Sunset Wine Party 2019 | Uma frase, a canção, um beijo e ... um sonho
"Há poemas por cantar dentro de mim, outros saem por metade, mesmo sem sentir vontade, fico presa e nunca chego até ao fim. Há poemas que não cabem no papel, ficam presos na caneta, ficam dentro da gaveta, enquanto dormem e sonham ser canção. Isso é metade, só uma parte, daquilo que sente o coração" Isaura e Luísa Sobral
Hoje, começo com uma daquelas histórias incríveis relacionada com o mundo dos vinhos. Na procura por referências literárias para a publicação relativa à Sunset Wine Party 2019 do The Yeatman, descobri uma coisa extraordinária. Sabiam que o beijo foi "inventado" graças ao vinho? Meus amigos, a partir de agora, quem não gostar de vinho, deixa de poder beijar a sua alma gémea ;)
Passo então a explicar, na Roma Antiga o vinho era proibido às mulheres, porque a associação entre mulheres e vinho era simplesmente imoral devido a diversas crenças. A primeira era a de que o vinho estava associado ao sangue, e as mulheres ao beberem este sangue estranho, estavam na realidade a cometer um adultério. A segunda era a de o vinho estar relacionado com a fertilidade e concepção. Uma lenda egípcia conta que a deusa Ísis, ao comer uma uva, engravidou. A última, e em contra-senso com a anterior, era a de que o vinho, por vezes, teria propriedades abortivas, pois um sangue mataria o outro.
Apesar destas condicionantes, sabemos que a maioria das mulheres da antiguidade romana ficava sozinha em casa, ao longo de todo dia, a tratar do lar, dos filhos e das coisas do marido (estes bons hábitos foram-se perdendo ao longo dos tempos ;)). Sem ninguém para as "controlar", sem a companhia das tardes da Júlia e com a lida da casa já terminada, invariavelmente surgiam momentos ... sem nada para fazer. E que tal quebrar estes momentos de tédio com um assalto à garrafeira do marido? (este hábito já não era assim tão nobre ;)) E era exactamente isso o que estas donas de casa faziam. Desfrutavam do belo néctar dos deuses, para quebrar a monotonia do dia-a-dia.
Chegando (muito cansados) a casa, os desconfiados maridos costumavam cheirar a boca das suas companheiras para tentarem perceber se elas tinham criminalmente bebido na sua ausência. Nessas ocasiões, a saudade, o cheiro do vinho, a proximidade das respirações e a sensualidade da "inspecção" despertava um certo erotismo que levava o casal a cometer loucuras amorosas: lá surgiam os primeiros toques com os lábios, e mais tarde ou mais cedo, aconteciam os primeiros beijos e a felicidade estava garantida para o resto da noite. Afinal, quem consegue resistir aos encantos do sexo fraco, que apesar de nos roubar o vinho, nos encanta com a sua beleza? ;)
Foi para celebrar o beijo (na realidade não foi, foi por causa da gastronomia, dos vinhos e do local mágico, mas a frase ficava mais bonita assim) que no mês passado participamos na 2ª Sunset Wine Party 2019 do The Yeatman. O Verão este ano começou tímido, mas as previsões anunciavam que os dias quentes estavam para chegar e no generoso terraço do hotel vínico, neste dia, não faltaram motivos para celebrar esta estação em pleno.
A festa contou com uma diversificada selecção de vinhos, de 30 produtores nacionais, e um buffet de aperitivos e pratos quentes marcados pelos sabores intensos e frescos da estação estival. Em 2019 aumentou a qualidade dos vinhos, a exigência da oferta gastronómica, a abrangência do espaço disponível e requinte dos mimos com que éramos brindados ao longo da noite.
Boa música e uma pista de dança (uma novidade), juntaram-se a esta combinação, enquanto o sol se escondia atrás do rio Douro e a cidade do Porto se vestia de tons dourados. Para que conseguíssemos desfrutar deste momento em plena descontracção, existia ainda um Spa lounge onde os terapeutas do Spa Vinothérapie® Caudalie do The Yeatman nos proporcionaram massagens relaxante nas mãos.
Na gastronomia o Chefe Ricardo Costa inspirou-se na sua ultima viagem à Ásia, trazendo para esta festa tons, texturas, aromas e sabores exóticos, alegres e bastante frescos. São disso belos exemplos o Bao de caranguejo de casca mole, compota de pimentos e cebolete, a Ganache de foie gras e romã e o Amberjack "Nitro".
Quanto aos vinhos, o destaque inicial foi para a bolha fina, maçã verde, baunilha, ameixa e avelã do Murganheira Millesime Bruto Espumante 2009 (91 pts. 27€) e para a maçã, abacaxi, lima, melão, untuosidade e excelente mineralidade do Quinta da Pedra Alvarinho Branco 2015 (89 pts. 22€).
Para acompanhar algumas peças de sushi escolhemos as violetas, as rosas, a ligeira resina, a folha de limoeiro, o abacaxi, a frescura e a mineralidade elegante do Titular Encruzado Reserva 2017 (90 pts. 21€). Um vinho que já dá muito prazer a beber agora mas que tem tudo para envelhecer/crescer bem em garrafa.
Já nos tintos e para "aguentar" o Entrecôte com jalapeños e molho Béarnaise seleccionamos o Sagrado Grande Reserva Tinto 2015 (92 pts. 22€). Produzido “à moda antiga”, ou seja, com pisa a pé em pequenos lagares de pedra, com leveduras índigenas e sem a utilização de qualquer tecnologia moderna, este vinho ainda precisa de ser domado pelo tempo e pela garrafa.
No entanto, já emana aromas muito finos a amora, mirtilos, cassis, café, cacau, e canela. O final é bastante longo, equilibrado e muito complexo.
Seguiu-se quanto a nós, a melhor harmonização, a do Ganache de foie gras e romã com o Moscatel Favaios 1980 by Siza Vieira (93 pts. 95€).
Um vinho muito denso, carregado, cítrico, equilibrado, rico e doce, mas sem exageros, que combinou na perfeição com a voluptuosidade fresca do foie. O estágio em madeira deu-lhe cedro, mel, noz, uvas passas, figos secos e cacau. Tem um final untuoso, cheio, fresco e equilibrado.
Nos Tawnies gostei muito do caramelo, café, chocolate, baunilha, ameixa seca, figos e nozes do Krohn Porto Colheita 2003 (92 pts. 37€). Nos Vintages o nível atingiu patamares muito altos. Primeiro com Delaforce Vintage 1977 (93 pts. 170€) trajando uma cor rubi clara com uma prolongada borda de tijolo e exibindo aromas de anis, figo confitado, ameixas secas, noz-moscada e nozes. Tranquilo, elegante e muito equilibrado.O meu preferido, foi no entanto, o Croft Vintage 1963 (95 pts. 200€). O nariz é muito preciso, algo feminino até, com nozes, passas, caramelo, creme brulée, chã preto e umas notas muito (mesmo muito) ligeiras a frutos do bosque. Na boca é elegante, denso, equilibrado e intenso, quase como um bonito poema que ficou aprisionado na gaveta (garrafa) durante 56 anos, e que agora virou canção no meu palato. Daria uma nota muito maior se este 1963 fosse um pouco mais complexo e bastante mais longo.
1963 é ainda o ano do sonho, o de Martin Luther King, cujo discurso foi proferido nos degraus do Lincoln Memorial, em Washington, a 28 de Agosto de 1963, mais ou menos na altura em que as uvas no Douro começaram a ser vindimadas nesse Verão. Costuma-se dizer que as garrafas de vinho transportam sonhos, as deste ano carregam um especial. Se pensarmos que enquanto Martin Luther King proferia o seu discurso, as uvas deste vinho estavam a ser colhidas, a prova torna-se ainda uma pouco mais substantiva.
Depois deste momento mais histórico-filosófico ainda houveram aqueles que resolveram recorrer aos métodos mais antigos da civilização romana para verificarem se as suas Julietas haviam cometido o terrível crime de beber vinho na sua ausência. Mas convenhamos, numa festa como esta, estavas à espera de quê ó Romeu? ;)
Mas amigos, isto é metade, só uma parte, daquilo que sente o meu coração. Apareçam na próxima Sunset Wine Party (eventos.theyeatman.com) já no dia 26 de setembro para conhecer a outra metade...
Aos que já foram, até para o ano, porque todos sabemos que ainda há poemas por cantar aprisionados nestas garrafas. Para os soltarmos, encontraremos-nos, no sítio do costume, onde as frases se transformam em canção ;)