Valados de Melgaço | Outrora e Outros Tempos
"A vida é amarga e doce. Por isso não há outra forma de a honrar senão captando estes dois sabores." Jim Harrison
Finalmente, e depois da azáfama das férias/roadtrip/baptizados/regresso ao trabalho, estamos de volta ao #cáporcasa. A ver se consigo fazer "isto" pelo menos duas vezes por semana, a fim de "despachar" as coisas boas que tenho na cave. O "reinicio" deste espaço vai ser feito com um produtor da região dos Vinhos Verdes que aprecio muito: o Valados de Melgaço. O nome desta região, apesar de lhe assentar bem, por vezes, ainda cria algumas confusões, até para os especialistas.
A associação errada com uvas colhidos verdes (quando na verdade esse verde "apenas" relembra a flora da região ou a acidez dos seus vinhos) fez com que até há um par de décadas esses Vinhos Verdes fossem (re)conhecidos apenas dentro de portas.
Os preços baixos e as gamas de entrada com um perfil muito fácil, por vezes assente numa "carbonização" quase refrigerante e muita acidez, fez com que as vendas começassem a crescer em países como os Estados Unidos, o Brasil, a Alemanha, a França e o Reino Unido. Esse perfil dos primeiros verdes exportados fez com que alguns especialistas (como a Madeline Puckette da Wine Folly) o descrevessem como "o vinho de Verão sem fim ... a lima seca que tu sempre desejaste num dia quente."
Felizmente esse desconhecimento foi desaparecendo, muito por culpa de alguns produtores que elevaram claramente o nível dos vinhos que ali se produziam, e que originaram um mea culpa da Madeline: "hoje em dia nos Vinhos Verdes podem encontrar produtores de ponta que evitam a carbonização artificial. Esses vinhos, em particular, estão a par dos melhores da Europa e podem envelhecer lindamente!!!"
Os vinhos que vos falo hoje ajudam a explicar através dos aromas e dos sabores essa evolução qualitativa que os Vinho Verdes passaram. Começo por um que na sua edição de 2016 ganhou o prémio de melhor espumante #cáporcasa: O Valados de Melgaço Alvarinho Reserva Extra Bruto 2017 (35 €, 91 pts.). Pareceu-me bem mais Bruto (seco) e com mais corpo que a edição anterior mas com a mesma bela cor amarela-citrina.
De bolha fina e duradoura, exibe notas muito elegantes a relva acabada de cortar, flores brancas, maçã verde, ananás e um subtil brioche. Na boca mostra uma acidez bem vincada e irreverente, crocância, secura e persistência. É quanto a mim um dos melhores espumantes que se faz na região e com uma excelente relação qualidade/preço. Acompanhou, inextremis, um Leitão assado.
Umas Lulas recheadas com legumes, chouriço e manga foram a desculpa ideal para comparar o Valados de Melgaço Alvarinho Reserva 2015 (11 €, 88+ pts.) com o Valados de Melgaço Alvarinho Reserva 2019 (11 €, 88 pts.). A versão de 2015, amarelo-limão, acrescentava às notas de maracujá, lima, folha de limoeiro e alguma pedregosidade, já algumas notas de evolução como o mel, o feno e avelã. Gostei muito.
Gostei ainda mais do Valados de Melgaço Alvarinho Reserva 2019 (11 €, 90 pts.), aliás, quanto a mim esta é a melhor edição deste vinho. É amarelo-esverdeado no traje e muito rico no nariz, com maça verde, toranja, ananás, citronela, flores brancas e alguma pedrogosidade. No palato é longo, tenso, rico, frutado, fresco e equilibrado. Tenho a certeza que ainda vai melhorar em garrafa, estou expectante (depois de ver o que aconteceu com o 2015) para voltar a conversar com ele daqui a alguns anos... ;)