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No meu Palato

No meu Palato

Sal Poente & Moliceiro | Canto V, estrofe 100: As ondas da vida

"Porque o amor fraterno e puro gosto
De dar a todo o Lusitano feito
Seu louvor, é somente o pros[s]uposto
Das Tágides gentis, e seu respeito.
Porém não deixe, enfim, de ter disposto
Ninguém a grandes obras sempre o peito:
Que, por esta ou por outra qualquer via,
Não perderá seu preço e sua valia." Luís de Camões, Os Lusíadas 

Sal Poente & Moliceiro

 Há uns anos aquando da participação no Encontro com o Vinho e Sabores Bairrada 2016, fiquei agradavelmente surpreendido com a harmonização proposta pelo restaurante Sal Poente de Aveiro, afamado pela sua especialização em bacalhau. Desde então que tinha a vontade de o conhecer um pouco melhor, e na planificação das visitas deste ano incluí-o nos prioritários. Enquanto preparava a visita com o Vasco Amaro, director do restaurante, surgiu o convite para conhecermos também o Hotel Moliceiro, um dos hotéis com mais carisma de Aveiro, melodiosamente pintado num cenário único de história, autenticidade e memória.

Sal Poente & Moliceiro

Aveiro é uma das minhas cidades favoritas e da qual guardo as melhores recordações. Abraçada à ria, Aveiro é uma cidade próspera com uma atmosfera jovem e energética. Um lugar adorável, berço dos moliceiros, dos ovos moles, das pontes jubonadas e dos pequenos canais pitorescos. 

Sal Poente & Moliceiro

 Chegamos ao Hotel Moliceiro a um sábado ao inicio da tarde. Mal se entra, somos imediatamente abordados pelo som subtilmente cativante, quase como um canto das tágides, sublimado, grandíloco e corrente do piano. A longa barra preta contrasta com as pinturas modernas na parede e as lâmpadas clássicas, transportando-o para uma nobre sensação de luxo e conforto.

Sal Poente & Moliceiro

 Os quartos do Hotel Moliceiro, elegantemente decorados, oferecem na sua maioria vista sobre a ria e um design moderno pincelado com detalhes vintage, sinónimo de luxo e conforto requintado. O cenário é completado por cores quentes e um aspecto relaxante, que dão aos quartos superiores um toque aristocrata. Todos os quartos são diferentes, cada um com uma decoração especial, de modo a que este conceito permita oferecer ao cliente diferentes emoções num mesmo Hotel.

Sal Poente & Moliceiro

 Depois de já estarmos agradavelmente instalados e de a Bia ter desarrumado tudo o que lhe era possível, descemos ao bar para saborear as boas-vindas do Hotel, ovos moles acompanhados por um cálice de vinho do Porto.  Com um piano de cauda negra, neste bar, há música ao vivo todos os dias, criando uma atmosfera intimista de charme e romance. 

Sal Poente & Moliceiro

 Depois, era tempo de regressar ao objectivo inicial desta visita a Aveiro. (Re)conhecer o Sal Poente. Instalado mesmo em frente ao canal de São Roque, num edifício único que um dia foi um armazém de sal, exibe um ambiente rústico refinado e uma cozinha de autor, conceptualmente tradicional, determinadamente contemporânea.

Sal Poente & Moliceiro

 O homem do leme é Duarte Eira, que antes de chegar a Aveiro passou pelo Hotel Régua Douro, Hotel Aquae Flaviae, Hotel Monte Prado & Spa e da Casa da Calçada Relais & Chateux. Duarte Eira foi ainda o vencedor da sétima edição do concurso “Revolta do Bacalhau” em 2011, um dos mais prestigiados prémios gastronómicos do nosso país. 

Sal Poente & Moliceiro

 As suas boas-vindas foram A Enguia em Escabeche, com enguia em crosta de Panko, escabeche e clorofila de salsa. Despertou os sentidos e preencheu o palato com a sua textura crocante e o seus sabores característicos a mar, vinagre e especiarias.

Sal Poente & Moliceiro

 O avinagrado da enguia em escabeche ganhou expressão e companhia com a acidez e mineralidade do Colinas Rosé 2015.  As cerejas, ameixa e morangos deram ainda uma certa irreverência à harmonização. 

Sal Poente & Moliceiro

 Antecedeu A Vieira e o Caviar, vieira corada, abobora manteiga, caviar e molho de queijo da serra. Tudo começa com uma vieira cozinhada no ponto, ornamentada com o sabor rico, salgado e ligeiramente doce do caviar. Depois, surgem a abobora e o queijo para complementar uma criação bastante fresca e complexa. O molho de queijo era intenso, no entanto o aroma a mar sobressaía, quase que procurando um complemento floral no vinho.

Sal Poente & Moliceiro

 Encontrou-o no Royal Palmeira 2015, um  loureiro um pouco tímido, mais elegante e com um nariz bem desenvolvido e complexo com aromas de lima, caramelo, menta, noz, fumo e um ligeiro toque a pão. Com um pouco mais de tempo no palato surgem ainda as frutas tropicais, uma pitada de cremosidade e um toque de maçã.

Sal Poente & Moliceiro

 Já conhecem (ou deviam conhecer :P) a minha paixão por foie gras, no entanto continuo a ser surpreendido pela multivalência deste ingrediente. No prato seguinte, Foie Gras, escalope de foie gras, terrine de rabo de boi, cebola balsâmica e molho de vinho do Porto, promoveu um pano de fundo  meloso, rico e guloso. O rabo de boi estava muito intenso e superiormente reduzido, no inicio sobrepondo-se ao resto, mas depois o foie gras  impõe-se e desperta todos os diferentes aromas do prato. Todo este exagero untuoso é equilibrado pela cebola balsâmica cuja acidez prolonga um pouco o sabor. O molho de vinho do Porto faz uma ponte vínica duriense com o Quinta do Noval Labrador Syrah 2015.

Sal Poente & Moliceiro

 Com ele o prato ganha expressão, especiarias, chocolate, alcaçuz, cereja e mirtilos. Um vinho muito suave, vibrante e equilibrado. A viagem pelos sabores do chefe Duarte Vieira continuou com A nossa versão de feijoada de sames, lombo de bacalhau confitado, estufadinho de sames com chouriço de barrancos, puré de feijão branco e creme de feijoada aromatizada com cominhos.

Sal Poente & Moliceiro

Cozinhado durante horas, exibe um sabor a mar inspirador que é conciliado de maneira muito original com o crocante da sames de bacalhau, com a frescura dos cominhos e com o ligeiro picante do chouriço.  O feijão da-lhe corpo, o crocante de "torresmos de bacalhau" da-lhe alma.  Uma obra prima de texturas, influências, sabores e sobretudo memória.

Sal Poente & Moliceiro

  Exigia a presença de um vinho com taninos polidos, carnudo mas equilibrado, como o Colinas Bairrrada Reserva Tinto 2010. No palato este vinho passeia em modo diva, complexo com azeitona, cereja, ameixa, groselha, notas vegetais verdes e eucalipto. É um vinho insinuante, com classe e ... delicioso.

Sal Poente & Moliceiro

Depois de ter saboreado uma refrescante esfera de mojito como corta sabores, tive a oportunidade de conhecer um espaço mais recatado e intimista do restaurante. Em estilo mezanino, é uma bonita invocação à grandeza do Portugal dos descobrimentos, ao Portugal do mar, ao Portugal dos nossos antepassados. É o local ideal para celebramos a vida, as conquistas e os amigos do presente. 

Sal Poente & Moliceiro

 O lombinho de Vitela Marinhoa e a trufa preta, corado com risotto de cogumelos aromatizado com azeite de trufa, laminas de trufa e legumes surgiu na mesa momentos depois.  Antigamente este animal eram utilizado para lavrar os terrenos, puxar pesados baldes água dos poços e para carregarem as redes dos pescadores. Hoje em dia, nestes trabalhos mais duros foram substituídas por tractores, e a vitela passou a ser  utilizada na gastronomia regional. Esta tinha uma suculência, uma suavidade e um sabor incríveis. Mas tinha mais, tinha um acompanhamento divinal. 

Sal Poente & Moliceiro

 O risotto bastante cremoso pincelava o prato com uma frescura extraordinária. As trufas tornaram-no mais elegante, requintado e complexo. Um prato rico e apurado que combinou na perfeição com a delicadeza do Dom Bella Tinto 2013. Frutos do bosque, violetas, amoras, pimenta, cravinho. É subtil, é elegante,  é longo, é o Dão. 

Sal Poente & Moliceiro

  Como sobremesa, O céu e os Ovos Moles, as natas guarnecidas com ovos moles, frutos vermelhos e gelado de framboesa. O pó de bolacha funcionava como elo de ligação entre os ovos moles e o gelado. O gelado falava com a framboesa, e a framboesa interagia com as natas. Escondida e tímida estava uma framboesa "açucarada" cujo sabor, textura e energia ainda hoje me fazem pensar nela :-P

Sal Poente & Moliceiro

Os frutos vermelhos ligaram o prato ao Quinta das Bágeiras Bruto Natural Rosé 2015, de uma maneira muito interessante. Inicialmente subtis no vinho, cresceram com a frescura e carácter da Baga. Surgiram ainda a amêndoa e uma ligeira sensação a mel que mandou a atenção do palato de volta para os ovos moles.  Uma harmonização com terroir, fiel às origens, muito dinâmica e bem conseguida.

Sal Poente & Moliceiro

 Esta sobremesa é também um símbolo daquilo que melhor se faz no restaurante. A história, a tradição, a memória, a paixão, o amor pela cidade, a vontade de estar com os amigos, o sabor; materializados em criações gastronómicas com evidente alma de cozinha de autor. Durante todo o jantar fomos sempre muito bem tratados (não apenas nós mas todas as pessoas que se encontravam no restaurante) e um bom exemplo disso foi a incessante quantidade de livros postos à disposição da Bia para que se fosse mantendo entretida, depois de ter devorado um prato de massa esparguete :-P

Sal Poente & Moliceiro

 Do Aprender as cores que a Bia adorou para os Lusíadas de Luís de Camões que encontrei no Moliceiro. Mais concretamente para o final do canto V. Na sequência da aparição do Adamastor na noite de 21 para 22 de Novembro de 1497. Muitos interpretam este canto como uma reflexão sobre a falta de identidade do Portugal presente, eu penso o contrário, para mim metaforiza a grandeza do Portugal dos descobrimentos. 

Sal Poente & Moliceiro

Um povo pequeno na dimensão mas grande na alma,  que cumpriu ao longo da sua História, a missão de transmitir os seu valores, as suas crenças, os seus costumes e também a sua gastronomia. Abriu novos mundos ao mundo, e mostrou que mantendo-nos fieis às nossas origens, fomos capazes de concretizar um sonho.

Sal Poente & Moliceiro

Esse amor fraterno e puro gosto de cantar as virtudes da terra a que pertencemos, encontrei-o também em Aveiro, no Sal Poente e no Moliceiro, e acho que é isso mesmo que os revestem de um carisma muito próprio. Não só por isto, mas também por isto, obrigado Vasco Amaro (Sal Poente) e Cristina Durães (Moliceiro) por nos terem proporcionado este fim-de-semana incrível em Aveiro.

Sal Poente & Moliceiro

 Esse amor fraterno e puro gosto pelo que fazem, nunca perderá o seu preço nem a sua valia, por muito exigentes que sejam as ondas desta vida.

Estes foram retratos dos momentos que, de hoje em diante,  me farão confundir a vossa cidade com o amor materializado na arte de bem receber, com carinho, com história, autenticidade e sentimento de pertença.

InterContinental Porto celebra São Valentim | Com casais e ... com solteiros

 Localizado na emblemática Baixa portuense, o Hotel InterContinental Porto - Palácio das Cardosas acaba de divulgar as propostas de São Valentim para uma celebração inesquecível a dois (e não só).

 Sendo o jantar um dos momentos mais especiais do Dia dos Namorados, o Astória, restaurante da unidade de cinco estrelas do Porto, apresenta um menu gastronómico sofisticado e sedutor, que promete despertar todos os sentidos e emoções.

InterContinental Porto celebra São Valentim

 E porque as surpresas não se querem apenas no paladar, será sorteado um voucher de uma noite para duas pessoas com pequeno-almoço incluído, para usufruir até ao final do ano. Disponível a 13 e 14 de fevereiro, a refeição no Astória começa com duas sugestões do Chefe, preparadas especialmente para a data: Lavagante confitado & risotto de açafrão, amêndoa caramelizada e espuma de baunilha do Madagáscar e Filete de Robalo & couve-for fumada, com ervilha torta, rabanete, aveludado de champanhe e citroneia.

InterContinental Porto celebra São Valentim

 Para neutralizar o paladar e degustar o prato seguinte com vista para os Aliados, chega à mesa um Sorvete de maçã verde com água de rosas.

 A segunda volta segue com um Tornedó de novilho no carvão & lascas de trufa preta, abóbora manteiga e malagueta, cogumelos selvagens e molho madeira.

 InterContinental Porto celebra São Valentim

 O jantar a dois termina com uma sobremesa irrecusável, para partilhar. “Pavlova” de Frutos vermelhos, framboesas e menta é a sugestão do Chefe para a data.

O Restaurante Astória tem ainda uma opção de menu vegetariano, disponível sob consulta.

Hotel InterContinental Porto

 Para os que quiserem prolongar a data especial, o Palácio das Cardosas preparou um Pack de alojamento, disponível a 13 e 14 de fevereiro, que inclui, além do jantar, estacionamento gratuito, pequeno-almoço servido no quarto, late check-out até às 16h00, tratamento VIP com espumante e upgrade para quarto superior de acordo com a disponibilidade do hotel.

InterContinental Porto celebra São Valentim

 Mas não é tudo. Para os solteiros que se recusam a ficar em casa neste dia, o InterContinental Porto organiza um evento especial no Bar das Cardosas. No dia 14 de fevereiro, das 20h00 às 24h00, o espaço será animado com DJ, num ambiente casual e relaxado, com canapés, cocktails e muitas surpresas. E a melhor parte: a entrada é livre.

InterContinental Porto celebra São Valentim

 Desta forma, estão reunidos os ingredientes para tornar o Dia de São Valentim na Baixa do Porto inesquecível, quer seja na companhia da sua cara-metade ou de um bom grupo de amigos.

Programa sem alojamento
Jantar de São Valentim do Restaurante Astória (válido nos dias 13 e 14 de fevereiro)
Preço por pessoa: 60,00€

Programa com alojamento

Válido nos dias 13 e 14 de fevereiro

Preço para duas pessoas: 395,00€

- 1 noite de alojamento;

- estacionamento;

- Pequeno-almoço servido no quarto;

- VIP especial espumante;

- Upgrade para quarto superior de acordo com a disponibilidade do hotel;

- Late check-out até às 16h00;

- Jantar no Astória c/ Ementa especial do Dia de São Valentim




Jantar vínico no Pedro Lemos | Douro e Bordéus em dueto de luxo

Duas cozinhas de autor, dois chefes consagrados e duas casas históricas de Portugal e França, do vinho e da gastronomia. O encontro no Porto entre os chefes Pedro Lemos e Alexandre Baumard vem acompanhado de grandes vinhos do Douro e de Bordéus e promete um jantar irrepetível a marcar o início da celebração do centenário da Poças.

Jantar vínico no Pedro Lemos inaugura celebrações do  centenário da casa Poças

A experiência proposta tem todos os ingredientes de um grande momento. Dois nomes consagrados da cozinha contemporânea, de estrela Michelin, Pedro Lemos, do Porto e Alexandre Baumard, de Bordéus, vão preparar, a quatro mãos, o jantar que assinala o início das comemorações do centenário da casa Poças, produtora de vinhos do Porto e Douro.
O dueto gastronómico está marcado para o dia 17 de Janeiro, pelas 20h30, no restaurante Pedro Lemos, e propõe criar um diálogo ímpar entre dois autores de uma cozinha criativa e alicerçada na tradição gastronómica de Portugal e França.

Jantar vínico no Pedro Lemos inaugura celebrações do  centenário da casa Poças

Artífices de sabores, ambos aprenderam com grandes chefes, trabalham com dedicação, rigor e respeito pelo que a natureza dá, em cada estação, arriscam e reinventam. A esta cozinha de sensações, acrescentam o complemento indispensável, bons vinhos, desta vez, no encontro do Porto, do Douro e de Bordéus e de duas famílias produtoras de vinho com história e prestígio confirmado: a Poças e a Boüard.

Jantar vínico no Pedro Lemos inaugura celebrações do  centenário da casa Poças

 O encontro vale ainda pelo lugar, o de Pedro Lemos, na velha Foz do Douro, zona histórica e emblemática da cidade, mas também pela memória e história do projeto convidado, o restaurante Logis de la Cadène, fundado em 1848 na encantadora vila medieval de Saint-Emilion, localizada no coração da região vinhateira de Bordéus, e atualmente propriedade da família de Hubert de Boüard.

Jantar vínico no Pedro Lemos inaugura celebrações do  centenário da casa Poças

 Enólogo e produtor de casas afamadas de Bordéus – Châteaux Angélus e La Fleur de Boüard - Hubert de Boüard é consultor da Poças para os vinhos DOC Douro desde 2014. Desta parceria e troca de experiências nasceu a ideia de um momento celebrativo conjunto dos 100 anos da casa Poças, envolvendo lugares e pessoas das duas regiões capazes de oferecer prazeres à mesa com finesse, criatividade e modernidade. Nesta lógica, o jantar tem o preço de 110 euros/pessoas e as reservas podem ser efetuadas para o número 220 115 986.

Os melhores de 2017 | Por Quem Não Esqueci

"Sozinho na noite, um barco ruma para onde vai. Uma luz no escuro brilha a direito ofusca as demais. E mais que uma onda, mais que uma maré, tentaram prendê-lo impor-lhe uma fé. Mas, vogando à vontade, rompendo a saudade, vai quem já nada teme, vai o homem do leme. E uma vontade de rir, nasce do fundo do ser, e uma vontade de ir, correr o mundo e partir, a vida é sempre a perder" Zé Pedro

 

Os melhores de 2017

 E lá chegou aquela altura em que revejo todas as minhas notas para eleger os melhores do ano aqui do blogue. Todos os espaços acerca dos quais vos falei neste espaço (ouve outros que visitamos e que por um motivo ou outro, as coisas não correram tão bem e não publicamos) tiveram uma pincelada especial naquilo que é o meu quadro de memórias do ano que passou. No entanto, e como diz o Zé Pedro no Homem do Leme, há sempre algum que se destaca e ofusca os demais. É desses que vos vou falar hoje...

Melhor Hotel

 Este ano, e de maneira a ser justo com todos, apenas incluirei como vencedores de alguma categoria, os espaços que visitamos enquanto blogue. Comecemos pelo Melhor Hotel, e o primeiro local onde a minha filha dormiu (fora de casa). Esta bola de sabão que guarda o coração do Porto permitiu-nos por uma pausa na rotina, para suspendermos a vida atarefada por uns dias e trocar-mos os resíduos da juventude por uns gloriosos dias de enamoramento cujo resultado são pétalas saudosas de memórias.

Hotel Revelação

 O som do nevoeiro abriu caminho para o Hotel Revelação, o Monverde Wine Experience Hotel. Inicialmente era "apenas" para ser uma casa grande para os amigos do vinho, mas com o decorrer do tempo, pedra sob pedra, copo após copo, foi crescendo, ganhou raízes e tornou-se num dos mais belos hinos a esse amigo que nos vai acompanhando ao longo da vida, principalmente nos bons momentos, que é o vinho. Mostraram-nos lá que o vinho traz na sua essência, o que o seu mentor carrega na alma. Acrescento que esse desígnio também se pode aplicar a este boutique hotel, pois como se costuma dizer quando alguém desperta para um grande sonho e sobre ele lança toda a força, todo o universo conspira a seu favor.

Melhor Chefe

 Como Melhor Chefe, uma das surpresas do ano, Renato Cunha do Ferrugem. Numa noite fria e para além de um pudim de Vincent van Gogh conheci uma cozinha saborosa, complexa, com personalidade, profundidade, alcance e um toque de romantismo. Inspiração, dedicação,  expressão e honra que exibem aromas tradicionais por caminhos nada convencionais.

Chefe Revelação

Quase no final do ano conheci o Chefe Revelação, Julien Cardoso do Palato D'Ouro (Douro Royal Valley Hotel & Spa). Requinte, complexidade, leveza e originalidade. Jamais me esquecerei daquela espuma de batata trufada e ovo escalfado. O ligeiro corte (quase imperceptível) que fez no prato de leitão e a troca, no momento, dos vinhos a serem servidos são uma marca indelével da exigência do Chefe Julien Cardoso, que o vai levar bem longe, e também por isso sei que os nossos caminhos se hão-de cruzar de novo.

Melhor Restaurante

O prémio de Melhor Restaurante, poderia também ser: melhor almoço, melhor refeição, melhor serviço de vinhos, melhor conversa e melhor espírito de equipa. Estar convosco foi uma ode aos prazeres do "bem-viver", à arte de bem cozinhar, ao nobre momento de comer com amigos e às faíscas de emoção que surgem aquando da descoberta de um novo sabor. A vossa Porta para além de transmitir uma visão de arte, amizade, competência, história e hospitalidade em perfeita sintonia foi também aquela que me provocou maior tristeza quando soube que não alcançaram a estrela. Mas cá entre nós, todos sabemos porque isso aconteceu...

Restaurante Revelação

 Alma e coração eternos pela harmonia fizeram do Rabelo do Vintage House Hotel o Restaurante Revelação. Com menus desenhados pelo duas estrelas Michelin Ricardo Costa, o chefe João Santos dignifica as tradições gastronómicas da região, dando a conhecer os produtos locais e as receitas típicas, oferecendo aqueles que são apelidados de “os melhores sabores do Douro”. É um restaurante fascinante num hotel encantador. Foi dos melhores serviços que encontrei por esse país fora, sobretudo pela conversa com o João Pinho, quase tanto agradável e inebriante, como os vinhos que nos serviu :-P

Melhor Evento

Este já é um clássico como Melhor Evento, contra factos não há argumentos e ganhou o Adegga WineMarket Porto 2017 :-P Para além de provar grandes vinhos, voltei a falar com velhos amigos, discuti com produtores e partilhei experiências com enólogos. Neles encontrei virtudes que compensaram os quatro pecados do Legado (:-P). Generosidade com que partilharam os seus vinhos, humildade no lamento dos seus medos e angústias, honestidade nos sonhos engarrafados que nos dão a provar, fidelidade ao terroir que representam, prosperidade na busca da excelência, dignidade no respeito pelos "concorrentes" e a lealdade para com a memória dos seus antepassados.

Melhor harmonização

Na apresentação oficial do Símbolo 2014 que decorreu no restaurante Antiqvvm, do estrelado chefe Vítor Matos apareceu um outro vinho a fazer brilhar o parfait de foie gras des Landes com Porto, cavala fumada, beterraba, balsâmico velho di Modena e pinhões tostados. O Poças Colheita 2003 fazia sobressair o fumo do peixe e a ligeira doçura da beterraba, enquanto que a complexidade do prato realçava a acidez e riqueza de aromas do vinho. Um jogo de esconde-descobre-esconde enogastronómico muito engraçado que o fez ser eleito a Melhor Harmonização do ano.

Vinho Surpresa

O Vinha Grande 1975, foi o Vinho Surpresa devido à sua longevidade e complexidade ...

Vou-vos ser sincero, quando vi a cor do vinho, pensei imediatamente, oxalá cheire a farmácia, por favor que cheire a iodo, por favor!!! E não é que as duas primeiras notas são de farmácia e iodo??? As mesmas notas iniciais do Barca Velha 1965, que tive o prazer, sorte e privilégio de provar há dois anos. Fiquei tão surpreendido com estes aromas que transmiti o meu espanto ao Sr. Luís Sottomayor, dizendo-lhe que o Vinha Grande 1975 me tinha feito recordar o saudoso Barca Velha 1965. Bem, só vos digo uma coisa, se os olhos do enólogo tivessem balas eu estaria naquele momento estendido, baleado e sem vida no salão árabe do Palácio da Bolsa :-P

Melhor vinho

 Como melhor vinho hesitei até agora entre 2, o Legado 2012 e o Gloria Reynolds Cathedral 2004. Por não ser Douro, por não ser um blend, por ter Alicante Bouschet, ou seja, por não ser nada a "minha cara", escolhi  o Gloria Reynolds Cathedral 2004. A primeira edição deste vinho, é muito profundo, maduro e elegante, com mirtilos e ameixa, chocolate preto, pimenta, violetas, alfazema e uvas passas.  É muito persistente, quase como um rebuçado sem açúcar, com uma excelente estrutura, equilíbrio e muito mas mesmo muito complexo. Tem carácter, delicadeza, energia, frescura e magia... Fiquei a saber que o meu vinho favorito tem um primo alentejano ;-P

Momento do ano

 A descida da Quinta das Carvalhas com o vidro do carro aberto e com as portas a bater na lavanda que delimitava a estrada, originou um vento carregado de aromas arrebatador e fez dela o Momento do Ano. Enquanto, de olhos fechados, ouvia e cheirava aquele vento, o Eng.º Álvaro Martinho sorriu e disse: "Aposto que com isto jamais esquecerá a sua visita à Quinta...". E estava completamente certo, só para ouvir passar aquele vento, valeu a pena ter nascido. Acho que agora conheço a Quinta das Carvalhas e os seus vinhos. Iram-me saber sempre a lavanda, não só no palato, mas no vento que me percorre a alma :-P Esta foi uma viagem no tempo e nas palavras de Álvaro Martinho, por um Douro mais agarrado à terra, explicado desde a raiz à extremidade da videira, com as castas como protagonistas.  Obrigado Álvaro por esse memorável final de tarde.  Foi tão intenso e rico que muitas outras coisas ficaram por contar...

Melhor família :P

 Para último o prémio mais importante, o da minha família. Em todos estes momentos estiveram sempre comigo, princesa mais velha e princesa mais nova, a tornar-los ainda mais especiais. Um milésimo desse vosso sorriso é mais arrebatador que esses momentos todos juntos...

Em nome dos três um muito obrigado pela maneira como fomos recebidos em todos os sítios que visitamos, alguns de vocês tornaram-se amigos e isso já em si, espelha muita coisa. Foi um excelente ano, mais intenso, mais cansativo mas também mais bonito.

Aproveito ainda para pedir desculpa a todos os produtores, restaurantes, hotéis e agências aos quais  tivemos de recusar o convite que nos endereçaram, neste ano vou tentar gerir melhor o tempo :-P

Douro Royal Valley e Douro Palace | Uma herança a partilhar

"Diz-me o que comes, dir-te-ei o que és. O carácter de uma raça pode ser deduzido simplesmente do seu método de assar a carne. Um lombo preparado em Portugal, em França, ou Inglaterra, faz compreender talvez melhor as diferenças intelectuais destes três povos do que o estudo das suas literaturas." Eça de Queirós

Douro Royal Valley e Douro Palace

 Eça de Queirós pegou num pensamento de Jean Antherlme Brillat-Savarin e completou-o, relacionando parte do que somos com aquilo que comemos. Cientificamente é mesmo assim, aquilo que ingerimos serve de material de construção para o que existe no nosso corpo. Todas as nossas células foram criadas a partir dos alimentos que comemos, da água que bebemos e do ar que respiramos. Além de nos nutrir, a comida também afecta a qualidade das nossas vidas, a nossa aparência, o humor com que acordamos, o peso que lamentamos, a energia ou a falta dela, a maneira como envelhecemos e até mesmo  a nossa saúde e bem-estar.

 Douro Royal Valley e Douro Palace

 Mas não foi pela ciência que peguei nesta frase, escolhi-a para a esmiuçar de uma perspectiva mais geral, a de sermos aquilo que fazemos repetidamente. Já dizia Will Durant que dessa forma, excelência, então, não é um modo de agir, mas um hábito.  Aquilo que somos também tem muito a ver com os ideais em que acreditamos, os sonhos que alimentamos e as esperanças que avivamos.  Douro Palace

 Somos também aquilo que vamos conhecendo, vamos visitando, vamos descobrindo. Eu sou um pouco mais, um pouco melhor, um pouco diferente depois de ter visitado dois hotéis irmãos, o Douro Royal Valley e o Douro Palace. Um é de 5 estrelas, outro de 4, ambos estão situados em Baião, e ambos têm uma herança a partilhar. Iniciamos esta viagem no Douro Palace, uns dias antes do Natal...

Douro Royal Valley e Douro Palace

Oferece 60 quartos distribuídos por 4 pisos e 3 tipologias diferentes, cuidadosamente mobilados e pensados para um nível de conforto superior, proporcionam vistas panorâmicas únicas sobre a região do Douro. O quarto com Vista Rio, aquele em que ficamos, é acolhedor, moderno e elegante. Bebe da magia das ancestrais vinhas da região do Douro, classificadas como Património Mundial da Humanidade, que de tempo em tempo, nos batem à janela.

Douro Royal Valley e Douro Palace

 Vestido de Natal tem um encanto especial,  realçando a traça original e histórica, permitindo que cada hóspede tenha uma relação próxima com a natureza, espelhada nas águas serenas do rio Douro. Nos dias soalheiros de Primavera e Verão, podemos aproveitar ainda para relaxar na piscina exterior, com vistas arrebatadoramente únicas para os socalcos do Douro (aquando da nossa visita a piscina e espaços adjacentes tiverem uma visita não anunciada de javalis, quem disse que estes luxos eram apenas para humanos? :-P).

Douro Royal Valley e Douro Palace

 Nos restantes meses de Outono e Inverno é possível mergulhar no acolhedor SPA onde os sentidos são despertados, estimulados e refinados. Se escutarmos com atenção, o rio parece querer-nos sussurrar segredos ancestrais, basta que nos deixemos tocar pelo vento mágico com que ele nos sopra. A nossa Bia depois de gatinhar por todo o Hotel, descansou um pouco à beira do pinheiro de Natal, contemplando-o e parecendo querer antever o que lhe ia calhar em sorte nesta quadra :-P  

Douro Royal Valley e Douro Palace

 Ao jantar, fomos conhecer o restaurante Palato D'Ouro do Douro Royal Valley. Com este nome as coisas só poderiam correm bem ;-P Fica a uma curta distância do Douro Palace, quinze minutos de uma serena viagem à beira rio. Tem como objectivo aliar os produtos regionais, de origem controlada e protegida, à modernidade da cozinha dos nossos dias. Com vista para o Douro, neste restaurante, voltamos a sentir a mesma presença mística do rio, norteada pelos ricos paladares durienses. 

Douro Royal Valley e Douro Palace

Ao seu leme está agora  a alma abnegada do Chefe Julien Cardoso, o ex braço direito de Ljubomir Stanisic, o famoso apresentador do programa "Pesadelo na Cozinha". O jantar iniciou-se com espuma de batata trufada e ovo escalfado. Requinte, complexidade, leveza e originalidade. Escrevi no meu bloco de notas que poderia não haver mais nada "bom" nessa noite, esta espuma já tinha valido a viagem. 

Douro Royal Valley e Douro Palace

  As laminas de noz complementam uma estrutura esponjosa, a pimenta preta acrescenta orientalidade e o ovo escalfado é o elemento que põe todos os ingredientes a "falar a mesma língua", quase como um pano de fundo, presente, rico, com classe, mas discreto. 

Douro Royal Valley e Douro Palace

 Este prato carrega aromas pincelados com uma finesse requintada, um verdadeiro brinde à vida e aos bons momentos que ela nos proporciona. Aromas esses que são realçados pela acidez, mineralidade, ananás e melão do Claustru's Branco 2016.

Douro Royal Valley

Ainda com o pensamento na espuma, surgiu na mesa um tortellini de camarão, camarão tigre envolto em toucinho, robalo, puré de aipo, salada de couve flor e romanesco. Uma criação muito fresca, ligeiramente salgada fazendo realçar os sabores marítimos, que ganha um pouco de estrutura e corpo com a riqueza, volúpia e intensidade do tortellini de camarão. O robalo e o puré de aipo ligeiramente adocicados criam um contraste muito engraçado com os restantes ingredientes. 

Douro Royal Valley

Inicialmente estava previsto que o vinho que acompanhou a espuma de batata trufada, acompanharia também o prato de peixe, mas o Chefe sugeriu outro, e em boa hora o fez. Anselmo Mendes Muros Antigos Loureiro 2016. A acidez do vinho combinou na perfeição com a frescura do prato, a lima realçou a gula do peixe, as notas florais perfumaram o camarão (que já era saborosíssimo) e o carácter seco contracenou na perfeição com a doçura de puré de aipo. Uma harmonização perfeita, que vai fazer parte da nova carta do restaurante.

Douro Royal Valley

 Enquanto a Bia brincava às escondidas com os comensais que se encontravam no restaurante, entrava em cena a barriga de leitão (com salmoura de 6 horas) a baixa temperatura (cozedura 24 horas) , puré de cherovia, salada campestre, cogumelos, espargos e chalota frita. Este foi o melhor leitão que provei até hoje, a ligeira fritura criou uma camada superficial bastante crocante, enquanto que o interior aprisionava um suco delicioso carregado de gordura e luxúria. O puré acrescentou elegância e intensidade aromática, os cogumelos densidade (parecia que tinham sido reduzidos) e a salada complexidade. 

Douro Royal Valley

 O ligeiro corte (quase imperceptível) no leitão é uma marca indelével da exigência do Chefe Julien Cardoso, fez-lo para garantir que o leitão transpirava, sinal de uma confecção perfeita.   Exigia um vinho com corpo, equilibrado e intenso. O Busto Grande Escolha Tinto Touriga Nacional 2010 trouxe ainda com ele cerejas, amoras, morangos maduros, esteva, chocolate preto e pimenta branca. 

Douro Royal Valley

Como sobremesa tivemos um suave lemon curd, merengue de goiaba e sorbet de limoncello. De aparência simples e singela, no palato é muito fidalga e excêntrica. A goiaba carregava uma espécie de aroma agridoce a salada de frutas  (morango, pera e manga), o merrengue acrescentava textura com um estaladiço-crocante adocicado muito interessante e o sorbet de limoncello faz a ligação perfeita com o Porto. Um Quinta do Portal Tawny 20 anos.

Douro Royal Valley

Essa ligação é também potenciada pelo crumble de amêndoa, que puxa pelos frutos secos do Tawny, surgem mais tarde o café, a baunilha, o caramelo e a laranja caramelizada. A excelente acidez do vinho faz o palato voltar a sentir a frescura da goiaba, cujo carácter agridoce reenvia o foco gustativo para a doçura das frutas secas do vinho. Uma harmonização muito elegante, dinâmica e eficaz.  O jantar terminou assim, da mesma forma que começou, com suavidade, requinte e leveza. Para mim passaram a ser sinónimo de Chefe Julien Cardoso. Esta preocupação com a excelência vai levar-lo bem alto...

 Douro Palace

Depois desta lição de sabores e saberes tradicionais dada pelo Chefe Julien Cardoso (parabéns, sei que os nossos caminhos se hão-de cruzar de novo ;-P), era chegada a hora de regressar ao Douro Palace Hotel Resort & Spa para descansar, com corpo e alma em êxtase. 

O dia amanheceu horas mais tarde, solarengo e alegre, mesmo a convidar para um pequeno-almoço com bacon, ovos mexidos e espumante duriense, e mandam as regras da boa educação, não recusar convites destes :-)

Douro Palace

O plano inicial era visitarmos apenas Douro Palace Hotel Resort & Spa, mais tarde surgiu o convite para conhecermos o Palato D'Ouro do Douro Royal Valley Hotel & Spa. Mesmo quase de saída, ainda houve oportunidade para apreciar o restaurante do Douro Palace, o Eça. Uma cozinha assente em alicerces tradicionais mas pintada com apontamentos modernos e intimistas... 

Douro Palace

 Este restaurante conta também a história do Chefe Tony Martins, do conhecimento que foi adquirindo, dos aromas que lhe ficaram da infância e do que a comida lhe transmite. Na sala é acompanhado pelo atendimento exemplar e amigo do Sérgio Ribeiro. De estilo contemporâneo, o Restaurante Eça tem capacidade para 80 pessoas e disponibiliza uma carta em sintonia com o excepcional cenário das paisagens do Douro. 

Douro Palace

 A enorme variedade de produtos ímpares da região, torna possível harmonizar um conjunto de iguarias que nos levam a uma experiência gastronómica única. O almoço em forma de repasto iniciou com um amuse bouche de arroz de bacalhau, camarão e microverdes.

 Douro Palace

Proporciona conforto e tranquilidade e teve o condão de estimular/despertar o palato, com tons de acidez, doçura e texturas complementares. O camarão estava exemplar, rico, voluptuoso e fresco. Antecedeu a sopa de peixe,  um prato simbólico que invoca e carrega a proximidade do Chefe com o mar.  Quando a sopa é colocada no prato parece que entramos numa lota, somos imediatamente invadidos por aromas a peixe. Os oregãos verdes e o tomate cherry dão-lhe o toque fresco que fazem enobrecer a sopa.   

Douro Palace

 É exuberante, quer no sabor, quer na textura. A ligeira acidez,  pouco tempo de cozedura e especiarias fazem com que não nos cansemos dela. No caldo nadam mariscos, peixes e bivalves à procura do tomate, ervas e especiarias. É harmoniosa e sabe ao mar e também sabe à terra. Ganhou largura aromática com os citrinos, maracujá e mineralidade do Quinta da Pacheca Branco 2016.

Douro Palace

 Depois um bacalhau "da espinha até à pele" :-P Lombo, língua, samos e pele de bacalhau, ovo a baixa temperatura, batata a três tempos, cenoura baby, pak-choi, couve-flor e cebola caramelizada. A batata depois de cozida, frita, congelada e de voltar a ser frita parecia um crocante de puré, os legumes promoviam o equilíbrio, complexidade e riqueza de sabores. O bacalhau carnudo e ligeiramente salgado ganhava irreverencia na companhia da cebola caramelizada. 

 Douro Palace

 Algo mineral e muito concentrado, delicado e carregado de aromas como limão, flor de laranjeira e alguma pólvora,  o Covela Edição Nacional Avesso 2015 realça a frescura do bacalhau fazendo com que o ligeiro exagero untuoso ganhe pomposidade. Acompanhou ainda um rabo de boi, cozinhado lentamente (como a avó do chefe o fazia em panelas de ferro) e bastante rico, intenso e sublimemente condimentado. Tradicional mas com pitadas evidentes de irreverencia e modernidade. Como a minha princesa mais velha ainda estava repleta dos sabores do jantar anterior, optou por um prato vegetariano, arroz caldoso com zetas, cogumelos e queijo da ilha. Disse que parecia um arroz dos meus, melhor elogio que este não pode haver :-P

Douro Palace

 Sendo este Chefe também da zona da Bairrada, tal como no Palato D'Ouro o prato de carne iria ser ... leitão :P  Este com folhado de cabidela de leitão, laranja em calda e leitão à Bairrada. Adorei a cabidela, toda ela leitão mas sem o exagero da untuosidade que por vezes carrega. De resto, apesar de diferente, partilha dos mesmos louvores principais do anterior, textura crocante com carne sumarenta e saborosa.  A esteva, violetas, fruta vermelha muito madura,  algum cacau e sobretudo a boa acidez  do Quinta de la Rosa Tinto 2015 equilibraram a bomba que era o leitão. 

 Douro Palace

Como sobremesa do Chefe pasteleiro Tiago Vidreiro houve um queijo de castanha, crocante de polenta, terrina de maçã, baunilha e hortelã.  Apenas com produtos sazonais é muito rica, equilibrada e algo arriscada com a introdução da hortelã. Teve o dom de requintar a castanha  que ganhou explosões de sabor quando pressionávamos o crocante de polenta, quase ao velho estilo das petazetas :-P  A baunilha do prato assentou que nem uma luva na baunilha do Quinta do Portal Tawny 10 anos. Leve,  fresco e ainda com notas bem evidentes de frutas maduras foi o parceiro de carácter que a sobremesa exigia. Gostei muito de conhecer a história de vida do Chefe Tony Martins através dos seus pratos.

Douro Palace

 Pois não se esqueçam, digam-me o que comem, dir-vos-ei o que são. O carácter de uma pessoa pode ser deduzido simplesmente pela maneira como a mesma encara a comida, mas não só...  Tem muito que ver com os ideais, os sonhos e as esperanças que norteamos a nossa vida e aquilo que nos rodeia. Anne Frank  imortalizou um pensamento no seu diário, que é difícil em tempos como estes, que os ideais, os sonhos e as esperanças permanecerem dentro de nós, não sendo esmagados pela dura realidade. 

 Douro Palace

E que é um milagre não abandonarmos todos esses ideais, por parecerem tão absurdos e impraticáveis. No entanto, devemos acreditar, apesar de tudo, que isso não só é possível como também devemos receber essa herança, honrar-la, acrescentar-lhe alguma coisa, para que um dia, mais tarde, a possamos depositar nas mãos dos nossos filhos.  

Estes dois hotéis partilham isso mesmo, mais que uma atmosfera de fraternidade, partilham uma herança, de bem-receber, cumplicidade e carácter, para além de uma simples estadia, pretendem proporcionar uma experiência única e memorável. Assim foi a nossa...

 

Como esta é a primeira publicação do ano, desejo-vos um excelente 2018, que ele vos sorria, também no palato!!!