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No meu Palato

No meu Palato

Os melhores de 2018 | Nascer todas as manhãs

"Apesar da idade, não me acostumar à vida. Vivê-la até ao derradeiro suspiro de credo na boca. Sempre pela primeira vez, com a mesma apetência, o mesmo espanto, a mesma aflição. Não consentir que ela se banalize nos sentidos e no entendimento. Esquecer em cada poente o do dia anterior. Saborear os frutos do quotidiano sem ter o gosto deles na memória" Miguel Torga, in "Diário (1982)"

Os melhores de 2018E é chegada a hora de rever todas as notas recolhidas no ano passado e atribuir os prémios dos "melhores do ano" aqui do burgo (como se alguém se interessasse com isso ;)).  2018 foi o ano em que o blogue se tornou verdadeiramente nacional (e um bocadito internacional), pois percorremos o país de lés-a-lés. Com o aumento das visitas aumenta também o número de "visitados" fora dos prémios, e isso é o que verdadeiramente me dá cabo da cabeça, porque fomos sempre muito bem tratados. Mas ... vamos lá ao que interessa:

Evento Revelação 2018Destaquei o Encontro com Vinhos e Sabores 2018 da revista de vinhos como Evento Revelação, não por ser uma novidade, mas por ter crescido/melhorado em todos os aspectos. Apercebi-me no final deste encontro, que tudo aquilo que tinha gostado neste encontro, desde a revelação (enquanto outros procuram vinhos mais consensuais) com o Ribolla Gravner 2009, até ao arriscar pela perfeição (enquanto outros vindimavam mais cedo por precaução) dos Symington Family Estate até à organização com identidade, empenhada, comprometida e perfeccionista do maior evento do género, estava preso à estoicidade espelhada no poema Se Eu Morrer Novo de Fernando Pessoa. 

Melhor Evento O Adegga WineMarket Porto volta a ganhar, pelo segundo ano consecutivo a distinção de Melhor evento vínico, por me ter permitido, mais uma vez, sonhar... Porque o que realmente interessa, não é a pertença em si ... são os sonhos. Sonhos que o homem sonha sempre, em todos os lugares, em todas as épocas do ano, dormindo ou acordado, e que mais uma vez os recordamos e os celebramos juntos, com um copo de vinho na mão. 

Melhor WineHotel Como melhor  WineHotel (para quem me conhece bem, uma não surpresa), a Quinta da Pacheca. Conheci-a há uns anos aquando do festejo dos 30 anos da minha princesa mais velha. Passaram 3 anos, 5kg, umas dezenas de cabelos brancos e nasceu uma princesa mais nova. No entanto, o local continua mágico e sempre numa constante metamorfose.

Hotel RevelaçãoRumamos a sul para o Hotel Revelação, o Palácio Estoril Golf & Spa Hotel. Revelação por não estar à espera nem saber o que está aprisionado no hotel: Competência, sensibilidade, carinho e saber fazer. "Grand & Cosy" é mais do que a assinatura do hotel, é a definição do seu ADN, grand porque emprega 160 pessoas, porque é clássico na arquitectura mas moderno nas suas funcionalidades, porque foi renovado e actualizado, cosy porque apesar de grande é acolhedor, confortável, intimista e próximo. É um grande do passado, modernizado e não desvirtuado. 

Melhor hotel FinalDe longe, mas mesmo de longe (;)), o melhor Hotel 2018 foi Six Senses Douro Valley. Lá percebi que há dias, muitos dias, demasiados dias, em que ficamos zangados com o tamanho do nosso conjunto ilimitado. Queríamos mais números do que aqueles que provavelmente vamos ter. Queríamos mais dias, mais tempo, mais vida. Esses dias no Six Senses Douro Valley deram-me uma pequena eternidade dentro dos meus dias numerados, e estou-vos muito grato por isso. 

Melhor pratoNo Loco provei o melhor prato deste ano: Língua de vitela a baixa temperatura e molho de moscatel roxo.Cozinhada pelo Chefe Alexandre Silva durante três dias consecutivos, a carne ganhou sabor, elegância e uma textura nobre. Torna aristocrata um corte desvalorizado, através da sua confecção lenta e conjugação com um molho bastante rico, que em vez de se sobrepor à carne, a faz engrandecer. Melhor sobremesa finalA primeira selfie da Bia abriu caminho para a melhor sobremesa deste ano: Cannelloni de manga e maracujá, sorvete de ananás, suspiro de framboesas e mousse de mascarpone, servida pelo chefe  Ricardo Cardoso no Barão Fladgate.  Era quente e refrescante ao mesmo tempo, quase como quando temos um arrepio num dia de calor. Era intenso e delicado. Uma salada de fruta de smoking que ganhou complexidade ao nível da textura, apresentação, sabor e harmonia. Muito bem conseguida e extremamente prazerosa.

Restaurante Revelação fDa Veneza portuguesa emerge o Sal Poente como restaurante revelação deste ano. A história, a tradição, a memória, a paixão, o amor pela cidade, a vontade de estar com os amigos, o sabor; materializados em criações gastronómicas com evidente alma de cozinha de autor. Durante todo o jantar fomos sempre muito bem tratados (não apenas nós mas todas as pessoas que se encontravam no restaurante) e um bom exemplo disso foi a incessante quantidade de livros postos à disposição da Bia para que se fosse mantendo entretida, depois de ter devorado um prato de massa esparguete. Não é preciso perceber muito disto para concluir que o Chefe Duarte Eira vai longe nestes meandros ;)

Melhor Restaurante De um local com cenário inspirador, onde a serenidade pode ser vivida em todo o seu esplendor emerge o melhor restaurante 2018 do blogue: o Vista Restaurante.  Rodeado por uma paisagem deslumbrante, o restaurante combina o requinte com a hospitalidade, num espaço histórico que soube adaptar-se na perfeição às mais modernas exigências.  Proporciona uma apaixonante descoberta de diferentes sabores, cores, texturas, sorrisos e da nossa história. É uma cozinha de amor, paixão e sagacidade, com óptimos e deliciosos sabores, refinada, mas sem deixar de ser sedutoramente genuína. Adorei a diversão que tive com alguns dos pratos, a paixão por sabores puros e combinações harmoniosas. E sobretudo adorei as vozes do mar que cada prato carregou. 

Chefe RevelaçãoSegue-se (talvez) a maior surpresa das distinções deste ano, mas como eu não sou de modas, aqui vai, como Chefe Revelação premiamos o Chefe António Queiróz Pinto.   É o coração que faz o carácter e foi o amor que fez o chefe António Queiróz Pinto realizar também ele a viagem entre a cidade dos prémios e a serra das memórias. O amor pelo pai, pela gastronomia duriense, pela cozinha e não pelo estrelato. Serviu-nos no seu restaurante em Tormes um dos melhores frangos alourados que comi até hoje, crocante, com perfume do loureiro, guloso e intenso. Aprisionou no interior sucos que combinavam na perfeição com o arroz de favas com alma duriense. 

Melhor ChefeDa cidade-berço, a minha cidade-berço, surge a distinção que mais me orgulho este ano. Também, por ter percebido cedo onde este chefe iria chegar. O melhor Chefe deste ano é: António Loureiro.  Conforto, requinte, bom gosto e paz, muita paz… É quase como se entrássemos numa outra dimensão, onde a azáfama do dia-a-dia acalma, enternece e ganha um outro sentido, ou melhor, outros sentidos. O restaurante ocupa uma sala cuidada nos detalhes, sofisticadamente tradicional, uma combinação de paredes, pedra e azulejos que brindam ao experimentalismo geométrico do cubismo com garrafas de vinho. UmA Cozinha, da terra, do mar e das memórias. Cresceu, prato após prato, tornando-se mais pessoal e ganhando sentido. A investigação, o compromisso, o conhecimento e felicidade estão presentes em cada criação. Houveram momentos, muitos momentos em que o chefe roçou a perfeição. 

Vinho RevelaçãoPassando para os vinhos, um sector, que como sabem, me é muito querido ;) A revelação de 2018 foi o Herdade do Rocim Crónica #328 Reserva tinto 2015. Notas a sous-bois, resina, cedro, pinho, grafite mineral, noz moscada e alcatrão, numa mistura tímida e elegante. Sólido, fresco, gracioso, profundo e vivo. Gostei mesmo muito...

Melhor vinhoDa revelação para o melhor de 2018, o Graham's The Stone Terraces Vintage 2016. Uma estalada em forma de frutos pretos, ameixa, mirtilo, esteva, flor de laranjeira, damasco?!?, tabaco, taninos sedosos e impecavelmente integrados, estrutura sublime e uma acidez inebriante é tão grande que ainda o estou a tentar perceber... Consegue ser sedoso, macio e fino, e ao mesmo tempo opulento, austero e indomável. O final ... nunca mais acaba, é impressionante!!!

Para último, e como não poderia deixar de ser, a distinção mais importante,  a das minhas princesas. Em todos estes momentos estiveram sempre comigo, a mais velha bonita, exigente e conversadora, e a mais nova ternurenta, brincalhona e irrequieta (e bah um pouco barulhenta ;)), a tornar-los ainda mais especiais. Um segundo na vossa companhia é mais apaixonante que estes grandes momentos todos juntos...

ObrigadoEm nome dos três, e também do Luís e Sylvie que por vezes se juntam a nós,  um muito obrigado pela maneira como fomos recebidos. É um prazer e honra poder tratar por amigos, alguns de vocês.  Foi um bom ano, um excelente ano, mais intenso, mais cansativo, mais trabalhoso, mas também muito mais bonito e proveitoso. Aproveito ainda para, mais uma vez, pedir desculpa a todos os produtores, restaurantes, hotéis e agências aos quais tivemos de recusar o convite que nos endereçaram, o tempo não deu para mais :-P

O ano muda, mas prometo que visitarei cada lugar que mais tarde vos relato como se fosse a primeira vez,  sempre com a mesma apetência, o mesmo espanto, a mesma aflição. Não deixarei que o número banalize nos sentidos e no entendimento.  Saborearei cada momento sem ter o gosto deles na memória, como se nascesse a cada manhã.

Um bom 2019 para todos, daqui a um ano, se Deus quiser, cá estarei para o resumir ;)