"Na vida de um pintor a morte talvez não seja a coisa mais difícil. Eu mesmo não tenho a certeza de nada, apenas que a visão das estrelas sempre me fez sonhar. Por vezes penso para mim mesmo, porque é que esses pontos de luz no firmamento nos parecem inalcansáveis." Vincent van Gogh
2020 está a chegar ao fim, para muitos, o pior ano das suas vidas. Afinal, com uma pandemia global, uma economia fracturada, eleições controversas, tensões raciais, teorias da conspiração, fake news, incêndios devastadores e até vespas assassinas, este ano teve de tudo um pouco. Bem vistas as coisas, até deus (o do futebol) morreu. Com isto, todos nós ficamos um pouco obcecados com o perigo aparentemente crescente nos nossos mundos, levando a uma resposta quase que imunitária e que tem raízes no nosso desenvolvimento evolutivo (as açambarcações decorrem daí): a procura por mais noticias da pandemia, de histórias de medo e de perigo, que aumentam a nossa ansiedade.
Todo este clima coloca os nossos cérebros em alerta máximo, uma vantagem que antes protegia os nossos antepassados hominídeos de potenciais predadores e desastres naturais, mas que agora nos faz prisioneiros deste cenário negro, deixando-nos viciados nas actualizações, voltando a elas, frequentemente, até que o mundo pareça, realmente ... pior do que nunca. Como saímos daqui? Pondo o(s) presente(s) em perspectiva, fazendo um balanço, não só das coisas más, mas também das boas. 2020 foi um ano de enorme progresso social e cientifico, os investigadores em todo o mundo estão a desenvolver várias vacinas para o coronavírus, um feito que não teria sido possível há uns anos atrás.
Estamos mais intolerantes contra o racismo (apesar de haverem algumas estúpidas excepções) e mais exigentes na defesa dos que nos são diferentes. Temos também, de modo global, mais cuidado na escolha das fontes de informação. E tivemos mais tempo para as nossas famílias e dar valor ao que realmente é importante. E o Natal, mesmo num ano como este, é muito importante. E como já estão a adivinhar, ou não estivessem a ler este incrível blogue, para um bom Natal, precisamos de bons vinhos. ;) É por isso que em pareceria com o Adegga vos vamos sugerir 20 vinhos provados em 2020.
Esta iniciativa marca ainda o inicio da nossa colaboração com o Adegga. Muitos de vós, por vezes, entram em contacto connosco para nos perguntarem onde podem encontrar os vinhos que avaliamos, pois bem, a partir de hoje o Adegga passa a ser o nosso parceiro preferencial para que vocês possam ter uma plataforma onde os adquirir (sempre que possível colocaremos um link do Adegga Marketplace para comprarem online um determinado vinho). As nossas sugestões passam também a estar visíveis no site do Adegga. Aqui vão elas:
1) Dona Aninhas Reserva Rosé 2019 (14.99 €, 91 pts.)
Um vinho que resulta de um blend das castas Touriga Nacional, Merlot e de Castelão (provenientes de uma vinha velha), de zonas mais frescas e de maior altitude (cerca de 450 metros). Exibe uma cor salmão-rosada e um aroma bastante complexo/equilibrado/inesperado carregado de chocolate branco, violetas, cravo e canela. A fruta como o pêssego e o coco aparecem em segundo plano, dando-lhe uma camada extra muito interessante. Se estão à espera de encontrar morangos, como nos rosés típicos, esqueçam lá isso. ;) No palato mostra personalidade, estrutura, uma deliciosa mineralidade salina, secura e uma acidez que faz com que não nos cansemos dele. Para quem gosta deste mundo das surpresas vínicas, este é um dos tais que deveria ser obrigatório provar.
2) Luis Pato Informal (Baga 2014) (13.36 €, 88 pts.)
O mosto deste vinho, sem prensagem, da casta Baga, plantada no solo argilo-calcário da Vinha da Panasqueira e colhida na última semana de Agosto, criou este rosé de uva tinta, vedado com uma carica em vez da tradicional rolha de cortiça. Traja uma bela cor rosa-atijolada e exibe aromas finos e elegantes. O solo empresta-lhe o carácter mineral, a maturação da uva a sua delicadeza e aromas a framboesa, frutos silvestres e ameixa. Há ainda uns fumados e tabaco deliciosos. Na boca é cremoso, balsâmico, fresco e fino.
3) Taittinger : Comtes de Champagne Blanc de Blancs 2007 (165 €, 98 pts.)
Provado na apresentação de outro grande vinho, este é um néctar de celebração. No copo mostra-se com uma tonalidade amarelo-palha, cristalina e sedutora. No nariz tem uma profundidade muito subtil e uma elevada densidade de frutas frescas (toranja, raspas de limão, maçã verde e damasco) e frutos secos (nozes e avelãs). Surgem também aromas mais discretos a brioche, silex, pimenta branca, acácia-lima e algum chocolate branco. No palato é cremoso (quase que apetece trincar), harmonioso, fresco, preciso, complexo, longo e luxuoso.
4) Cazas Novas Avesso Pure 2019 (12.99 €, 88 pts.)
Este Avesso nasce no Vale do Douro e nos solos pobres que marcam as vinhas de encosta, apresentando-se como uma variedade de viticultura difícil, mas vigorosa, apreciadora do clima seco, dos Invernos frios e dos Verões muito quentes. O resultado é um vinho que vai mais além do que normalmente encontramos num Avesso. De cor citrina intensa e cristalina, exibe maçã verde, tangerina, pêssego, relva recém-cortada, pedrogosidade (granito partido) e frescura assertiva. No palato mostra-se muito guloso, complexo, fino, consistente, volumoso e surpreendentemente cremoso. Por momentos fez-me recordar um Chardonnay de clima frio.
5) Dom Ponciano Colheita Seleccionada 2013 (29.99 €, 93 pts.)
De cor palha levemente amarelada é resultante de parcelas de vinha velha de Alvarinho de ramada e estágio prolongado em inox (borras finas), 6 meses em madeira e posterior envelhecimento por 36 meses em garrafa. O seu nariz é muito complexo com limão, toranja, pêssego, maracujá, erva cortada de fresco e uma baunilha muito subtil. No palato é untuoso, largo e intenso, mas sem perder a suavidade, equilíbrio e elegância.
6) Quinta dos Carvalhais Encruzado 2019 (16.00 €, 89 pts.)
O monovarietal Encruzado é um dos vinhos que ajudou a criar o prestígio da Quinta dos Carvalhais. Parte do lote estagia em inox e a outra parte, 6 meses em barricas novas de carvalho francês de diferentes capacidades, durante os quais o vinho foi sujeito a frequentes operações de agitação das borras finas que lhe transmitiram mais volume e complexidade. Este, entre o amarelo-palha e o amarelo-citrino, exibe no nariz limão, lima, abacaxi, espargos, acácia-lima e ligeiros apontamentos de amêndoa torrada. No palato mostra bom volume e uma acidez cativante, é fino, harmonioso e complexo.
7) Quinta do Convento Branco 1999 (32.50€, 94+ pts.)
Entre barricas de Porto antigos, tintos e até brancos, apareceu um amontoado de garrafas de um Douro, de cor dourada, bem evoluído. A primeira rolha aberta revelou algo de extraordinário na garrafa. Um vinho untuoso e rico. Ou antes, uma relíquia, que se soube depois, ter nascido de uma vindima de 1999, precisamente das vinhas velhas em frente ao convento. Agora, cerca de 20 anos depois, esse vinho foi lançado no mercado, pela Kranemann Wine Estates. É um vinho intrigante e misterioso. Ao contrário de outros fantasmas traja um véu de cor dourada, brilhante e irreverente. No nariz é muito complexo, intenso e harmonioso, em que as notas de resina, mel, fruta (damasco, marmelo) quase em compota, frutos secos (noz e amêndoa), gengibre, laranja cristalizada (aquela do bolo rei) e o leve anisado lhe dão um tom aristocrático enorme. Na boca, e ao contrário de outros brancos velhos que tenho provado tem uma enorme acidez (5,3 g/L de tartárico e pH de 2.99!!!). Após esquecermos a estalada vinda do além, tão inesperada quanto deliciosa da acidez, o vinho continua a surpreender com volume, untuosidade e uma ligeira adstrigênia que nos parece querer enganar ao dizer que estivemos a mastigar avelãs. O final é persistente, rico e elegante.
8) Herdade do Moinho Branco Antão Vaz 2018 (39.90 €, 93 pts.)
Nascido à sombra da Serra do Mendro e influenciado pelas particularidades inigualáveis da região da Vidigueira (clima mediterrânico com grande influência Atlântica, assim como uma ligeira "continentalidade" no período Primavera-Verão), apresenta-se como um vinho branco de qualidade superior, feito a partir da casta Antão Vaz, ex libris e autóctone da região da Vidigueira. Um perfil único e diferente, extraído das vinhas velhas, que possuem uma concentração muito forte, mas também fruto de uma vinificação muito cuidada em barricas novas de carvalho francês de 500 l. De cor cristalina amarelo citrina exibe deliciosos aromas a flor de laranjeira, casca de laranja cristalizada, papaia, pimenta branca, caixa de tabaco e uma mineralidade assertiva (xisto molhado). No palato é denso e elegante, entrando com uma acidez firme e vibrante, com uma textura cremosa e crocante, e com uma (muito) subtil alma salina que me conquistou.
9) Quinta Maria Izabel Vinhas da Princesa Branco 2017 (48€, 92 pts.)
As uvas provenientes de várias vinhas muito velhas no Alto Douro Vinhateiro (Mêda), foram prensadas em cacho inteiro, com o intuito de se extrair o mosto mais fresco e vibrante possível. Mantendo-se a origem de cada vinha, os mostos seguiram a fermentação alcoólica em barricas novas de carvalho francês de 500 l. O processo fermentativo a partir de leveduras indígenas, traz mais complexidade e carácter aos vinhos. A maturação é longa (12 meses) em borras totais, num percurso de vinificação, claramente, de inspiração borgonhesa. Essas vinhas com mais de 80 anos originaram os aromas intensos e elegantes a lima, toranja, esteva, limonete, ameixa branca, salinidade e fumo ligeiro. No palato é exuberante, e estruturado, mostrando excelente volume, complexidade e um final suave e inebriantemente fresco.
10) Hasso Tinto 2018 (6.90 €, 89 pts.)
Curiosamente e coincidentemente (ou não ;)) a inspiração para a marca Hasso resulta do carácter descontraído e divertido do fiel parceiro que acompanha a família Kranemann, o Hasso, cão de raça Leão da Rodésia que surge no rótulo dos vinhos. Este vinho de cor vermelha gema-grená exibe ameixa preta, amoras maduras, frutos do bosque, esteva e urze. No palato é sumarento, macio (taninos redondos e secos), com boa acidez, elegância e mineralidade (xisto partido).
11) Quinta da Leda 2016 (39.99 €, 93 pts.)
Produzido a partir das castas Touriga Franca (50%), Touriga Nacional (25%), Tinto Cão (15%) e Tinta Roriz (10%), a colheita de 2016 é ideal para acompanhar pratos de carne, caça e queijos. O Quinta da Leda 2016 dá, assim, continuidade a uma herança de peso, sobretudo depois de a colheita anterior ter merecido vários prémios da crítica, no âmbito de concursos como o International Wine Challenge, o Concours Mondial de Bruxelles, o International Wine & Spirit Competition ou o Decanter World Wine Awards, entre outros. Exibe uma cor vermelha rubi muito cristalina e aromas intensos a framboesas pretas, amoras vermelhas, esteva, flores silvestres, pimenta preta, noz-moscada, resina, cedro e uma deliciosa baunilha. Na boca é bastante mineral (xisto quebrado), fresco, volumoso, profundo, com uma enorme elegância e taninos super elegantes e sedutores. É incrivelmente longo, equilibrado, complexo e harmonioso.
12) XXVI Talhas Mestre Daniel Talha Tinta Grossa 2019 (35 €, 91 pts.)
O Mestre Daniel produziu vinho de talha durante 30 anos, seguindo a tradição familiar que herdou de seus pais e avós. Após a sua morte seguiram-se ainda alguns anos de produção. Contudo, em 1990, a adega encerrou actividade. Em 2018, após quase trinta anos de interregno, a adega volta a funcionar, pelas mãos do XXVI Talhas, retomando a tradição local e familiar de produção de vinho de talha. Daí surgiu este vinho com uma cor rubi muito bonita e levemente pálida, carrega notas deliciosas a amora, compota de mirtilo, bergamota, erva seca, pinho, cogumelos, sous-bois e uma mineralidade intrigante (granito partido). Na boca não é seco, é muito complexo, super equilibrado, dócil, elegante e muito longo. Gostei muito deste vinho.
13) Dona Antónia Adelide Ferreita Tinto 2016 (75.00 €, 95 pts.)
Este é um vinho enorme!!! É vinificado na Adega da Quinta da Leda, com tecnologia apurada, a partir de lotes de uvas provenientes das quintas da Leda, Seixo, Caêdo, Sairrão e Porto. As uvas são vinificadas por castas ou em lotes escolhidos na vinha. Depois, realiza a fermentação maloláctica em barricas de carvalho francês. Segue-se a maturação, durante cerca de 24 meses, em tonéis de carvalho francês. O lote final é elaborado com base na selecção dos melhores vinhos, resultantes das inúmeras provas e análises efectuadas durante este período. De cor rubi-granada densa e bonita, tem um nariz muito intenso e com muitas dimensões, é complexo e harmonioso com ameixa vermelha fresca, frutos silvestres, pimenta preta, notas arbustivas, resina e uns balsãmicos deliciosos. No palato é untuoso e exibe um excelente equilibrio entre volume, textura, acidez e secura. É um vinho que não acaba. ;)
14) Quinta do Monte Xisto 2017 (70€, 96 pts.)
Este é dos vinhos mais puros que provei até hoje. Vinificado em lagares de granito com pisa a pé seguido de um estágio de 18 meses em pipas de 600 l e envelhecido nos armazéns da família em Vila Nova de Gaia, é composto pelas castas Touriga Nacional (50%), a Touriga Francesa (45%) e o Souzão (5%). De cor vermelha-grená, densa e opaca exibe no nariz cerejas, uvas esmagadas (aquele cheiro a vindima), esteva, giestas, sous-bois, fumo, petrichor, grafite, xisto molhado e ... alecrim. No palato é cheio de frescura, intensidade, persistência e com uns taninos austeramente elegantes. Um vinho fino, aveludado, macio, complexo, harmonioso e impactante. É daqueles, que com certeza vou querer conversar no futuro. Esse alecrim que cheirei no copo é uma boa metáfora para o projecto que suporta este vinho: amor, memória e família. "Ser ou não ser" para os Nicolau de Almeida é muito mais que uma questão, é uma afirmação de identidade.
15) Churchill’s Vintage Port 2017 ( 89.00 €, 96 pts.)
Todos os vinhos do Porto Churchill's são feitos de uvas de categoria A (a mais elevada) que são colhidas manualmente, seleccionadas e pisadas a pé nos antigos lagares de granito na Quinta da Gricha, no Vale do Douro. O primeiro Inverno deste vinho foi passado no Douro e depois transportado no início da Primavera para as caves em Vila Nova de Gaia. Ali estagiou em tonéis de carvalho francês durante um ano, altura em que se decidiu que o vinho era de qualidade para ser declarado vintage. O resultado foi um vinho de tonalidade rubi-violeta muito densa, mostrando-se no nariz muito focado e com inúmeras camadas de aromas ( cereja preta, amoras, frutos silvestres, mirtilos, violetas, alcaçuz e resina). Na boca passeia-se com uma acidez vibrante, excelente mineralidade (xisto partido) e uma enorme largura aromática. Muito puro. É daqueles que não acaba.
16) Warre's Vintage 1980 (125.00 €, 94 pts.)
De cor vermelho-ameixa com bordas atijoladas, este vinho, curiosamente, ainda exibe, lá ao fundo, para quem sabe procurar, as amoras, a ameixa e as violetas com que iniciou a sua viagem há 40 anos. Esse caminho revestiu-o com outros predicados como o coco, a amêndoa, os figos secos, a resina, o alcaçuz, as ervas secas e algum iodo. Na boca tem a acidez contida mas sedutora, e presenteia-nos com um vinagrinho, um picante e um melaço muito saborosos. Está numa fase óptima para consumo!!!
17) Graham´s Vintage 1983 (130.00 €, 96 pts.)
Do meu ano (;)) este é um dos melhores exemplos (se não o melhor) dos vintages de 1983. Exibe um aroma muito rico, com as violetas, a lavanda, o cedro e o eucalipto a juntarem-se à fruta bastante madura (cerejas e ameixa vermelha), ao couro, às especiarias (pimenta preta e alguma canela) e ao chocolate preto. O paladar é encantador, cheio e sedoso, com taninos redondos e uma óptima acidez que lhe dão (ainda) um bom potencial de envelhecimento. Nectarino, untuoso, sensual, denso e complexo. É um vinho realmente muito bom, erudito e que vai evoluir favoravelmente pelo menos durante mais uma década.
18) Churchill's Tawny 30 Anos (80.00 €, 94 pts.)
As castas são originárias das antigas vinhas localizadas em Cima Corgo, uma sub-região do Douro, e combinadas com variedades tais como Touriga Nacional, Tinta Roriz, Tinto Cão, Tinta Barrosa, Touriga Franca e Tinta Francisca. As uvas são colhidas à mão e processadas em lagares de granito ancestral, seguida da pisa a pé durante a fermentação. Depois desta, os vinhos, de diferentes anos, passam por um período de envelhecimento em cascos de carvalho. O lote final tem uma idade média de 30 anos e ... muito requinte. De cor âmbar-cobre cristalina carrega aromas complexos a amoras silvestres, ameixa preta, mirtilos, folha de tabaco, caixa de charuto, noz, casca de laranja cristalizada, hortelã-pimenta, violetas e cedro. Na boca confirma todos estes predicados e é cheio de elegância, de envolvência e de uma frescura muito viva. É um vinho contagiante.
19) Graham's Single Harvest Tawny 1994 (120.00 €, 97 pts.)
1994 foi um dos anos mais marcantes no Douro, aclamado por ter produzido um dos Portos Vintage clássicos mais afamados do século XX. Além dos lotes excepcionais escolhidos para engarrafamento como Porto Vintage, Peter Symington fez uma selecção exaustiva de outros excelentes vinhos da Quinta dos Malvedos e da Quinta das Lages, que reservou para longo envelhecimento em cascos de carvalho francês e posterior lançamento como Porto Tawny velho. Depois de quase 25 anos de envelhecimento, foram escolhidos 19 cascos, que exibiam uma elegância e uma estrutura muito particulares, e que por isso constituem este vinho. Traja uma sedutora e densa cor âmbar acastanhada, mostrando-se muito complexo no nariz: com mel, caramelo, especiarias, flores silvestres, violetas, mirtilos, figos secos, nozes e café torrado. No palato é balsâmico, delicado, longo e equilibrado. Um vinho de joalharia e com memória.
20) Blandy's Terrantez Vintage 1980 (120.00 €, 97 pts.)
Os Blandy's são únicos, não apenas por serem a única família resistente de todos os fundadores originais do comércio de vinho da Madeira mas também por possuirem a sua própria empresa de vinho Madeira, respeitadora das tradições que remontam a 1811. A colecção Vintage da família é assombrosa, sendo a sala onde envelhecem considerada uma “catedral do vinho”, armazenando vinhos que datam do século XVIII. Este vinho envelheceu 36 anos em cascos de carvalho americano, no tradicional sistema ‘Canteiro’, onde o vinho é suavemente aquecido por ar quente nos sótãos de uma sala de envelhecimento, virados a sul, no Funchal. O vinho mudou-se para o último andar, mais quente, desse edifício, o Sotão de Amêndoa, em 1981, onde permaneceu 1 ano. Em seguida, desceu para o piso intermédio e finalmente para o rés-do-chão em 1987, onde permaneceu até ao engarrafamento em 2016. O resultado de todo esse processo é um vinho cor de topázio com laivos verdes e com notas de marmelada, casca de laranja, chocolate, damasco e amêndoas. Na boca é picante, fresco, salgado e seco. Puro, vibrante e aristocrata, que vinho!!!
Espero que estas 20 razões vos ajudem a encarar o Natal de 2020 com uma perspectiva van Goghiana, não só deste ano, mas também da vida. Para mim, e como já deixei transparecer noutras publicações, Van Gogh foi o melhor pintor de todos. O uso que faz das cores é quase tão delicioso como o Terrantez que vos acabei de falar, mas hoje não é por isso que vos "falo" dele. Van Gogh é muito mais que o génio-pintor, é o arquétipo do artista enquanto homem.
Não teve uma vida fácil, era pobre, não reconhecido, sofria de bulling muito antes do bulling existir, era muito doente, e tirando o irmão e uma amiga-namorada, não era muito acarinhado. No entanto, conseguiu transformar essa dor proveniente da sua vida atormentada em beleza pintada. É muito fácil representar a dor e o sofrimento (os media tornaram-se especialistas disso neste ano), mas usar a dor e o sofrimento para, através da paixão, representar a alegria e a magnificência do nosso mundo, só está ao alcance de alguns, poucos, iluminados.
O segredo para estes "óculos da felicidade" com os quais devemos absorver o que nos rodeia é encontramos alguma coisa que nos faça olhar para o mundo de um modo mais optimista e sonhador. Diz-se que no caso de Van Gog essa culpa abnegada foi das estrelas, aqui para nós, a culpa pode ser de qualquer um destes 20 vinhos. ;)
Bom Natal, bons vinhos e sejam felizes!!!