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No meu Palato

No meu Palato

Novos vinhos da Pacheca | Sei um ninho

"O que é bonito neste mundo, e anima, é ver que na vindima de cada sonho, fica a cepa a sonhar outra aventura... E que a doçura que se não prova se transfigura numa doçura muito mais pura ... e muito mais nova." Miguel Torga

Pacheca 2019Se vos falasse de Adolfo Correia da Rocha, poucas pessoas saberiam de quem estaria a falar, mas se vos ajudasse com o pseudónimo Miguel Torga, acredito que a maioria, pelo menos, saberia que me estava a referir a um dos mais brilhantes poetas portugueses. Escolheu Miguel em tributo a três escritores espanhóis que se identificava (Miguel Cervantes, Miguel de Molinos e Miguel de Unamuno), e Torga  em homenagem à planta urze, que na sua terra Natal, São Martinho da Anta - Trás-os-Montes, também era conhecida como "torga".

Pacheca 2019

Miguel Torga escreveu um dos mais simples, bonitos e inocentes poemas que há memória. «O Segredo», popularmente conhecido pelo «Sei um ninho». Esse poema apresenta-nos um menino com um segredo e aborda assuntos como a amizade, o conforto e sobretudo do investimento no tempo, pois o menino, ao não contar o segredo, esperava que o passarinho quando crescesse, ficasse amigo dele, passando desta forma a ter um comparsa capaz "de fazer o pino a voar".

Pacheca 2019

E tempo, amizade, conforto e torga (sim, com letra pequena, não é um erro, mais tarde vão perceber porquê ;)) tem tudo a ver com os novos vinhos da Quinta da Pacheca. Com eles o portefólio da Quinta da Pacheca passa a estar reforçado com dois vinhos inéditos e mais um vintage, área onde este produtor sediado no Douro goza de um know-how como poucos têm na região. O Grande Reserva Branco é uma grande aposta na área dos vinhos de mesa, enquanto o primeiro colheita tardia promete surpreender e ficar na história dos licorosos do Douro.

Pacheca 2019

São vinhos que permitem novas experiências sensoriais, modernidade combinada com tradição e uma multiplicidade de harmonizações, indo ao encontro das tendências mais recentes manifestadas pelos consumidores, de preferir vinhos com grande polivalência. Para conhecer estes novos lançamentos, e como não poderia deixar de ser, convidei a família para um jantarzito. Começamos com um Gaspacho de tomate harmonizado com um cocktail de frutos vermelhos, limão e Quinta da Pacheca Branco Porto.

Pacheca 2019

Seguiu-se um crepe de legumes com batata doce, cebola doce, cebola roxa, pêra confitada e foie-gras que combinou na perfeição com o damasco, nectarina, mel, urze, flor de laranjeira doçura e elegância do Pacheca Late Harvest 2015 (90 pts. PVP: 24 €). 

Pacheca 2019

Depois o prato que mais me orgulho de ter feito até hoje: Lombo de pregado, vieira, ameijoa, camarão da costa, puré de ervilha, rabanete, manga desidratada, papaia confitada e ananás em vinagrete. Só pelos ingredientes já estão a imaginar a trabalheira que deu. 

Pacheca 2019

Foi magistralmente acompanhado pelo Pacheca Reserva Branco 2017 (92 pts. PVP: 39 €). De cor amarelada, exibe aromas de folhas de chá, baunilha, urze, apontamentos cítricos e algum cravo. Termina longo, muito focado, complexo e com uma incrível frescura e uma sedutora mineralidade (granito molhado). 

Pacheca 2019

Para terminar a noite em beleza "encomendei" um bolo à minha cunhada (obrigado Mel), pedindo-lhe para incluir Porto LBV e uma redução de frutos vermelhos no delicioso bolo de chocolate que ela já costuma fazer.  Essas alterações tinham como objectivo fazer pendant com o cacau e fruta vermelha do Pacheca Porto Vintage 2017 (93 pts. PVP: 65 €).  

Pacheca 2019

Foi produzido com uvas provenientes das vinhas mais velhas da Quinta da Pacheca, onde predominam as castas tradicionais do Douro. É um vinho retinto, opaco no centro com bordo vermelho escuro. Tem ainda ameixa e amoras pretas, notas de esteva, urze e violeta. Revela uma intensidade, estrutura e acidez  que fazem augurar uma vida longa, cumprindo com todas as premissas exigidas a um vintage. O bolo também estava medianamente bom, eheh ;) 

Pacheca 2019

Denominador comum a todos estes vinhos que vindimaram cada um o seu sonho? Coincidentemente, ou não, a torga (urze) e o poder de envelhecimento. A doçura que se não prova (daquelas garrafas que guardamos) vai-se transfigurar numa doçura muito mais pura ... e muito mais nova ;) As receitas seguem abaixo...

Pacheca 2019

Gaspacho de tomate: 

Tirar a pele e as sementes a 8 tomates. Tirar as sementes a um pimento. Descascar 1 pepino. Picar uma cebola;

Cortar os legumes aos quadradinhos;

Levar a cozer e reduzir a puré;

Juntar sal grosso, azeite, vinagre e um pouco de sumo de frutos vermelhos (a gosto);

Levar ao frigorífico até ficar bem frio. 

Pregado, marisco, frutas e legumes: 

Cozer camarão da costa;

Desidratar uma manga, confitar a papaia e colocar vinagre no ananás; 

Fazer um puré de ervilhas com queijo mascarpone e vinho do Porto Branco;

Partir o pregado em lombos e grelhar num tacho com azeite, alho, sal e pimenta;

Grelhar as vieiras em azeite, colocando-lhes um pouco de sal e pimenta;

Fazer amêijoas à Bulhão Pato;

 

Bolo de chocolate: 

Vou pedir à Mel e mais tarde coloco aqui ;)

 

 

Festival Peixe do Rio Ferradosa | A vida que não vive em linha recta

"O mundo inteiro é uma sucessão de milagres, mas estamos tão acostumados a eles que os chamamos de coisas comuns, como o sorriso. Era impossível não me apaixonar pelo teu, era impossível olhar para ti e não esquecer do que eu ia falar.” Hans Christian Andersen 

Festival Peixe do RioOs livros, os contos e as frases de Hans Christian Andersen tornaram-se imortais em várias gerações e em diversos locais por esse mundo fora. Contrariamente a outros autores seus contemporâneos, este poeta dinamarquês destacou-se pelo conteúdo humano, realista e, ao mesmo tempo, surpreendentemente optimista de suas histórias.

Festival Peixe do RioCuriosamente esse optimismo parece ser uma verdadeira antítese da sua vida, e quanto a mim, é isso que dá a este escritor um certo misticismo. Para terem uma noção,  quando Hans Christian Andersen  nasceu, a sua família era tão pobre que tiveram que fazer seu berço com a madeira ... de um velho caixão :(.

Festival Peixe do RioO pai, sapateiro,  morreu quando tinha somente 11 anos de idade, obrigando-o a deixar a escola e a começar a trabalhar. A mãe, por sua vez, era alcoólatra. Apesar de tudo isto, há frases de Hans Christian Andersen que causam um certo desconcerto na alma de tão esperançosas que nos soam. Aquela com que iniciei esta publicação, é uma delas.

Festival Peixe do RioFala-nos das coisas aparentemente simples da vida, de coisas bonitas, de coisas únicas, de coisas boas, mas que por já estarmos habituados a elas, não as consideramos um milagre.  O Douro é uma dessas "coisas". O prodígio de uma paisagem, um excesso da natureza,  um universo virginal eterno pela harmonia, pela serenidade e pelo silêncio. Um poema geológico, a beleza absoluta nas palavras de Miguel Torga. Nas minhas, um milagre assente em quatro pilares.

Festival Peixe do Rio As suas paisagens absolutamente arrasadoras. Os seus vinhos incrivelmente sedutores. A sua gastronomia exuberantemente saborosa. E as suas gentes incansavelmente abnegadas. Foram necessários esses mesmos pilares para que se conseguisse lançar o WELL_COME FERRADOSA 1º Festival de Peixe do Rio, no Cais da Estação Restaurante.   

Festival Peixe do RioForam 3 dias (26, 27 e 28 de Julho) na companhia do delicioso peixe do rio, com animação musical, provas de vinho, conversas junto ao rio e muito sentimento de pertença a uma região. Uma tentativa da Rosário e Fernando Gomes de revitalizarem a região retomando a essência do que é ser duriense, as suas crenças e as suas tradições, principalmente no que à gastronomia e vinhos diz respeito. 

Festival Peixe do RioPelo que vi, este iniciativa foi um sucesso, não só pelo número de participantes e diversas gerações intervenientes mas também pela energia, vontade e alegria com que aderiram a este  Festival do Peixe do Rio.

Festival Peixe do RioO espaço onde o evento decorreu,  no restaurante alicerçado num antigo cais da estação da Ferradosa possui na localização um dos seus melhores predicados. Mas há mais, há a extrema simpatia, o elevado profissionalismo, a comida deliciosa tipicamente tradicional e aquela certa dose de amizade que assenta sempre bem.

Festival Peixe do RioQuanto aos peixes, sobretudo, boga e barbo, e não me armando em especialista (pois não o sou), gostei imenso do sabor intenso, da untuosidade, da frescura e ligeira adstringência que os mesmos transportaram. A Bia como é óbvio gostou (ainda estou para encontrar alguma coisa que ela não goste) mas preferiu o bolo de chocolate ;)

Festival Peixe do RioPassando aos vinhos, gostei muito dos frutos secos (amêndoa e noz), especiarias (canela e pimenta) e frescura do Porto Messias 20 anos (93 pts.);  do pêssego, citrinos, mineralidade e acidez do Oscar's Branco 2018 (83 pts), do maracujá, limão, pimenta branca e notas florais do Claudia’s Reserva Branco 2016 (90 pts.) e das  ameixas vermelhas, morangos e cacau do Oscar’s Tinto 2017 (89 pts.) 

Festival Peixe do Rio

Neste dia aprendi que a vida, tal como o rio, não vive em linha recta, e ainda bem (não estou a falar das estradas para chegar a S. João da Pesqueira ;)). Muitas vezes, não paramos nas estações que deveríamos parar, por vezes, saímos da linha, noutras enganamos-nos no comboio. Há ainda aquelas curvas em que nos perdemos, as que desistimos, as que não previmos e forçosamente chegará aquela última em que desaparecemos como pó. Por vezes as curvas que mais nos marcam fazem-se quando menos esperamos, esta foi uma delas. Que ainda possamos contar muitas...

Festival Peixe do RioObrigado Rosário e Fernando Gomes e parabéns pelo ziguezague bonito que vão fazendo, até às vindimas ;)

E já agora como é possível não nos apaixonar-mos pelo sorriso destas duas? Ainda bem que não me esqueci do que tinha para vos dizer :)

 

 

Quinta da Leda 2016 | Um outro filho de Zeus

"Leda era uma jovem e bela princesa, recém-casada com Tíndaro, herdeiro do reino de Esparta. Gostava de deitar-se na relva, apreciando o canto dos pássaros e expunha seu corpo aos raios do sol, sob olhares indiscretos dos deuses. Certa vez, Zeus ia a caminho da cidade de Tróia e encontrou Leda deitada seminua na relva e parou para contemplá-la de longe. Temendo assustá-la com sua figura gloriosa e resplandecente, Zeus converte-se em um cisne imenso e de bela plumagem para poder cortejar a princesa." Mitologia Grega

Quinta da Leda 2016Situada na região Este do Douro, a Quinta da Leda é uma das jóias mais brilhantes da Ferreira. Com ela, a Casa Ferreirinha recria-se em vinhos de grande complexidade e estrutura, portentosos mas plenos de frescura e vigor. Ali, onde o Douro se renova, confirma-se a excelência dos vinhos que criam o mítico Barca Velha e juntam-se-lhe novos valores como os mais recentes Quinta da Leda. Depois uma colheita de 2015 excepcional, chega agora ao mercado o Quinta da Leda 2016 (PVP recomendado de 40€) para fazer jus à tradição de qualidade dos grandes vinhos do Douro, que fazem de Casa Ferreirinha uma das maiores referências mundiais da região.

Quinta da Leda 2016Quem se habituou a encontrar em Quinta da Leda a garantia de um vinho de qualidade superior, símbolo de excepção da riqueza e contemporaneidade dos grandes vinhos do Douro, vai reencontrar no novo Quinta da Leda 2016 a complexidade e elegância que lhe são características. Luís Sottomayor, enólogo de Casa Ferreirinha, explica como se obteve este vinho: «Mantendo o perfil habitual deste vinho, sobretudo a elegância, estrutura e complexidade, o Quinta da Leda 2016 reflecte bem o estilo que procuramos, assim como as características de um ano fresco.» Em 2016 registou-se uma vindima tardia, fria e com maturações longas, resultando num vinho com boa acidez, elegância e harmonia.

Quinta da Leda 2016 «A colheita de 2016 de Quinta da Leda revela-nos um vinho típico de anos mais frios – especiado, resinoso e mais balsâmico, e com algumas notas florais e uma nota de mineralidade muito forte», conclui Luís Sottomayor. Produzido a partir das castas Touriga Franca (50%), Touriga Nacional (25%), Tinto Cão (15%) e Tinta Roriz (10%), a colheita de 2016 é ideal para acompanhar pratos de carne, caça e queijos. O Quinta da Leda 2016 dá, assim, continuidade a uma herança de peso, sobretudo depois de a colheita anterior ter merecido vários prémios da crítica, no âmbito de concursos como o International Wine Challenge, o Concours Mondial de Bruxelles, o International Wine & Spirit Competition ou o Decanter World Wine Awards, entre outros.

Quinta da Leda 2016No que na minha modesta opinião diz respeito, este Quinta da Leda 2016 (93 pts.) exibe uma cor vermelha ruby muito cristalina e aromas intensos a framboesas pretas, amoras vermelhas, esteva, flores silvestres,  pimenta preta, noz-moscada,  resina, cedro  e uma deliciosa baunilha. Na boca é bastante mineral (xisto), fresco, volumoso, profundo, com uma enorme elegância e taninos super elegantes e sedutores. Incrivelmente longo, equilibrado, complexo e harmonioso. Combinou na perfeição com os Escalopes de vitela Alentejana com puré, legumes baby e redução de vinho do Porto Ruby.

Quinta da Leda 2016Voltando à lenda da Leda grega, Leda engravida de Zeus originando dois filhos gémeos: Castor e Pólux.  Hera, irmã e esposa de Zeus, com ciúmes, persegue e proíbe Leda de viver no reino. Assim, Zeus compensa Leda, convertendo-a em deusa e reservando-lhe um espaço no céu, na forma de uma estrela na constelação de Cisne. Quanto aos gémeos, tornam-se grandes guerreiros e amigos inseparáveis. Porém Castor (que herdou a mortalidade humana) perde a vida em uma batalha e Pólux (que herdou a imortalidade divina) suplica a Zeus que devolva a vida do irmão.  Comovido com esta demonstração de amor fraterno, Zeus propõe a Pólux dividir sua imortalidade, alternando com o irmão um dia de vida e um dia de morte.

Quinta da Leda 2016Assim os irmãos passaram a viver e a morrer alternadamente, sendo homenageados por Zeus com a constelação de Gêmeos, na qual não poderiam ser separados nem com a morte. Curiosamente, este Leda 2016, resulta também dum feliz relacionamento entre a Leda (Quinta) e aquilo que Zeus, Deus do céu, lhe acrescentou, uma espécie daquilo a que chamamos terroir  ;) Comparativamente com a Leda Grega, para disfrutarmos da Leda Portuguesa, não precisamos de assumir as formas de um cisne, basta termos um bom gosto vínico ;) E que bem que ela fica deitada seminua na relva :)

Quinta da Leda 2016

Ingredientes dos Escalopes de vitela Alentejana com puré, legumes baby e redução de vinho do Porto Ruby  (2 pessoas):

2 Escalopes de vitela Alentejana, puré (6 batatas médias, 300 mL de leite de amêndoa, 30 mL de vinho do Porto Branco, uma colher de sopa de manteiga, noz-moscada, pimenta preta, queijo parmesão a gosto), uma embalagem de cenouras baby, uma embalagem de espinafres baby, uma laranja, um limão, groselha e vinho do Porto Ruby. 

Preparação:

Puré: Descascar e cortar as batatas em pedaços e pôr a cozer em água abundante, com sal a gosto, até ficarem cozidas (entre 10 e 15 minutos a ferver). Escorrer a água e esmagar as batatas com o passe-vite. Juntar o leite de amêndoa e misturar bem. Juntar  colher de sopa de manteiga e misturar bem. Juntar a noz moscada, a pimenta preta e o queijo parmesão e misturar bem. Por último, e já sem o aquecimento, juntar o vinho do Porto Branco e rectificar tenperos.

Redução: Numa pequena caçarola adicionem o vinho do Porto, o sumo de uma laranja laranja e de um limão e uma colher de sobremesa de groselha. Deixe reduzir o molho (sem ferver) até que a água se evapore e o molho fique reduzido a 1/4 do volume inicial.

Cenoura Baby: Cozam-nas em água e sal durante 10 minutos.

Espinafres baby: Numa frigideira, aqueçam o azeite e alourem a malagueta picada. Juntem os espinafres e deixem grelhar durante 5 minutos. Temperem com sal e pimenta, e reservem.

Escalopes: Na mesma frigideira em que fizeram os espinafres, grelhem em lume muito forte os escalopes (30 segundos de cada lado). Enquanto grelham a carne temperem-na com sal e pimenta preta.