Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

No meu Palato

No meu Palato

Um Santo e Feliz Natal | Há espera que algo maravilhoso aconteça

"O Natal! A própria palavra enche nossos corações de alegria. Não importa quanto temamos as pressas, as listas de presentes natalícios e as felicitações que nos fiquem por fazer. Quando chega o dia de Natal, vem-nos o mesmo calor que sentíamos quando éramos meninos" Joan Winmill Brown

Feliz NatalCaros leitores e amigos, a família No Meu Palato deseja a todos um Santo e Feliz Natal!!! Aproveitem esta quadra para para celebrar (ainda que neste ano por vezes à distancia) os amigos, a família, o amor e a vida, afinal não é sobre tudo isto que trata o Natal? Esta é uma altura que nos deveria fazer recordar, agora de copo na mão, a criança, de há muito tempo e muito longe, que um dia, agarrado ao coração, aguardava atrás da porta, para que algo maravilhoso acontecesse... Esperamos que neste ano, do outro lado da porta, tenha surgido tudo o que desejaram, sobretudo, paz, alegria, amor, saúde e bons vinhos. :P

Azeite Quinta do Noval | Em busca da trilogia perdida

“Às vezes um acontecimento sem importância é capaz de transformar toda a beleza num momento de angústia. Insistimos em ver o cisco no olho, e esquecemos as montanhas, os campos e as oliveiras.”  Paulo Coelho

Azeite NovalAzeite, pão e vinho. São estes os três alimentos comuns a todo o Mare Nostrum (nome usado antigamente pelos romanos para se referirem ao mar Mediterrâneo), desde a costa da Turquia e Líbano, até à portuguesa, passando pelo Estreito de Gibraltar. Estes são, portanto, os três pilares da dieta dos povos  que aí habitam, a chamada dieta mediterrânica, declarada Património Cultural Imaterial da Humanidade pela UNESCO há quase 20 anos.

Azeite NovalPara não fugir à regra, os gregos têm uma explicação mitológica para o surgimento desta trilogia. Nesses mitos, Demeter, uma deusa matriarcal, ensinou aos homens as artes de arar, plantar e colher, e às mulheres a arte de fazer o pão. No caso da vinha, a mesma seria uma dádiva de Dionísio, o herói helénico do vinho, divinizado por ser filho de Zeus com uma mortal.

Azeite NovalCom o azeite, a história é mais longa. Tudo começou quando Poseidon (deus do mar e irmão mais velho de Zeus) disputou com sua sobrinha Atena (deusa da sabedoria e filha de Zeus), a protecção de uma nova cidade grega. Como haviam dois deuses em disputa pelo cargo, foi definido que ganhava este duelo seria quem oferecesse ao povo da cidade o melhor presente. Poseidon fez surgir um belo cavalo, enquanto a deusa Atena criou uma oliveira, capaz de produzir azeite.

Azeite NovalA oliveira foi escolhida como o presente mais valioso para a humanidade. Em forma de agradecimento, Atena tornou-se a patrona da cidade, passando a mesma a ser conhecida por Atenas. Mitologia ou realidade, o certo é que as populações banhadas pelo mediterrâneo atribuíram a estes alimentos valores de sobrevivência colectiva, por isso sagrados, simbólicos e agregadores, sempre presentes nas práticas, rituais e festividades das comunidades, sendo o símbolo maior desta trilogia mediterrânica o azeite.

Azeite NovalHá locais onde esta trilogia ganha um conceito simbiótico, quase perfeito, como o caso da Quinta do Noval. Mais conhecida pela sua produção de vinhos do Porto e do Douro (dos quais vos escrevi ontem), esta quinta também produz Azeite Virgem Extra no coração das suas vinhas. 

Azeite NovalA Quinta do Noval tem aproximadamente 26 hectares dedicados ao olival. Os olivais são polivarietais, compostos por várias variedades portuguesas de oliveira. As principais são: Cordovil, Madural, Verdeal e Galega. Muitas das oliveiras da Quinta do Noval têm mais de 200 anos!!! Consequentemente, produzem um azeite mais rico e complexo, com apenas 0,2% de acidez.

Azeite NovalAs oliveiras são cultivadas de modo tradicional, sem rega e podadas manualmente. As azeitonas são colhidas à mão durante o mês de Novembro. Em seguida, são prensadas a frio em mós de granito para extrair um Azeite Virgem Extra da melhor qualidade e preservar os aromas delicados da fruta.

Azeite NovalO Azeite Virgem Extra da Quinta do Noval tem uma imagem renovada em 2020. O seu novo rótulo e a embalagem com design sóbrio e elegante, evocam a pureza do fruto e os aromas requintados. A cor verde opaca da garrafa permite preservar a qualidade e lembra a cor da azeitona. O vertedor e a rolha de cortiça foram conservados para facilitar o serviço e a dosagem. Para Janeiro fica prometida uma receita que relacione o azeite e vinhos da Noval com o pão, como tributo a  esta trilogia.

Quinta do Noval monocastas 2017 | A dicotomia do nosso contentamento

"De que vale o calor do verão sem o frio do inverno para lhe dar doçura?”  John Steinbeck

Noval Monocastas 2017A questão com que emoldurei esta publicação, foi pertinentemente colocada por John Steinbeck no seu livro “Viagens com o Charley: Em Busca da América ”. Não tenho certeza que Steinbeck aprovaria o que eu vos vou dizer em seguida, mas para mim, este tipo de frases desenhadas nos seus livros, fazem com que os mesmos possam ser classificados como leituras de conforto.

Noval Monocastas 2017Não porque me dêem um sensação de conforto térmico ou porque as personagens de Steinbeck sejam exemplos particularmente bem sucedidos e inspiradores, por vezes até acontece exactamente o contrário.  O conforto advém do facto de Steinbeck conseguir contar histórias de pessoas que, embora possam ter inúmeras falhas, lá no fundo, estão sempre, mas sempre, a tentar fazer o que é certo. São pessoas singelas, simples e muito humanas. Fazem-nos "torcer" por elas.

Noval Monocastas 2017Como em todas as histórias, há personagens que se safam melhor que outras, vejam o exemplo de Lenny e George em Homens e Ratos ou Tom Joad n'As vinhas da Ira, ambos os livros têm como cenário o mundo rural e a grande depressão, mas no entanto o desfecho é bastante diferente. Apesar disso, todos eles lutam contra as circunstâncias adversas em que se encontram e isso dá-me um certo aconchego literário, ao absorver a tenacidade e decência com que os protagonistas de Steinbeck perseguem os seus objectivos.

Noval Monocastas 2017O Inverno do nosso descontentamento (cujo título foi curiosamente inspirado em Shakespeare, um dia destes conto-vos essa história), é um livro diferente, mais maduro, mais intelectual, mais intrigante e menos humano, talvez por ter sido o último romance de  Steinbeck. Faz-nos pensar na possibilidade do escritor ter desistido dessa "boa onda" dos seus personagens e que o destino talvez lhe tenha revelado, que nem todas as pessoas são decentes. 

Noval Monocastas 2017Steinbeck declarou, mais tarde, ao receber o Prémio Pullitzer e já com a máquina de escrever reformada, que este último livro tinha como objectivo chamar a atenção para a degeneração moral da cultura americana nas décadas de 1950 e 1960. Como li apenas 4 livros de Steinbeck não me atrevo sequer a fazer crítica literária, mas a elegância, a ironia e a intensidade com que O inverno no nosso descontentamento foi escrito fez com que descobrisse nele alguns dos mais fascinantes, acutilantes e intrigantes diálogos  que alguma vez já li.

Noval Monocastas 2017É um livro que nos parece querer convencer, que por vezes os contextos, aparentemente, mais desfavoráveis podem levar ao surgimento de coisas extraordinariamente  belas, de que o azedo frio do inverno, por vezes, dá origem a um calor de verão bem doce. Isto, também acontece nos vinhos, regularmente. Atentemos no ano de 2017. 

Noval Monocastas 2017O inverno foi frio, rigoroso e seco, seguido de uma primavera e verão excepcionalmente quentes e secos (Junho foi o mês mais quente desde 1980, com temperaturas que atingiram os 42-44°C no vale do Douro). Além do temporal ocorrido no dia 6 de Julho, pouca chuva caiu no Douro desde Novembro de 2016. 

Noval Monocastas 2017Devido a estas condições climatéricas extremas, todo o ciclo de crescimento da vinha adiantou-se 15 a 20 dias em relação aos prazos normais, levando a que as equipas de enologia em férias tivessem de as interromper e regressar urgentemente ao Douro para a vindima (no caso da Quinta do Noval esta iniciou no dia 17 de Agosto para os vinhos brancos e 21 de Agosto para os tintos e vinhos do Porto). 

Noval Monocastas 2017O frio agreste do inverno, o calor abrasivo do verão, a ausência de água durante quase todo o ano, um dilúvio perto da colheita e uma vindima inesperadamente antecipada e em sobressalto poderiam criar uma tempestade perfeita, comprometendo os vinhos do Douro em 2017. Aconteceu o contrário, o mosto doce deu origem a vinhos com elevada graduação alcoólica, irrepreensíveis na cor, estrutura e concentração, frescos e de excelente qualidade.

Noval Monocastas 2017Hoje vou escrever-vos sobre três monocastas produzidos pela Quinta do Noval nesse particular e extraordinário ano de 2017 : o Syrah (antigamente comercializado como Labrador), o Petit Verdot (lançado pela primeira vez em 2016) e o Touriga Nacional (o mais consolidado). 

Noval Monocastas 2017O Quinta do Noval Syrah 2017  (29.90 €, 92 pts.) foi fermentado em cubas de inox durante 7 dias, onde em seguida decorreu a fermentação malolática. Por último foi envelhecido em barricas de carvalho francês durante 10 meses, 20 % em barricas novas. 

Noval Monocastas 2017 De cor violeta, exibe no nariz fruta preta muito delicada, notas minerais (xisto partido) e aromas balsâmicos com cassis, alcaçuz, alcatrão, pólvora, pimenta, limonete e um certo citrino confitado. Tem um palato fresco, estruturado, longo, equilibrado, expressivo e muito preciso. Nota-se ser um vinho de um ano quente, comparativamente com o que provei de 2016.

Noval Monocastas 2017O Quinta do Noval Petit Verdot 2017 (29.90 €, 93 pts.), de traje rubi denso, brinda-nos com um nariz extravagantemente complexo e fresco com frutos silvestres, mirtilos, amoras, notas balsâmicas e suaves aromas amadeirados.  Na boca está sustentado pelos taninos aguerridos, é intenso e estruturado, a elegância é realçada e é super fresco. Talvez por isso, foi o melhor companheiro para o Lombo de maronesa braseado com couve-flor assada, cogumelos Shimeji e redução de vinho tinto do Douro. É um vinho para se ir acompanhando.

Noval Monocastas 2017Falta apenas "falar" do rubi-violeta Quinta do Noval Touriga Nacional 2017 (29.90 €, 92 pts.) que se mostrou exuberante sem ser demasiado perfumado, com aromas florais (pétalas de rosa), violeta, cereja,  bergamota, fruta do bosque madura, notas minerais (xisto partido), um toque achocolatado e com uma espinha dorsal taninica bastante firme.

Noval Monocastas 2017Na boca todo ele é equilíbrio, elegância, pureza e frescura. Dos três é aquele em que o ano quente está mais evidente, sem que com isso tenha sido comprometida a frescura e elegância, algo que é comum aos outros dois. E para mim, é isso que os define, esta dicotomia entre o quente e a frescura, entre a austeridade e a exuberância, entre a rusticidade e a elegância, e que é motivo do nosso contentamento vínico. ;)

Noval Monocastas 2017São vinhos com capacidade para resistir ao tempo e ao depois, e que apesar da maturação que atingem (ou não estivessem no Douro) são vinhos com uma frescura, elegância e finesse impressionantes, que os fazem ter uma insustentável leveza no momento da prova, e que provam que nem só de enormes Portos vive a Noval.

 

Lombo de maronesa braseado com couve-flor assada, cogumelos Shimeji e redução de vinho tinto do Douro:

-Grelhar o lombo em azeite e alho, a temperatura muito alta. Acrescentar pimenta e sal. Quando ficar alourado (2 minutos e cada lado) levar ao forno (10 minutos a 150ºC)  com um pouco de manteiga e sumo de limão;

-Depois de passarem a couve-flor por água, coloquem-na num tabuleiro de ir ao forno e reguem-na com um pouco de uma mistura de brandy, molho de soja, mel e tabasco (como alternativa podem colocar molho teriyaki).  Temperem com azeite, manteiga, sal, pimenta e noz moscada.

-Para a redução com cogumelos, numa pequena caçarola adicionem o vinho tinto do Douro, o sumo de uma laranja laranja e de um limão e uma colher de sobremesa de groselha. Deixem reduzir o molho (sem ferver) até que a água se evapore e o molho fique reduzido a 1/4 do volume inicial. A meio da redução acrescentem os cogumelos. 

 

The Yeatman Wine Shop | Como o Grinch roubou o vinho de Natal

“Talvez o Natal não venha de uma loja. Talvez o Natal…talvez…signifique um pouco mais.” Dr. Theodor Seuss 

The Yeatman Wine ShopComo o Grinch roubou o Natal é um livro publicado pelo famoso escritor infantil Dr. Seuss, que mais tarde foi transformado em filmes campeões de bilheteira, primeiro numa animação de 1965 e mais tarde numa bela interpretação de Jim Carrey, já em 2000. Este conto "fala-nos" do odioso e amargo Grinch, uma criatura verde que odiava o Natal e que vivia numa caverna situada numa colina, por cima de uma pequena cidade chamada Whoville. Seuss descreve o Grinch como tendo um coração "dividido em 2 partes frias, pequenas e insensíveis à união e ao amor natalício". Em contraste, Seuss apresenta-nos mais tarde os "Whos", criaturas de bom coração e que amam incondicionalmente o Natal. Aliás, os Whos passam todo o ano a esperar, ansiosamente, esta época. 

The Yeatman Wine ShopQuando o Natal, finalmente, chega iniciam celebrações tão grandes quanto barulhentas. Com o passar dos anos o Grinch foi ficando cada vez mais irritado com o barulho e com a magia contagiante existente no ar. É então que pensa num plano maquiavélico para "roubar" o Natal. Disfarça-se de pai Natal, faz do seu cão Max uma rena e sai da sua sombria caverna num trenó com o objectivo de roubar cada presente, cada prato de comida, cada presépio dos Whos. Por entre todos estes esquemas, quando desce uma chaminé para roubar uma árvore de Natal, acaba por conhecer uma menina chamada Cindy Lou Who, que o cobre com compaixão e bondade.

The Yeatman Wine ShopMais tarde, enquanto Grinch regressava à sua caverna carregado de Natal roubado, apercebe-se que da vila Who continuava a chegar um barulho alegre. Quando se volta para a vila fica chocado com o que vê: a cidade inteira continuava reunida, cantando músicas natalícias, sem presentes, sem peru, sem pudim, sem vinho (meu Deus, sem vinho!!!). É então que pensa na frase com que iniciei esta publicação. Devido a todo este calor humano abnegado, o Grinch reconsidera a sua postura perante o Natal, concluindo que este é bem mais e bem maior que aquilo que inicialmente pensava. E assim, regressa à vila, devolve todos os presentes e é ele mesmo que corta o peru, na ceia, convivendo de modo fraterno com os Whos que tanto odiava. 

The Yeatman Wine Shop

Está certo que devemos perdoar não só ao Grinch, mas também a quem nos faz mal, a quem diga mal de nós, a quem nos roube presentes e comida ... a quem nos tente roubar o Natal. Isso tudo eu aceito e compreendo de bom grado. Mas esta cena de tentar roubar o vinho, ainda me está atravessada. ;) O "Grinch" dos nossos dias e que nos ameaça roubar o Natal 2020 é bem mais pequeno e perigoso do que o monstro verde do Dr. Seuss. Assume a forma de minúsculas partículas virais que provocam esta terrível doença infecciosa. Mas tal como os Whos, não podemos deixar que isso afecte a nossa vontade de celebrar o Natal. Pode faltar comida, podem faltar presentes e até podem faltar, por segurança e bom senso,  alguns amigos/familiares na nossa mesa de consoada, mas não pode faltar a mágica alegria de Natal, e vinho também não!!! 

The Yeatman Wine ShopÉ para que não falte vinho nas celebrações deste ano que a premiada garrafeira do The Yeatman lançou cabazes festivos e ainda um serviço de sommelier personalizado com mais de 700 referências. Criou-se assim o “Sommelier on demand” que, através de um quizz, identifica as referências ideais. "Prefere brancos ou tintos? Viajar ou ver uma exposição de arte? Ostras ou uma tábua de queijos? E qual é a sua cor preferida? Depois de jantar, opta por beber um chá ou café?" Respondidas as questões e com base nas preferências próprias ou daquele familiar, entusiasta de vinhos, ou até mesmo um blogger, que se quer presentear, é automaticamente sugerida uma selecção vínica personalizada (não sei se estão a perceber a indirecta ;)).

The Yeatman Wine ShopPara presentes especiais, apresentam-se os cabazes de Natal que juntam aos vinhos outras sugestões, sempre em bom português, já que a loja do hotel vínico privilegia os produtos que melhor representam o nosso país. Há quatro combinações possíveis (de 50, 70, 120 e 125€) e incluem, por exemplo, livros de receitas, velas perfumadas, sabonetes e, como não poderia ficar de fora, chocolates. Entre estes, destaque para o cabaz especial “Primeira Década” (125€) que celebra o décimo aniversário do hotel. 

The Yeatman Wine ShopA estrela é o livro que faz a retrospectiva destes primeiros dez anos e que se dirige a amantes do vinho, da gastronomia e da cidade do Porto. À publicação juntam-se dois vinhos (Herdade do Sobroso Cellar Selection 2017, Branco, Alentejo e o Quinta do Pessegueiro 2015, Tinto, Porto e Douro), uma azeitoneira, uma rolha de vácuo e ainda um livro de receitas de bacalhau. Para quem procura uma opção à medida, o The Yeatman cria cabazes com uma selecção única de vinhos e outros artigos. Basta contactar através de loja@theyeatman.com com um valor de referência e alguns produtos preferenciais. E porque, apesar de toda a conjuntura, este será um tempo de celebração em família, a equipa de sommeliers preparou também sugestões de vinhos para a quadra natalícia. 

The Yeatman Wine ShopUm conjunto especial para a ceia de Natal sugere 3 ou 6 vinhos (75€ e 140€) que vão conjugar com o tradicional bacalhau cozido e as doces sobremesas natalícias. Já para acompanhar o dia de Natal, só terão de optar entre o conjunto do Douro ou do Alentejo (3 vinhos, 50€). Para os últimos brindes de 2020, o conjunto de passagem de ano inclui 6 espumantes de diversas regiões vitivinícolas portuguesas (90€). Ao navegar pela loja online pode também encontrar-se uma secção totalmente dedicada a vinhos para o Natal. Há vinhos brancos, tintos, vinhos do Porto e espumantes, selecionados a pensar na época festiva. Estão ainda disponíveis vales de oferta no valor de 50, 100, 150 ou 200€, que poderão ser utilizados na compra de vinho ou de experiências como masterclasses ou eventos vínicos do hotel.

The Yeatman Wine ShopConcluída a encomenda, a gestão e a entrega ao domicílio são realizadas com toda a segurança e comodidade, de acordo com as normas indicadas pela Direção-Geral de Saúde. Em compras a partir de 50€, a serem entregues em Portugal Continental, os portes estão incluídos. Note-se apenas que os cabazes apenas podem ser entregues em casa, em localizações num raio de 5km a partir do The Yeatman. Caso contrário, o levantamento destes cabazes tem de ser feito na loja do hotel.

The Yeatman Wine ShopEsta é também um oportunidade de matarmos saudades da atmosfera vínico-natalícia do The Yeatman, pois era mais ou menos por esta altura que se realizava o Christmas Wine Experience, um dos meus eventos favoritos (espero todo o ano por ele ;)) e que costumava marcar o início das celebrações natalícias.  Que o Christmas Wine Experience deste ano aconteça em cada uma das nossas casas, com vinhos entregues pelo The Yeatman. Mas mais importante que tudo isto, é não deixarem que este Grinch-19 nos estrague o Natal e que das nossas casas saia um barulho alegre do tilintar dos copos. Bom Natal e até já The Yeatman ;)

 

Grande Discórdia branco 2018 | A elegância de um contraste equilibrado

"Toda a arte é um problema de equilíbrio entre dois opostos." Cesare Pavese
Discórdia Grande Reserva BrancoNa arte, o equilíbrio é um dos princípios básicos, aliado ao contraste, ao movimento, ao ritmo, ao ênfase, ao padrão, à unidade e à variedade. Esse equilíbrio artístico diz respeito ao modo como diferentes elementos (traços, formas, cores, valores, espaços, texturas, ritmos) se relacionam entre si, de modo a que todos se façam notar, mas sem que um se sobreponha a outro. 

Discórdia Grande Reserva BrancoNós, os humanos, talvez por sermos simétricos bilateralmente, temos um desejo natural de procurar coisas harmoniosas e equilibradas. É por isto que os artistas, de modo geral, se esforçam para criar obras de arte equilibradas. 

Discórdia Grande Reserva BrancoUm quadro equilibrado, em que o peso visual está distribuído uniformemente pela tela, parece estável, faz com que a pessoa que o contempla se sinta confortável e num ambiente "seguro".  Uma obra desequilibrada, dá uma sensação de instabilidade, criando uma certa tensão em quem a olha, parecendo quase que a incomoda. 

Discórdia Grande Reserva BrancoPor vezes, há artistas que criam deliberadamente uma obra desequilibrada (o quadro Cavalos de corrida de Edgar Degas é um bom exemplo), mas isso é uma excepção na tendência geral do equilíbrio. Nos vinhos, este conceito de equilíbrio também é muito importante. A quantidade certa de cada componente/aroma/sensação ajuda a produzir um vinho equilibrado, agradável de beber, complexo no aroma, refrescante no palato e geralmente, mais caro ;). 

Discórdia Grande Reserva BrancoÉ um "tipo" de vinho que nos garante doçura, acidez, fruta, taninos e álcool nas quantidades certas e que por isso tende a envelhecer melhor. Por vezes, o terroir dificulta a promoção desta sensação de harmonia, noutras é o principal agente equilibrante entre dois opostos. 

Discórdia Grande Reserva BrancoMértola, mais concretamente a vinha dos vinhos Discórdia, é um bom exemplo de como os contrastes podem ser equilibrados. A propriedade de 550 hectares está integrada no Parque Natural do Vale do Guadiana e numa paisagem povoada de matos mediterrânicos, alguns campos de cereais e significativas zonas de reflorestação com azinheiras, medronheiros e pinheiros. 

Discórdia Grande Reserva BrancoA vinha do Discórdia foi plantada em 2009, em terrenos xistosos com ligeira elevação, voltados a norte e na proximidade do rio Guadiana. Uma terra cujos excessos originam vinhos de raça e frescos. Hoje "falo-vos" de dois, começando pelo Discórdia Branco 2018 (8.50 €, 86 pts.). De cor amarela-cítrica cristalina exibe aromas a damasco, papaia, manga, limonete e leve melaço. No palato tem nervo, volume e um final fresco. É um branco de Outono ou Primavera. ;)

Discórdia Grande Reserva BrancoGrande Discórdia Branco 2018 (29.70 €, 90 pts.), é vinho de outra pipa, como diria o meu saudoso avô.  No Alentejo de Mértola, agreste e quente, o controlo muito atento da maturação das uvas, a idade e localização da vinha, a casta usada na criação do vinho, a Arinto, e o estágio de nove meses em barricas usadas de 500 litros permitiram uma estrutura, uma complexidade e uma frescura, que em conjunto, não são comuns num alentejano (sobretudo a parte da acidez bem vincada).  

Discórdia Grande Reserva BrancoTraja um amarelo-cítrico mais carregado que o anterior, com uma ténue auréola dourada. Exibe aromas complexos e equilibrados a cedro, hortelã-pimenta, maçã verde, lima, chocolate branco e uma deliciosa mineralidade salgada (quase como o mar que bate na rocha em dia de temporal).

Discórdia Grande Reserva BrancoNo palato é ligeiramente untuoso, intenso, crocante, elegante, ponderado, muito fresco, harmonioso e tem uma certa rebeldia que lhe fica bem. Gostei sobretudo de conjugar, de forma elegante, a alma quente num corpo fresco. É um vinho que ainda precisa de garrafa, mas que já mostra ao que vem.

Discórdia Grande Reserva BrancoAmbos os vinhos acompanharam, muito bem, um Empadão de marisco com queijo Gouda e pesto, no entanto a mineralidade salgada do Grande Discórdia Branco 2018 fez com que se destacasse na harmonização. 


Empadão de marisco com queijo Gouda e pesto:

-Façam um puré com batata, acrescentado (depois de passarem as batatas) noz-moscada, pimenta, sal, queijo parmesão, gemas de ovo e um pouco de brandy;

-Alourem um alho, uma cebola, pimento verde, pimento vermelho e alho-francês em azeite;

-Acrescentem o marisco que desejarem (eu coloquei sapateira, camarão, mexilhão e ameijoa), sal, pimenta, noz-moscada e paprika e cozinhem por mais 10 minutos;

-Acrescentem brandy e 2 tomates triturados;

-Num recipiente para ir ao forno, coloquem uma camada de puré, outra (generosa)  do preparado de marisco e uma última de puré;

-Coloquem na parte superior um pouco de queijo parmesão e levem ao forno 20 minutos a 210ºC.

-Sirvam com queijo Gouda e pesto para dar um toque extra de frescura.

Restaurante DOC | Uma breve história sobre a comida do amanhã

“Comida é tudo o que somos. É uma extensão do sentimento nacionalista e étnico, da nossa história pessoal, da nossa província, da nossa região, na nossa tribo, da nossa avó. Ela é inseparável dessas coisas ... desde o princípio.” Anthony Bourdain

DOCJá se questionaram sobre aquilo que o que comem pode dizer acerca das vossas origens? Já se perguntaram porque é que as pessoas de diferentes partes do mundo comem diferentes tipos de alimentos? Qual a razão de alguns ingredientes, pratos ou tradições culinárias serem tão importantes para a nossa cultura? A resposta para todas estas perguntas está assente no facto da comida, da nossa cultura e da nossa identidade enquanto povo, estarem relacionadas de um modo surpreendentemente próximo. 

DOCExistem muitas coisas que nos distinguem do restante mundo animal, desde o modo como a nossa mente nos permitiu desenvolver a civilização, até às tecnologias incríveis que actualmente temos ao nosso dispor, passando pela maneira como moldamos a aparência do nosso planeta, segundo as nossas necessidades. Com todos estes avanços, por vezes, esquecemos-nos que nossa singularidade no reino animal remonta a tempos ainda mais antigos, às raízes da nossa existência e a uma das nossas necessidades mais básicas: comer.

DOCA relação, quase umbilical, que fomos desenvolvendo com a comida é verdadeiramente especial, desde os nossos antepassados ancestrais que cozinharam pela primeira vez, até os dias de hoje, onde concebemos essa comida a um nível molecular. Mais importante que esta evolução tecnológica que fomos tendo na maneira como preparamos os alimentos é a circunstância de sermos os únicos a manter uma ligação emocional com aquilo que comemos (não sejam malandros, continuamos a falar de gastronomia (;)). No restante reino animal, a comida é, geral e simplesmente, uma forma de dar energia ao corpo, comendo-se por instinto.

DOCDe modo oposto, nós, a raça humana, vemos a comida de uma perspectiva muito mais que meramente nutritiva, uma vez que a comida surge primeiro a um nível emocional, e apenas mais tarde, a um nível instintivo. Outro pormaior é que não usamos a comida apenas para satisfazer nossas próprias necessidades, mas também para mostrar uma ligação afectiva com os outros. Desde o primeiro leite da nossa mãe até à sopa caseira da nossa avó, a comida é uma forma de nos conectarmos e mostrarmos amor pelos outros. Trata-se de evocar, lembrar, criar, descobrir, explorar e inventar. Trata-se de amar.

DOCSabemos que o nosso namoro está a ficar sério quando o nosso par nos prepara uma refeição caseira, ou quando temos sorte, nos convida para jantar num estrela Michelin. ;) Quando um vizinho está doente levamos-lhe uma sopa que o reconforte. Quando um colega fica sem emprego, resolvemos o problema com um gelado no parque. Quando o nosso melhor amigo precisa de desabafar, bora comer uma francesinha. Há algo para celebrar? Há que fazer um bolo. Preparar e partilhar a comida com aqueles que amamos acaba por fortalecer as nossas relações. 

DOCA uma escala maior, a comida é uma parte importante da cultura que nos une. A cozinha tradicional é transmitida de geração em geração, funcionando como expressão da nossa identidade cultural. É por isso que os imigrantes trazem consigo a comida dos seus países de origem,  é a forma que têm de preservar a sua cultura quando se mudam para novos lugares. Poder manter essa alimentação cultural em algumas refeições familiares é um símbolo de orgulho pela sua etnia e uma forma muito bonita (e saborosa) de lidar com a saudade. Muitos deles chegam mesmo a abrir os seus próprios restaurantes tradicionais.

DOCE é assim que cada povo mantém a sua história, o seu estilo de vida, os seus valores, as suas crenças únicas e as suas tradições, através daquilo que come. E é também por isso que acho genial a caracterização que Bourdain fez da comida,  assumindo-a como uma extensão do sentimento nacionalista e étnico, da nossa história pessoal, da nossa província, da nossa região, da nossa tribo, da nossa avó. Tornando a comida inseparável de todas essas coisas ... desde o princípio.

DOCNeste contexto gastronómico, já com uma história carregada de capítulos mastigados, é muito importante que a criatividade, inovação, nova roupagem e técnicas contemporâneas promovidas pelos Chefes de cozinha de hoje em dia, não manche todo este legado histórico-cultural. Há casos, poucos, em que esta nova brisa de criatividade/modernidade, ao contrário de beliscar a tradição, ainda a glorifica. Um desses casos é o Chefe Rui Paula.  

DOCA última vez que tive a oportunidade de experimentar a sua cozinha moderna, inovadora, criativa, mas ao mesmo tempo, com história, tradição e memória foi num almoço do DOC (Folgosa - Armamar), que celebrou o final da nossa roadtrip na EN2. O restaurante fica alojado num cais sobre rio Douro, ao lado da lindissima EN222 entre a Régua e o Pinhão.

DOCExibe uma cozinha que se materializa numa janela degustativa com uma vista arrebatadora para o Douro, para os seus socalcos e para as suas vinhas, estando assente no sabor, nas emoções e nas sensações. O almoço começou com as boas vindas do Chefe, um Falso Hot-Dog de cenoura fumada e um Salmão com nata azeda. O primeiro quase que a querer enganar os nossos sentidos e munido de uma untuosidade fumada deliciosa e o segundo com uma acidez salina que teve o condão de despertar o palato.  

DOCSeguiu-se a Nossa sopa de peixe e os frutos do mar que possuía um aroma elegante, com a brisa marítima de cada um dos peixes muito bem conjugada com as pitadas de sabor e ligeira untuosidade do caldo. O "cheira só isto nunu" exclamado pela Bia, mostra que até ela ficou encantada com esta sopa.

DOCO Arroz caldoso de peixe e lavagante com um sabor inspirador a mar, único e inconfundível, combinava diferentes influências, sabores e aromas. O peixe, o marisco e o arroz, cozinhados no ponto e como manda a tradição, absorveram os sabores das cebolas, do alho, do pimento, da salsa e das especiarias dando origem a um aroma muito intenso, rico e heterógeniamente equilibrado. Adorei a textura do camarão, a frescura do malandrinho e a untuosidade do arroz .. A harmonia voluptuosamente construída é diga de realce.

DOCNo entanto, o meu prato favorito foi o Lombinho de vitela Maronesa, aipo e cogumelos. Estava avassaladoramente refinado e saboroso, com uma imensidão de texturas e sabores complementares. A carne tinha um sabor pleno e intenso, derretendo-se na boca e solidificando na memória.

DOCO gosto assertivo e anisado do aipo, o sabor delicado dos cogumelos e a redução de vinho enobreceram um prato que foi mais uma lição de equilíbrio, de aromas, de texturas, de sabores e de cores. Para a sobremesa: Crepe crocante de leite creme e frutas exóticas.

DOCA textura crocante de massa filo combinou na perfeição com a cremosidade leite creme, onde a doçura destes foi balanceada com a frescura das frutas exóticas (pitaia, ananás, framboesa, fisális, maracujá, papaia, groselha e melão) e a acidez do sorbet de citrinos. As amêndoas laminadas crocantes e ligeiramente salgadas acrescentam uma camada extra de sabor e textura. Uma sobremesa rica, inteligente e deliciosa.

DOCTendo já experimentado todos os restaurantes do Chefe Rui Paula, por mais que uma vez, acredito que DOC é a base do sucesso de todos os outros, não só pela qualidade, mas também pela atmosfera de experimentação que ali se vive. O menu, enraizado no nosso cânone gastronómico é sempre inteligente, criativo e engenhoso, culminado num empratamento requintado mas sem se tornar exagerado. Os ingredientes são locais, mas na maior parte das vezes, trabalhados com técnicas e conceitos da nouvelle cuisine.

DOCA relação da gastronomia com os vinhos é muito bem conseguida, quer na carta de vinhos (regional, diversificada e coerente) e harmonizações sugeridas, quer na exemplaridade com que os mesmos são servidos (modo, temperatura e quantidade).  Destaque ainda para o staff, muito acolhedor, atencioso e dedicado, num serviço que combina requinte e profissionalismo com proximidade, afectividade e alguma descontracção. 

DOCO resultado é um ambiente relaxado e empático, quase familiar.  Por tudo isto, o DOC é um restaurante onde a tradição é servida elegantemente, no presente, mas com os olhos postos no amanhã, sempre focado no sabor, nas sensações e nas emoções que a comida nos transmite. Ele é inseparável dessas coisas ... desde o princípio e isso nota-se a cada prato. 

TITAN of Douro - Fragmentado | 1 por todos e todos por 2

"Um homem de génio é produzido por um conjunto complexo de circunstâncias, começando pelas hereditárias, passando pelas do ambiente e acabando em episódios mínimos de sorte." Fernando Pessoa

FragmentadoHolismo é a noção de que todos os elementos de um sistema, sejam físicos, biológicos, mentais, económicos, sociais ou políticos, estão interconectados e que por isso devem ser apreciados como um todo e não "olhados" individualmente. O princípio geral do holismo foi resumido de forma concisa por Aristóteles (século IV a.C.) na Metafísica: "O todo é mais do que a soma da suas partes."

FragmentadoAristóteles concebia o mundo (e cada ser nesse mundo), como um conjunto de entidades mutuamente interrelacionadas e parte de um todo teleologicamente organizado. Tendo esse todo uma sinergia gerada por interacções mútuas entre os diferentes constituintes, será sempre maior, melhor ou mais importante, que a simples soma aritmética das partes que o constitui.

FragmentadoNos vinhos, sobretudo naqueles "de topo", esta visão holística é cada vez mais importante. O enólogo tem que saber tirar o melhor partido dos vários lotes à sua disposição, sejam eles provenientes de vinhas diferentes, castas distintas, tenham envelhecido em diferentes tipos de barricas ou na mesma barrica durante tempos diferentes. 

FragmentadoO "segredo eno-holístico" não pode ser, simplesmente, a escolha do melhor de cada barrica ou casta, tem de ser a escolha do melhor de cada barrica ou casta para que no blend final tudo seja equilibrado, harmonioso e faça sentido. Se na adega o enólogo souber "brincar" com este puzzle vínico, o resultado serão vinhos completos, complexos, ponderados, equilibrados e - claro - bem melhores que as partes que lhe deram origem. O Luís Leocádio fez isso de forma particularmente brilhante nos seus novos vinhos, os TITAN of Douro - Fragmentado, um tinto e um branco.  Dois vinhos "fora da caixa", encantadores e com pinceladas de genialidade, começando pelas hereditárias, passando pelas do ambiente e acabando em episódios mínimos de sorte. ;)

Fragmentado"Irregulares, dispersos e variáveis são os fragmentos dos nossos solos graníticos. A eles juntamos os restantes fragmentos que trazem para um vinho uma harmonia inabalável e identidade inquestionável: a altitude, a personalidade de cada uma das castas misturadas e plantadas há mais de um século e o saber das nossas gentes! A este Fragmentado demos o melhor de Nós!", conta o Luís (produtor e enólogo).

FragmentadoComeço a descrição dos vinhos por aquele que mais me impressionou nos últimos tempos, o Fragmentado Branco Blend I (90 €, 97 pts.). Resultante de uvas de parcelas de vinha centenária, plantadas a uma altitude entre os 750 metros e os 850 metros, com um solo de transição xisto granítico, de uma apanha à mão e de uma mistura de vinhos de vários anos (2 barricas de 2015 - 4 anos de estágio, uma barrica de 2016 - 3 anos de estágio, outra de 2017 - 2 anos de estágio, e outra de 2018 - ano e meio de estágio), este é um vinho de joalharia, o melhor branco português que provei até hoje.

FragmentadoNo copo apresenta-se amarelo-palha cristalino e límpido. Entra no nariz com aromas a hortelã-pimenta, toranja, limonete, damasco e com muita energia, evoluindo mais tarde para notas de panificação, melaço, brioche e um leve apetrolado. No palato é untuoso, balsâmico, mineral (granito molhado), crocante, encantadoramente fresco e muito elegante. É equilibrado, harmonioso, ponderado, complexo e genuíno, uma preciosidade. 

FragmentadoO Fragmentado Tinto 2017 (90 €, 94 pts.) provém de vinhas nas mesmas condições geográficas do branco e com o mesmo cuidado na apanha e maturação. As uvas são depois manualmente desengaçadas e pisadas a pé em lagar de pedra, onde fermentam. Posteriormente o vinho segue para barricas de carvalho francês onde permanece em estágio durante 32 meses.

FragmentadoDe todo este processo resulta um vinho rubi denso com auréola atijolada e com aromas arbustivos, sous-bois molhado, alcatrão, iodo, pimento vermelho, cedro, ameixa preta, alcaçuz, esteva e uns apontamentos balsâmicos deliciosos. Na boca passeia-se com classe, voluptuosidade, taninos aguerridos, complexidade, enorme frescura, intensidade e até alguma sobranceria. ;) 

FragmentadoAmbos os vinhos foram engarrafados numa Borgonha CRU classe de modo a permitir uma evolução mais serena, uma vez que este tipo de garrafa concentra o vinho numa área mais pequena perto da rolha (levando a uma menor e mais lenta interacção com o oxigénio). A este "pormenor" juntam-se a elevada grossura do vidro e caixa de madeira em gaveta que dão ao vinho protecções extra contra as variações térmicas, levando a que este envelheça de forma constante e positiva.

FragmentadoSão vinhos com denominadores comuns óbvios, de que são exemplo a enorme complexidade, a elevada frescura, a mineralidade muito própria, a intensidade inebriante, a harmonia completamente arrebatadora e a identidade muito vincada. É por todos estes detalhes que acho que a noção holística que o Luís desenvolveu nestes vinhos não se esgota apenas na construção de cada um individualmente, mas na sua concepção em conjunto. São vinhos que fazem sentido juntos, mesmo fragmentados em garrafas diferentes. Assim sendo, o mote de Alexandre Dumas, em os três mosqueteiros, terá de ser alterado para: 1 por todos e todos por 2 ... vinhos ;) Parabéns Luís!!!

Quinta da Gricha Vineyard Residence | No calmo improviso do poente

"Quando um homem está na companhia de uma mulher bonita durante duas horas, no final, parece que foi apenas por um minuto. Pelo contrário, quando estamos perto de um fogão muito quente por um minuto, parece que foram duas horas. Isto é a relatividade.” Albert Einstein.

Quinta da GrichaUma das melhores coisas que podem acontecer quando descobrimos algo novo é a estrada, sem portagens, que se abre para a nossa mente em direcção a novas percepções e verdades que de outra forma nunca teríamos conhecido. Um artigo que lemos pode-nos levar a um novo autor, livro, música, filme, ou até mesmo um lugar. Quantas vezes uma simples conversa ao café nos leva a pesquisar sobre algo ou alguém que desconhecíamos? 

Quinta da GrichaIsto aconteceu recentemente comigo quando dei de caras com uma carta que circulava nas redes sociais, e que supostamente levava ao desmascaramento de um mito acerca do seu suposto autor. Talvez também já a tenham lido: a carta de Albert Einstein para sua filha Lieserl sobre a "força universal do amor". É uma bela leitura, que oferece uma mensagem universal e que nos "fala" sobre a essência da condição humana e nosso desejo, incessante, de acreditar na força conquistadora do amor. Para mim a melhor parte é esta: 

Quinta da Gricha"Quando propus a teoria da relatividade, foram poucos os que me entenderam e o que te vou agora revelar, para que depois possas transmitir à humanidade, também chocará o mundo, com toda a sua incompreensão e preconceitos. Há uma força extremamente poderosa para a qual a ciência até agora não encontrou uma explicação formal. Esta força universal é o amor.”

Quinta da GrichaO "detalhe" de tais palavras terem sido, aparentemente, escritas por Albert Einstein, o cientista mais revolucionário (e famoso) do século XX, apenas aumentou o seu alcance e impacto, tornando-se viral. Mas, como já devíamos de ter aprendido com esta era digital em expansão acelerada, nem sempre podemos confiar naquilo que encontramos na internet, especialmente quando se torna difícil encontrar uma fonte original ou credível, como foi o caso desta suposta carta de Einstein.

Quinta da GrichaMovido por essas bonitas palavras iniciei uma pequena busca na esperança, não só de de confirmar Einstein como o autor, mas também com o objectivo de que a mesma servisse de enquadramento literário para a publicação relativa à nossa visita à Quinta da Gricha Vineyard Residence, na qual pretendia esmiuçar as improváveis reflexões sobre o amor de um dos cientistas mais brilhantes do mundo, dando-lhe um contexto "eno-turístico-gastronómico". ;) 

Quinta da GrichaO que descobri, porém, foi uma polémica inflamada e que apontava para a falsificação de uma carta, erroneamente atribuída a Einstein, na tentativa de legitimar as suas palavras e sua mensagem. O prefácio dessa carta explicava que a filha de Einstein, Lieserl, doou 1.400 cartas no final dos anos 1980 para a Universidade Hebraica, com uma ordem clara para que as mesmas não fossem publicadas até terem passado duas décadas após sua morte.  Esta carta sobre a “força universal do amor" era supostamente uma delas.

Quinta da GrichaCuriosamente, depois percebi que a própria Lieserl podia não ser a fonte mais confiável, uma vez que pouco se sabe sobre ela. Na verdade, a sua existência era desconhecida dos próprios biógrafos de Einstein até 1986, quando um conjunto de cartas escritas entre Einstein e sua primeira esposa, Mileva Maric, foram descobertas pela sua neta Evelyn. 

Quinta da GrichaNessas cartas Einstein menciona, efectivamente,  Lieserl. Além disso, um livro de 1999 de Michele Zackheim (o "Filha de Einstein: A procura por Lieserl"), reportou que Lieserl nascera com uma deficiência mental e que morrera de escarlatina (uma doença infecciosa) em 1903, quando tinha quase dois anos (Lieserl foi mencionada pela última vez numa carta de Einstein, para Mileva, em 19 de Setembro de 1903).

Quinta da Gricha Esta controvérsia chegou ao fim quando descobri um artigo no New York Times escrito por Diana Kormos-Buchwald (professora de Física e história da Ciência no California Institute of Technology) e por Dennis Overbye (um escritor de Ciência especializado em Física e cosmologia, nomeado para um Pulitzer). Dizia mais ou menos isto: “Este documento intitulado  «força universal do amor» não é de Einstein. As cartas familiares doadas à Universidade Hebraica - mencionadas nesse boato - não foram dadas por Lieserl. As cartas reais foram dadas por Margot Einstein, enteada de Albert Einstein.” 

Quinta da GrichaPor mais decepcionante que possa ter sido perceber que Einstein não escreveu a carta, foi igualmente emocionante descobrir a existência de uma infinidade de documentos doados pela sua enteada. O que inicialmente era uma busca fervorosa por uma confirmação evoluiu para um fascínio absoluto com a percepção do facto de que muitas das palavras que nos chegaram de Einestein foram, na verdade, escritas para familiares, amigos e colegas. 

Quinta da GrichaPara além disso e independentemente do autor, o importante é que existe mesmo uma força extremamente poderosa para a qual a Ciência até agora não encontrou uma explicação formal, e que essa força universal é o amor. ;) E foi, também para celebrar o amor, que fizemos uma escapadinha a dois à Quinta da Gricha Vineyard Residence, a primeira desde há dois anos. ;) 

Quinta da GrichaRio abaixo e montanha acima, por entre uma paisagem virginal património mundial, surge essa propriedade da Churchill's, que encarna o verdadeiro espírito do Douro: vistas de cortar a respiração, um staff amigo e acolhedor, num ambiente que transpira enosatisfação e paz, e no qual podemos desfrutar de um calmo improviso do Douro poente. Este pôr do sol, foi dos mais bonitos que tivemos a oportunidade de assistir... 

Quinta da GrichaComo não poderia deixar de ser, parte da visita foi pincelada pelos belos vinhos da Quinta da Gricha. Com a resina, amoras pretas maduras, chocolate pretos, figos secos, elevada complexidade e finesse do Churchill's Late Bottled Vintage Port 2005 (24 €, 93+ pts.); e com o alcaçuz, anis, pimento vermelho confitado, baunilha, canela, intensidade, equilíbrio, elegância e frescura do Churchill's Vintage Port 1997 (90 €, 95+ pts.). Este último, ainda com um excelente potencial de envelhecimento. 

Quinta da GrichaNos Tawnys destaco sobretudo o âmbar-cobre cristalino Churchill's Tawny 30 Anos (80.00 €, 94 pts.), que carregava aromas complexos a amoras silvestres, ameixa preta, mirtilos, folha de tabaco, caixa de charuto, noz, casca de laranja cristalizada, hortelã-pimenta, violetas e cedro. Na boca confirma todos estes predicados e é cheio de elegância, de envolvência e de uma frescura muito viva. É um vinho contagiante sobretudo quando apreciado no seu berço. Um local verdadeiramente mágico para abraçar o saber viver (e o amor, cientifico ou não ;)) por entre as vinhas, seja com um mergulho na piscina, um passeio à beira Douro ou uma refeição tradicional no idílico laranjal. 

Quinta da GrichaNormalmente não achamos "muita piada" a que os proprietários se juntem a nós às refeições, isto pode parecer-vos estranho tendo nós um blogue, mas gostamos de ter alguma privacidade nesses momentos.  Mas, como para cada regra há uma excepção, o jantar com o  Ben vai figurar com certeza entre os mais especiais que tivemos. 

Quinta da GrichaNa escuridão nocturna do Douro falamos de tudo um pouco: de vinhos, de gastronomia, de política americana, de vírus, de viagens, de Platão e até de Física, mas mais importante do que isso,  sentimo-nos em casa e em família... (A Clarisse necessita, urgentemente, de aprender a focar com a maquina fotográfica ;)). A gastronomia é tradicional e assente em produtos regionais e carregados de autenticidade e sabor. Tivemos como entrada um refrescante e intenso Gaspacho de tomate coração de boi, como prato principal um tenro, aromatizado e reconfortante Lombo assado, com batata assada e arroz e como sobremesa um irrepreensível e delicioso leite creme queimado.

Quinta da GrichaForam acompanhados pelos mirtilos, cereja madura, pimenta preta, cacau, cedro, violetas, finesse, acidez equilibrada e taninos redondos do rubi-grená Gricha Douro Tinto 2017 (30.00 €, 91 pts.); pelos frutos silvestres, chocolate after-eight, alfádega, noz-moscada, leve violeta, acidez assertiva, taninos de veludo e elevada profundidade do rubi-escuro (com auréola violeta) Quinta da Gricha Talhão 8 2016 (40.00 €, 92 pts.); pelas amoras um pouco verdes, chocolate after-eightsous-bois, grafite, pimenta preta, acidez integrada, textura crocante e mineralidade sedutora (xisto quente) do violeta-rubi Quinta da Gricha Tinto 2016 (60.00 €, 92 pts.) e pela ameixa seca, frutos silvestres, uva-passa, figos, tabaco, canela, suculência, densidade elegância do Churchill's Vintage 2003 (90.00 €, 93+ pts.).

Quinta da GrichaApós tamanho repasto enogastronómico, era tempo de relaxar com um banho à luz das velas (já sem o Ben, como é óbvio :P), falar sobre a teoria da relatividade de Einstein (;)) e descansar. Este foi um dia muito sereno, rico e intenso. A manhã seguinte surgiu com este cenário na nossa janela...

Quinta da GrichaObrigado Emília, Carmen, Tatiana (sempre por perto a tentar tornar a estadia ainda mais especial) e Ben por estes dias fantásticos passados por entre o tal calmo improviso de um Douro poente, num local de encanto nascente. Fica prometida uma visita com a Bia e com o Gui, mas, calma e silêncio, são coisas que não vão haver nessa altura. 😉

Quinta da GrichaOutra coisa que Einstein tinha razão (numa frase cuja autenticidade foi atempadamente assegurada ;)) é que, realmente, o tempo encurta na presença de uma mulher bonita, uma verdade nada relativa. Para mim estes dias ... pareceram segundos. ;)

20 sugestões para o Natal | A culpa é das estrelas, ou será do vinho?

"Na vida de um pintor a morte talvez não seja a coisa mais difícil. Eu mesmo não tenho a certeza de nada, apenas que a visão das estrelas sempre me fez sonhar. Por vezes penso para mim mesmo, porque é que esses pontos de luz no firmamento nos parecem inalcansáveis."  Vincent van Gogh

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato2020 está a chegar ao fim, para muitos, o pior ano das suas vidas. Afinal, com uma pandemia global, uma economia fracturada, eleições controversas, tensões raciais, teorias da conspiração, fake news, incêndios devastadores e até vespas assassinas, este ano teve de tudo um pouco. Bem vistas as coisas, até deus (o do futebol) morreu.  Com isto, todos nós ficamos um pouco obcecados com o perigo aparentemente crescente nos nossos mundos, levando a uma resposta quase que imunitária e que tem raízes no nosso desenvolvimento evolutivo (as açambarcações decorrem daí): a procura por mais noticias da pandemia, de histórias de medo e de perigo, que aumentam a nossa ansiedade. 

  20 vinhos Natal Adegga/No Meu PalatoTodo este clima coloca os nossos cérebros em alerta máximo, uma vantagem que antes protegia os nossos antepassados hominídeos de potenciais predadores e desastres naturais, mas que agora nos faz prisioneiros deste cenário negro, deixando-nos viciados nas actualizações, voltando a elas, frequentemente, até que o mundo pareça, realmente ... pior do que nunca. Como saímos daqui? Pondo o(s) presente(s) em perspectiva, fazendo um balanço, não só das coisas más, mas também das boas. 2020 foi um ano de enorme progresso social e cientifico, os investigadores em todo o mundo estão a desenvolver várias vacinas para o coronavírus, um feito que não teria sido possível há uns anos atrás. 

20 vinhos Natal Adegga/No Meu PalatoEstamos mais intolerantes contra o racismo (apesar de haverem algumas estúpidas excepções) e mais exigentes na defesa dos que nos são diferentes. Temos também, de modo global, mais cuidado na escolha das fontes de informação. E tivemos mais tempo para as nossas famílias e dar valor ao que realmente é importante. E o Natal, mesmo num ano como este, é muito importante. E como já estão a adivinhar, ou não estivessem a ler este incrível blogue, para um bom Natal, precisamos de bons vinhos. ;) É por isso que em pareceria com o Adegga vos vamos sugerir 20 vinhos provados em 2020.

20 vinhos Natal Adegga/No Meu PalatoEsta iniciativa marca ainda o inicio da nossa colaboração com o Adegga. Muitos de vós, por vezes, entram em contacto connosco para nos perguntarem onde podem encontrar os vinhos que avaliamos, pois bem, a partir de hoje o Adegga passa a ser o nosso parceiro preferencial para que vocês possam ter uma plataforma onde os adquirir (sempre que possível colocaremos um link do Adegga Marketplace para comprarem online um determinado vinho). As nossas sugestões passam também a estar visíveis no site do Adegga. Aqui vão elas:

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

1) Dona Aninhas Reserva Rosé 2019 (14.99 €, 91 pts.)

Um vinho que resulta de um blend das castas Touriga Nacional, Merlot e de Castelão (provenientes de uma vinha velha), de zonas mais frescas e de maior altitude (cerca de 450 metros). Exibe uma cor salmão-rosada e um aroma bastante complexo/equilibrado/inesperado carregado de chocolate branco, violetas, cravo e canela.  A fruta como o pêssego e o coco aparecem em segundo plano, dando-lhe uma camada extra muito interessante. Se estão à espera de encontrar morangos, como nos rosés típicos, esqueçam lá isso. ;) No palato mostra personalidade, estrutura, uma deliciosa mineralidade salina, secura e uma acidez que faz com que não nos cansemos dele. Para quem gosta deste mundo das surpresas vínicas, este é um dos tais que deveria ser obrigatório provar.  

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato2) Luis Pato Informal (Baga 2014) (13.36 €, 88 pts.)

O mosto deste vinho, sem prensagem, da casta Baga, plantada no solo argilo-calcário da Vinha da Panasqueira e colhida na última semana de Agosto, criou este rosé de uva tinta, vedado com uma carica em vez da tradicional rolha de cortiça. Traja uma bela cor rosa-atijolada e exibe aromas finos e elegantes.  O solo empresta-lhe o carácter mineral, a maturação da uva a sua delicadeza e aromas a framboesa, frutos silvestres e ameixa. Há ainda uns fumados e tabaco deliciosos. Na boca é cremoso, balsâmico, fresco e fino.

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

3) Taittinger : Comtes de Champagne Blanc de Blancs 2007 (165 €, 98 pts.)

Provado na apresentação de outro grande vinho, este é um néctar de celebração. No copo mostra-se com uma tonalidade amarelo-palha, cristalina e sedutora. No nariz tem uma profundidade muito subtil e uma elevada densidade de frutas frescas (toranja, raspas de limão, maçã verde e damasco) e frutos secos (nozes e avelãs). Surgem também aromas mais discretos a brioche, silex, pimenta branca, acácia-lima e algum chocolate branco. No palato é cremoso (quase que apetece trincar), harmonioso, fresco, preciso, complexo, longo e luxuoso.  

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

4) Cazas Novas Avesso Pure 2019 (12.99 €, 88 pts.)

Este Avesso nasce no Vale do Douro e nos solos pobres que marcam as vinhas de encosta, apresentando-se como uma variedade de viticultura difícil, mas vigorosa, apreciadora do clima seco, dos Invernos frios e dos Verões muito quentes. O resultado é um vinho que vai mais além do que normalmente encontramos num Avesso. De cor citrina intensa e cristalina, exibe maçã verde, tangerina, pêssego, relva recém-cortada, pedrogosidade (granito partido) e frescura assertiva. No palato mostra-se muito guloso, complexo, fino, consistente, volumoso e surpreendentemente cremoso. Por momentos fez-me recordar um Chardonnay de clima frio.

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

5)  Dom Ponciano Colheita Seleccionada 2013 (29.99 €, 93 pts.)

De cor palha levemente amarelada é resultante de parcelas de vinha velha de Alvarinho de ramada e estágio prolongado em inox (borras finas), 6 meses em madeira e posterior envelhecimento por 36 meses em garrafa. O seu nariz é muito complexo com limão, toranja, pêssego, maracujá, erva cortada de fresco e uma baunilha muito subtil. No palato é untuoso, largo e intenso, mas sem perder a suavidade, equilíbrio e elegância.

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

6) Quinta dos Carvalhais Encruzado 2019 (16.00 €, 89 pts.)

O monovarietal Encruzado é um dos vinhos que ajudou a criar o prestígio da Quinta dos Carvalhais. Parte do lote estagia em inox e a outra parte, 6 meses em barricas novas de carvalho francês de diferentes capacidades, durante os quais o vinho foi sujeito a frequentes operações de agitação das borras finas que lhe transmitiram mais volume e complexidade. Este, entre o amarelo-palha e o amarelo-citrino, exibe no nariz limão, lima, abacaxi, espargos, acácia-lima e ligeiros apontamentos de amêndoa torrada. No palato mostra bom volume e uma acidez cativante, é fino, harmonioso e complexo.

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

7) Quinta do Convento Branco 1999 (32.50€, 94+ pts.)

Entre barricas de Porto antigos, tintos e até brancos, apareceu um amontoado de garrafas de um Douro, de cor dourada, bem evoluído. A primeira rolha aberta revelou algo de extraordinário na garrafa. Um vinho untuoso e rico. Ou antes, uma relíquia, que se soube depois, ter nascido de uma vindima de 1999, precisamente das vinhas velhas em frente ao convento. Agora, cerca de 20 anos depois, esse vinho foi lançado no mercado, pela Kranemann Wine Estates. É um vinho intrigante e misterioso. Ao contrário de outros fantasmas traja um véu de cor dourada, brilhante e irreverente. No nariz é muito complexo, intenso e harmonioso, em que as notas de resina, mel, fruta (damasco, marmelo) quase em compota, frutos secos (noz e amêndoa),  gengibre,  laranja cristalizada (aquela do bolo rei) e o leve anisado lhe dão um tom aristocrático enorme. Na boca, e ao contrário de outros brancos velhos que tenho provado tem uma enorme acidez (5,3 g/L de tartárico e pH de 2.99!!!). Após esquecermos a estalada vinda do além, tão inesperada quanto deliciosa da acidez, o vinho continua a surpreender com volume, untuosidade e uma ligeira adstrigênia que nos parece querer enganar ao dizer que estivemos a mastigar avelãs. O final é persistente, rico e elegante.

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

8) Herdade do Moinho Branco Antão Vaz 2018 (39.90 €, 93 pts.)

Nascido à sombra da Serra do Mendro e influenciado pelas particularidades inigualáveis da região da Vidigueira (clima mediterrânico com grande influência Atlântica, assim como uma ligeira "continentalidade" no período Primavera-Verão), apresenta-se como um vinho branco de qualidade superior, feito a partir da casta Antão Vaz, ex libris e autóctone da região da Vidigueira. Um perfil único e diferente, extraído das vinhas velhas, que possuem uma concentração muito forte, mas também fruto de uma vinificação muito cuidada em barricas novas de carvalho francês de 500 l. De cor cristalina amarelo citrina exibe deliciosos aromas a flor de laranjeira, casca de laranja cristalizada, papaia, pimenta branca, caixa de tabaco e uma mineralidade assertiva (xisto molhado). No palato é denso e elegante, entrando com uma acidez firme e vibrante, com uma textura cremosa e crocante, e com uma (muito) subtil alma salina que me conquistou.

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

9) Quinta Maria Izabel Vinhas da Princesa Branco 2017 (48€, 92 pts.)

As uvas provenientes de várias vinhas muito velhas no Alto Douro Vinhateiro (Mêda), foram prensadas em cacho inteiro, com o intuito de se extrair o mosto mais fresco e vibrante possível. Mantendo-se a origem de cada vinha, os mostos seguiram a fermentação alcoólica em barricas novas de carvalho francês de 500 l. O processo fermentativo a partir de leveduras indígenas, traz mais complexidade e carácter aos vinhos. A maturação é longa (12 meses) em borras totais, num percurso de vinificação, claramente, de inspiração borgonhesa. Essas vinhas com mais de 80 anos originaram os aromas intensos e elegantes a lima, toranja, esteva, limonete, ameixa branca, salinidade e fumo ligeiro. No palato é exuberante, e estruturado, mostrando excelente volume, complexidade e um final suave e inebriantemente fresco.

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

10) Hasso Tinto 2018 (6.90 €, 89 pts.)

Curiosamente e coincidentemente (ou não ;)) a inspiração para a marca Hasso resulta do carácter descontraído e divertido do fiel parceiro que acompanha a família Kranemann, o Hasso, cão de raça Leão da Rodésia que surge no rótulo dos vinhos. Este vinho de cor vermelha gema-grená exibe ameixa preta, amoras maduras, frutos do bosque, esteva e urze. No palato é sumarento, macio (taninos redondos e secos), com boa acidez, elegância e mineralidade (xisto partido).

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

11)  Quinta da Leda 2016 (39.99 €, 93 pts.)

Produzido a partir das castas Touriga Franca (50%), Touriga Nacional (25%), Tinto Cão (15%) e Tinta Roriz (10%), a colheita de 2016 é ideal para acompanhar pratos de carne, caça e queijos. O Quinta da Leda 2016 dá, assim, continuidade a uma herança de peso, sobretudo depois de a colheita anterior ter merecido vários prémios da crítica, no âmbito de concursos como o International Wine Challenge, o Concours Mondial de Bruxelles, o International Wine & Spirit Competition ou o Decanter World Wine Awards, entre outros. Exibe uma cor vermelha rubi muito cristalina e aromas intensos a framboesas pretas, amoras vermelhas, esteva, flores silvestres, pimenta preta, noz-moscada, resina, cedro e uma deliciosa baunilha. Na boca é bastante mineral (xisto quebrado), fresco, volumoso, profundo, com uma enorme elegância e taninos super elegantes e sedutores. É incrivelmente longo, equilibrado, complexo e harmonioso.

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

12) XXVI Talhas Mestre Daniel Talha Tinta Grossa 2019 (35 €, 91 pts.)

O Mestre Daniel produziu vinho de talha durante 30 anos, seguindo a tradição familiar que herdou de seus pais e avós. Após a sua morte seguiram-se ainda alguns anos de produção. Contudo, em 1990, a adega encerrou actividade. Em 2018, após quase trinta anos de interregno, a adega volta a funcionar, pelas mãos do XXVI Talhas, retomando a tradição local e familiar de produção de vinho de talha. Daí surgiu este vinho com uma cor rubi muito bonita e levemente pálida, carrega notas deliciosas a amora, compota de mirtilo, bergamota, erva seca, pinho, cogumelos, sous-bois e uma mineralidade intrigante (granito partido). Na boca não é seco, é muito complexo, super equilibrado, dócil, elegante e muito longo. Gostei muito deste vinho. 

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

13) Dona Antónia Adelide Ferreita Tinto 2016 (75.00 €, 95 pts.)

Este é um vinho enorme!!! É vinificado na Adega da Quinta da Leda, com tecnologia apurada, a partir de lotes de uvas provenientes das quintas da Leda, Seixo, Caêdo, Sairrão e Porto. As uvas são vinificadas por castas ou em lotes escolhidos na vinha. Depois, realiza a fermentação maloláctica em barricas de carvalho francês. Segue-se a maturação, durante cerca de 24 meses, em tonéis de carvalho francês. O lote final é elaborado com base na selecção dos melhores vinhos, resultantes das inúmeras provas e análises efectuadas durante este período. De cor rubi-granada densa e bonita, tem um nariz muito intenso e com muitas dimensões, é complexo e harmonioso com ameixa vermelha fresca, frutos silvestres, pimenta preta, notas arbustivas, resina e uns balsãmicos deliciosos. No palato é untuoso e exibe um excelente equilibrio entre volume, textura, acidez e secura. É um vinho que não acaba. ;)

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

14) Quinta do Monte Xisto 2017 (70€, 96 pts.)

Este é dos vinhos mais puros que provei até hoje. Vinificado em lagares de granito com pisa a pé seguido de um estágio de 18 meses em pipas de 600 l e envelhecido nos armazéns da família em Vila Nova de Gaia, é composto pelas castas Touriga Nacional (50%), a Touriga Francesa (45%) e o Souzão (5%). De cor vermelha-grená, densa e opaca exibe no nariz cerejas, uvas esmagadas (aquele cheiro a vindima), esteva, giestas, sous-bois, fumo, petrichor, grafite, xisto molhado e ... alecrim. No palato é cheio de frescura, intensidade, persistência e com uns taninos austeramente elegantes. Um vinho fino, aveludado, macio, complexo, harmonioso e impactante. É daqueles, que com certeza vou querer conversar no futuro. Esse alecrim que cheirei no copo é uma boa metáfora para o projecto que suporta este vinho: amor, memória e família. "Ser ou não ser" para os Nicolau de Almeida é muito mais que uma questão, é uma afirmação de identidade.

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

15) Churchill’s  Vintage Port 2017 ( 89.00 €, 96 pts.)

Todos os vinhos do Porto Churchill's são feitos de uvas de categoria A (a mais elevada) que são colhidas manualmente, seleccionadas e pisadas a pé nos antigos lagares de granito na Quinta da Gricha, no Vale do Douro. O primeiro Inverno deste vinho foi passado no Douro e depois transportado no início da Primavera para as caves em Vila Nova de Gaia. Ali estagiou em tonéis de carvalho francês durante um ano, altura em que se decidiu que o vinho era de qualidade para ser declarado vintage. O resultado foi um vinho de tonalidade rubi-violeta muito densa, mostrando-se no nariz muito focado e com inúmeras camadas de aromas ( cereja preta, amoras, frutos silvestres, mirtilos, violetas, alcaçuz e resina). Na boca passeia-se com uma acidez vibrante, excelente mineralidade (xisto partido) e uma enorme largura aromática. Muito puro. É daqueles que não acaba.

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

16)  Warre's Vintage 1980 (125.00 €, 94 pts.)

De cor vermelho-ameixa com bordas atijoladas, este vinho, curiosamente, ainda exibe, lá ao fundo, para quem sabe procurar, as amoras, a ameixa e as violetas com que iniciou a sua viagem há 40 anos. Esse caminho revestiu-o com outros predicados como o coco, a amêndoa, os figos secos, a resina, o alcaçuz, as ervas secas e algum iodo. Na boca tem a acidez contida mas sedutora, e presenteia-nos com um vinagrinho, um picante e um melaço muito saborosos. Está numa fase óptima para consumo!!!

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

17) Graham´s Vintage 1983 (130.00 €, 96 pts.)

Do meu ano (;)) este é um dos melhores exemplos (se não o melhor) dos vintages de 1983. Exibe um aroma muito rico, com as violetas, a lavanda, o cedro e o eucalipto a juntarem-se à fruta bastante madura (cerejas e ameixa vermelha), ao couro, às especiarias (pimenta preta e alguma canela) e ao chocolate preto. O paladar é encantador, cheio e sedoso, com taninos redondos e uma óptima acidez que lhe dão (ainda) um bom potencial de envelhecimento. Nectarino, untuoso, sensual, denso e complexo. É um vinho realmente muito bom, erudito e que vai evoluir favoravelmente pelo menos durante mais uma década.

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

18) Churchill's Tawny 30 Anos (80.00 €, 94 pts.)

As castas são originárias das antigas vinhas localizadas em Cima Corgo, uma sub-região do Douro, e combinadas com variedades tais como Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinto Cão, Tinta Barrosa, Touriga Franca e Tinta Francisca. As uvas são colhidas à mão e processadas em lagares de granito ancestral, seguida da pisa a pé durante a fermentação. Depois desta, os vinhos, de diferentes anos, passam por um período de envelhecimento em cascos de carvalho. O lote final tem uma idade média de 30 anos e ... muito requinte. De cor âmbar-cobre cristalina carrega aromas complexos a amoras silvestres, ameixa preta, mirtilos, folha de tabaco, caixa de charuto, noz, casca de laranja cristalizada, hortelã-pimenta, violetas e cedro. Na boca confirma todos estes predicados e é cheio de elegância,  de envolvência e de uma frescura muito viva. É um vinho contagiante. 

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

19)  Graham's Single Harvest Tawny 1994 (120.00 €, 97 pts.)

1994 foi um dos anos mais marcantes no Douro, aclamado por ter produzido um dos Portos Vintage clássicos mais afamados do século XX. Além dos lotes excepcionais escolhidos para engarrafamento como Porto Vintage, Peter Symington fez uma selecção exaustiva de outros excelentes vinhos da Quinta dos Malvedos e da Quinta das Lages, que reservou para longo envelhecimento em cascos de carvalho francês e posterior lançamento como Porto Tawny velho. Depois de quase 25 anos de envelhecimento, foram escolhidos 19 cascos, que exibiam uma elegância e uma estrutura muito particulares, e que por isso constituem este vinho. Traja uma sedutora e densa cor âmbar acastanhada, mostrando-se muito complexo no nariz: com mel, caramelo, especiarias, flores silvestres, violetas, mirtilos, figos secos, nozes e café torrado. No palato é balsâmico, delicado, longo e equilibrado. Um vinho de joalharia e com memória.

20 vinhos Natal Adegga/No Meu Palato

20) Blandy's Terrantez Vintage 1980 (120.00 €, 97 pts.)

Os Blandy's são únicos, não apenas por serem a única família resistente de todos os fundadores originais do comércio de vinho da Madeira mas também por possuirem a sua própria empresa de vinho Madeira, respeitadora das tradições que remontam a 1811. A colecção Vintage da família é assombrosa, sendo a sala onde envelhecem considerada uma “catedral do vinho”, armazenando vinhos que datam do século XVIII. Este vinho envelheceu 36 anos em cascos de carvalho americano, no tradicional sistema ‘Canteiro’, onde o vinho é suavemente aquecido por ar quente nos sótãos de uma sala de envelhecimento, virados a sul, no Funchal. O vinho mudou-se para o último andar, mais quente, desse edifício, o Sotão de Amêndoa, em 1981, onde permaneceu 1 ano. Em seguida, desceu para o piso intermédio e finalmente para o rés-do-chão em 1987, onde permaneceu até ao engarrafamento em 2016. O resultado de todo esse processo é um vinho cor de topázio com laivos verdes e com notas de marmelada, casca de laranja, chocolate, damasco e amêndoas. Na boca é picante, fresco, salgado e seco. Puro, vibrante e aristocrata, que vinho!!!

20 vinhos Natal Adegga/No Meu PalatoEspero que estas 20 razões vos ajudem a encarar o Natal de 2020 com uma perspectiva van Goghiana, não só deste ano, mas também da vida. Para mim, e como já deixei transparecer noutras publicações, Van Gogh foi o melhor pintor de todos. O uso que faz das cores é quase tão delicioso como o Terrantez que vos acabei de falar, mas hoje não é por isso que vos "falo" dele. Van Gogh é muito mais que o génio-pintor, é o arquétipo do artista enquanto homem.

20 vinhos Natal Adegga/No Meu PalatoNão teve uma vida fácil, era pobre, não reconhecido, sofria de bulling muito antes do bulling existir, era muito doente, e tirando o irmão e uma amiga-namorada, não era muito acarinhado. No entanto, conseguiu transformar essa dor proveniente da sua vida atormentada em beleza pintada. É muito fácil representar a dor e o sofrimento (os media tornaram-se especialistas disso neste ano), mas usar a dor e o sofrimento para, através da paixão, representar a alegria e a magnificência do nosso mundo, só está ao alcance de alguns, poucos, iluminados.

20 vinhos Natal Adegga/No Meu PalatoO segredo para estes "óculos da felicidade" com os quais devemos absorver o que nos rodeia é encontramos alguma coisa que nos faça olhar para o mundo de um modo mais optimista e sonhador. Diz-se que no caso de Van Gog essa culpa abnegada foi das estrelas, aqui para nós, a culpa pode ser de qualquer um destes 20 vinhos. ;)

Bom Natal, bons vinhos e sejam felizes!!!