá, brindem connosco e sejam felizes :-P

Quinta de la Rosa | A semente sem medo da neve

"Alguns dizem que o amor é um rio que afoga a erva macia. Outros dizem que o amor, é uma navalha, que deixa a tua alma a sangrar. Alguns dizem que o amor é fome, uma necessidade dolorosa que nunca acaba. Eu digo que o amor é uma flor..." 

A rosa, André Rieu

Quinta de la Rosa

Quem acompanha o facebook do blogue já percebeu que parte das minhas férias deste ano foram passadas a regar a paixão que tenho pelo Douro e pelas suas gentes. Em dois desses dias tive a oportunidade de conhecer a incrível Quinta de la Rosa. Uma enigmática propriedade duriense situada no Pinhão, em pleno Douro Património Mundial da Humanidade.  Famosa pelos seus vinhos do Porto e do Douro, rejuvenesceu agora com a casa de hóspedes, o espaço de enoturismo, uma espectacular sala de provas e o restaurante Cozinha da Clara.

Quinta de la Rosa

 A história desta quinta, co-propriedade de Sophia Bergqvist e carregada de rosas começa no inicio do século XIX, intimamente ligada à compra e venda de vinho do Porto. Mais tarde, a quinta de La Rosa foi oferecida à avó de Sophia, Claire Feuerheerd, como presente de baptismo (1907).  Com a grande depressão dos anos 30 chegaram também as dificuldades financeiras e a solução encontrada para a sobrevivência da quinta foi a venda de uvas à Sandeman e à Croft. Foi o tempo em que a semente da de la Rosa teve de hibernar para aguentar a neve amarga do inverno.

Quinta de la Rosa

 Essa semente brota finalmente uma flor meio século depois, quando a quinta começa a produzir os seus próprios vinhos do Porto e Douro. Chega aos nossos dias resplandecente, carregada de prémios e reconhecimento. Penso que com esses tempos de dificuldades aprenderam que neste (como noutros negócios) parar é morrer. Daí estas novas apostas...

Como a viagem entre o Minho e o Douro ainda é longa, sobretudo quando se viaja com uma bebé, chegamos à quinta cheios de vontade de petiscar.

Quinta de la Rosa

 As asinhas de frango, a alheira com queijo e as batatas bravas foram o tónico extra que o estômago precisava para deixar de reclamar :-P

O passeio pela propriedade transporta-nos para a nostalgia do antigamente com as mordomias do presente.  A generosidade e hospitalidade pairam no ar, há quem diga que é este o legado de Claire.

Quinta de la Rosa

 Foi o primeiro banho da Bia com vista para o Douro, o difícil foi mesmo conseguir que saísse da piscina... Fisicamente até pode ser parecida com a mãe, mas turístico-eno-gastronomicamente é totalmente ... pai :-P

Depois, ao jantar foi o tempo de conhecer a Cozinha da Clara. Um nome carregado de significado uma vez que é também uma homenagem à avó de Sophia Bergqvist. O grafismo do logótipo do Cozinha da Clara reporta-nos precisamente para a caligrafia de Claire Feuerheerd, uma grande mulher com um gosto nato pela cozinha. 

Quinta de la Rosa

Inspirada por grandes nomes da gastronomia, deixou uma herança em forma de aromas e sabores que este restaurante agora eterniza.

Começamos com os cumprimentos do chefe, um gaspacho de tomate coração de boi e fio de azeite La rosa, muito fresco, rico e saboroso. Não sou muito fã de gaspachos de tomate, mas este estava muito bom e sem exageros ao nível do tempero. Simples e eficaz :-P O tomate iria ser o denominador comum deste jantar uma vez que a Cozinha da Clara participou este ano no concurso do “Tomate Coração de Boi do Douro”, do qual resultou este menu. O prato seguinte foi uma salada de tomate com escabeche de sardinha. Existia uma harmonia muito engraçada entre a doçura da cebola confitada, a acidez do azeite e o sabor intenso da sardinha. 

Quinta de la Rosa

 Foi acompanhada por um surpreendente Quinta de la Rosa Reserva 2016, seco, complexo e com aroma a flor de citrinos aliado a suaves notas de fruta tropical. É um vinho com pulso, e só um vinho com pulso aguentaria a intensidade desta sardinha.

Enquanto esperava pelo prato de carne visitei a cozinha da Cozinha. Ao seu leme está o chefe Pedro Cardoso, a fazer dupla na sala com Pedro Esteves. São os rostos mais visíveis de uma vasta equipa. Dois jovens que trabalharam juntos durante uma década no restaurante do Aquapura Douro Valley, actual Six Senses e que apostam na gastronomia de raiz portuguesa, privilegiando produtos locais e sazonais, mas complementada e sem esquecer a herança gastronómica da família, com pratos do receituário da avó Clara. 

Quinta de la Rosa

 Resumindo, uma cozinha cuja filosofia é alimentada pela simplicidade mas com requinte. Já estava com vontade de por o palato no Lombelo de porco com milhos de tomate em duas texturas e jus, mesmo antes de estar na mesa :-P Cozinhado no ponto, o corte grosso permitiu que depois de cozinhado o lombo se mantivesse húmido e bastante agradável. É um prato que funciona em conjunto. Foi harmonizado com um Quinta de La Rosa Reserva Tinto 2014, carregado de fruta preta e vermelha muito madura e gulosa, baunilha, cacau e frutos secos. 

Quinta de la Rosa

Expressa de forma incrível o terroir do Douro, conjugando de forma magistral a adstringência dos taninos com a acidez e doçura das uvas.   Voltando à comida, gostei bastante do contraste aromático que o chefe deu à doçura do milho e à frescura do molho. A carne estava densa mas suave, conferindo uma sensação de delicadeza ao lombelo, mas mantendo o sabor intenso à carne. Esta dictomia entre classe e tradição iluminou-me o prato e foi abrilhantada pela a intensidade e corpo do vinho.  

Quinta de la Rosa

Antes da sobremesa ainda houve tempo para dar um salto a uma lagarada, onde a familia Bergqvist, os funcionários da quinta, os hóspedes e alguns amigos marcaram presença. A lagarada é um dos momentos mais aguardados na época das vindimas.  Marcada pela conversa, alegria, música e muita animação. Ali respirava-se literalmente vinho, ao som de música tradicional e gargalhadas; ali ainda se vive alma abnegadamente feliz das gentes do Douro.  

Quinta de la Rosa

Tanta euforia mascarada de tradição abriu caminho à sobremesa: O Tomate e o queijo na interpretação do chefe Pedro Cardoso. Muito equilibrada e complexa, quer ao nível do sabor, quer ao nível da textura. O aroma do sorvete de tomate era ainda mais saboroso do que eu esperava. Era realmente muito intenso. Doce, cremoso, suavemente condimentado e com muitas notas deliciosas de tomate "adocicado". Se fechasse os olhos, pensaria certamente que estaria a experimentar uma mistura de manga, morango e tomate. Foi enobrecida com a companhia de um Tawny Quinta de La Rosa 20 Anos. E sem exagero algum, digo-vos que foi dos melhores 20 anos que provei. 

Quinta de la Rosa

Emana aromas encantadoramente complexos, poderosos e  densos a amêndoas, nozes, especiarias, mel e caramelo. As suaves notas a citrinos e a diversidade de aromas são resultantes dos 20 anos de envelhecimento em madeira nobre. No palato é rico e concentrado proporcionando um final suave, sedutor, complexo e longo. É um 20 anos vestido com traje de gala dourado, muito, mas mesmo muito bom. O chefe de sala Pedro Esteves, procurando imortalizar a noite, deu-nos ainda a provar o Quinta de la Rosa Vintage 2005, carregado de fruta preta em compota, taninos muito polidos e uma acidez vibrante. 

Quinta de la Rosa

É um vinho admirável ao nível da sua textura, comprimento, complexidade e harmonia. É daqueles com quem podemos conversar largos minutos, enquanto contemplamos o Douro.   O espaço onde hoje se insere o restaurante, era inicialmente um armazém de vinhos, o que faz aumentar ainda mais o carácter sedutor do local.  Ao utilizar matérias primas locais, como o xisto e a madeira, faz com que seja impossível não sermos  arrebatados pela magia do espaço. Depois deste jantar incrível era tempo de ir dormir com um número na cabeça, 2005 :-P

Quinta de la Rosa

 O dia amanheceu sorrindo, com o sol na janela e a energia do Douro no ar. Depois de contemplar, mais uma vez, o cenário idílico onde a quinta se insere, voltei a provar o Quinta de la Rosa Vintage 2005 logo pela manhã. Nahhhhh, estou na brincadeira :-P O pequeno almoço buffet é servido no restaurante. A oferta é vasta, desde os produtos tipicamente regionais como os queijos e os enchidos até  às frutas e aos deliciosos croissants passando pelas compotas caseiras e sumos naturais. Tudo aquilo que é necessário para que temperarmos a alma e afagarmos o estômago.

Quinta de la Rosa

 Antes de irmos embora, tivemos a oportunidade de conhecer o lagar e as caves. Aqui as sementes em forma de vinho também repousam, a passarem calmamente os invernos, até que a primavera chegue, e sejam engarrafados... Esta família tem uma tradição muito engraçada. Quando nasce uma criança, oferecem-lhe uma pipa de vinho do Porto, para que essa criança, ao longo da sua vida possa ir bebendo um vinho que nasceu no mesmo ano. As prendas nesta família são TOP :-P

Quinta de la Rosa

 A letra da música de André Rieu com que iniciei esta viagem pela Quinta de La Rosa, acaba com uma metáfora em que devemos pensar quando as coisas não nos estão a correr tão bem quanto queríamos: "no inverno, nos tempos difíceis, abaixo da neve amarga, descansa a semente que com o amor do Sol, na primavera será a rosa".

Quando me contaram a história desta quinta associei-a imediatamente a esta metáfora, ainda bem que o amor do Sol permitiu que a Quinta de La Rosa brotasse com esta magia contagiante, parabéns a todos os que souberam descansar, abaixo da neve amarga, até que a primavera chegasse!!!

Deixem-me só acrescentar mais uma coisa, o André Rieu diz que o amor é uma flor, para mim são duas, as minhas princesas, que tornaram este fim de semana ainda mais memorável.

‘BAIRRADA Vinhos & Sabores 2017 | Três dias de promoção do “melhor da região”

BAIRRADA Vinhos & Sabores 2017

 

O ‘BAIRRADA Vinhos & Sabores 2017’ arranca hoje, dia 08 de Setembro, pelas 17h00, e prolonga-se até Domingo, dia 10. Pelo quinto ano consecutivo, o Velódromo Nacional - Centro de Alto Rendimento de Sangalhos, no concelho de Anadia, é o palco deste que é um evento de entrada livre, onde quase 40 produtores de vinho (e espumante, claro está!) Bairrada vão dar a provar cerca de 150 referências, entre espumantes, brancos, rosés e tintos. A gastronomia e o turismo completam a tríade em mostra neste certame, sendo que não vai faltar comida, da salgada à doce.

 

BAIRRADA Vinhos & Sabores 2017

 

O agora ‘BAIRRADA Vinhos & Sabores’ foi conhecido, até 2016, como ‘Encontro com o Vinho e Sabores - Bairrada’, tendo a sua primeira edição em 2013. A iniciativa surgiu de uma vontade conjunta de promover o que de melhor a região tem, capitalizando para (re)afirmar a identidade Bairrada através da promoção dos seus produtos mais emblemáticos, como sejam os vinhos e espumantes Bairrada – com certificação de Denominação de Origem –, mas também a sua gastronomia ímpar, com destaque para o leitão da Bairrada, o pão da Mealhada e a sua riquíssima doçaria regional: ovos moles de Aveiro, Amores da Curia, queijadas de Águeda, Folar de Vale de Ílhavo, entre outras iguarias.

 

BAIRRADA Vinhos & Sabores 2017

 

Este é um evento capaz de atrair milhares de visitantes – cerca de 8.000 na edição passada – e que pretende valorizar a imagem da região numa oferta turística integrada, onde as valências de enoturismo, do turismo termal, hotelaria e restauração constituem um factor dinamizador. Uma festa que pretende brindar a esta altura do ano – de vindimas –, em que o universo vitivinícola ganha peso e as adegas acolhem a azáfama e a euforia de quem tanto se dedica a uma actividade tão nobre, agarrada à terra e com tanto ainda para dar.

 

BAIRRADA Vinhos & Sabores 2017

 

No formato do ‘BAIRRADA Vinhos & Sabores’ mantém-se a feira de vinhos e sabores da Bairrada; as provas de vinhos, desta feita comentadas por reconhecidos enólogos “da casa” – Francisco Antunes e João Soares; os jantares temáticos e vínicos, com o propósito de fomentar o conhecimento sobre wine parings; o ‘Concurso de Espumantes Bairrada’; e a 2.ª edição da ‘Baga Bairrada Party’, que este ano vai decorrer no Museu do Vinho Bairrada e conta com o especial apoio do Jornal da Bairrada. Assim, e para dar corpo à dupla inseparável tomada pelo vinho e pela comida, é também promovida a oferta turística da região em casa própria. Uma nota para a estreia do ‘Concurso de Fotografia Bairrada’ – cujas inscrições já terminaram –, que vai premiar os melhores retratos da região, com especial foco na trilogia vinho, gastronomia e território.

 

BAIRRADA Vinhos & Sabores 2017

 

O ‘BAIRRADA Vinhos & Sabores 2017’ é promovido pela Comissão Vitivinícola da Bairrada, pelo Município de Anadia e pela Turismo do Centro de Portugal, estando a sua produção a cargo da equipa de sempre, agora a liderar a novíssima revista VINHO Grandes Escolhas. Conta com o apoio da Rota da Bairrada, do Instituto da Vinha e do Vinho, da ViniPortugal, entre outras entidades, e com o financiamento do PO CENTRO2020. A entrada é livre e gratuita para quem não quiser adquirir copo de prova, cujo valor pode ser de dois ou três euros, mediante apresentação ou não de convite.

 

BAIRRADA Vinhos & Sabores 2017

Com um nome novo, a cada edição há novidades e este ano não é excepção. Este ano, o objectivo passou por envolver cada vez mais os diferentes players da região, em especial os produtores, para que eles próprios se organizassem na promoção de jantares e outros momentos de partilha e convívio. Afinal, os ‘Vinhos’ e os ‘Sabores’ assim o ditam. Os enófilos agradecem!

 

No Sábado, dia 09 de Setembro, pelas 20h30, as Caves São João abrem as suas portas, em Sangalhos, para um invulgar jantar in loco; já o produtor Mário Sérgio Nuno, da Quinta das Bágeiras, elegeu o afamado restaurante Rei dos Leitões, na Mealhada, para a realização do seu jantar. Os dados estão lançados e sabemos que este jogo de vinhos e comida promete. Falando em vinhos, os mesmos só serão revelados “ao momento”. Os menus já estão a ser cozinhados...

 

O valor dos jantares é igual nos dois casos: €35,00 por pessoa, com vinhos e IVA incluídos. As inscrições devem ser feitas junto de Sandra Monteiro, das Caves São João (geral@cavessaojoao.com, 234 743 118 ou 917 223 382), e, no caso da Quinta das Bágeiras, junto de António Paulo Rodrigues, do Rei dos Leitões (reidosleitoes@sapo.pt ou 936 200 714).

Wine Fest 2017 Porto 2017 | O regresso do evento vínico revelação

Após o grande sucesso da primeira edição WINE FEST realizado na cidade do Porto, seria inevitável o seu regresso, que acontecerá no dia 18 de novembro, entre as 15h00 e as 20h00, no Salão Nobre do Edifício da Alfândega, de portas abertas para o mesmo idílico cenário do rio Douro.

Wine Fest 2017 Porto

Organizado pelo Wine Club Portugal, de Luís Gradíssimo, o evento vínico WINE FEST 2017 PORTO vai reunir 30 produtores seleccionados, representando as regiões produtoras de vinhos em Portugal. Os verdadeiros apreciadores, poderão desfrutar de entusiasmantes provas de todos os tipos de vinhos (que grande surpresa aconteceu com o Pai Horácio no ano passado), entre tranquilos, espumantes, fortificados, novas colheitas e vinhos já de reconhecido prestígio, edições especiais e até algumas raridades. 

Wine Fest 2017 Porto

Nesta edição, estarão mais de 300 vinhos em prova!!!

WINE FEST 2017 PORTO abre as portas a todos quantos desejem usufruir desta alargada experiência sensorial, que promove a aproximação entre consumidores e produtores, numa fusão entre a consolidação de conhecimentos, o simples prazer de provar e a aprendizagem. 

Wine Fest 2017 Porto

Para verdadeiros “experts" o programa prevê, ainda, a realização de três ‘Provas Especiais’ que prometem ser inesquecíveis (ainda não me esqueci das espectaculares provas da VinilourençoCasa de Saima e dos Porto Dalva do ano passado).

Os bilhetes estarão em breve disponíveis através da TicketLine. O WINE FEST 2017 PORTO vai, uma vez mais, surpreender. Reservem já o dia 18 de novembro na vossa agenda.

Wine Fest 2017 Porto

 São poucas as "desculpas" que encontro para beber vinho (:-P), uma delas é tentarmos perceber a sua alma.  Analogamente ao que acontece com as pessoas, no que aos vinhos diz respeito, conhecemos verdadeiramente uma garrafa conversando com ela, bebendo e partilhando experiências.

Wine Fest 2017 Porto

A Wine Fest 2016 Porto foi uma óptima oportunidade para fazermos exactamente isso, e também por isso ganhou a distinção de evento vínico revelação do ano passado, cá no blogue !!! 

Não percam a oportunidade deste ano, e apareçam por lá para conversarem connosco na companhia de óptimos vinhos :-P

Restaurante Astória | Sem medo, para além do muro

"Eu vim do antigo mundo da gastronomia. Há muitos anos, entrei nas cozinhas do Hotel St. George e senti-me muito afortunado por trabalhar para chefes que estavam atrás dos seus fogões. Essa foi a era de ouro da gastronomia.  Passava os meus dias nas margens dos rios, nos bosques, nos campos, a caçar, a pescar e a explorar a natureza. Cozinhar era «apenas» cozinhar. A mãe Natureza era o verdadeiro artista e o nosso trabalho, enquanto cozinheiros, era permitir que ela brilhasse. Porque no final de contas, é apenas comida, não é? Apenas comida... Hoje há poucos chefes que percebem isso e que ainda estejam atrás de seus fogões. Já não sentimos a sua presença dentro da sala. Onde está o romance? Onde está o show? Onde está o teatro?" Marco Pierre White

Restaurante Astória

 Há uma altura em que é preciso abandonar a nossa zona de conforto. Quando usamos demasiado uma determinada roupa, esta começa a ficar com a forma do nosso corpo, perdendo as características que inicialmente nos levou a comprar essa peça. 

Numa das suas aulas, dizia sabiamente o professor Fernando Teixeira de Andrade, que é necessário esquecer os caminhos que já conhecemos, que nos levam sempre aos mesmos lugares. É o tempo da travessia: e se não ousarmos fazê-la, teremos ficado, para sempre, à margem de nós mesmos.

Restaurante Astória

 O restaurante Astória do Hotel Intercontinental Palácio das Cardosas encontra-se nessa travessia. Outrora conhecido pelo fine dining, o Astória procura agora ser procurado pelos seus petiscos (e por favor parem de chamar tapas aos nossos tradicionais petiscos!!!). Para substituir o estrangeirismo que o caracterizava, agora surge outro, o food to share, ou seja, sentarmos-nos à mesa do restaurante, com um grupo de bons amigos, uns belos vinhos e a partilhar boa comida, sem muita intervenção do chefe, permitindo que a qualidade do produto, que a mãe Natureza, seja o grande artista.

 Restaurante Astória

 É uma tentativa de regressar às origens, ao sabor, ao cozinheiro, enfim, à era de ouro da gastronomia. Para quebrar o gelo por estarmos num imponente hotel 5 estrelas, os aperitivos são tomados no Astória Lounge by Cattier. Num ambiente único e descontraído no centro histórico da cidade Invicta, é possível usufruir de uma flûte de champagne da prestigiada marca de champagne, cujos sabores frescos, ricos e subtis combinaram na perfeição com uma variedade de aperitivos do restaurante Astória. Fica dado o mote para o jantar: tradição partilhada com requinte.

Restaurante Astória

 O serviço continua a ser 5 estrelas, desde a amabilíssima Ana que nos recebeu, ao Daniel Mariz que nos apresentou apaixonadamente o novo conceito do restaurante, passando pelo João que nos preparou um delicioso cocktail com laranja, amêndoa e água tónica. Muito fresco e que despertou o palato para a refeição.

Iniciamos o jantar com a partilha mediterrânica, que inclui presunto ibérico pata negra 5 Bolotas, salmão marinado caseiro, camarão gigante selvagem grelhado, croquetes de batata trufados, beringela grelhada no forno a carvão vegetal, guacamole, crostini de azeitona e um cappucinno de espargos a duas texturas, muito voluptuoso, fresco e rico.

Restaurante AstóriaPodia destacar a gordura deliciosa e consistência estrutural do salmão, o fumo (resultado do novo forno a carvão) e mar do camarão ou a riqueza aromática dos croquetes de batata trufados, mas há algo que faz com que o todo seja muito maior que a soma das partes. Os produtos são bastante heterogéneos entre si, mas têm denominadores comuns que tornam esta partilha muito bem conseguida, a riqueza, densidade e pureza de sabor. Enquanto petiscávamos acompanhados pelas peras, ameixa amarela, melão, maracujá e excelente acidez do Três Bagos Branco 2016 reparámos que entre os dois dedos de conversa, havia passado uma hora, percebi ali o que o novo chefe  do restaurante Astória pretende... 

Restaurante Astória

 Para atrair pessoas que habitualmente não frequentam este género de restaurantes o chefe Jorge Sousa reinventou toda a carta (não existe um único prato que transite da anterior), eliminou o formalismo das toalhas brancas e voltou para trás dos seus fogões. Largou o luxo e agarrou o requinte, desprendeu-se das espumas e abraçou o forno a carvão.

E se há um prato que simboliza toda esta metamorfose do Astória, esse prato é o T-bone, carne taurina de Barcelos, maturada 25 dias em Espanha. 

Restaurante Astória

 Um osso em formato de "T" que divide dois lados e dois tipos de carne. O lado maior é de contra filé carregado de sabor, e o lado mais pequeno é o sedoso filé mignon. Sabor, complexidade, textura e um delicioso "sumo de carne". Quando provamos as diferentes carnes em conjunto acontecem diferentes coisas no palato mas todas ao mesmo tempo, de forma complementar e não conflituosa. Há sabores verdes e de terra, há doce gordo quase floral, há adstringência e há acidez que nos pincela a língua de forma quase irresistível. Foi acompanhado magistralmente por um Campolargo Pinot Noir 2010, na minha opinião, o melhor Pinot Noir que se faz em Portugal. 

Restaurante Astória

Fruta vermelha, sous-bois, couro, cogumelos e uma finesse, estrutura e secura que o aproxima, e muito, aos vinhos da Borgonha. A óptima acidez casou na perfeição com o "sumo de carne" gordurosamente delicioso do T-bone. 

A intrometer-se neste casal feliz, de carne e vinho, apareceu um Sr. puré de batata doce (aqui nasceu uma paixão :-P). Bastante cremoso, rico e com um toque de caramelo. Meus amigos, só vos digo isto:  é de comer e chorar por mais :-P

Era chegada a hora das sobremesas, a primeira foi um belo de um fondant de chocolate com 70% de cacau, que foi acompanhado por espuma de chocolate branco, sorbet de framboesa e pimentão doce. 

Restaurante Astória

 Adorei o contraste a três entre o calor do pimentão doce, a indulgência do chocolate e a acidez do sorbet de framboesa. A estrela desta sobremesa é o pimentão doce, dá a esta criação gosto, corpo e cor. Para a harmonização o escanção Luís Marinho escolheu um Quinta do Portal Porto Late Bottled Vintage 2009. Rico e estruturado, concentrado em taninos e repleto de fruta (preta e vermelha) bastante madura, equilibrou o desiquilibrio (brilhante) da sobremesa.

Restaurante Astória

 E já que estou a falar do Luís, ele é um dos motivos porque vou sempre com bastante alegria ao Astória, põe a dançar comida e vinhos ao mesmo ritmo, é sem dúvidas dos meus escanções favoritos. Para a outra sobremesa,  um cheesecake de tangerina, gelatina de citrinos e Grand Marnier, espirais de chocolate e sorvete de ruibarbo,  o Luís arriscou (mais uma vez) e escolheu uma bebida "caseira", Cointreau (um licor parecido com o“Triple Sec”), licor de laranja e sumo de limão, bem fresco. Parece uma mistura de laranjas doces e laranjas amargas, perfeitamente balanceadas, é  rico e macio, picante e refrescante, amargo e doce. Desiquilibrou o equilibrio da sobremesa e acompanhou muito subtilmente a laranja e conhaque do Grand Marnier, o sabor forte e acre do sorvete de ruibarbo e a frescura do cheesecake de tangerina e gelatina de citrinos. Brilhante harmonização Luís, parabéns!!!

Restaurante Astória

É daqueles pratos que se tem de provar tudo ao mesmo tempo, e tudo ao mesmo tempo, é um hino à fusão de sabores e riqueza de aromas.

 Eu preferi o fondant, a minha esposa, preferiu o cheesecake. Acho que o primeiro tem tudo o que uma sobremesa de contrastes tem de ter, o segundo é mais uma fusão harmoniosa de sabores. Provem e desempatem isto :-P

Enquanto discutiamos qual seria a melhor sobremesa, fomos degustando uns deliciosos macarons que ladearam o café. Como não chegávamos a um consenso sobre qual tinha sido a melhor sobremesa, lancei outro tema,qual o melhor conceito para o Astória, o anterior ou o actual?

Restaurante Astória

  Aí já estávamos de acordo, acho que até a Bia concordou connosco (já lá vão uns meses, mas este foi o primeiro restaurante em que esteve, após ter nascido, numa noite fria de inverno). Ainda bem que o chefe Jorge Sousa, depois de experiências no  L´Atelier de Joel Robuchon, em Paris, e o Chateau de Reilly, em Reilly (França) hoje está a espalhar a sua magia pelo Astória. Só alguém com a "bagagem de cozinheiro" como a dele poderia arriscar um corte tão grande, tão vincado e tão "sem medo" com o passado. É quase como se a sua presença se fizesse notar na sala, um manto protector do sabor, da qualidade, da tradição e potenciador da conversa amiga.

  Para quem tem medo, e a nada se arrisca, tudo é ousado e perigoso. Na cozinha, tal e qual como acontece nas relações humanas, é o medo que castra nossos abraços e esteriliza os nossos afectos, e nos coloca sempre do lado de cá do muro. Ainda bem que este chefe não tem medo :-P

Restaurante Astória

 Na aula que vos falei no inicio, o professor Fernando Teixeira de Andrade, referia, aliás, mais que referia, avisava, que esse medo que se enraíza no coração do homem impede-o de ver o mundo que se descortina para além do muro, como se o novo fosse sempre uma cilada, e o desconhecido tivesse sempre uma armadilha a ameaçar nossa ilusão de segurança e certeza.

Por isso é que vos digo sem medo: Onde está o romance? Onde está o show? Onde está o teatro? Onde é que a comida é "apenas" comida? Onde se tenta regressar à era de ouro da gastronomia? Onde é que aquilo que se partilha é muito mais que a comida? No Astória pois claro :-p

 

A todo o pessoal do Astória com quem tive o prazer e a oportunidade de conversar, ao chefe Jorge Sousa, ao Luís Marinho e também à Andreia Martins que me convidou, que encontrem coisas bonitas do lado de lá do muro, pois bem o merecem.