Quinta do Convento Branco 2019 | Flores de pedra
"No preciso momento em que encontramos pedras no nosso caminho, lá longe estão a ser plantadas flores. Quem desiste logo ali, não verá esse jardim." William Shakespeare
Bah, não desistam já da leitura devido à citação que escolhi para introduzir este texto. Prometo que não vão esmiuçar mais o tema de "Pedras no caminho? Vou guardar todas e fazer um castelo, uma catedral ou uma fortaleza!!!". :P Vou falar-vos de Shakespeare, de vinho (como não poderia deixar de ser) e da relação entre ambos. Para além do modo humoradamente melancólico com que abordou temas como o amor, os sentimentos e as questões humanas, sociais e políticas; todas as obras deste dramaturgo têm uma particularidade muito interessante.
Embora não existam provas contundentes de Shakespeare ter sido um apaixonado por vinhos (convenhamos, todos os génios gostam de vinho ;)) todas as suas peças mencionam o néctar dos Deuses, pelo menos uma vez...As referências vão desde o Moscatel ao vinho do Reno. O Vigário John Ward (conhecido por registar muitos aspetos, quase anedóticos, da vida do grande escritor inglês) defende que Shakespeare terá morrido logo após uma grande bebedeira. O problema desta tese, é que apenas surgiu 50 anos após a morte de Shakespeare.
Certo é que o vinho disponível em Inglaterra na época de Shakespeare era muito caro, um litro deste liquido precioso custava tanto como doze litros de cerveja!!! É por este motivo que o vinho dos séculos XVI-XVII era tido como um bem de luxo e que, infelizmente, nem todos poderiam pagar. Quase todos os vinhos referenciados durante o reinado de Isabel I (contemporânea de Shakespeare) eram importados de França, de Espanha, da Grécia ou de Portugal. Shakespeare parecia ter um apreço especial pelos vinhos fortificados como o vinho do Porto, Madeira ou alguns vinhos adocicados oriundos das ilhas espanholas.
No entanto, não foi por causa de um vinho fortificado que escolhi a citação inicial de Shakespeare, escolhi-a porque "encaixa que nem uma luva" na descrição do Quinta do Convento Branco 2019. Esta colheita de 2019 vem mais uma vez confirmar o carácter único dos vinhos Quinta do Convento e é também, uma evidência muito clara do Douro especial que existe no terroir da Quinta do Convento (vinhas de altitude que evoluem expostas a norte, em solos de xisto, granito e até algum quartzo).
O lote final (uvas de Rabigato, Viosinho, Gouveio e Arinto), integra 50% de vinho fermentado 9 meses em barricas de carvalho francês de segundo ano com batonnage. Todo este trabalho conjunto de terroir, vinha e enologia transmitiu ao Quinta do Convento Branco 2019 (12.00 €, 90 pts.) uma cor amarela citrina com nuances esverdeadas cristalinas; e notas elegantes a xisto molhado, maçã verde, damasco, jasmim e limonete. Na boca é tenso, fresco, "pedregoso" e equilibrado.
No preciso momento em que encontramos essa pedrogosidade no nosso nariz, lá longe, no copo, estão a ser plantadas flores como o jasmim e o limonete. Quem desiste logo ali, no primeiro aroma, não sentirá esse jardim olfactivo. ;) Acompanhou muito bem um "Risoto" de bulgur, pimentos, cogumelos Shimeji e ervilhas com 3 texturas.
"Risoto" de bulgur, pimentos, cogumelos Shimeji e ervilhas com 3 texturas:
-Num tacho levem a ferver um grande volume de água com sal. Juntem a Quinoa e Bulgur (usei a mistura da Tipiak) e deixem cozer, fervendo durante 12 minutos. Decantem de modo a ficarem com a quinoa e bulgur sem água;
-Noutro tacho façam um refogado com alho, cebola, pimentos, ervilhas e cogumelos Shimeji;
-Façam um puré de ervilhas e guardem parte dele para fazerem umas "pequenas moedas" de ervilha que vão levar ao forno para desidratar e fazer umas chips de ervilha;
-Voltem a introduzir no tacho o bulgur, acrescentem manteiga, queijo parmesão, pimenta preta, um pouco de noz-moscada e brandy. Cozinhem 5 minutos;
-Ao empratar coloquem na camada de inferior o puré de ervilha, depois o risoto de bulgur e no top as chips de ervilha.