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No meu Palato

No meu Palato

Adegga WineMarket Porto 2019 | Um amor tomado aos tragos

"Primeiro a serra semeada terra a terra, nas vertentes da promessa. Depois o verde que se ganha ou que se perde, quando a chuva cai depressa. E nasce o fruto quantas vezes diminuto, como as uvas da alegria. E na vindima vão as cestas até cima com o pão de cada dia. Suor do rosto pra pisar e ver o mosto, nos lagares do bom caminho. Assim cuidado faz-se o sonho e fermentado generoso como o vinho... É o conforto de um amor tomado aos tragos que trazemos por vontade em Portugal. Se nós soubermos ser amigos desta vez não há Champanhe que nos ganhe, nem ninguém que nos apanhe, porque o vinho é português!!!" Carlos Paião

Adegga 2019Esta história começa no nobre ano de 1983, ano em que que Stanislav Yevgrafovich Petrov salvou o mundo de uma guerra nuclear (um dia conto-vos esta história, pois merece ser contada) e da chuva vermelha em Londres. Neste ano a Swatch cria os seus primeiros relógios e George Lucas lança o episódio IV da Guerra das Estrelas. 

Adegga 2019Em Portugal, nessa altura, dignidade rimava com austeridade, pois para não variar, estávamos numa crise económica enquanto que Saramago marchava pela paz a caminho do Nobel. Na música, este foi o ano em que Michael Jackson apresentou o Moonwalk ao som de Billie Jean e que Amy Winehouse nasceu, curiosamente e exactamente no mesmo dia que eu - 14 de Setembro.

Adegga 2019É ainda neste ano que Carlos Paião e Cândida Branca Flor interpretam juntos Vinho do Porto no Festival da Canção (era a canção nº5). Perderam o festival mas venceram o tempo ao criarem a canção mais popular e propagandista do vinho lusitano, célebre pelo mundo fora. É por esse motivo que Vinho do Porto me pareceu uma excelente banda sonora para a super atrasada publicação relativa ao Adegga WineMarket Porto 2019.

Adegga 2019Para mim, esta música está para a história do vinho do Porto, como os Lusíadas estão para a história do país, pois celebra em rima e metaforicamente as suas virtudes. Começa com a chuva no inverno a castigar as videiras, depois com o nascimento das uvas da alegria e com a vindima  dos sonhos fermentados,  prossegue com o transporte nos rabelos da vida, para acabar na festa que é a sua prova. Por falar em prova e em festa, começamos o Adegga WineMarket Porto 2019 com o Santiago na Ânfora do Rocim Branco 2018 (89 pts.). 

Adegga 2019O pó de arroz (estou mesmo numa de Paião), a toranja, a lima, a flôr de laranjeira, o damasco, a cera, o picante e algum vegetal criam um bouquet bastante rico e complexo. Exibe alguma (e surpreeendente) salinidade, cremosidade e um acabamento longo e bastante mineral (pedra molhada). Este é um verde que sem dúvida se ganha. No entanto, o maior realce nos brancos vai para o Poças Branco da Ribeira 2017 (94 pts.) 

Adegga 2019As uvas da alegria deram-lhe uma frescura muito particular, a ligeira mineralidade e as notas nobres a citrinos, baunilha e especiarias tornam este vinho bastante complexo, subtil e equilibrado. O volume, espessura e acidez muito viva garantem-lhe uma óptima evolução em garrafa.

Adegga 2019Nos tintos, destaque para a cereja preta, amoras maduras, ameixa preta, especiarias, chocolate, boa acidez, equilíbrio, complexidade, concentração, mineralidade e textura aveludada do Prats & Symington Chryseia 2016 (93 pts.) e para a ameixa, mirtilos, compota de cereja, cacau, hortelã, boa acidez e taninos super sedosos do Paulo Laureano Alicante Bouschet Tinto 2014 (90 pts.).

Adegga 2019Tive ainda a oportunidade de rever o Niepoort Poeirinho, desta vez com o seu traje de 2012 (92 pts.) e respectivos morangos, amoras vermelhas, violetas, relva acabada de cortar, barro, azeitona e incrível acidez.  Atribuo o prémio de melhor tinto ao Legado 2014  (94 pts.) porque me voltou a conquistar com os  seus morangos, esteva, violetas, resina, pinheiro, caruma, subtil apimentado, boa mineralidade (xisto) e enorme frescura, equilíbrio e complexidade. Um autêntico sonho fermentado. 

Adegga 2019Antes de passar para os Portos, gostaria ainda de vos falar do Alves de Sousa Reserva Pessoal Tinto 2011 (92 pts.),devido à sua fruta preta em compota muito bonita, violetas, esteva, eucalipto, alcaçuz, aromas iodados e ligeira terrosidade. Um vinho que está no ponto ideal de consumo. Depois de um agradável arroz de marisco confeccionado pelo Gaveto, não mais saímos da sala Premium do Adegga. 

Adegga 2019Aproveito para dizer que este foi o único ponto menos bom do evento. Gostei dos 400 vinhos em prova (120 deles com pontuações iguais ou superiores a 90 pontos nas várias publicações nacionais e internacionais de referência), das várias provas temáticas, da harmonização com a arte e do novo espaço na Alfândega do Porto, no entanto, senti falta da privacidade, glamour e eficiência da antiga Sala Premium. 

Adegga 2019Felizmente (e outra coisa não seria de esperar), a qualidade dos vinhos desta sala manteve-se assombrosa, particularmente nos Portos. O Graham's Vintage The Stone Terraces 2017 (99 pts.) "mata" qualquer enófilo. Exibe desenvergonhadamente mirtilos, framboesas, sous-bois, flor de laranjeira, lima, lavanda, esteva, caruma, flores secas,  tangerina, concentração, intensidade, estrutura e equilíbrio inacreditáveis.

Adegga 2019Continuando nos Vintage 2017, o Quinta do Noval Vintage 2017 (98 pts.) seduziu-me com os seus aromas complexos, com notas de violetas e fruta intensa, aliados a uma indissociável pureza e frescura. Tem uma estrutura incrível e uma dicotomia perfeita entre a elevada concentração e extrema delicadeza. Final largo, longo e extremamente harmonioso. Noutro registo, o Kopke Very Old Dry White (98 pts.), e em resultado dos mais de 50 anos a envelhecer em cascos de madeira, emana damasco, avelãs, frutos secos, maracujá, pinho, secura e eleva densidade. O porte é delicado, intenso e bastante distinto.

Adegga 2019Mantendo o foco nos Tawnys, a cor âmbar esverdeada do Barros 102 Very Old Tawny (97 pts.),que resulta de um lote de vinhos antigos das décadas de 1950, ’60, ’70, ’80 e ’90, disse logo ao que vinha: damasco, figos desidratados, telha de amêndoas, cravinho, noz-moscada,  creme de avelãs, caixa de charuto e ligeiro fumo. A acidez, elegância, estrutura e complexidade são perfeitas. É outro que está no ponto de consumo ideal. 

Adegga 2019Para último o Niepoort Colheita 1983 (95 pts). Não foi o mais pontuado, não foi o mais procurado, nem sequer foi o mais caro. Mas tinha muita coisa lá dentro. Casca de tangerina confitada, damasco, passas, ameixas e café. Tem um final longo, doce, concentrado, elegante, complexo, longo e equilibrado. 

Adegga 2019Mas tinha lá mais qualquer coisa ... é de 1983. E é aqui que retomo a música de Carlos Paião, uma ode ao vinho e às pessoas do vinho. Uma canção de alegria e de celebração do vinho Português e de um amor tomado aos tragos, por duas jovens estrelas cujas vidas terminaram precocemente e em tragédia: Carlos Paião em 1988 num acidente de automóvel e Cândida Branca Flor com uma mistura fatal de medicamentos e ... vinho (:() em 2001. 

Adegga 2019Aliás o ano de 1983 e os músicos parecem não se darem muito bem, é nestas alturas que fico contente por não ter uma voz de rouxinol ;). No entanto, o que fica deste legado de Carlos Paião e Cândida Branca Flor é a materialização em palavras deste amor festivo tomado aos tragos. Que a vida nos continue a emprestar uns foguetes de ilusão e que possamos, um dia mais tarde, brindar todos desse lado (onde sinceramente espero que haja muito e bom vinho, senão começo já a pecar descaradamente!!!). Pois não há champanhe que nos ganhe, nem ninguém que nos apanhe, porque o vinho, esse mesmo vinho das memórias, das videiras da esperança e das uvas da alegria é português.

Parabéns, André Ribeirinho, mais uma vez, por esta festa tão bonita ;) 

InterContinental Cascais-Estoril | O erro mais bonito

"Se eu pudesse regressar àquele dia, e não seguir em frente como queria, talvez vivesse sem esta vontade. Se eu tivesse tido forças para ficar e deixasse um vazio no teu lugar eu talvez vivesse sem esta saudade, mas de que vale a vida se não é sentida? Se eu não tivesse vivido tudo aquilo, nem tivesse chorado o que chorei, eu não saberia hoje o que sei." Ana Bacalhau

InterContinental Cascais-EstorilA história do Hotel que vos falo hoje começa quando o “Chalet Barahona” construído por Alfredo Ribeiro em finais do séc. XIX e situado em frente ao mar, ao longo da costa do Estoril, é adquirido por Wortus, um investidor alemão para, sobre ele, projectar e construir o Hotel Atlântico.

InterContinental Cascais-EstorilEste hotel, carregou a fama de durante a II Guerra Mundial receber espiões nazis e salazaristas que utilizavam a sua privilegiada posição geográfica para controlar o tráfego naval no mar, enquanto que no Hotel Palácio e no Grande Hotel de Itália, ambos no Estoril, conspiravam os Aliados. 

InterContinental Cascais-EstorilPara além deste fardo político, o Hotel Atlântico foi protagonista dos anos dourados da Costa do Estoril que perduraram mais de 60 anos, sofrendo uma pequena renovação em 1941. Finalmente, em 2007, o antigo hotel foi demolido e toda a sua mobília e equipamentos foram doados a instituições de caridade locais. Esta demolição foi tida na altura por muitos, como um grave erro que punha em causa não só a memória histórica do nosso país mas também o futuro hoteleiro daquela zona.

InterContinental Cascais-EstorilNo entanto, esse suposto "erro" tornou-se em algo mais bonito. Esse momento, em que se seguiu em frente, marcou o inicio  de uma nova era para este ícone do Estoril que agora se vê projectado num novo e contemporâneo hotel, sobre a chancela de excelência e qualidade do InterContinental Group. Com 59 quartos sobre o mar, o InterContinental Cascais-Estoril oferece uma das melhores localizações e vistas sobre a Costa Atlântica. Moderno, contemporâneo e elegante, é perfeito para estadias a dois ou em família.

InterContinental Cascais-EstorilMas mais do que um "simples" hotel, o InterContinental Cascais-Estoril é uma janela aberta para a memória do velho Atlântico (oceano e hotel) e para uma nova experiência de conforto, luxo e modernidade. Situado sobre o mar e a dois passos de Lisboa, tem na localização um dos seus principais atributos, proporcionando deslumbrantes e inspiradoras vistas sobre a Riviera Portuguesa.  Uma ponte entre a heritage de outros tempos e a modernidade dos nossos dias, patente na excelência do serviço, quer seja na forma de receber que o distingue, quer pela forma exclusiva como somos tratados. 

InterContinental Cascais-EstorilHá ainda o circuito wellness que nos coloca à disposição uma piscina interior com cascata dinâmica, uma sauna, um banho turco e uma fonte de gelo. Tudo isto num ambiente de acolhedor, belo, sereno e relaxante. Ambiente esse, que até conseguiu o impossível: que a Bia "reduzisse as rotações" e nos permitisse desfrutar do espaço.

InterContinental Cascais-EstorilDepois deste momento zen, fomos conhecer o Bago du Vin, onde, com uma magnífica vista sobre o mar, tivemos uma prova de vinhos e uma degustação de queijos/charcutaria. Este novo espaço do Hotel abriu em Janeiro e é um recanto intimista que convida ao conforto. No seu interior muito acolhedor nos dias menos soalheiros, e a um brinde ao sol que inunda o mar sobre o qual se debruça a sua irresistível varanda. A selecção de queijos é bastante criteriosa e a charcutaria internacional de extrema qualidade, sendo ambos cortados, no momento, o que permite compor uma original e muito saborosa tábua de acordo com o palato de cada um.

InterContinental Cascais-Estoril Uma experiência que, tenho a certeza, se tornará uma referência. E porque bons vinhos acompanham boas iguarias, um serviço totalmente personalizado marca a diferença, com o sommelier a ajudar a fazer o pairing dos melhores vinhos. Neste caso, o fumo, framboesa, pêssego e casca de laranja do Luis Pato Informal Espumante 2014 (86 pts.) e a mineralidade (calcário), rosas, lima e salinidade do Viúva Quintas Arinto de Bucelas 2015 (81 pts.) foram excelentes companheiros de conversa. 

InterContinental Cascais-EstorilPara compor o ramalhete, faltava a visita ao Miguel Laffan at Atlântico Bar & Restaurante, a nova casa do estrelado Chefe Michelin. Nela criou um menu com ADN nacional e de alma democraticamente ecléctica, que explora a proximidade do mar e a relação privilegiada de Miguel Laffan com pescadores, produtores e fornecedores locais.

InterContinental Cascais-EstorilO ambiente, no qual o Chefe também teve intervenção, é sofisticado, familiar e acolhedor. Faz com que o mar encha a sala, o coração e o olhar,  inspirando a degustação "conversativa" das propostas gastronómicas, num  dos restaurantes mais bonitos e bem localizados do país.

InterContinental Cascais-EstorilEssa "conversa com o prato" iniciou bastante alegre com A vieira que exibia a consistência de um pedaço de manteiga, muito rica e carregada de maresia. O à Brás deu uma agradável frescura e notas vegetais ao prato, enquanto que a crocância da bolacha diversificou as texturas e introduziu aromas mais carnudos. A complexidade desta vieira foi potenciada pela manga, toranja, mineralidade e acidez refrescante do Miguel Laffan Branco 2018, que também serviu de companhia para o elegante, refinado e saboroso Robalo de linha com Molho à Francesa.

InterContinental Cascais-EstorilNa carne, a proposta que pior ficou na fotografia, mas a que mais encantou o palato: Presa de Porco Ibérico. Acidez, untuosidade, intensidade, riqueza aromática e um jogo de sabores incrível, que no final nos transportava para uma carne de porco à alentejana  de sabor e apresentação mais ecléticos, mas de alma vincadamente nacional. Curiosamente, acho que este é um bom símbolo para que o Miguel procura neste espaço. 

InterContinental Cascais-EstorilNas sobremesas, quer o delicioso, fresco e guloso Pudim Abade de Priscos com Gelado de maracujá  quer o camaleónico, pouco salino, medianamente doce e bastante complexo Favos de Mel, Mousse e Creme de queijo, Café e Gelatina de vinho branco foi potenciado pelo damasco, pêssego em compota, passas, mel e incrível acidez do  Tokaj Classic Tokaji Aszú 3 Puttonyos 2008 (90 pts.)

InterContinental Cascais-EstorilUm menu aparentemente simples na concepção, mas enorme em sabores, texturas e emoções,  materializado numa cozinha acessível, contemporânea, cujo denominador comum é a identidade de cada prato, sem revisitações. Depois era chegada a hora de recuperar de toda esta experiência magnífica e carregada de sentimento que o InterContinental Cascais-Estoril nos proporcionou. 

InterContinental Cascais-EstorilÉ por isto, por tudo isto, que há "erros" que vêm por bem.  Se se pudesse regressar àquele dia, em que se pensou este Hotel, e não se tivesse seguido em frente, talvez deixassem um vazio no local onde agora existem estas memórias. Com certeza também não existiria esta saudade, mas de que vale a vida se não fosse sentida? ;)

Obrigado a todos, mas sobretudo ao Mário Fernandes pela maneira super carinhosa com que tratou a Bia.

A(Dão) | A paciência do tempo, um elo perdido, ou o simples fruto do acaso?

"Se alguém me perguntar o que é o tempo, declaro logo a minha ignorância: não sei. Agora mesmo ouço o bater do relógio de pêndulo, e a resposta parece estar ali. Mas não é verdade. Quando a corda se lhe acabar, o maquinismo fica no tempo e não o mede: sofre-o. E se o espelho me mostra que não sou já quem era há um ano, nem isso me dirá o que o tempo é. Só o que o tempo faz."  José Saramago, em ' Bagagem do Viajante' 

DãoCrentes ou não crentes, já todos conhecem a história de Adão e Eva. Na Bíblia a sequência de acontecimentos é clara e aparentemente consecutiva, primeiro surge o primeiro homem ao sexto dia, Adão, e depois, ao sétimo, surge a mulher, Eva. O problema é que um dia na Bíblia pode corresponder a mil anos, podendo isto significar que Adão, o homem, viveu muito tempo sozinho, sem mulher (numa altura em que não existiam jornais, televisões e smartphones, isto não deveria ter sido fácil). Curiosamente um artigo científico publicado na prestigiada revista Science (Agosto de 2013) parece vir confirmar exactamente isto. 

DãoOs cientistas descobriram que o homem terá vivido há 120000-156000 anos, e a mulher, surgido depois, "apenas" há 99000-148000 anos.  Mas como é óbvio, estes estudos científicos não tiveram (nem tinham de ter) como objectivo reforçar ou refutar os textos sagrados, pois segundo os mesmos, a coincidência de datas pode não ter nenhuma razão histórica, e ser um simples fruto do acaso. Devem de estar vocês a pensar: «Como é que este artista vai passar do livro do Génesis 3, para o vinho. Porque é claro que isto vai ter que ter a ver com vinho!!!» 

DãoEssa pergunta só surgiria em leitores inteligentes como os meus (;)) e a resposta é simples, um elo perdido, em ciência, não metaforiza apenas este salto, ainda sem explicações claras, entre o último animal primata mais evoluído e o primeiro ser humano, mas também algo que não se consegue explicar, uma informação que foi perdida no tempo. E com tempo, evolução e vinho, só podíamos ir parar a uma região: ao Dão. Das primeiras vezes que lá estive, um agricultor disse-me algo que jamais esquecerei: «Sou do tempo em que bom vinho era sinónimo do Dão». Estava-se a referir aos anos 50-70 do século passado. A qualidade, personalidade, diferença, elegância, frescura e suavidade destes vinhos levaram-nos aos 4 cantos do mundo.

DãoO certo é que nos primeiros anos deste milénio os vinhos do Dão decresceram, em importância, reconhecimento, qualidade e quantidade,  em contraste com o Douro e o Alentejo. Não se sabe muito bem como surgiu este elo perdido. O que realmente importa é que estes vinhos, pouco a pouco, voltam a retomar o lugar que merecem. Recordo-me perfeitamente que com parte do dinheiro que obtive num dos meus primeiros ordenados, comprei uma garrafa de um vinho que me fez olhar para os vinhos de maneira diferente. Estávamos em 2007 e tinha acabado de comprar uma garrafa de Quinta de Cabriz Reserva  2003, para harmonizar a noite de consoada desse ano.

DãoPara os bebedores de vinho mais atentos,  esta melhoria qualitativa dos vinhos do Dão, clara e notória, chegou-lhes ao palato nos últimos 5 anos. Época que coincidiu com um grande esforço da Comissão Vitivinícola Regional do Dão no sentido de recuperar o elo perdido com os tempos de glória do passado. Para tal, esta comissão procura, diariamente, rejuvenescer, democratizar e promover a marca, aquém e além fronteiras. Os últimos indicadores espelham o resultado deste esforço no capítulo das exportações, que já chegam a mais de 70 países.

DãoFoi neste contexto que fomos convidados a conhecer um pouco mais os vinhos desta zona, os da primeira região vitivinícola portuguesa, estabelecida em 1908, dedicada totalmente aos vinhos de mesa. Para tal tivemos uma tarde muito bem passada no Solar do Vinho do Dão, edifício cuja origem remonta a 1122. Começamos com o Quinta dos Penassais Rosé 2015 (80 pts.) e o seu sabor suave e agradável a rosas, caramelo, groselha, framboesa e morangos. 

DãoNos brancos gostei muito das violetas, lima, maracujá, pinho e equilíbrio quase perfeito entre açúcar, acidez e untuosidade do Terras Madre de Água Encruzado 2017 (81 pts.); e da flor de laranjeira, maracujá, ananás, pêra, damasco,  frescura, duração e equilíbrio do Júlia Kemper Branco 2016 (91 pts.) No entanto, o meu branco favorito, é também o mais barato de todos  (6 euros, por favor subam isto!!!), o Quinta do Sobral Branco 2017 (82 pts.). 

DãoFranco, descomplicado e assertivo, com banana, abacaxi e limão. No palato é bastante mineral (granito molhado), com uma acidez vibrante e um final persistente. Nem sempre os mais caros têm de ser aqueles que mais nos surpreendem. E por falar em surpresas, tive uma agradável com o Quinta da Espinhosa Unigénito 2015 (90 pts.). Começa os frutos silvestres, as violetas, o tomilho, as rosa e os morangos, surgindo mais tarde cerejas, amoras, baunilha, couro e alcaçuz. É bastante encorpado, complexo, aveludado e harmonioso. Destaque também para o fumo, frutos vermelhos, frutos secos, frutos do bosque, bagas e um notável equilíbrio entre álcool, taninos (firmes e elegantes) e acidez do  Castelo de Azurara Alfrocheiro 2016 (88 pts). 

DãoPara último (no solar), um bom exemplo do que é o Dão, o Casa de Cello Quinta de Vegia Reserva 2007 (92 pts.). Um vinho estruturado, concentrado e elegante, com bom volume e fruta delicada (morangos, amoras, ameixa). É dominado por notas de compota, apontamentos doces de frutas vermelhas e pimenta preta. Surgem também aromas terciários de iodo, farmácia e caixa de charuto. O final é muito persistente, onde são destacados a complexidade de todos estes aromas. Depois desta  visita muito enriquecedora ao Solar Do Vinho Do Dão mergulhamos na encantadora Quinta da Fata do Sr. Eurico. 

DãoUm local tranquilo, pacato, confortável, acolhedor, e onde se respira vinho a cada canto, como não haveria de gostar? ;) Está  localizada na região demarcada do Vinho do Dão e o ligeiro declive para Sul dá-lhe uma exposição soalheira que beneficia o vinho e que a torna particularmente aprazível. Para além da vinha, a Quinta tem jardins, amplos relvados e zonas arborizadas. 

DãoDe entre as muitas árvores, destaca-se uma imponente tília centenária. Tanto a tília como a torre com o antigo depósito da água são bem visíveis e permitem identificar facilmente a Quinta desde longe. Para a Bia, foi a oportunidade perfeita de pôr em prática a sua impressionante capacidade de não parar quieta.

DãoDos vinhos, podia-vos falar das rosas, violetas, lima, resina e mineralidade (sílex) intensa  do Quinta da Fata Encruzado 2017 (85 pts.), da ameixa, morangos, notas tostadas, acidez vincada, taninos aguerridos e particular amargura do Quinta da Fata Tinto 2016 (86 pts.), ou das frutas vermelhas, violetas, rosas, especiarias, caramelo, persistência, concentração e equilíbrio do Quinta da Fata Touriga Nacional Tinto 2015 (90 pts.); mas queria falar-vos, especialmente, do Quinta da Fata Reserva 2014 (94 pts.).

DãoUm vinho incrível,  estruturado, com frescura e concentração, quer na cor, quer no sabor. Exibe frutos vermelhos em compota, mirtilos, amoras pretas, resina, eucalipto, sous-bois e um fumo muito elegante. No palato é untuoso, muito preciso e com um final com imenso pulso (austero, duradouro  e impactante). Grande vinho!!! Parabéns Sr. Eurico ;) 

DãoDepois deste festival vínico, era chegada a hora de pernoitar na casa da Quinta da Fata, que foi construída no final do século XIX com base no granito da região, aumentada nos anos 60 e remodelada em 1991. É uma casa com paisagem, que se pode desfrutar ou dos quartos e/ou do terraço, com aquecimento central,  salas com lareiras e de convívio/jogos, uma piscina e diversos jardins. 

DãoO que fica destes dias passados no Dão? Memórias pinceladas com qualidade, personalidade, diferença, elegância, frescura e suavidade. (Re)descobrir o Dão é entrar num mundo novo de valores, aromas e sabores ... que cativam e seduzem, e logo se tornam inconfundíveis e inesquecíveis. Coisas que aparecem com a paciência do tempo, será este o elo perdido, ou um simples fruto do acaso? A(Dão) que vos responda ;)

FeelViana | Que a chieira do meu sangue não me engane

"Entre sombras misteriosas, em rompendo ao longe estrelas, trocaremos nossas rosas ... para depois esquecê-las. Partamos de flor ao peito, que o amor é como o vento, quem pára perde-lhe o jeito e morre a todo o momento. Ciganos, verdes ciganos deixai-me com esta crença: os pecados têm vinte anos os remorsos têm oitenta." Pedro Homem de Melo na voz de Amália Rodrigues

FeelVianaPela voz da nossa grande Amália, Pedro Homem de Melo imortalizou a expressão "havemos de ir a Viana" , tornando-a no hino informal e adoptado da cidade. A discussão torna-se acesa quando se discute com as gentes desta cidade a origem do nome Viana de Castelo. A que mais gosto conta-nos que há muito, muito tempo (quando uma lenda começa assim, estamos logo no bom caminho ;)), na margem direita do rio Lima, erguia-se uma pequena povoação que tinha o nome de Átrio ou Adro. 

FeelVianaEssas pessoas para além de construirem/repararem barcos e pescarem no rio, também se aventuravam no alto mar. Ainda haviam as terras para desbravar, sendo a horta um recurso de última hora, quando o mar e o rio falhavam. Naquele tempo, vinham os de Castro e traziam caça; os de Figueiredo e Santa Maria da Vinha (hoje Areosa), carvão e sacos de farinha; os da Meadela e de Darque, legumes, feijão, cebolas, hortaliças, e frutas de várias espécies, bem como carnes de porco, ovos e galináceos. 

FeelVianaPor altura da Páscoa, desciam da serra da Arga os queijeiros e os vendedores de cabritos, anhos, presuntos e salpicões. Esta povoação, com tamanha agitação, ia crescendo de dia para dia. Por essa altura, vivia por ali uma linda rapariga que havia sido baptizada com o nome de Ana (hoje em dia as meninas mais bonitas são baptizadas de Clarisse ou Beatriz ;)). Essa linda rapariga, certo dia, apaixonou-se por um moço da outra margem, que por sinal era barqueiro.

FeelVianaA paixão destes dois jovens era de tal ordem que bem lhes apetecia estarem longas horas juntos.  Mas, tal como acontece nos dias de hoje, nem sempre isso era possível. Assim sendo, o jovem barqueiro, sempre que encontrava alguém conhecido, perguntava: «Viste Ana?». E a resposta não se fazia esperar: «Sim, vi a Ana no castelo». 

FeelVianaTerá sido assim que surgiu o nome de Viana do Castelo. Mito ou realidade, uma coisa é certa, tirando o bailado melancólico do fado, a única imagem do folclore português capaz de ir além-fronteiras, nos dias de hoje, não é outra senão a das lavradeiras vianenses, descententes da bela Ana do Castelo. A cor dos trajes das moças de Viana pode variar, do azul ao vermelho, do verde ao preto das noivas, o que não muda é o orgulho ("chieira" nos dizeres da terra) com que é exibido e a quantidade de ouro com que orgulhosamente são adornados.

FeelVianaMas Viana é muito mais que lendas, canções e trajes, Viana é também mar, a Senhora da Agonia, o seu castelo e a sua gastronomia. É ainda berço de um novo e sofisticado conceito de Hotel que alia o lazer ao conforto, numa fusão perfeita entre relaxamento e prática desportiva:o FeelViana

FeelVianaDe design progressista e perfeitamente enquadrado nas dunas, este hotel (que conta ainda com um Sports Center, um SPA e um ginásio), para além de não manchar a belíssima paisagem, ainda contribui para preservar e respeitar o habitat excepcional onde se insere. Para tal recorre a materiais de construção naturais, como a madeira, para uma simbiose sóbria e harmoniosa no extenso pinhal que o acolhe. 

FeelVianaDo espaço e serviço já tínhamos ouvido maravilhas, mas o que verdadeiramente nos surpreendeu foi o nível das propostas gastronómicas: sabor, conforto e inovação. Iniciamos essas propostas com o Queijo de Cabra Gratinado com Crepe de Maçã e Molho Moscatel, uma explosão de sabores adstrigentes, picantes, doces e untuosos, equilibrada pela frescura, citrinos e aromas florais do Anselmo Mendes Pássaros 2017 (83 pts.)

FeelVianaSeguiu-se o Arroz Cremoso de Bivalves e Gambas com Robalo do Mar e Salicórnia, que antes de chegar à mesa já emanava um cheiro intenso e sedutor a mar, quase como se as janelas do restaurante tivessem sido abertas à brisa marítima. É bastante rico ao nível dos sabores, texturas e contrastes. O arroz estava ... impecável ;)  Este prato foi muito bem harmonizado com a mineralidade, fruta e acidez o Lupucinus Branco 2017 (81 pts.). 

FeelVianaNa carne, uma criação tão rica quanto saborosa, Veado na Sertã com Foie Gras, Timbale de Cenoura, Espinafres Salteados e Molho de Cereja. O veado mostrava uma camada superficial crocante, enquanto que no interior estava escondido um suco delicioso carregado de untosidade, gosto e luxúria. Os acompanhamentos acrescentaram frescura, picante, surpresa, graciosidade e largura aromática. As violetas, morangos, cerejas, baunilha e especiarias fumadas assentes em taninos aveludados do Quinta Nova Pomares Tinto 2017 (81 pts.) ligaram muito bem com o prato, sobretudo com o molho de cereja.

FeelVianaPara a sobremesa, Crepe de Leite Creme, Sorvete de Queijo da Serra e fruta, carregado de frescura, untuosidade, tosta, alegria e felicidade. O Niepoort LBV Porto 2014 (86 pts.) ainda acrescentou fruta silvestre, esteva, chocolate, pimenta, uma acidez cativante, uma textura sedosa e um equilíbrio contagiante. 

FeelVianaDepois de uma noite super-reconfortante com um sono profundo e relaxado, e de um pequeno-almoço revigorante voltamos ao restaurante para conhecer as propostas  da Taberna, nomeadamente o Picadinho de Lombo de Novilho com Pimentos Padrón, as Favas à Portuguesa com Queijo da Ilha e Costelinha Estufada (o meu favorito) e o Arroz Semi-Seco de Grelos com Alheira
FeelVianaAssumem-se como propostas mais relaxadas, que apostam na diversidade e na tradição, mas sempre com o toque do Chefe Paulo André (parabéns pelo trabalho gracioso, exemplar, empenhado e com evidente marca de autor) e que convidam ao convívio descontraído, ao conforto e à partilha. 

FeelVianaForam acompanhadas pelos deliciosos aromas a morangos maduros, framboesas e cerejas do Vila Nova Rosé 2017 e pelo enorme Lupucinus Grande Reserva Tinto 2011 (89 pts.) Este reserva lança incessantemente para o nosso palato violetas, cereja, ameixa, cedro e eucalipto, surgindo já notas terceárias como o couro e uma brisa suave de iodo. Muito concentrado, elegante, pujante e equilibrado, exibindo orgulhosamente uns taninos incrivelmente redondos. 

FeelVianaPor tudo isto, faço minhas as palavras de Amália, se o meu sangue não me engana, como engana a fantasia, havemos de ir a Viana, ó meu amor de algum dia. Voltaremos pelas gentes, por este hotel reconfortante, pelas lendas, pelas canções, pelo mar e pelos trajes, pela Senhora da Agonia, não esquecendo o seu castelo, mas voltaremos ... muito ... também por esta deliciosa gastronomia ;)

Obrigado pela maneira simpática e amiga com que nos receberam, e pelo miminho dado aos nossos leitores no passatempo do dia dos namorados. Podem ter chieira no vosso espaço encantado ;)

Sunset Wine Parties no The Yeatman | O verão e os seus melhores amigos

"Tente. Sei lá, há sempre um pôr-do-sol esperando para ser visto, uma árvore, um pássaro, um rio, uma nuvem. Pelo menos sorria, procure sentir amor. Imagine. Invente. Sonhe. Voe. Viva" Caio Fernando AbreuSunset Wine Party 2018 - The YeatmanAgora sim, para mim, começou oficialmente o verão ;) O ano passou rápido, o cabelo fica mais claro, a pele mais escura, o vinho mais fresco, a água do mar mais quente, as roupas mais curtas e o dia mais longo, desaparece o frio e aparecem as festas de verão do The Yeatman.

Sunset Wine Party 2019 - The YeatmanO The Yeatman antecipa os dias quentes de verão e anuncia as datas das Sunset Wine Parties. Nos dias 25 de julho, 22 de agosto e 26 de setembro o hotel vínico reúne 30 produtores nacionais e uma seleção de petiscos e boa música. Uma pista de dança junta-se a esta combinação enquanto o sol se esconde atrás do Rio Douro e a cidade do Porto se veste de tons dourados.

 Sunset Wine Party 2019 - The YeatmanJá é possível adquirir bilhetes através do site do hotel em eventos.theyeatman.com. As entradas são limitadas e aconselha-se compra antecipada.

Sunset Wine Party 2019 - The Yeatman No generoso terraço do The Yeatman, conjugam-se os ingredientes indispensáveis à verdadeira celebração do verão. Com início marcado para as 19h00, estarão preparadas mesas de provas com uma diversificada seleção de vinhos, de 30 produtores nacionais, que chega da premiada garrafeira de vinhos do hotel. Produtores, parceiros do The Yeatman, darão a conhecer a sua história.

Sunset Wine Party 2019 - The YeatmanUma atmosfera elegante e informal onde não faltará um buffet de aperitivos e pratos quentes marcados pelos sabores intensos e frescos de verão. Para que se consiga desfrutar deste momento em plena descontração, haverá ainda espaço para um Spa lounge onde os terapeutas do Spa Vinothérapie® Caudalie do The Yeatman proporcionarão massagens relaxante nas mãos.

Sunset Wine Party 2019 - The YeatmanA festa alarga-se até à pista de dança, novidade deste ano, e um DJ convidado estará a cargo de marcar o ritmo até à 1h00. As entradas nas Sunset Wine Parties têm o custo de 95,00 € por pessoa. As reservas de grupo, a partir de 8 pessoas, beneficiam de um valor promocional de 85,00 € por pessoa. Casual Chic é o dress code.

Sunset Wine Party 2019 - The YeatmanVemos-nos por lá, para festejar o verão e os seus melhores amigos: os vinhos, os petiscos e a música ;)