"Hoje, no meu sexagésimo quarto aniversário, posso-vos dizer com sinceridade que, desde que cheguei à velhice, sempre bebi mais do que a maioria das pessoas diria que é bom para mim. Não me arrependi disso. O vinho, ao longo deste anos, foi para mim um amigo fiel e um sábio conselheiro. Muitas vezes ... o vinho mostrou-me a vida na sua verdadeira perspectiva e, como por toque de varinha mágica, reduziu grandes desastres a pequenos inconvenientes. O vinho iluminou-me páginas de livros e foi testemunha assíduo do romance que vivi. O vinho tornou-me ousado, mas não tolo; induziu-me a dizer coisas tolas, mas não a fazê-las."  Duff Cooper

 Na Quinta de Sanguinhedo, situada no norte de Portugal, entre as cidades de Felgueiras e Amarante, ergue-se o Monverde Wine Experience hotel, o primeiro hotel vínico da Rota dos Vinhos Verdes.

O Monverde é o rosto dos seus proprietários e um reflexo do que é hoje a Quinta da Lixa e da paixão pelo vinho e pelo que a natureza nos dá. Ali, estamos embebidos num nevoeiro de paixão pelo vinho e por tudo o que o rodeia, pelos seus mistérios, pelo que vamos sabendo sobre ele e pelo que faz com que cada golo seja diferente. 

Todas as diferentes atmosferas do hotel conspiram para que a estadia seja verdadeiramente inesquecível, que envolva todos os nossos sentidos na vinha e no vinho, nas suas castas e nesta beleza tão natural. 

 Enrolado num ambiente de cores da terra onde as dimensões do vinho, território, clima e tradição pontuam em todos os detalhes, há por toda a parte objectos únicos dos trabalhos na vinha, surgindo como elementos esculturais que desenham o hotel, alguns deles perdidos no tempo.

 O Monverde Wine Experience Hotel dispõe de 29 quartos e 1 apartamento, distribuídos pela propriedade em três distintas estruturas. Os quartos são confortáveis, funcionais, perfeitamente integrados na paisagem e estão vestidos com um casual chic que lhes assenta muito bem.

 No edifício principal encontram-se os espaços sociais: SPA, piscina interior e exterior, restaurante, wine bar, ou uma zona leaving que apela à leitura ou a momentos em boa companhia, são apenas algumas das possibilidades.

 O mote ‘Wine Experience’ é respirado em todos os cantos do hotel e no restaurante ganha novos aromas e intensidade. Em qualquer que seja a mesa escolhida, os visitantes são brindados com duas garrafeiras no horizonte – uma de parede, onde se podem observar vinhos provenientes das diferentes Regiões vitivinícolas do país; outra a céu aberto, a monumental vinha da Quinta da Lixa.  Depois de já estarmos os três seduzidos por esta "elegância vínica", era chegada a hora do jantar.

 Como cumprimentos do Chefe Carlos Silva tivemos crocante de alheira com redução de vinho doce acompanhado pelo O tal da Lixa - Sparkling. A redução de vinho doce funcionou muito bem com a ligeira voluptuosidade da alheira e com a acidez em forma de toranja e lima do espumante.  O primeiro momento do menu vínico estava reservado para o escalope de Foie gras, com morangos salteados e molho de laranja harmonizado com um Sweet Creations 2015. 

Sei que ainda vou no inicio da descrição do jantar, mas posso-vos já revelar que este foi o meu momento favorito. Muito por culpa de um Foie gras sedoso, quase com a textura de queijo derretido (ou de um ovo mal passado) e que se desfaz na boca onde encontra a acidez da laranja e aroma dos morangos. 

 O engraçado neste prato é que os morangos salteados fazem a ligação com o vinho de forma magistral, abrindo a porta para as lichias (muitas lichias), maracujá, damasco, ananás e flor de laranjeira do Sweet Creations 2015. Fez-me lembrar um bom Sweet Riesling e esse é um dos melhores elogios que lhe posso fazer, outro é o facto de ter comprado uma caixa para desfrutar com amigos e família :P

Seguiu-se o peixe predilecto dos grandes Chefes, pregado com puré trufado e bisque suave de mariscos, que entrou em cena de mãos (serão antes barbatanas? :P) dadas com o Pouco Comum Alvarinho 2016. Acompanhado com espargos cozinhados no ponto, o peixe bastante macio e com um sabor maravilhosamente suculento ganha excentricidade na presença de um vibrante puré de trufas. O aroma das trufas combinou muito bem com a brisa perfumada do vinho, que ainda acrescentou, maracujá, ameixa amarela, pêra, limão, giesta, frescura e alguma mineralidade. Um bom momento...

 Esta ocasião marcou ainda a estreia da Bia a jantar fora de casa (nossa e dos avós), uma massinha esparguete. Entre o pedido e a chegada do prato passaram apenas 5 minutos. Quando questionamos a simpática chefe de sala Joana Monteiro acerca desta rapidez, esta informou-nos que na cozinha há sempre uma panela a ferver para estas eventualidades.  Este é apenas um exemplo  do cuidado, afinco e paixão com que ali se trabalha... 

Já agora, a Bia adorou a massa :P

No prato de carne tivemos um riquíssimo naco de vitela sobre migas de grelos concertado com um Quinta da Lixa Reserva Alvarinho 2015. A vitela muito suculenta e carregada de sabor dançava muito bem com os pêssegos, maracujás e notas florais do Alvarinho. Notas florais essas que acentuavam o sabor dos grelos, o fumo do toucinho e a textura irrepreensível das migas.

 O "exagero aromático" da casta está contido (não é um critica, gosto disso), a madeira não se sobrepõe à fruta e o vinho tem uma espécie de gordura que o faz ganhar estrutura. Longo, fresco e complexo, é um vinho surpreendente. 

A competente e dedicada responsável pelos vinhos Daniela Ribeiro informou-nos que esses traços invulgares eram resultantes da singularidade e originalidade do terroir, com solos que misturam o granito muito próprio da Região dos vinhos Verdes com o xisto mais típico da Região do Douro.

Enquanto a Bia colocava a leitura em dia, surgiu na mesa o toucinho-do-céu com gelado de nougat de frutos secos casado inesperadamente com uma Aguardente Velha Morgado da Vila. Quando se provam em conjunto o gelado e o pó de bolacha, para mais tarde cheirar a aguardente, parece que estamos na presença de um Tawny antigo, envelhecido por muitos anos em casco.

O toucinho-do-céu é apurado, guloso, fresco e possuidor de um  maravilhoso requinte conventual, onde os seus ingredientes exaltam aromas e sabores únicos e bem interligados dos ovos, das amêndoas e da chila. A amêndoa é o elo comum a este ultimo momento do jantar, está no toucinho-do-céu, está no gelado de nougat de frutos secos e está na Aguardente Velha Morgado da Vila. Para além de amêndoas exibe ainda tosta, caixa de tabaco e especiarias. Já provei muitas aguardentes vínicas antigas, esta é, sem margem para dúvidas, a minha favorita. Aveludada, graciosa, muito concentrada e com um final longuíssimo, complexo e muito equilibrado. 

Um vinho, uma aguardente com mais de 50 anos, ao longo de tantos anos, é mais que uma bebida, é mais que uma harmonização para um determinado prato, tem obrigatoriamente de ser um amigo fiel e um sábio conselheiro. É com pedaços de história como este, em forma de liquido, que como por toque de varinha mágica, alguns grandes desastres se resumem apenas a pequenos inconvenientes :-P

O dia seguinte amanheceu com nevoeiro e muitas folhas, não o nevoeiro de Fernando Pessoa que envolve os portugueses, não os deixando ver a realidade de uma forma clara e racional, mas o de Ben Hecht, que realça a beleza das coisas e que nos dá a hipótese  de as imaginar ainda mais agradáveis, sonhando acordados. Um nevoeiro de inverno, sereno, melancólico e até misterioso, espectador das folhas que caiem solenemente, para mais tarde morrerem sensacionalmente, deliberadamente e propositadamente, para nos deixarem com um som saudade. 

 Mostraram-nos no Monverde Wine Experience Hotel que o vinho traz na sua essência, o que o seu mentor carrega na alma. Acrescento que esse desígnio também se pode aplicar a este boutique hotel, pois como se costuma dizer quando alguém desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força, todo o universo conspira a seu favor. Inicialmente era "apenas" para ser uma casa grande para os amigos do vinho, mas com o decorrer do tempo, pedra sob pedra, copo após copo, foi crescendo, ganhou raízes e tornou-se num dos mais belos hinos a esse amigo que nos vai acompanhando ao longo da vida, principalmente nos bons momentos, que é o vinho.

Obrigado Daniel Barreiro pela extrema amabilidade com que fomos tratados no Monverde. Também por isso, iremos com certeza voltar...

 A primeira carta assinada pelo Chef Francisco Pico no Restaurante Astória acaba de sair do forno, literalmente. O menu reinventa sabores portugueses e combina três características imprescindíveis: tradicional, sazonal e clássico. Há ainda um menu para grupos, inspirado no conceito food to share. 

 Descobrir Portugal pelo paladar é o desafio da nova carta do Restaurante do Palácio das Cardosas, que revisita os sabores tradicionais portugueses e lhes dá um toque moderno e actual. A viagem gastronómica começa, claro, com as entradas, onde é possível degustar, por exemplo, uma Sopa de abóbora manteiga com crème fraîche de limão e “crumble” de enchidos ou a Salada de Beterraba assada com nozes caramelizadas, “Blue cheese” e rúcula. 

 O roteiro segue pelos pratos principais, onde há paragem (quase) obrigatória no Tradicional bacalhau curado e aromatizado com limão e coentros, puré de grão-de-bico e chalotas caramelizadas. O bacalhau é confeccionado a baixa temperatura (cozido e, de seguida, finalizado no forno a carvão mineral) para optimizar a textura e torná-lo ainda mais agradável ao paladar. 

Nos pratos de peixe, o Chef sugere ainda o clássico Linguado de Mar da nossa costa com molho de manteiga, alcaparras e funcho e, nos de carne, o Lombinho de borrego assado em carvão, cinza de alho francês e cogumelos e puré de batata com manteiga tostada ou o Lombo de javali com puré de castanhas assadas, cogumelos selvagens e molho de vinho do Porto com chocolate amargo.

 Para os que preferem dar um passo mais seguro nesta viagem de sabores, existem quatro opções confeccionadas em forno a carvão, como o “Poussin” com molho piri-piri ou o Bife de Lombo de vitelão. Para acompanhar os pratos principais há diferentes opções, como selecção de vegetais da época salteados ou gratin de batata com queijo “gruyere” e parmesão. 

 Seguimos viagem pelas sobremesas, onde se destaca o reinventado Pudim Abade de Priscos com gelado de vinho do Porto; a “Pavlova” com suspiro, chantilly de baunilha e frutos do bosque e, claro, o destino de eleição: Fondant de chocolate 70% cacau com espuma de chocolate branco, sorvete de framboesa e pimentão-doce. Para grupos a partir de quatro pessoas, o Restaurante Astória disponibiliza um menu especial, para partilhar, com três entradas, um prato principal (carne ou peixe) e três sobremesas.

 Nas palavras do Chef Francisco Pico, “este é um menu que envolve, além da minuciosa selecção de ingredientes e máxima dedicação na confecção, pessoas. Toda a equipa de cozinha participou na elaboração dos pratos e da nova carta, contribuindo para a decisão do que poderia ou não resultar de acordo com a experiência que trazem na bagagem, nomeadamente o contacto directo com o cliente do Astória. No fundo, é um menu de (um) autor, mas inspirado por vários.”

 As propostas gastronómicas do Restaurante Astória pretendem responder aos gostos mais requintados, desde os clientes locais aos estrangeiros, que querem conhecer (ou reconhecer) os sabores do nosso país. A nova carta do Astória, com um conceito focado na Modern Portuguese Cuisine, está disponível ao almoço – a par do menu semanal –, e ao jantar.

"O que realmente quero para o Natal? Quero a minha infância de volta. Sei que ninguém me pode dar isso. Posso, no entanto,  guardar essa memória para mim mesmo, se eu tentar. Eu sei que isto não faz muito sentido, mas desde quando é que o Natal é para ter sentido? É sobre uma criança, há muito tempo e muito longe, e é sobre a criança de agora. Em ti e em mim. Que um dia, agarrados a nossos corações, esperamos atrás da porta para que algo maravilhoso acontecesse." Robert Fulghum

 Dezembro é certamente um dos meses mais movimentados do ano para muitos de nós:  o que fazer nas férias, presentes para escolher, prazos apertados no trabalho e inúmeros amigos e familiares para rever. E claro, é o mês do Natal, o mês de voltarmos a ser crianças, em que alguns de nós ainda esperam atrás da porta para que algo maravilhoso aconteceça. Outra coisa que também me agrada muito nesta altura, é que está carregada de sabores. É uma explosão no nosso palato. Uma batalha épica entre o "Não, eu não deveria" e o "Que se lixe, é apenas mais um!".  

 Para mim o Natal também tem muito a ver com vinho (quer na escolha para a ceia, quer nos presentes que se possam receber :-P), e por esse motivo entro verdadeiramente no espírito Natalício aquando do Christmas Wine Experience do The Yeatman Hotel, que costuma acontecer lá pelo inicio de Dezembro. Neste ano convenci a família e amigos a irem um pouco mais cedo (:-P) e enquanto esperava impacientemente que se dessem início às hostilidades, percebi que estes momentos despertam em mim um sentimento parecidos aos da noite de 24 de Dezembro, ansiando pelo abrir dos presentes da manhã seguinte. Eu sei que isto não faz muito sentido, mas desde quando é que o Natal e os vinhos são para ter sentido?  E por falar em vinhos, vamos começar a falar deles, nos brancos gostei mesmo muito do Cartuxa 50 anos 2012. 

50 é uma referência histórica aos anos passados depois de Vasco Maria Eugénio de Almeida ter criado a Fundação Eugénio de Almeida para promover o desenvolvimento social cultural, educativo e espiritual da região eborense. O peso do álcool e os 25 dias de curtimenta dão-lhe um pulso que a falta de madeira lhe poderia retirar. Muito complexo com aromas florais especialmente a flor de laranjeira, toranja, pêssego, manga, resina e com a irreverência da fruta madura em calda. Na boca é envolvente, irreverentemente fresco, cremoso e equilibrado. Termina acetinado, longo e com classe.

 Enquanto contemplava a vista magnífica que o The Yeatman permite, conversei um pouco com um par muito interessante: o Quinta da Gaivosa e o Abandonado, ambos de Alves de Sousa, e ambos de 2013. Já vos disse anteriormente que gosto muito do Abandonado,  aliás, sou mesmo fã. Muito estruturado, pintado com precisão, sedutoramente complexo, intenso, elegante e equilibrado. No nariz mostra eucalipto, alcatrão, ameixa, mirtilos e amora silvestre. Junta músculo e elegância na mesma garrafa, o que nem sempre é fácil e óbvio. É um gladiador com coração de menino. 

 No Quinta da Gaivosa a complexidade mantém-se, o músculo diminui e aumenta a elegância. Aromas a frutos silvestres, folha de eucalipto, violetas, baunilha, pinha, ameixas e especiarias. A mineralidade, elegância e equilíbrio tornam-no aparentemente frágil, mas não o é, é um menino que sonha em ser gladiador :-P

 Depois um clássico, Chryseia, este de 2015. Chryseia significa "d'ouro" em grego antigo, e tal como o rio, mantém-se fiel a um estilo muito próprio: equilíbrio e elegância, aqui não há gladiadores :-P  No nariz exibe ameixas, cerejas e groselhas maduras escondidas no seu manto violeta. Esta fruta é equilibrada pela frescura e pelos taninos muito maduros, discretos, mas presentes.  É intenso, focado e preciso, muito ao estilo de Bordéus. Não está demasiado marcado pela madeira, talvez pela fruta ter um maior peso que na edição de 2014, dando-lhe maior elegância. Agora, finalmente, percebo porque este vinho tem a fama que tem e porque se chama Chryseia :-P

Entre um copo e outro convém ir forrando o estômago com alguma comida para evitar males maiores :-P A comida serviu também como "corta-sabores", permitindo uma melhor passagem para os licorosos... O primeiro foi o Moscatel Favaios 1980.  O rótulo desenhado pelo Arquitecto Siza Vieira combina na perfeição com a sua cor âmbar escura.  Muito denso, cítrico, equilibrado e rico . O estágio em madeira deu-lhe  cedro, mel, noz, uvas passas,  figos secos e cacau, muito Natalício ;-P

Depois uma "coisa" totalmente diferente e o vinho mais caro em prova. Aviso já que a nota de prova vai ser também "diferente". Tem marmelada, casca de laranja, chocolate, damasco e amêndoas, é muito picante, fresco, salgado e seco. Puro, vibrante e aristocrata, acho que é por isto que o Robert Parker defende que esta casta tem um potencial de envelhecimento ... imortal.  

À primeira estranha-se, depois entranha-se. Como se costuma dizer na Madeira, se tens uma coisa muito boa faz como quem tem Terrantez: Bebe-o, não o vendas nem o dês :-P

Nos Porto dois Vintage memoráveis de 1983 e 1985, ou não fosse 1983 o meu ano, e 1985 o ano da minha princesa mais velha. E no que a estes Porto diz respeito, por enquanto, estou em desvantagem ... por enquanto... :-P

O envelhecimento enobreceu o Graham´s 1983. Aroma muito rico, com as violetas e o eucalipto a juntarem-se à fruta bastante madura, ao couro e às especiarias. O paladar é encantador, cheio e sedoso, com taninos redondos e uma óptima acidez que lhe dão um bom potencial  de envelhecimento. Nectarino, untuoso, sensual, denso e complexo. É um vinho realmente muito bom e erudito. 

Disseram-me que em provas cegas, o Graham's 1983 supera invariavelmente os seus concorrentes, 1983 é assim :-P O "problema" do 1983 é que apesar destas características, ainda não conversa totalmente connosco, está lá tudo, falta apenas que perca a timidez. Algo que já aconteceu com o Dow's 1985...

Este Dow's 1985 é como uma mulher bonita, uma mulher bonita de 1985 (como a minha princesa ;-)), faz sentido como um todo. É a alegria em forma de morangos, groselha, uvas passas, cassis, mirtilos, resina, café e um toque de especiarias. Uma sinfonia de sabores realmente incrível. Um Porto mais leve que mostra um maravilhoso foco e diversidade de sabores, que está no seu apogeu...

 E agora vamos fazer marcha-atrás, de volta aos tintos, para vos falar do vinho que mais me encantou nesta tarde de celebração.  Não é Douro, não é um blend, tem Alicante Bouschet, ou seja, tinha tudo para eu não me apaixonar, mas apaixonei... O Gloria Reynolds Cathedral 2004, a primeira edição deste vinho, é muito profundo, maduro e elegante, com mirtilos e ameixa, chocolate preto, pimenta, violetas, alfazema e uvas passas.

 É muito persistente, quase como um rebuçado sem açúcar, com uma excelente estrutura, equilíbrio e muito mas mesmo muito complexo. Tem carácter, delicadeza, energia, frescura e magia... Fiquei a saber que o meu vinho favorito tem um primo alentejano ;-P

 E como o Natal é mesmo uma época de família, amigos, comida e vinhos fabulosamente festivos, nada melhor que celebrar com eles a memória de uma criança, de há muito tempo e de muito longe, e que ela nunca se perca, em ti e em mim.

 Que um dia, agarrados a nossos corações, esperamos atrás da porta para que algo maravilhoso acontecesse. Uma criança pura, utópica, simples e terrivelmente vulnerável à alegria, que aprendeu a gostar de vinho ;-P

Uma palavra também para a organização, várias coisas melhoraram, comparativamente a edições anteriores, o preço subiu um pouco mas acho que limitaram (e bem) as entradas, desta forma foi muito fácil percorrer todos os espaços e quase que não havia fila para os vinhos (que cada vez são mais variados e de gama elevada), tudo isto para que se proporcionasse um ambiente descontraído, mas com requinte. Parabéns ;-)

 As novas edições dos vinhos Foz Torto anunciam a solidez de um projeto desenhado ao pormenor e amado como poucos. O Douro é também um lugar para vinhos de nicho que têm dentro um entusiasmo contagiante.

 Abílio Tavares da Silva é dono de um fascínio incondicional pelo Douro. Ano após ano, colheita após colheita, a mesma convicção na excelência da região vinícola e a mesma alegria em fazer parte daqueles que trabalham e usufruem da natureza e humanidade daquele território. Mas o produtor de Foz Torto não é apenas um lisboeta e informático emocionalmente convertido ao Douro.

 É um produtor envolvido em “fazer vinhos de qualidade superior e que integram o tempo, o lugar e o saber humano”, como o próprio comenta. Este compromisso genuíno com a terra e a natureza dão ao projeto um outro sentido e é dele também que disfrutamos quando bebemos os vinhos. Será este o segredo do reconhecimento e prestígio crescentes que os vinhos Foz Torto vêm conquistando?

Pode ser. Como também o é o pormenor e o cuidado com que tudo é feito. Da recuperação e plantação de vinha inicial aos lagares de granito em construção, para colheitas futuras; do manejo das oliveiras Foz Torto à produção do azeite da quinta; da pequena horta ao pomar, símbolos da biodiversidade que o Douro ainda esconde. Pode ser também do lugar. A vinha está plantada num sítio belíssimo, de paisagem majestosa de socalcos e muros em xisto, no coração do Douro e a poucos quilómetros do Pinhão.

Localizada nas encostas do rio Torto e na zona de encontro deste com o Douro, a quinta beneficia da influência de um vale que permite produzir “vinhos bem maduros, mas muito elegantes e finos”, caracteriza Sandra Tavares da Silva, autora dos vinhos Foz Torto. Este perfil de vinhos, acrescenta a reconhecida enóloga, “tem tudo a ver com a mistura de castas nas vinhas velhas que tradicionalmente existem naquele vale, com predomínio da casta Rufete, a qual permite criar vinhos mais leves e frescos”.

“A Quinta de Foz Torto tem um potencial incrível que se tem vindo a manifestar de modo consistente. São vinhos muito persistentes e profundos que se vão mostrando melhor ao longo dos anos”, refere ainda a enóloga ao concluir que os vinhos Foz Torto apresentam “um perfil muito complexo e rico”.

As novas edições dos vinhos Foz Torto em lançamento:

Foz Torto tinto 2015 – Vinho de lote de sete castas diferentes, com predominância de Touriga Nacional, Touriga Franca e Tinta Francisca e apontamentos de Tinta Roriz, Alicante Bouschet, Sousão e Tinta Barroca. PVP 13 euros

Foz Torto Vinhas Velhas tinto 2015 – Produzido a partir de uvas colhidas em Vinhas Velhas da Quinta Foz Torto, destacando-se o toque de frescura dado pela casta Rufete. PVP 33 euros

Foz Torto Vinhas Velhas branco 2016 – O branco Vinhas Velhas Foz Torto regressa ao mercado, depois do interregno do ano passado, resultado das trovoadas que, em 2015, dizimaram quase toda a colheita. Produzido a partir de Vinhas Velhas que o projeto Foz Torto possui em Murça. PVP 20 euros

"Por vezes a vida é como banquete com ovos Benedict e molho holandês, waffles e morangos, salsichas e batatas marrons raspadas. Noutras vezes é apenas ovos mexidos. Daqui a uns anos podemos não nos lembrar exactamente do que comemos, mas são essas memórias que nos mantem vivos" Lisa Schroeder

Localizado no coração da invicta, o Astória é o lugar ideal para começar o fim de semana perfeito, com um  delicioso e requintado brunch. Os comensais têm uma infinidade de opções, desde a pastelaria às sobremesas, até  a clássicos como os ovos Benedit, passando por um generoso buffet que incluí bacalhau com natas e lombo de porco assado.

 No total, são mais de 50 motivos em forma de iguaria que nos chamam para o Astória, ao Sábado, entre as 12h30 e as 16h00. Ao leme da cozinha está o novo Chefe Francisco Pico, que depois de ter passado por restaurantes de renome internacional como o Winter Garden, em Florença, ou o One Twenty One Two, em Londres, chega agora ao Porto, entrando pela porta grande.

Neste brunch, como em tudo o que sair da cozinha do Astória, o Chefe Francisco pretende elevar o nome do restaurante, oferecendo uma visão moderna e intimista da culinária portuguesa. As ofertas são tantas e tão variadas que o mais difícil é mesmo escolher :-P

 Para abrir o apetite podemos "picar" tábuas de queijos seleccionados e charcutaria tradicional, salmão curado e marinado com citrinos e uma agradável salada de beterraba assada. Tudo com ingredientes de máxima qualidade e frescura, não descurando a apresentação porque "os olhos também comem".

 Da cozinha saem pregos de vaca em bolo do caco com pata negra e queijo de cabra e mini cheeseburgers de novilho.  Em ambos os casos a carne suculenta e voluptuosa encontra no queijo o parceiro ideal, ganhando intensidade, complexidade e sabor.

 Depois, uma das minhas perdições, ovos mexidos e bacon. Há quem diga que com apenas uma omelete é possível percebermos a qualidade de um chefe de cozinha e estes estavam TOP, uma delicia. Mas o que é que faltava aqui? Espumante é claro :-P

E é a pensar nos winelovers que o Astória criou o Brunch&Bubbles, uma opção que torna este brunch memorável, complementando-o com o Espumante Intercontinental Palácio das Cardosas Bruto by Sidónio de Sousa. A maça verde, citrinos, bolha fina e elegância do vinho criam uma harmonização muito bem conseguida com os diferentes pratos, realçando o que eles têm de melhor. 

No entanto,  o meu petisco favorito foram os ovos benedict. Estes do Astória, são uma criação genialmente camaliónica. "Basicamente" são ovos escalfados na perfeição, cobertos por outros ovos, com diferentes texturas, bacon quente e crocante, pão torrado com manteiga e um molho holandês quente, cremoso e intacto, tudo com conta, peso e medida. O resultado é um jogo de sabores, texturas, densidades e intensidades muito rico, AMEI!!!

 Nas sobremesas, o departamento da minha princesa mais velha, no qual a mais nova lhe parece querer seguir as pisadas (tal foi a atenção com que olhou para as escolhas da mamã), há tarte de limão e merengue, bolo húmido de chocolate e frutos vermelhos (saborosissimo), tiramisu (irrepreensível), bolo de bolacha e mousse de chocolate.

 Os sabores distintos e fortes do café expresso, elegantes do creme de mascarpone (macio e cremoso), refinados dos biscoitos de ladyfinger e inefávelmente deliciosos do pó de cacau fazem deste, o melhor tiramissú que provei até hoje. No entanto, a minha atenção degustativa iria ser desviada...

 A actriz Emma Stone defende emotivamente que nós apenas temos uma vida, e que sendo essa vida maravilhosa há que pelo menos uma vez provar o bolo Red Velvet. Concordo com ela, este bolo tem qualquer coisa de mágico, uma estranha aquimia que alia a doçura do cacau à acidez do vinagre. Daqui a uns anos posso não lembrar exactamente do que comi neste brunch...

Mas são também estas memórias, estas surpresas, este encontro de estranhas alquimias pinceladas de magia que me fazem ansiar por mais um novo dia, de descoberta, que traz em si infinitas oportunidades de sermos de novo surpreendidos. Basta estarmos atentos ;-)

Façam com que a vossa vida seja sempre ovos Benedict e molho holandes, waffles e morangos, salsichas e batatas e batatas marrons raspadas :-P