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No meu Palato

No meu Palato

Hotel República | O maior segredo dos Templários

"A vida bem preenchida torna-se longa." Leonardo da Vinci

Hotel RepúblicaCabelos brancos!!! Começo a ter problemas com eles (bem, na verdade já há algum tempo ;)). No séc. XIII este não era um assunto que incomodasse os homens de então, porque não viviam o suficiente para os ver nascer.  Mesmo para os homens ricos, da nobreza ou do clero a expectativa média de vida pouco passava dos 30 anos. Essa esperança média de vida aumentava para 48 quando o patamar dos 20 anos era atingido. 

Hotel RepúblicaOs Cavaleiros Templários eram então tidos como uma excepção a esta regra. Uma protecção divina, uma poção mágica ou um segredo (muito bem guardado) eram as explicações mais populares para os mais de 60 anos de esperança média de vida que os membros desta ordem militar católica possuíam. Os Pobres Soldados de Cristo e do Templo de Salomão (nome pelo qual eram conhecidos inicialmente os Templários) foram uma ordem militar religiosa fundada em 1119 e posteriormente reconhecida pela bula papal de Inocêncio II em 1139. Tinham como principal missão a defesa dos cristãos que viajavam para a Palestina (é triste perceber que há conflitos que parecem querer prologar-se no tempo). 

Hotel República  Durante as cruzadas o seu número de membros, poder e influência mundial cresceu vertiginosamente. Os cavaleiros templários, com os seus famosos mantos brancos adornados com uma cruz vermelha, eram considerados uma elite militar que era usada como tropa altamente especializada "apenas" nas batalhas mais importantes. Foi o caso da Batalha de Monte Gisardo, onde cerca de 500 cavaleiros templários ajudaram Jerusalém a derrotar o exército de Saladino (Império Aiúbida) com mais de 26.000 soldados!!! 

Hotel RepúblicaNo entanto, os Templários não eram uns meros monges guerreiros. Os seus membros não combatentes (que representavam até 90% do total) administravam uma grande infra-estrutura económica um pouco por toda a Europa cristã, desenvolvendo até instrumentos financeiros inovadores dos quais são exemplo a criação do primeiro banco e de uma moeda virtual codificada (a Bitcoin não é assim uma ideia tão inovadora) que permitia movimentos financeiros entre as diferentes ordens. Tudo isto enquanto iam construindo a sua própria rede com quase 1.000 comandos e fortificações por todos os reinos cristãos, formando desta forma, e sem qualquer margem para dúvidas, a primeira corporação multinacional do mundo.

Hotel RepúblicaA "boa fama" da ordem sempre esteve ligada aos esforços que a mesma desenvolvia para reconquistar e manter a Palestina, mas quando este principio basilar das cruzadas começou a perder o foco, o apoio aos Templários enfraqueceu quase tão depressa como surgiu. Em 1307, a ordem é destruída em grande parte pelos esforços do rei de França, Filipe IV. Profundamente endividado com a Ordem, Filipe usou a revolta popular para com os Templários e para com outra ordem, a dos Cavaleiros Hospitalários, para forçar a sua fusão numa espécie de "super-ordem militar". Esta estratégia fez com que o rei conseguisse investigar todas as suas práticas mais duvidosas  e, em seguida, confiscar as suas riquezas.

Hotel RepúblicaO colapso dos Cavaleiros Templários foi veloz e muito dramático, pois os advogados do rei e inquisidores papais acusaram todos os seus elementos de corrupção, blasfémia e crimes sexuais. Apesar de todas as suas riquezas e privilégios, a ordem nunca teve a destreza de estabelecer para si uma base geográfica que lhes permitisse a defesa contra qualquer espécie de ataques, mesmo dos internos. Em 1312, os Templários foram dissolvidos pelo Vaticano e Jacques de Molay, o seu último Grão-Mestre, foi queimado na fogueira como herege em Paris no ano de 1314. Esta diminuição de poder, tão abrupta quanto sangrenta, por parte de uma força militar icónica e bem estabelecida em toda a sociedade europeia deu origem a especulações, lendas, livros e canções, que foram ganhando romanticismo ao longo dos tempos.

Hotel RepúblicaUma dessas lendas, que mais curiosidade e interesse despertou despertou ao longo dos séculos, foi a questão da longevidade com que iniciei esta publicação. Os mais românticos, como Francesco Franceschi (chefe da equipa de Medicina de Emergência da Universidade Católica do Sagrado Coração em Milão), atribuíam esta excepcional longevidade dos Cavaleiros Templários a um presente divino muito especial, como recompensa pelas suas acções tomadas em nome de Cristo. Todavia, ao invés de uma protecção forçosamente sobrenatural, uma análise do "código de vida dos Templários" (escrito no inicio do séc. XII pelo abade  Bérnard de Clairvaux e pelo fundador da ordem e primeiro Grão-Mestre Hugo de Payns), deu indícios bem claros de um segredo bem mais ... terreno. 

Hotel RepúblicaEste livro de regras ficou mais tarde conhecido como a Regra Primitiva dos Templários, ou Regra Latina, e bebeu inspiração nos ensinamentos dos santos Agostinho e Bento e também em alguns comportamentos recorrentes já estabelecidos como prática padrão entre os cavaleiros da ordem. As 72 cláusulas originais que constituíam a Regra Primitiva aumentaram para mais de uma centena nas décadas seguintes, passando a incluir detalhes como os tipos de vestimentas que deveriam usar e quantos cavalos poderiam ter.

Hotel RepúblicaDa leitura do conjunto de regras iniciais, percebemos que lavar as mãos antes de qualquer refeição era obrigatório. Além disso, o refeitório estava sempre muito limpo e as mesas cobertas com toalhas. Quanto à comida, caçar era proibido, estando o consumo de carne limitado a três ocasiões por semana. Peixe, queijo, azeite e fruta fresca eram muito apreciados e consumidos com regularidade. A isto acresce ainda a ingestão de polpa de aloé, uma planta com propriedades anti-sépticas, anti-bacterianas e fungicidas. E que é que falta aqui meus amigos? 

Hotel RepúblicaVinho, pois claro. ;) O consumo moderado de vinho (há outra forma de o consumir? ;)) era também incentivado.  A dieta dos Cavaleiros Templários era, assim, mais saudável do que a de muitas pessoas da actualidade e não era nada comum da Idade Média, contrastando com a grande maioria da população que consumia alimentos gordos e repletos de calorias. Este estilo de vida mais saudável aliado a uma higiene cuidadosa e a momentos de lazer (impelidos com o objectivo de diminuir possíveis tensões e de estreitar os laços afectivos entre os diferentes elementos da ordem) é o segredo que explica a mítica longevidade dos Templários. 

Hotel RepúblicaA Ordem dos Templários estabeleceu-se também em Portugal no séc. XII, para ajudar os primeiros reis portugueses na reconquista Cristã e para ganharem posicionamento estratégico para as Cruzadas. O seu castelo, que fundaram em Tomar, em 1160, era na altura a mais moderna, mais funcional e mais avançada estrutura militar do nosso país, tendo sido a sua construção fortemente inspirada nas fortificações da Terra Santa.

Hotel RepúblicaAconchegada ao longo das margens do rio Nabão, Tomar é uma das últimas cidades templárias de Portugal. A dominar as suas colinas surge o imponente Convento de Cristo, Património Mundial da UNESCO e também fundado pela Ordem dos Cavaleiros Templários. Ao chegar a esta cidade, é impossível não nos apaixonar por este monumento quase imaculado e também pela exuberância das árvores e dos jardins que lhe fazem guarda de honra.

Hotel RepúblicaEste convento (que inclui o castelo, a charola, os claustros góticos e renascentistas, a igreja Manuelina e a ermida), como não poderia deixar de ser, é a jóia da cidade, mas os seus encantos não se limitam a ele. Há ainda uma das mais antigas sinagogas da Europa (1430), o centro histórico com suas ruas pedonais, igrejas belissimamente ornamentadas e dois parques naturais que merecem (sem dúvida) uma visita (um situado à beira-rio e outro anexo ao convento). De quatro em quatro anos, Tomar acolhe também a Festa dos Tabuleiros, um festival de Verão onde os seus habitantes desfilam, orgulhosamente, com altas coroas na cabeça feitas de pão e flores.

Hotel RepúblicaDesde há duas semanas, Tomar tem mais um motivo para que a visitemos, o Hotel República Tomar, localizado junto à Igreja de São João Baptista (séc. XV), à Praça da República e ao centro histórico, o que permite uma visita pedonal a todos os pontos de interesse da cidade (com um carrinho de bebé, a subida até ao convento é desafiante ... mas faz-se bem ;))...

Hotel República Este hotel nasce do sonho de um filho da terra que quis voltar a Tomar e criar aqui um refúgio para o receber. O produto português foi sempre a primeira escolha e por isso o hotel foi construído, equipado e decorado por empresas portuguesas. Um conceito totalmente e orgulhosamente Made in Portugal. Encontrei lá um ambiente elegante, requintado, tranquilo e com um forte desejo de querer fazer bem.
Hotel RepúblicaO serviço é empenhado, profissional e próximo, sem se tornar invasivo. Tem um restaurante, o Praça, assente em produtos regionais e numa confeccão contemporânea,  que vale por si só a visita. A chefiar a sala (de extremo bom gosto e irrepreensível na escolha de copos, talheres e loiça) encontrei o velho amigo Jose Antonio Vargas. De entre os pratos que experimentamos destaco a dicotomia entre untuosidade e vegetalidade do Bacalhau e a alma gulosa do Fondant de chocolate. Com as afinações certas este restaurante pode ir longe, muito longe...

Hotel República
É por isto que recomendo vivamente o Hotel República: por permitir que a vida se preencha com momentos de lazer requintados, momentos enogastronómicos prazerosos, momentos afectivos enquanto redescobrimos a história do Templários e nutrimos o orgulho de ser Português, tudo em segurança e com cuidados de higiene super rigorosos (a ver se acabamos de vez com esta maldita pandemia). Já agora, não eram estes os quatro vértices que compunham o maior segredo dos Templários? ;)

Quinta do Convento Branco 2019 | Flores de pedra

"No preciso momento em que encontramos pedras no nosso caminho, lá longe estão a ser plantadas flores. Quem desiste logo ali, não verá esse jardim." William Shakespeare

Quinta do Convento Branco 2019Bah, não desistam já da leitura devido à citação que escolhi para introduzir este texto. Prometo que não vão esmiuçar mais o tema de "Pedras no caminho? Vou guardar todas e fazer um castelo, uma catedral ou uma fortaleza!!!". :P Vou falar-vos de Shakespeare, de vinho (como não poderia deixar de ser) e da relação entre ambos. Para além do modo humoradamente melancólico com que abordou temas como o amor, os sentimentos e as questões humanas, sociais e políticas; todas as obras deste dramaturgo têm uma particularidade muito interessante.

Quinta do Convento Branco 2019Embora não existam provas contundentes de Shakespeare ter sido um apaixonado por vinhos (convenhamos, todos os génios gostam de vinho ;)) todas as suas peças mencionam o néctar dos Deuses, pelo menos uma vez...As referências vão desde o Moscatel ao vinho do Reno. O Vigário John Ward (conhecido por registar muitos aspetos, quase anedóticos, da vida do grande escritor inglês) defende que Shakespeare terá morrido logo após uma grande bebedeira. O problema desta tese, é que apenas surgiu 50 anos após a morte de Shakespeare.

Quinta do Convento Branco 2019Certo é que o vinho disponível em Inglaterra na época de Shakespeare era muito caro, um litro deste liquido precioso custava tanto como doze litros de cerveja!!! É por este motivo que o vinho dos séculos XVI-XVII era tido como um bem de luxo e que, infelizmente, nem todos poderiam pagar. Quase todos os vinhos referenciados durante o reinado de Isabel I (contemporânea de Shakespeare) eram importados de França, de Espanha, da Grécia ou de Portugal. Shakespeare parecia ter um apreço especial pelos vinhos fortificados como o vinho do Porto, Madeira ou alguns vinhos adocicados oriundos das ilhas espanholas.

Quinta do Convento Branco 2019No entanto, não foi por causa de um vinho fortificado que escolhi a citação inicial de Shakespeare, escolhi-a porque "encaixa que nem uma luva" na descrição do Quinta do Convento Branco 2019. Esta colheita de 2019 vem mais uma vez confirmar o carácter único dos vinhos Quinta do Convento e é também, uma evidência muito clara do Douro especial que existe no terroir da Quinta do Convento (vinhas de altitude que evoluem expostas a norte, em solos de xisto, granito e até algum quartzo).

Quinta do ConventoO lote final (uvas de Rabigato, Viosinho, Gouveio e Arinto), integra 50% de vinho fermentado 9 meses em barricas de carvalho francês de segundo ano com batonnage. Todo este trabalho conjunto de terroir, vinha e enologia transmitiu ao Quinta do Convento Branco 2019  (12.00 €, 90 pts.) uma cor amarela citrina com nuances esverdeadas cristalinas; e notas elegantes a xisto molhado, maçã verde, damasco, jasmim e limonete. Na boca é tenso, fresco, "pedregoso" e equilibrado. 

Quinta do ConventoNo preciso momento em que encontramos essa pedrogosidade no nosso nariz, lá longe, no copo, estão a ser plantadas flores como o jasmim e o limonete. Quem desiste logo ali, no primeiro aroma, não sentirá esse jardim olfactivo. ;) Acompanhou muito bem um "Risoto" de bulgur, pimentos, cogumelos Shimeji e ervilhas com 3 texturas.




"Risoto" de bulgur, pimentos, cogumelos Shimeji e ervilhas com 3 texturas:

-Num tacho levem a ferver um grande volume de água com sal. Juntem a Quinoa e Bulgur (usei a mistura da Tipiak) e deixem cozer, fervendo durante 12 minutos. Decantem de modo a ficarem com a quinoa e bulgur sem água;

-Noutro tacho façam um refogado com alho, cebola, pimentos, ervilhas e cogumelos Shimeji;

-Façam um puré de ervilhas e guardem parte dele para fazerem umas "pequenas moedas" de ervilha que vão levar ao forno para desidratar e fazer umas chips de ervilha;

-Voltem a introduzir no tacho o bulgur, acrescentem manteiga, queijo parmesão, pimenta preta, um pouco de noz-moscada e brandy. Cozinhem 5 minutos;

-Ao empratar coloquem na camada de inferior o puré de ervilha, depois o risoto de bulgur e no top as chips de ervilha. 

Casa de Chá da Boa Nova | O lunático, o poeta e o (a)mar Português

“Temos que usar a experiência naquilo que ela garante, mas também libertar-nos dela, naquilo que ela prende.” Álvaro Siza Vieira

Casa de Chá da Boa NovaOs poetas sempre foram um pouco "chalupas", alguns chegam mesmo a reconhecê-lo, como William Shakespeare por volta de  de 1590:  "O lunático, o amante e o poeta são constituídos apenas por imaginação", escreveu. Algumas décadas antes destas palavras terem sido pensadas por Shakespeare, já se materializaram na vida de um jovem chamado Luís Vaz de Camões, hoje venerado como um dos maiores poetas do nosso país.

Casa de Chá da Boa NovaEmbora o tempo tenha ido obscurecendo alguns detalhes da vida de Camões, ainda é possível vislumbrar por entre o nevoeiro da memória um louco-romântico com uma certa queda para as letras. A sua biografia oscila entre o louvor e expulsões por parte do rei, passeia por vários países e inclui uma cena de pugilato em plena baixa lisboeta, um naufrágio e vários casos amorosos bastante "quentes".

Casa de Chá da Boa NovaCamões nasceu num berço de ouro (numa família lisboeta aristocrática), algures por volta de 1524, e a sua juventude foi aparentemente conturbada, fazendo-o passar "de um jovem brilhante, selvagem e bonito para um jovem rufião gay sem um tostão." (enciclopédia online Britannica/historiador Edmond Taylor).

Casa de Chá da Boa NovaA vida mais íntima de Camões sempre esteve envolta num grande mistério e polémica, nunca se sabendo ao certo, quem fez mais rimas com o seu coração.  Terá sido Dinamene (uma amante chinesa a que Camões se refere em alguns dos seus poemas)? Terá sido Joana, irmã de D. António, como defende o historiador José Hermano Saraiva? Ou terá sido D. António de Noronha, um jovem que morreu em Ceuta com 17 anos, teoria avançada pelo escritor Frederico Lourenço no seu livro "Pode Um desejo Imenso’"?

Casa de Chá da Boa NovaComo é óbvio, a orientação sexual do poeta não tem de ser tida nem achada, apenas a "usei" para realçar o facto de pouco sabermos sobre um  dos nossos maiores poetas. Certo é que era um homem apaixonado, violento, impetuoso e um tanto ou quanto boémio. 

Casa de Chá da Boa NovaEsse carácter muito vincado levou à sua expulsão de Lisboa quando tinha 20 anos. Não se conhece o motivo exacto, embora existam rumores de um romance indecoroso com uma princesa, uma dama de companhia ... ou ambas!!! :P - Camões zarpou com a marinha portuguesa para defender o território colonial, ficando cego de um olho durante uma escaramuça com os mouros num lugar algures na costa norte-africana.

Casa de Chá da Boa NovaCamões regressou a Lisboa por volta de 1551, envolvendo-se de novo em problemas, desta vez e por ter ferido um oficial do rei durante uma briga de rua, foi parar à prisão. A sua sentença foi materializada em três anos de serviço militar forçado, tendo sido enviado em 1553, para Goa, na Índia. Quando terminou o serviço militar, terá partido para Macau e assumido um cargo importante na administração colonial.

Casa de Chá da Boa NovaTalvez tenha sido todo esse tempo passado no mar, entre expulsões e regressos, que inspirou Camões a escrever "Os Lusíadas", um poema épico que todos conhecemos, ou que devíamos conhecer, e que nos narra em verso as viagens do navegador Vasco da Gama ao Oriente. Ao que parece, Camões e Vasco da Gama eram família, ainda que afastada. 

Casa de Chá da Boa NovaCamões terá começado a escrever essa obra quando se encontrava em Macau.  Algures durante esse processo de escrita, foi acusado de corrupção e enviado a Goa para julgamento, sofrendo um naufrágio no Delta do Mekong durante a viagem (num lugar próximo onde hoje fica o Vietname). Há historiadores que adicionam um toque extra de drama a esta história, alegando que Camões, enquanto se tentava salvar, terá carregado para a costa "Os Lusíadas", mantendo-os sempre à superfície de modo a não os danificar.

Casa de Chá da Boa NovaA parte menos romântica da história é que com um braço ocupado com o manuscrito e outro a remar para costa, não lhe sobrou mais nenhum para ajudar a sua namorada de então, que viria a morrer afogada nesse naufrágio. Prioridades, ao que parece a rapariga temperava mal a comida. :P  

Casa de Chá da Boa NovaEste poeta de coração selvagem e mirolho, parece finalmente ter acalmado na última década da sua vida, logo após um amigo ter pago a sua viagem de regresso a Lisboa, desde Moçambique (tentei encontrar informação sobre o que Camões faria em Moçambique, mas infrutiferamente). Quando "Os Lusíadas" foram finalmente publicados em 1572, o poeta dedicou-os a D. Sebastião, que aparentemente terá gostado da obra ao ponto de lhe conceder uma modesta pensão que lhe permitiria viver condignamente até ao fim dos seus versos.
Casa de Chá da Boa NovaCamões morre em 1580, com 56 anos. Tal como acontece com a maioria dos poetas, alcança a fama após a morte, sendo hoje considerado como o primeiro poeta global. Para além de ter perpetuado a nossa história, gravando-a em palavras que rimam, o legado de Camões é imensurável: ensinou-nos a ter orgulho em ser Português, em acreditar em segundas oportunidades e a celebrar o que os nossos navegadores deixaram ao mundo: as verdadeiras dimensões da Terra, os novos povos, os novos caminhos, as novas riquezas e as "ferramentas" para uma nova gastronomia.

Casa de Chá da Boa NovaComo seria hoje a nossa alimentação se não tivéssemos a abóbora, a cana de açúcar, as especiarias exóticas, o amendoim, o ananás, a batata, o cacau, o feijão, o girassol, o milho, o pimento, o tomate ou a baunilha? Todos estes elementos trazidos para a Europa pelos portugueses surgem no nosso cardápio devido aos contactos que os nossos navegadores efectuaram em África, na Ásia e na América. Trouxeram-nos (e, quando era possível, transplantaram-nos) para Portugal continental ou para os arquipélagos da Madeira e dos Açores, enraizando-nos no nosso cânone gastronómico. 

Casa de Chá da Boa NovaE assim, a história de Portugal está desde esses tempos gloriosos umbilicalmente ligada ao mar. As nossas gentes, a nossa cultura, os nossos costumes e a nossa gastronomia seriam bem diferentes sem essa influência trazida do mar. É por tudo isto que vos contei anteriormente, que a excelência/diversidade da nossa gastronomia tem uma "dívida de glorificação" para com o mar, com esses navegadores e com Camões.  

Casa de Chá da Boa NovaÉ também para glorificar esta relação antiga com todos eles que o menu “Por mares nunca antes navegados” da Casa de Chá da Boa Nova do Chefe Rui Paula nos leva a (re)conhecer o nosso passado e a descobrir pontes com o futuro, usando a poesia dos cantos de Luís de Camões.

Casa de Chá da Boa NovaO menu começa com o Canto I Torrada/Cevada, com pão torrado, manteiga de alga e cerveja artesanal. Resulta de memórias da infância do Chefe Rui Paula e é crocante, untuoso, rico e induz conforto. Servido sobre brasas fumegantes, assume uma dimensão extra no sabor e na experiência visual. O Canto II Escabeche/Carapau rodeado de batata crocante, o Canto III Taco de frutos do mar com salada fresca e finalizado com guacamole, e o Canto VI Lingueirão com milho frito carregavam um sabor a mar inspirador, que nos entra pelo corpo e se fixa nos rochedos das nossas recordações. Haverá maior simbiose com o cenário que observamos pela janela do restaurante?

Casa de Chá da Boa NovaCom o palato já aos saltos seguiu-se o Canto IX Éclair de Mexilhão recheado com mousse de couve-flor e adornado com um pedaço de folha de ouro por cima, transportava um mexilhão carnudo, muito mar e uma untuosidade salgada muito engraçada. A harmonização vínica roçou a perfeição com o aroma fino e elegante com apontamentos de alperce, maça verde e citrinos do Espumante Pinot Noir CC&CP 2011.

Casa de Chá da Boa NovaCom o Canto X Robalo no seu habitat demos um mergulho num mar gastronómico através de um robalo espectacular com a sua pele crocante, uma emulsão de plâncton, percebes e salicórnia. O contraste entre a crocância exterior e a suculência quente aprisionada no interior era arrebatadora.  É um prato muito complexo, na apresentação, nas texturas, nos sabores e nos aromas, estando todos estes vértices unidos pelo mar. Seguiu-se um dos meus 2 momentos favoritos... o Canto XI Vieira e Tapioca, vinagrete de limão e pó de chouriço.  Muito provavelmente foi a melhor vieira que comi até hoje. É finalizada na mesa, com pompa e circunstância, como se de uma obra de arte se tratasse. Emana uma voluptuosidade elegante e um conjunto de texturas que quando são conjugadas com uma confecção perfeita da vieira criam algo bom, algo verdadeiramente bom!!! 

Casa de Chá da Boa NovaO Canto XIV Lagostim /Sopa Coreana trouxe alguns dos aromas que os navegadores portugueses distribuíram pelo mundo. Tem cogumelos enoki , amendoim e couve roxa na base, wagyu e alga no topo, e fez-me transportar para os cheiros da comida de rua de Singapura.  A elevação do prato deu-se com a pureza dos sabores, subtileza das texturas e com a elegância do picante do caldo. O Prinz Jungler GG Riesling 2017 fez com que essa elegância oriental se prolongasse no palato.

Antes dos doces, o meu canto favorito...

Casa de Chá da Boa NovaCanto XV Salmonete / Caju / Mandioca. O peixe estava cozinhado no ponto, os acompanhamentos pensados ao pormenor, a apresentação desafiante e imaginativa, sempre com uma boa dose de surpresa nos sabores. Ali vivem as mais puras recordações do mar português e das suas gentes. Fez-me fechar os olhos e abrir novos horizontes. É uma criação deliciosa!!! O Canto XVIII Dejá Vu, parecia querer desafiar a nossa memória, "não comemos já isto?" Não, desta vez o éclair era de framboesa e lichias e teve o condão de despertar todas as papilas gustativas para o momento seguinte.

Casa de Chá da Boa NovaO Canto XXI Azeite (de velhas oliveiras) é uma desconstrução com sabores da quinta e composta por maçã verde, queijo de cabra e azeite. É um prato que provoca no palato uma explosão de sabores, texturas imensas e uma acidez estonteante. É complexo, equilibrado, longo e persistente. Parece que estou a falar de um vinho. ;) Curiosamente e por falar em vinho, foi harmonizado com o Favaios 1980 Edição Especial Siza Vieira (que também foi o arquitecto da Casa de Chá da Boa Nova) que emprestou ao Canto XXI  frescura, cacau, avelã e que se uniu de forma muito bonita à fruta cristalizada. Se com os diferentes cantos, o mar nos chegou à mesa através dos aromas e dos sabores, com os petit fours veio com o serpentear das caravelas e os sons relaxantes do oceano.

Casa de Chá da Boa Nova Este último canto acaba por ser um bom estado-da-arte da gastronomia pincelada pelo Chefe Rui Paula. Um Chefe que sabe usar a experiência naquilo que ela garante, mas também se sabe libertar dela, naquilo que ela prende. Pode parecer um lunático ao incorporar azeite numa sobremesa e apresentá-la desconstruída como elemento final de uma refeição que nos remete para o campo, mas na realidade é um poeta dos sabores, das texturas, dos aromas e das temperaturas, que procura criar propostas com produtos do mar e com uma ligação aos locais por onde os navegadores portugueses foram passando. Para isso, é necessário muito (a)mar Português!!! ;)

Nota ainda para a excelência e detalhe do serviço (obrigado Igor) e para a classe e profissionalismo do Sommelier Carlos Monteiro.


Arcadas Quinta das Lágrimas | Ecos de um sorriso

"Creio no riso e nas lágrimas como antídotos contra o ódio e o terror." Charlie Chaplin

Arcadas Quinta das LágrimasO humor é, infelizmente, muitas vezes considerado impróprio na maioria dos contextos de trabalho que conhecemos, mesmo naquele em que hoje "visto a pele": o da critica gastronómica. Segundo a maioria, esses comentários analítico-subjectivos devem retratar uma experiência séria, que pode provocar gula, desejo, curiosidade e atração, ou então reprovação, repulsa e aversão,  mas nunca risos.

Arcadas Quinta das LágrimasAnthony Bourdain e mais tarde Gordon Ramsay vierem mudar um pouco as mentalidades neste campo, introduzindo doses consideráveis de humor nos relatos das suas experiências gastronómicas.  Apesar deste pesos pesados terem dado um grande abanão nos preconceitos narrativos estabelecidos, um grande número de críticos continua a não achar muita piada a estas modernices galhofeiras. 

Arcadas Quinta das LágrimasNo entanto, a nossa atitude perante o sorriso, mesmo em contexto de trabalho, evidencia muito mais que um simples estado de alma. Todos nós já ouvimos diversas teorias que nos permitem avaliar a abertura/progresso de uma determinada cultura ou instituição, para mim uma das mais certeiras é aquela que defende que o modo como esse grupo de pessoas usa e encara o humor, determina de forma indelével o seu grau de tolerância.

Arcadas Quinta das LágrimasIsto porque, quando usado com moderação, o humor é uma excelente forma de contar histórias. Quando nos deparamos com algo engraçado, rimos sem pensar. O riso é-nos inato, começa desde tenra idade e, se tivermos sorte, permanece como uma ocorrência diária, tendo um forte significado social pois estabelece ou fortalece uma certa noção comunitária de comunidade.

Arcadas Quinta das LágrimasAo contrário de muitas outras emoções, o riso quer-se sempre a cavalgar e em crescendo. Como Henri Bergson defende, o riso é um som que quer eco, como um trovão numa noite de tempestade. Rir é também um acto muito saudável. Rir torna-nos mais inteligentes, criativos, sadios, e é tão importante que a ciência que o estuda, a gelotologia, comprovou que o riso reduz o stress, a ansiedade, a depressão, a raiva e a pressão arterial, ao mesmo tempo que relaxa os músculos (se bem que num caso muito particular pode ter o efeito oposto ;))

Arcadas Quinta das LágrimasApesar de todas estas vantagens, rir também pode ser um acto socialmente proibido. Rir quando deveríamos ser "sérios" é desaprovado, ou então associado frequentemente a um comportamento irritantemente imaturo. Todos nós, por certo e com amargura, ainda nos recordamos de quando éramos crianças e os "adultos de serviço" nos pediam para pararmos de rir e nos comportarmos como garotos ... que eramos realmente. 

Arcadas Quinta das LágrimasInfelizmente, quando usado incorretamente, o humor também pode magoar, ostracizar, evidenciar preconceitos ou até mesmo humilhar, nomeadamente através do uso do ridículo ou do sarcasmo. Rir também pode ser uma ferramenta. Seja em contextos sociais ou profissionais, o humor pode ser usado como uma forma de "quebrar o gelo" ou de resolver conflitos. 

Arcadas Quinta das LágrimasNo Budismo, o sorriso é uma ferramenta importante para nos libertarmos de apegos desnecessários, preconceitos enraizados e de pessoas com uma "nuvem cinzenta". Do outro lado do sorriso, pode haver uma profissão. Ao longo da história, palhaços, jokers, cartonistas, bobos da corte e comediantes assumiram-se como autênticos veículos promotores de gargalhadas.

Arcadas Quinta das LágrimasUsando o riso com ponderação e habilidade (um pouco como o sal na comida), ele pode-nos até surpreender, desafiando as nossas crenças, quebrando algumas das nossas suposições e abrindo a nossa mente para novas maneiras de gargalhar a vida. 

Arcadas Quinta das LágrimasNum mundo sisudo não podem ver o vosso blogger favorito a dançar o créu (a sério não se metam nisso ;)) ou um hipopótamo a galantear sedutoramente uma girafa embriagada. Quando o riso nos predispõe a entrar neste admirável mundo (estranhamente) novo, iniciamos um exercício mental quase filosófico, o de pensarmos de forma diferente, mesmo que o objeto do pensamento nos possa parecer fora do contexto tradicional.  

Arcadas Quinta das LágrimasIsso acaba por estimular a nossa imaginação, podendo até, no melhor dos casos, levar-nos a perceber que nos levamos demasiado a sério muitas vezes, demasiadas vezes.  Com todo este "relaxamento" induzido pelo riso, o nosso cérebro recompensa-nos, com  a libertação de quatro neurotransmissores: a dopamina, a serotonina, a endorfina e a ocitocina; que nos fazem sentir bem,  sentir prazer e sentir felicidade.

Arcadas Quinta das LágrimasCuriosamente, são essas mesmas 4 substâncias que são libertadas quando desfrutamos de uma refeição que apreciamos. Por isso, para mim, a conclusão é óbvia, rir é uma boa dieta!!! :P Agora mais a sério, a gastronomia tem de, forçosamente, rimar com alegria. E é sobre alegria empratada no restaurante Arcadas da lindíssima Quinta das Lágrimas que vos falo hoje. 

Arcadas Quinta das Lágrimas Está inserido num ambiente que transborda conforto, natureza e paz, edificado num palácio do século XVIII rodeado de 12 hectares de jardins históricos, inúmeros séculos de estórias, muita água e um jardim de cheiros. À mesa do Arcadas (considerado um dos 500 melhores do Mundo pelo guia francês “La Liste”) podemos provar uma cozinha que utiliza os produtos tradicionais da região centro para criar receitas com sabor, memória e apresentação cuidada. 

Arcadas Quinta das LágrimasAproveita ainda a proximidade do jardim de cheiros para usufruir das suas ervas aromáticas e do pomar selecciona as mais saborosas laranjas, limões, abacates, framboesas, tomates e agriões selvagens. O conceito "gastronomia de proximidade" é estabelecido através do contacto frequente com os pequenos produtores locais e também com a utilização do cânone gastronómico da região.  

Arcadas Quinta das Lágrimas O contexto histórico local é adicionado ao menu através de criações como a Pedro e Inês (uma sobremesa, que para a Bia foi a melhor do ano) ou do voluptuoso Faisão proveniente da mata que relembra as caçadas de D. Pedro.  Como o Arcadas está a dois passos de duas das mais importantes regiões vinícolas de Portugal, Dão e Bairrada, a carta vínica é particularmente rica em vinhos provenientes dessas regiões.  

Arcadas Quinta das LágrimasÉ possível ainda encontrar nessa lista alguns dos melhores néctares não só do resto de Portugal, como também algumas boas referências mundiais que podemos ir harmonizando com as diferentes partes da nossa refeição concebida pelo Chefe Vítor Dias

Arcadas Quinta das LágrimasFazendo mais uma vez uma ponte com a história, o  vinho ex-libris  tem a assinatura “Pedro & Inês”, concebido com duas castas tradicionais desta região, uma mais rústica e masculina (Alfrocheiro-Pedro), outra mais perfumada e feminina (Touriga Nacional-Inês). A união das duas criou um vinho histórico com um perfil muito gastronómico e elegante.

Arcadas Quinta das LágrimasGostei muito da irreverência, frescura e crocância da Mousse de caça e redução de Vinho do Porto; da harmonização de sabores e texturas do Texturas de alfarroba com presunto crocante e mousse de queijo; e da concentração de sabor e brisa marítima do Carabineiro com creme de orégãos e arroz de peixe.

Arcadas Quinta das LágrimasNas carnes, uma especialidade do restaurante, destaque para a Barriga de leitão confitada, cabidela de batata, molho de laranja algarvia com um contraste muito apelativo entre crocância e suculência; para a Chanfana com os cuscos de Trás-os-Montes e presunto bísaro que recupera os sabores de conforto dando-lhe pitadas de modernidade (quer na apresentação, quer no equilíbrio  de sabores); e para o Cabrito glaceado com legumes carregado de tradição, sabor e alegria.

Arcadas Quinta das LágrimasNas sobremesas, o Pedro e Inês: coração de mousse de manga e coco com sorvete de maracujá foi o prato que a Bia mais gostou no ano passado. Esta sobremesa saborosa, irreverente e tropical (as notas da Bia são o coração docinho e o gelado fresquinho ;)) evoca a história de Pedro e Inês, indissociável do cenário encantado da Quinta das Lágrimas.

Arcadas Quinta das LágrimasNo entanto, eu preferi a harmonia alegre a camaleónica das Texturas de chocolate, caramelo, gelado de maracujá e pistácio. Desde as boas-vindas do Chefe (uma perna de perdiz e bloddy Mary) até aos petit fours , o Chefe Vítor Dias vai contando,  prato a prato, não só a sua história como também a da Quinta, dos lugares, dos produtos e das pessoas que foram ajudando a cultivar sorrisos no seu menu, assente em sabores (aparentemente) simples que se metamorforizam e complexam no palato.

Arcadas Quinta das LágrimasQuando "fechamos" as condições da nossa visita à Quinta das Lágrimas, tínhamos interesse em conhecer "apenas" a Quinta e a sua história, fomos no entanto surpreendidos pelo nível gastronómico que se pratica no restaurante Arcadas. Como gostamos sempre de vos ir transmitindo o que de melhor vamos encontrando por esse mundo fora, aqui está esta publicação carregada de memórias sorridentes.

Arcadas Quinta das LágrimasEm tempos conturbados como os que vivemos, preenchidos com demasiado ódio e terror, onde o ser de "direita" ou de "esquerda", do "ocidente" ou do "oriente", do "primeiro mundo" ou do "terceiro mundo", parecem ser mais importantes do que a integridade, proteção e valor da vida humana, é fundamental encontrarmos lugares que nos façam sorrir, e já agora, porque não sentados a uma mesa? O Arcadas é um desses lugares. Tal como Charlie Chaplin, acredito no riso como antídoto contra o ódio e o terror, mas também como reflexo poetizador de quando disfrutamos de uma bela refeição. Risos esses que não faltaram nesta nossa visita a este lugar encantando.  ;)

 

Brunch Le Monumental | A insustentável leveza do querer

"Por vezes a vida é como banquete com ovos Benedict e molho holandês, waffles e morangos, salsichas e batatas marrons raspadas. Noutras vezes é apenas ovos mexidos. Daqui a uns anos podemos não nos lembrar exactamente do que comemos, mas são essas memórias que nos mantem vivos!!!" Lisa Schroeder

Le Monument BrunchComo já perceberam, ou deveriam ter percebido (;)) roubei parte do título desta publicação a Milan Kundera, autor do magnífico romance A Insustentável Leveza do Ser. Foi publicado pela primeira vez em 1984 em traduções para as línguas inglesa e francesa. Em 1985, o trabalho é lançado no original checo, sendo então proibido na Checoslováquia até 1989. O livro narra a vida de quatro personagens, explorando os temas filosóficos da leveza e do peso.

Le Monument BrunchÉ uma viagem pela vida, história e filosofia, com reflexões profundas sobre as escolhas que fazemos ao longo da nossa existência. Termina com uma conclusão estranha: Todos nós queremos ser olhados, sendo a maneira como queremos ser olhados aquilo que nos incluí numa de quatro categorias/grupos.

Le Monument BrunchA primeira procura uma multidão de olhares anónimos, o olhar do público. São as estrelas dos dias de hoje: o futebolista brasileiro, a actriz americana ou o blogger português. :P Fazem parte do segundo conjunto aqueles que precisam incessantemente do olhar da cara-metade. A sua condição é tão frágil quanto a das pessoas do primeiro grupo. Se os olhos de quem amam se fecham, a sala que é a sua vida, fica, para sempre, mergulhada na escuridão.

Le Monument BrunchHá uma terceira categoria, bem mais rara, que são aqueles que necessitam de viver sob os olhares imaginários de seres ausentes. Os sonhadores. Provavelmente são os mais felizes, porque o olhar desses seres queridos e ausentes, só "desaparecem" quando voltamos a estar com eles, do outro lado da vida. O quarto grupo, podia certamente reunir-se no Maison Albar Hotels Le Monumental Palace...

Le Monument BrunchEsse é o grupo dos que não conseguem viver, a não ser sob um número infinito de olhos familiares. Amigos e família. São os obstinados organizadores de jantares, convívios e festarolas. Os palhaçinhos do grupo. ;) São mais felizes do que os do primeiro grupo, uma vez que, apenas perdem o seu "público" quando as luzes se apagam, para sempre, no palco que foi a sua vida. Infelizmente, esse baixar das cortinas é o que, mais dia menos dia, acontece a todos nós. E nesta fase podemos sempre "comunicar" com o grupo três, o dos sonhadores. ;)

Le Monument BrunchMas como tristezas (ainda) não pagam dívidas e enquanto as luzes não se apagam, aquilo que somos, ou queremos ser, não pode ser demasiado pesado. Há que cultivar, diariamente, a insustentável leveza e simplicidade das relações que mantemos com aqueles que amámos. E para isso, nada melhor que partilhar sabores, sonhos, conversas, gargalhadas, e de sermos felizes com a felicidade dos nossos semelhantes à volta de uma mesa, numa manhã descomplicada e solarenga, no renovado/regressado brunch do Le Monumental.

Le Monument BrunchRelembro os mais distraídos que este brunch ganhou o prémio na sua categoria, como o melhor do ano aqui para o blogue. É servido ​na mezzanine do hotel, onde é possível desfrutar de variadas saladas, entradas, mariscos (as ostras são TOP e super frescas!!!), e outras receitas à altura de um bom fim-de-semana em família.

Le Monument BrunchAconselho a começarem pelas deliciosas panquecas com leve sabor a baunilha, e um pouco mais altas que o costume, que as tornam bastante mais fofas e prazerosas. Da última vez que as experimentamos o difícil foi "fazer" com que a Bia as parasse de comer. ;) Mais tarde estejam atentos ao modo como todas as criações do Chef Juien Montbabut (estrela Michelin em Paris) sublimam o essencial do brunch, deixando fluir a sua inspiração com novos e inusitados sabores. 

Le Monument BrunchSão disso exemplo o Monumental Burger e os Ovos Benedict (com salmão, abacate e uma untuosidade refrescante deliciosa, ainda fico com água na boca ao pensar neles, pois promoviam no palato uma interessante mistura de sabores, texturas, densidades e intensidades).

Le Monument BrunchPara finalizar com um toque mais adocicado e a pensar nos mais gulosos há ainda uma selecção de deliciosas sobremesas e bolos caseiros criados pela Chefe de pastelaria Joana Thöny: Scones; Pudim de chia; Mousse de chocolate; Rabanada e nata batida com canela Ananás dos Açores, lima e gengibre, entre outras surpresas. 

Le Monument BrunchPara os mais irreverentes existe ainda um vasto conjunto de cocktails, ora mais clássicos ora com evidente marca de autor, pensados para harmonizarem a refeição ou "apenas" para deleite do palato. O refrescante cocktail de Maracujá (para a Clarisse) e o saborosíssimo com Morango e Beterraba (para a Bia), ambos sem álcool, são marcas indeléveis do compromisso com a excelência do que ali se faz, pois o objectivo é o de que todos possam tomar o máximo proveito destes momentos de prazer.

Le Monument BrunchTodo este desfile gastronómico decorre num edifício super confortável e acolhedor, com uma monumental fachada gótica e que no interior "aprisiona" ainda alguns elementos e características originais, como o corrimão da escadaria que foi recuperado, ou a grandiosidade do pé-direito, que lhe confere a monumentalidade de outrora, recriando com elegância o espírito e ambiente Art Déco e Art Nouveau, icónico da década de 30 do século XX. 

Le Monument BrunchO brunch está disponível entre as 13h00 e as 15h00, aos fins de semana (começando já no próximo dia 15 de Maio)  e com o custo de 35€ (incluindo bebidas), e é assente num serviço bastante profissional, preocupado, eficiente, afável e que quer diariamente ser melhor. Tudo isto quando conjugado com a comodidade e aconchego resultante do acesso à sala de estar e à biblioteca, torna esta experiência verdadeiramente inesquecível.

Le Monument BrunchChamo ainda a atenção para o facto do novo menu contar com novidades como os Mocktails frescos, os pratos vegetarianos e um certo "querer abnegado". Cada vez mais a cozinha do Le Monumental vai de encontro aos produtos únicos, exclusivos e biológicos. Nesse sentido o staff aproveitou o fecho do hotel para visitar quase todos os fornecedores, o que permitiu conhecerem-nos, saberem como é produzido cada alimento e também absorverem o carinho que cada um destes coloca no seu dia-a-dia, que depois se reflete no produto. Esse apego de origem, memória e sentimentos passa forçosamente para aquilo que nos chega à mesa. 

Le Monument Brunch
Não fossem os compromissos assumidos já há algumas semanas e era neste brunch que me iriam encontrar neste fim-de-semana a promover o gargalhante convívio do grupo 4. ;) Mais do que uma colaboração frequente, tenho no Le Monumental um conjunto de amigos que merecem a vossa visita e que, para além de vos brindarem com o melhor brunch do país, de certeza que vos vão mimar com a sua insustentável leveza do querer fazer bem, do fazer melhor, do fazer com proximidade, do fazer em segurança, e do fazer com alegria. Querer esse que no final vos vai plantar bons momentos nas vossas memórias, são essas memórias que nos mantem vivos!!!  ;)

 

 

Herdade Vale d’Évora novas colheitas | 50 sombras de uma vinha

"A vida não é mais do que uma contínua sucessão de oportunidades para sobreviver." Gabriel García Márquez

DiscórdiaNa peça grega Oresteia de Ésquilo, o sofrimento desempenha um papel vital na vida dos protagonistas. Apresentada pela primeira vez em Atenas no ano de 458 a.C., esta trilogia (composta pelas obras Agamémnon, Coéforas e Euménides) narra três etapas de uma mesma história que, por ordem cronológica, vai relatando o assassínio de Agamémnon, rei de Argos, pela sua mulher Climnestra; o assassínio desta pelo filho e vingador do pai Orestes; e, finalmente, o sacrifício de Orestes.
DiscórdiaDesta forma, o sofrimento em Oresteia materializa-se por meio de assassinatos, sacrifícios, traições, violações e vingança (com um pouco mais de erotismo, a Obra intitular-se-ia "50 sombras de Oresteia". ;)  Na história principal, Artemis, a deusa dos selvagens e protectora dos jovens, está zangada com Agamenon e a Casa de Atreu devido a uma visão premonitória/metafórica que ela teve acerca do futuro de Troia. Artemis "sonhou" com uma águia a matar uma lebre grávida, relacionando essa águia com Agamenon e a lebre com a cidade de Troia. 

DiscórdiaIrritada com essa visão, Artemis responsabiliza antecipadamente Agamenon pelo derramamento de sangue que ele iria promover em Tróia, dizendo a Calchas, um vidente, que Agamenon deveria sacrificar sua filha Ifigênia, como castigo. Com o sacrifício da filha de Agamenon, Artemis esquece as atrocidades que este irá cometer em Troia, concedendo-lhe os ventos necessários para que a sua frota conseguisse navegar até essa antiga cidade grega/turca. 

DiscórdiaO sacrifício de Ifigênia, no entanto e como seria de esperar, irrita a sua mãe Clitemnestra, fazendo com que esta desenvolva não só uma raiva diabólica, como também uma sede de vingança contra Agamenon. E é nesta dimensão da peça que a aprendizagem/inteligência é deliciosamente relacionada com a justiça, que tarda mas que sempre se acaba por cumprir, mesmo que apenas na penumbra interior da consciência de cada um de nós. 

DiscórdiaAgamenon aprende que não pode responsabilizar o destino pela maldade das suas acções. Clitemnestra descobre que é impossível para uma mulher independente obter justiça numa sociedade dominada pelos homens. Todos eles descobrem que a vingança não é a forma mais adequada de justiça. Por último e de modo mais importante, a civilização grega aprende que aqueles que cometem um crime ou sejam mal intencionados para com alguém, devem, forçosamente, ser punidos.

DiscórdiaDesta forma, a principal lição que esta peça nos parece querer segredar é a de que "o Homem deve sofrer para ser sábio". Como não poderia deixar de ser, todos nós tentamos, de um modo ou de outro, evitar esse sofrimento. Fazemo-lo através dos medicamentos que aliviam a dor, seja ela física, emocional ou espiritual; fazemo-lo quando colocamos demasiadas almofadas metafóricas na vida das nossas crianças; fazemo-lo quando não dá-mos segundas (por vezes décimas ou vigésimas) oportunidades aqueles que nos desiludiram,  e fazemo-lo quando construímos a nossa vida com redes que nos protejam desse temível sofrimento. Chegamos mesmo a pensar que "não sofrer" é um direito constitucional. ;) 

DiscórdiaMas esse direito não existe, um pouco como acontece na Oresteia, o mundo em que vivemos, por vezes, só melhora através de algum sofrimento. Atentemos na mãe Natureza...  Antes de florescer a semente deve morrer e ser enterrada; a uva deve ser colhida e esmagada antes que possa produzir aquele liquido que todos nós gostámos; os pequenos grãos de trigo devem ser triturados em pesadas mós para que possamos saborear o pão. 

DiscórdiaAntes de ver um filho nascer o pai também tem de sofrer com ansiedade (é óbvio que a mãe também sofre um pouco, mas quem já esteve numa sala de partos, sabe muito bem quem sofre mais :P), assim como um agricultor antes de poder colher os frutos do seu trabalho tem de sofrer um pouco com o suor na sua testa; ou um artesão antes de ficar mestre em determinado oficio tem pela frente trabalho intenso e mãos calejadamente doridas.

DiscórdiaÉ óbvio que conhecimento e sofrimento não são a mesma coisa, ainda assim, o sofrimento pode levar não só à sabedoria como também a uma espécie de identidade construída na adversidade. Isso também ocorre no mundo dos vinhos, pois a maioria dos enólogos defende que a vinha tem de sofrer para produzir néctares de qualidade. Se isto for um requisito, a Herdade Vale d’Évora está na pole position do conhecimento vínico. ;)

DiscórdiaA propriedade está integrada no Parque Natural do Vale do Guadiana, beneficiando de uma paisagem de grande beleza, marcada por terrenos de ondulação generosa, uma vegetação autóctone e o rio Guadiana que a serpenteia. As vinhas estão plantadas numa das regiões mais quentes do país, terra árida e agreste, de solos xistosos. Para estas vinhas, sofrer é sinónimo prevalecer.  Esta vinha do Discórdia, que vive no limite e numa luta constante pela sobrevivência, empresta aos vinhos uma fruta arejada, boa concentração e estrutura. São disso excelentes exemplos os novos colheitas dessa Herdade.

DiscórdiaO Discórdia Branco 2019 (8.00 €, 81 pts.) de cor amarela cítrica exibe aromas a manga, limão, maracujá e acácia-lima. Na boca é muito fresco, exibe uma textura agradável e uma excelente aptidão gastronómica. Para a acompanhar uma Feijoada de Tamboril, o amarelo-palha cristalino Discórdia Branco Reserva 2019 (17€, 87 pts.) trouxe uvas brancas frescas, damasco, papaia, laranja, marmelo e subtis notas amadeiradas muito bem integradas. Na boca é estruturado, untuoso, complexo e muito fresco. 
DiscórdiaPor último, o Discórdia Tinto 2018 (8.00 €, 82 pts.), rubi-grená, carrega fruta muito pura (frutos silvestres) e tem um lado floral muito vincado (violetas, esteva e flor de limoeiro). Na boca é quente, fresco e carnudo. Portou-se muito bem com uma Perna de coelho com o seu fígado, cogumelos, batata assada e salteado de legumes.

Vinhos que em conjunto, para além de mostrarem que esta vinha é resultado de muito mais do que uma simples sucessão de oportunidades para sobreviver, revelam que para ter identidade, por vezes, há que sofrer. ;)

 

 

Perna de coelho com o seu fígado, cogumelos, batata assada e salteado de legumes:

-Na véspera ponham a marinar o coelho com sal, pimenta, noz moscada, massa de pimentão, paprika, alho, whiskey, vinho do Porto Ruby e azeite.

-No dia seguinte, após alourarem o coelho em azeite e alho, levem-no a assar na marinada, acrescentando 500ml de caldo de galinha, um pau de canela e uma estrela de anis. Juntem as batatas e os cogumelos. Assem durante duas horas a 180ºC, virando o coelho a cada meia hora.

-Saltear cenouras, ervilhas, courgettes, abóbora, feijão verde e couve flor em azeite e alho, juntando no final um pouco do suco resultante do assado e o sumo de um limão.

 

WOW Porto - The World of Wine | O amor ao vinho num desejo do Deus-lua

"O vinho é uma das coisas mais civilizadas e naturais do mundo que alcançou a maior perfeição. Oferece uma gama maior para o prazer e apreciação do que possivelmente qualquer outra coisa puramente sensorial." Ernest Hemingway

WOWAté onde precisamos "escavar" para encontramos o nascimento daquilo que hoje definimos como "museu"? Bem, se usarmos a definição mais ampla de arqueologia, a ciência que estuda vestígios materiais da presença humana, sejam estes vestígios antigos ou recentes, com o objetivo de compreender os mais diversos aspectos da humanidade, podemos rastreá-lo até aos tempos Bel-Shalti-Nana, uma princesa babilônica que criou o mais antigo museu em 530 a.C.!!!

WOWBel-Shalti-Nana, também conhecida como Ennigaldi-Nana, viveu há cerca de 2500 anos na cidade de Ur e teve um papel fundamental na história da arqueologia. O nome Ennigaldi-Nana que significa "a sacerdotisa, o desejo do Deus-lua", parece fazer parte de um conjunto de iniciativas levadas a cabo pelo seu pai, Nabonidus, de modo a reacender alguns dos antigos costumes babilónicos. 

WOWEsse reacender de antigos costumes prende-se com o facto da lua ser o astro essencial para a orientação desse povo nómada e ser também o "astro garante" da sua protecção divina. Este museu exibia artefatos recuperados sob as ordens do pai de Bel-Shalti-Nana, sendo a filha responsável pela rotulagem dos mesmos. Uma rotulagem detalhada e realizada em 3 línguas diferentes. 

WOWEste museu dedicou-se ao património cultural e acredita-se que, muito provavelmente, tivesse também um propósito educacional, pois junto a ele foi construída uma escola de escribas para mulheres de elite. Depois disto, o museu de Ennigaldi-Nana foi-se perdendo nas areias do tempo, até que Leonard Woolly o descobriu em 1925. 

WOWEste arqueólogo britânico ficou perplexo quando se deparou com a sua descoberta: uma quantidade considerável de artefatos, que não viam a luz do dia há mais de 1500 anos. Essas peças que conjuntamente com alguns textos provinham de diversas áreas geográficas e de vários períodos históricos, estavam felizmente bem conservadas.  

WOWNa verdade, esta paixão pelo passado, pela história e pelos museus de Ennigaldi-Nanna, parece mais ser uma característica familiar do que outra coisa. O seu pai era fascinado por tudo o que estava relacionado com história, o que o levou a promover diversas escavações e descobrir inúmeros textos perdidos.

WOWDeve-se a este "detalhe" o facto de muitos dos itens da colecção deste primeiro museu terem sido descobertos por ele, sendo por isso Nabonidus considerado o primeiro arqueólogo. Nabonido foi também o último rei do Império Neo-Babilónico e um reformador religioso. O seu filho mais velho, Belsazar, governou como seu regente por muitos anos, mas talvez seja mais famoso pela sua aparição no livro bíblico de Daniel, numa passagem em que o fim do reino Neo-Babilónico é desenhado/previsto por uma mão sem corpo numa parede (vamos retomar esta passagem mais à frente ;))

WOWInfelizmente, não se sabe muito mais sobre Ennigaldi-Nana, Nabonido, Belsazar ou o seu museu. No entanto, esta família pode ser considerada como a mãe de todos os museus.  Durante todos estes séculos, os museus foram adquirindo um papel fundamental/insubstituível na preservação da história e da nossa sociedade. Isto porque os museus conservam memórias do que somos e porque o somos, contando-nos histórias dentro da nossa história, que de outro modo poderiam ser esquecidas.

WOWApesar de existirem inúmeros temas nobres para museus e que nos ajudam a perceber um pouco da nossa história, o assunto "vinho" é um daqueles que há mais tempo foi intrinsecamente entrelaçado na trama da nossa memória colectiva. Independentemente do papel que ele foi desempenhando, por vezes principal, outras secundário, o vinho esteve sempre lá!!!

WOWEsteve lá quando no ano 4100 a.C. foi criada na Armenia a primeira adega; esteve lá quando em 3100 a.C. os faraós o bebiam nas cerimónias mais importantes no Egipto; esteve lá quando os fenícios o utilizaram como moeda de troca nos seus negócios no mediterrâneo em 1200 a.C.; esteve lá  quando no livro do Gênesis e após o dilúvio, Noé, sob os efeitos dele, se expôs demasiado aos seus filhos.

WOWEsteve também lá a comemorar os sucessos da civilização Grega e do império Romano entre 800 a.C e 150 d.C.; esteve lá em 1500 quando nós, os portugueses, quisemos oferecer algo com valor imaterial aos ameríndios através de Pedro Álvares Cabral, ou então ofertar um sinal de paz os senhores feudais do Japão nesse mesmo século; esteve lá com Hemingway a inspirá-lo a escrever "O velho e o mar" em 1952, esteve lá na segunda Guerra Mundial quando Winston Churchill motivou o seu exército dizendo-lhes que não era só pela França que estavam a lutar, mas por Champagne; e esteve lá na maior ressaca da história aquando da  revolução bolchevique.  
WOWTudo isto, como é óbvio, saltando inúmeros e importantes capítulos. Portanto, faz todo o sentido que o vinho tenha também direito aos seus próprios museus. Embora os museus possam parecer enfadonhos para alguns de vós, quando uma degustação de vinhos faz parte do programa, provar a nossa história e a nossa cultura, passa a ter uma conotação totalmente diferente. 

WOWHoje falo-vos de um dos mais bonitos e mais bem pensados museus dedicados ao vinho, o WOW Porto - The World of Wine, que compila a história, a magia e as emoções por detrás do vinho português, do ritual dos copos e da indústria da cortiça. Mas vai mais longe do que o seu próprio nome e acrescenta à fórmula a história da cidade do Porto e o que de melhor se faz no norte de Portugal, revelando os segredos por detrás de algumas das principais indústrias da região, como os têxteis e a moda.  

WOWPara os mais pequenos, há ainda uma fábrica de chocolate. Situado no coração da zona histórica de Vila Nova de Gaia, é possível visitar gratuitamente a sua praça central (com uma fabulosa vista sobre o Porto, por estes dias podem ser que encontrem também por lá a Bia no seu processo de formação vínica 😉).

WOWO WOW ocupa uns impressionantes 55.000m², nasceu da recuperação de antigas caves de vinho do Porto e oferece seis experiências imersivas em museus, cinco restaurantes (que valem realmente a pena), para além de bares, cafés, espaços para eventos e exposições, lojas e, como cereja no topo do "copo", uma escola de vinhos na qual é possível escolher cursos diários sobre vinho e gastronomia portuguesa.  

WOWEste é um conceito que tem tudo para dar certo, sobretudo para os apreciadores de vinho!!! Uma nota apenas para os que me costumam chatear com essas coisas: (A Bia estava a beber sumo de uva ... não fermentado ;)) Voltando aos museus... Podemos sem dúvida nenhuma argumentar que espaços como este são mais relevantes que nunca, pois permitem-nos abordar desde questões sociais importantes até preparar a melhor forma de encarar o futuro, e assim, um "humilde" museu, tem o poder de, partindo do passado,  refletir e moldar nossa sociedade futura ou então esculpir algum aspeto fundamental dessa mesma sociedade, como o vinho. ;)

WOWJá conhecia a história do primeiro museu, quando visitei o museu do vinho do WOW, por isso foi um momento particularmente delicioso, perceber que uma das primeiras obras apresentadas ser uns braços sem corpo a servirem vinho, que me fez recordar o episodio bíblico de Belsazar, no qual umas mãos sem corpo desenharam o fim de uma era. Que estes braços, igualmente sem corpo, possam desenhar o inicio de uma era bastante auspiciosa para WOW Porto - The World of Wine. Não fosse o contexto pandémico e tenho a certeza que este "novo distrito cultural" do Porto e de Gaia já faria parte dos principais roteiros enoturísticos mundiais.