Sushisan Porto | Quando a alma não é pequena
"Tudo o que é belo tende a ser simples. Afirmação generalizante? Não sei. O que sei é que a beleza anda de braços dados com a simplicidade. Basta observar a lógica silenciosa que prevalece nos jardins. A vida ocupa-se de ser só o que é. Não há conflito nas bromélias, não há angústia nas rosas, nem ansiedades nos jasmins. Cumprem o destino de florirem ao seu tempo e de se despedirem do viço quando é chegada a hora. São simples." Fábio de Melo
Tudo o que é de qualidade tem de ser caro e complicado? Nem sempre...
Esta pergunta surge a propósito da minha visita ao Sushisan e é também uma resposta simpática (sem qualquer tipo de provocação :-P) a alguns de vocês, que me acusam de visitar sítios muito caros e que a maior parte das pessoas não tem a possibilidade de visitar. Porque tal como num jardim, o bom e o bonito, não necessita de ser complexo e dispendioso.
A marca Sushisan iniciou a sua actividade em 2009 com a abertura do primeiro espaço em Sintra. Tendo o seu conceito sido um sucesso, a expansão para a zona central de Lisboa foi o passo seguinte para a abertura de novos espaços: em 2012 na zona do Príncipe Real e Parque das Nações, em 2015 na zona do Saldanha e em 2016 na zona do Cais Sodré, no Porto e em Almada.
O espaço do Porto situa-se na Rua Dr. Emílio Peres, perpendicular à Avenida da Boavista, perto da rotunda, num local calmo e bastante central. À nossa espera (como vem sendo hábito fui com as minhas duas princesas) tínhamos uma flor e uma sopa Miso Shiru com algas, peixe e cebolinho. A introdução do miso, feito a partir da fermentação de arroz, cevada e soja com sal, dá à sopa caracter, riqueza e orientalidade. Carregada de sabor e densidade, esta é também um comida de conforto, em que devemos colocar a colher de lado e beber directamente da malga.
Seguiu-se o rodízio gourmet - all sushi you can eat - com uma infindável quantidade se sushi e sashimi. Quantidade neste género de espaços costuma significar uma de duas coisas; ou a qualidade é sacrificada ou o preço é elevado.
Comecemos pela qualidade, no Sushisan Porto faz-se um upgrade às técnicas ancestrais e aos ingredientes mais tradicionais do Sushi para criar sabores únicos e inesperados, marca indelével do compromisso do Sushisan com a satisfação dos clientes.
Destaco-vos o salmão deliciosamente salgado, picante, com uma mistura de mar e fumo, quase como se estivéssemos numa manhã de nevoeiro, à beira mar, junto a uma fogueira. É realmente muito bom. Para os que ainda se estão a iniciar nisto do sushi, há uma fusão com o queijo Filadélfia, com a cebola tostada e até com os frutos secos. Isto permite que se vá abraçando os sabores orientais, mas (ainda) de olhos postos no conforto ocidental.
Com o tempo irão ver que esse abraço se vai tornar cada vez mais intenso, e o medo de deixar o conhecido ou cómodo deixa de existir. O Sushisan Porto é o local ideal para essa transição. Permite iniciação mas também permite que nos apaixonemos pela comida tradicionalmente oriental. O vinho que acompanhou a refeição foi um Duas Quintas Branco 2016.
Límpido e brilhante é um vinho onde os aromas a acácia, citrinos, pêssegos, peras maduras e pimenta preta abundam. No palato mostra bom corpo, é elegante, fino, harmonioso e com uma excelente acidez. É essa acidez que permite um casamento muito feliz com o sushi.
As peças de sashimi e sushi que vão saindo para a mesa são sempre diferentes neste rodízio (outra marca diferenciadora desta casa) de modo a que os clientes tenham uma visão mais abrangente possível. Gostei também muito dos hot roll, sushi empanado, que deu uma textura deliciosamente crocante às peças mas que não os deixou desmaiado gordurosos.
O Gunkan de Salmão, atum e cebolinho é muito espirituoso, com uma textura amanteigada, quase oleosa e com um sabor fresco ousado e apetecível. O final voluptuoso é bastante agradável. A mistura dos peixes é inefavelmente deliciosa e complementar. A introdução de um "ovo de maracujá" e cebolinho noutro hot roll é uma das coisas deliciosamente simples que vou guardar desta minha visita.
Antes das sobremesas, mais um par (que neste caso são 3 :-P) de bons exemplos do sushi de fusão, com aposta em produtos sublimes, frescos e numa confecção de excelência, feita no momento. Uramakis com queijo derretido, gunkams com noz e uramakis com salmão e ananás dos Açores. Tão bons quanto inesperados!!!
E o preço desta viagem gastronómica riquíssima? Inacreditavelmente baixo. Tudo o que é de qualidade tem de ser caro e complicado? No Sushisan Porto não.
Enquanto conversava com o proprietário Carlos Guerra foi isso mesmo que ele me transmitiu. Quer que ali seja servido bom sushi (para os que já adoram e para os que se estão a iniciar), com ingredientes de excelente qualidade, num espaço tranquilo e funcional, e a um preço que não impossibilite as pessoas de o provarem. Não é fácil encontramos um dono, que tendo uma casa que é assente em preços baixos, prefira fechar o restaurante a baixar a qualidade ou a exigência. Isso é a melhor garantia de determinação que se pode dar.
Depois a simpática Jo Herrera surgiu com as sobremesas; tentasan com mousse de chocolate, creme mascarpone, gelado de sésamo e amêndoas caramelizadas (o gelado apetece trincar :-P) e morangos san com morangos salteados com com gengibre e brandy acompanhado com menta e gelado que provoca um contraste de sensações. Duas pontes em forma de sobremesa entre o ocidente e o oriente, cujos denominadores comuns são a intensidade de sabor, frescura e toques de surpresa no palato.
Fernando Pessoa escreveu através de Caeiro que da aldeia dele se podia ver do Universo, e que por isso a aldeia dele era tão grande como outra terra qualquer, concluindo dizendo que era do tamanho do que via e não do tamanho da sua altura...
Assim é o Sushisan Porto, não do tamanho dos preços que pratica mas do tamanho da alma abnegadora do seu dono. Parabéns e tal como as flores do jardim de Fábio de Melo, não se preocupem a ser o que não são, pois o que já são, deixou-me conquistado.
Carlos Guerra e Sofia Sousa peço desculpa pelo atraso na publicação, mas não queria que este fosse "apenas" mais um texto.