Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

No meu Palato

No meu Palato

Festival do vinho do Douro Superior 2022 | O indizível, o inexprimível e o intraduzível

"A grandeza de uma obra de arte está fundamentalmente no seu carácter ambíguo, que deixa ao espectador decidir sobre o seu significado."  Theodor Adorno

Festival do vinho do Douro Superior 2022Os seres humanos dedicam-se à arte há dezenas de milhares de anos (e muitas tribos continuam a fazê-lo de modo similar aos desses nossos antepassados). Algumas das obras de arte mais famosas são do Paleolítico Superior, criadas há 40 000 - 10 000 anos. Entre essas expressões artísticas surgem as famosas pinturas de Vila Nova de Foz Côa ou a caverna de Altamira em Espanha. Mas, seja aquém ou além fronteiras, porque é que esses hominídeos tiveram a necessidade de pintar grutas ou desenhar na pedra?

Festival do vinho do Douro Superior 2022Apesar dos inúmeros estudos científicos dedicados ao assunto, e como muitas vezes acontece em ciência, ainda não se chegou a um consenso (pese embora quase todos terem a sua teoria). Uma das primeiras explicações para a arte rupestre é também a mais abnegada: a da “arte pela arte”. Como o próprio nome deixa transparecer, a ideia é a de que nossos ancestrais só produziam arte apenas porque estavam entediados ou porque acharam alguma cena bonita e que, por isso, merecia ser retratada. Não havia nenhum objectivo concreto por trás disso, seria o equivalente pré-histórico de um sudoku.

Festival do vinho do Douro Superior 2022Desde os finais do séc. XIX essa teoria foi perdendo muitos defensores, dada a constatação, mais ou menos óbvia, da quantidade de esforço, dedicação e tempo que algumas das obras de arte requeriam. Os Picasso do Paleolítico Superior tiveram de criar andaimes para alcançar as rochas mais altas, tiverem de se aventurar em grutas profundas, escuras e perigosas (o que levou à invenção da primeira lamparina) e tiveram de procurar, por vezes extenuantemente, materiais que lhes permitissem pintar ou desenhar. Tudo isto apenas para passar o tempo? Estranho... 

Festival do vinho do Douro Superior 2022Como vem sendo comum em arqueologia e em relação a quase toda a actividade humana, surgiu também a teoria relacionada com os rituais. Assim, alguns antropólogos sugeriram que essas pinturas teriam uma natureza religiosa ou mitológica, semelhante aos bonitos vitrais que hoje em dia encontramos nas nossas igrejas. Para sermos justos, existem algumas evidências que dão um bom sustento a essa hipótese. Por exemplo, muitas cavernas e pedras estavam localizadas em locais longe das áreas onde os nossos antepassados habitavam e tinham uma orientação preferencial, tal como acontece com os locais sagrados .

Festival do vinho do Douro Superior 2022Esta ideia da arte rupestre estar relacionada com a religião evoluiu depois para a “hipótese do xamanismo”, que postulava que a arte rupestre seria o resultado de actividades místicas de uma tribo e estaria relacionada com uma espécie de viagem espiritual potenciada por produtos alucinogénios. Alguns grupos de investigação provaram que muitas das coisas estranhas que as pessoas "vêem" após tomarem drogas alucinogénias (os chamados fenómenos entópticos) exibiam uma semelhança surpreendente com as imagens registadas na arte rupestre.

Festival do vinho do Douro Superior 2022Durante um par de décadas esta parecia ser a resposta para a questão com que iniciei esta publicação, no entanto, outros investigadores repararam que de todos os fenómenos entópticos documentados devido ao uso de alucinogénios, apenas uma pequena proporção era representada na arte rupestre. Se algumas pinturas eram o resultado do uso de drogas, porque é que as outras "imagens entópticas" não aparecem também representadas? Além disso, as drogas utilizadas nos testes dos investigadores adeptos da "teoria das drogas" foram sintetizadas em laboratório e seria altamente improvável que os nossos antepassados encontrassem algum correspondente natural. 

Festival do vinho do Douro Superior 2022Surgiram também outras teorias como a avançada por Bednarik em 2008 que relacionava a arte rupestre com rituais de passagem à idade adulta. Tal teoria baseou-se no facto de que muitas das pegadas encontradas perto da arte rupestre tinham sido deixadas por crianças e também na constatação que alguns utensílios usados nas pinturas serem demasiado pequenos para terem sido manuseadas por um adulto. Mas como vos disse, esta tese não foi muito aceite pelos pares...

Festival do vinho do Douro Superior 2022Assim, alguns historiadores encontraram uma razão bem mais prática para as obras de arte do Paleolítico Superior. As mudanças climáticas e as técnicas de caça mais eficientes, entretanto desenvolvidas pelos humanos, levaram a que muitas das espécies pudessem desaparecer de uma determinada região por um longo período. 

Festival do vinho do Douro Superior 2022Neste sentido, a arte rupestre poderia ser uma tentativa de manter um registo das espécies vistas antes dessa ausência, preservando o conhecimento das mesmas para quando elas regressassem (facilitando a sua identificação e escolha da melhor técnica de caça). A sustentar esta tese está o facto de que muitas imagens da arte rupestre mostrarem pés torcidos (para tornar bem claro quais as pegadas que cada animal deixava) e animais raros (e não vistos por toda a comunidade) como os mamutes. Este debate manteve-se até hoje, com novos livros e artigos publicados que vão refutando os argumentos dos aceites anteriormente.  

Festival do vinho do Douro Superior 2022Pessoalmente, e numa visão apenas de interessado, acredito que nunca se chegará à resposta definitiva uma vez que ... cada caso é um caso. Existem milhares de exemplos de arte rupestre espalhados pelo mundo, que foram criados ao longo de dezenas de milhares de anos. Provavelmente não havia apenas uma única razão para fazer arte e que abrangesse esse enorme espaço de tempo e espaço. Nos dias de hoje, acontece algo parecido, a motivação para a arte difere de artista para artista. 

Festival do vinho do Douro Superior 2022Todas essas hipóteses são provavelmente verdadeiras até certo ponto. Talvez a caverna de Altamira fosse ritualistica e talvez uma pedra de Vila Nova de Foz Côa fosse um "guia comunitário", mas o que é certo, é que a maior parte destas expressões artísticas não eram apenas rabiscos de sudoku, e que havia um motivo mais estrutural por detrás da sua concepção. 

Festival do vinho do Douro Superior 2022Independentemente desta explicação estar ou não completa, a arte rupestre assumiu-se como um intrigante, belo, e fascinante elo com nossa herança ancestral, que terá surgido, através de um antepassado nosso, africano, que viveu há mais de 70 000 anos. Se a invenção da arte pode ser atribuída a uma única pessoa é a ele, um "avô" anónimo que tivemos na Cidade do Cabo, na África do Sul, e que riscou algumas linhas num pedaço de pedra vermelha na Caverna de Blombos e que se acredita ser a obra de arte mais antiga do mundo. 

Festival do vinho do Douro Superior 2022Podem encontrar uma fotografia dessa pedra num artigo publicado em 2018 na prestigiada revista Nature. Mas, será que podemos/devemos chamar àquela pequena pedra vermelha ... arte?  A definição de arte é aberta, subjectiva, discutível e controversa. Ao longo da história da arte, os próprios artistas têm empurrado os limites de cada definição, para um lado e para outro, desafiado os nossos preconceitos. 

Festival do vinho do Douro Superior 2022Como esse conceito de arte tem mudado ao longo dos séculos, o seu propósito foi definido como o modo de representar a realidade, de comunicar emoções ou ideias, de criar um sentido estético, de explorar a natureza da percepção, de explorar elementos formais, ou de simplesmente fazer algo que não seja "apenas" para suprimir as nossas necessidades básicas. 

Festival do vinho do Douro Superior 2022Assim, o papel da arte tem vindo a alterar-se ao longo do tempo, adquirindo umas vezes uma componente estética e outras uma função sócio-educativa. Não há acordo entre filósofos, historiadores e artistas e, assim, escolhemos a definição que mais nos convém. ;) Curiosamente, e como nos mostra este artigo, a maioria das definições que englobam a palavra arte, englobam também a palavra ... vinho. Confessem que por esta não estavam à espera!!! :P 

Festival do vinho do Douro Superior 2022Esta curiosidade é ainda mais surpreendente quando percebemos que, por exemplo no Vale do Côa a arte rupestre (22 000 a.C. –10 000 a.C.) nunca coabitou com o vinho (que terá surgido há oito mil anos). A ideia por detrás desta dicotomia vinho-arte faz-nos olhar para o vinho de um outro modo, com a lente de como ele nos afecta emocionalmente. 

Festival do vinho do Douro Superior 2022Tal como a arte, o vinho pode evocar emoções, despertar a curiosidade e acender paixões. Pode até proporcionar uma experiência subjectiva que que nos leva a criar um vínculo com ele. Analisando bem mais de perto estes dois, vinho e arte, podemos até perceber como os elementos fundamentais de ambos se relacionam. 

Festival do vinho do Douro Superior 2022Por exemplo, neste último estudo cientifico que vos falei, chegou-se à conclusão que o vinho e a arte passeiam as mesmas áreas cognitivas do nosso cérebro: existe um papel inter-relacionado de ambas as respostas sensoriais, emocionais e cognitivas; existe uma necessidade de aprendizagem similar de modo a que a percepção do vinho/da arte seja mais rica; e existem, quer no vinho, quer na arte, as questões de gosto pessoal. O que um gosta, o outro pode achar horrível. 

Festival do vinho do Douro Superior 2022Por último, quer o vinho, quer a arte, levam a uma percepção bastante parecida daquilo o que é verdadeiramente belo. Se isto é assim, e temos que acreditar no que a Ciência nos diz, não existe melhor local para avaliar esta dicotomia que Vila Nova de Foz Côa, especialmente pela altura do Festival do Vinho do Douro Superior!!! ;) 

Festival do vinho do Douro Superior 2022Este festival que já vai na sua 9ª edição, organizado pela Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa com a produção da revista ‘Grandes Escolhas’, tem como objectivo consolidar a sub-região do Douro Superior, os seus produtores e os seus vinhos como expoentes da qualidade da feira do vinho em Portugal. 

Festival do vinho do Douro Superior 2022No âmbito do festival, que teve este ano mais de 80 expositores, voltaram a realizar-se um conjunto de iniciativas que enriqueceram o evento. Foi o caso do prestigiado ‘Concurso de Vinhos do Douro Superior’, onde um júri diversificado composto por 33 jornalistas, bloggers especializados (alguns deles espectaculares como eu próprio ;)), profissionais da restauração, garrafeiras, e distribuição avaliaram cerca de centena e meia de vinhos, entre brancos, tintos e vinhos do Porto, numa prova que surpreendeu pelo grande nível dos vinhos apresentados. 

Festival do vinho do Douro Superior 2022Os grandes vencedores foram o Quinta da Extrema Edição II, de Colinas do Douro Sociedade Agrícola, o Quinta do Vesúvio 2019, da Symington Family Estates e o Burmester Tawny 20 anos, da Sogevinus Fine Wines, nas categorias de vinhos brancos, vinhos tintos e vinhos do Porto, respetivamente. 

Festival do vinho do Douro Superior 2022Várias outras iniciativas tiveram o condão de atrair os mais de 6 000 visitantes, nomeadamente as provas comentadas por especialistas, o colóquio sobre “As alterações climáticas e os desafios vitícolas do Douro Superior”,  e a mostra/prova de produtos (vinhos, azeites, gastronomia) da feira, que fizeram deste festival uma alavanca para o desenvolvimento da economia local e que abrange os concelhos de Vila Nova de Foz Côa, Carrazeda de Ansiães, Figueira de Castelo Rodrigo, Freixo de Espada à Cinta, Mêda, São João da Pesqueira, Torre de Moncorvo e Vila Flor. 

Festival do vinho do Douro Superior 2022Dos vinhos em prova na Feira, nos brancos destaco a tangerina, acácia-lima, notas fumadas, baunilha e acidez do Terras do Grifo Grande Reserva 2017 (25.00 €, 90 pts.); e a flor de laranjeira, mineralidade (xisto molhado) e acidez mordaz do Dona Berta Curtimenta Reserva 2020 (18.00 €, 89 pts.). Nos tintos chamou-me a atenção a esteva, a framboesa e a elegância ecléctica do Quinta do Monte Xisto 2019 (60.00 €, 94 pts.); as notas florais, frutos silvestres, equilíbrio e complexidade do Dona Graça Avô Escrivão Grande Reserva 2017 (45.00 €, 92 pts.); os frutos silvestres, violetas, cacau, café e acidez aguerrida do Quinta dos Romanos Grande Reserva 2011(40.00 €, 92 pts.); e as notas balsâmicas, frutos silvestres, pimenta preta e finesse do Cisne 2015 (30.00 €, 91 pts.).

Festival do vinho do Douro Superior 2022Ainda nos tintos, os meus favoritos foram o Quinta do Vale Meão 2019 (125.00 €, 97 pts.) com as suas notas balsâmicas deliciosas, esteva, amoras, equilíbrio, complexidade e acidez; e o  Quinta do Vesúvio 2019 (55.00 €, 95 pts.) carregado de ameixa preta, esteva, bergamota, caixa de tabaco, densidade, estrutura e intensidade. Nos Porto, o Quinta do Vale Meão Vintage  2019  (55.00 €, 96 pts.) está cheio de fruta silvestre (a fazer lembrar o lagar em dia de vindima), taninos firmes, acidez irreverente e uma enorme estrutura; por sua vez o Quinta dos Canais Vintage 2010 (40.00 €, 93+ pts.) estava super pronto a beber com uva passa, couro, toffee, chocolate preto e um final super longo. Não posso deixar de destacar também a classe do Quinta da Cuca Rosé Reserva Touriga Nacional 2020. A fruta, a mineralidade, a frescura e a untuosidade super balanceadas tornam-no num dos melhores rosés que provei, só é pena ainda não estar no mercado, voltamos a falar dele quando isso acontecer!!!  

Festival do vinho do Douro Superior 2022O programa destinado à imprensa contemplou ainda a visita a 4 produtores da região.  Começamos pelos vinhos MÓOS que nascem na aldeia homónima de Mós, Vila Nova de Foz Côa, perto das margens do Douro num contexto artesanal e familiar. Estes vinhos “vindimados à mão pela família” (pode ler-se nos rótulos das garrafas) são elaborados a partir das uvas da propriedade, situada entre os 300 metros e 500 metros de altitude. Luís Polido é o seu produtor e a enologia é da responsabilidade do reconhecido Luís Leocádio.

Festival do vinho do Douro Superior 2022Gostei muito do Móos Vinha Sambado Grande Reserva Branco 2020 (30.00 €, 90 pts.) devido às notas cítricas e florais com um toque mineral, baunilha,  paladar crocante e estruturado, elegância e complexidade; e do Móos Vinha Sambado Grande Reserva Tinto 2019 (35.00 €, 90 pts.) com fruta do bosque, cedro, noz-moscada, sous-bois, elegância e equilíbrio. Ambos com imensa pureza e sentido de pertença.

Festival do vinho do Douro Superior 2022Seguiu-se a Gerações de Xisto, produtor que emergiu da fusão de dois projectos, Chousas Nostras e Vales Dona Amélia, criados pela forte vontade de jovens descendentes de duas famílias Transmontanas (Família Sousa Grandão e Família Lobão), apaixonados pela sua terra e apostados em preservar o património rural familiar e as tradições herdadas a recuar gerações, tirando partido de olivais centenários e vinhas de venerada idade agora convertidos em espaços de ensaio na busca de novos sabores e aromas.

Festival do vinho do Douro Superior 2022Destes, gostava de vos falar do Gerações de Xisto Vinho Branco 2020 (15.00 €, 87 pts.) com acácia-lima, anis, esteva e acidez equilibrada; e do Gerações de Xisto Vales D. Amélia Tinto 2018 (23.00 €, 89 pts.) com pimenta preta, sous-bois, amoras, leve tosta, austeridade e secura. Posteriormente e quanto a mim, o melhor momento destes três dias: a visita à Quinta de Ervamoira da Ramos Pinto. Com uma área total de 223 hectares que oscilam entre os 110 e os 340 metros de altitude, esta Quinta utiliza em exclusivo o método de plantação vertical (plantação da vinha sem recurso a terraços), por talhões, com castas autóctones introduzidas pela Ramos Pinto nos anos 80. 

Festival do vinho do Douro Superior 2022O solo da Quinta de Ervamoira faz parte do complexo de xisto-grauváquico ante-Ordovícico e, neste contexto geológico homogéneo, a singularidade da Quinta de Ervamoira assenta na diversidade de exposições do anfiteatro onde está implantada. A história da quinta contada on site pelo Jorge Rosas foi um dos melhores momentos que o blogue me proporcionou. Relativamente aos vinhos e apesar de todos serem de qualidade elevada, vou destacar dois, um deles "de outro planeta". Começo por esse extraterrestre e o melhor vinho provado por estes dias, o Quinta de Ervamoira Tinto 2019 (100.00 €, 97 pts.) com uns apontamentos balsâmicos gulosos enobrecidos pelos frutos silvestres muito puros, pelas notas florais (violetas), caixa de tabaco, alguma pedregosidade e cachimbo. 

Festival do vinho do Douro Superior 2022 @Ricardo Palma VeigaNa boca é super elegante, equilibrado, harmonioso, fresco e longo. Uma maravilha!!! Por sua vez, o Quinta de Ervamoira Vintage 2020  (75.00 €, 94 pts.)  apesar de ainda estar um pouco tímido, com paciência já nos mostrava frutos silvestres, lagar em dia de vindima, pimenta preta, chocolate e menta. No boca é denso, complexo, estruturado, fresco e ligeiramente austero. No último dia e após uma visita ao renovado Museu do Coa, tivemos o prazer de visitar a Quinta da Saudade, situada na  Muxagata, concelho de Vila Nova de Foz Côa, que foi adquirida em 2008 pelo enólogo Carlos Magalhães (alias Carloto) e cinco amigos que tinham uma paixão em comum: o vinho, as vinhas em altitude e o Douro. Lá nascem os vinhos Palato do Côa, frescos e equilibrados.

Festival do vinho do Douro Superior 2022 @Ricardo Palma VeigaGostei particularmente do espumante que lá provei e a ser lançado nos próximos meses (e do qual ainda não se pode falar muito ;)); da descomplicação, mineralidade, framboesas e acidez gastronómica do Palato do Coa Rosé 2021 (9.00 €, 85 pts.); e das amoras, alcaçuz, esteva, caixa de tabaco, frescura, intensidade e persistência do Palato do Côa Reserva Tinto 2018 (20.50 €, 89 pts.).

Festival do vinho do Douro Superior 2022 @Ricardo Palma VeigaEsta foi a minha visão deste festival e destes vinhos, mas tal como acontece na avaliação da grandeza de uma obra de arte, a beleza da apreciação de vinhos reside fundamentalmente no seu carácter ambíguo (como é óbvio, dentro de certos limites). Para vocês a experiência poderia ser completamente diferente, mas provavelmente concordaríamos no nível de excelência que se pratica pelo Douro Superior. Como defendia Leonardo Da Vinci (com concordância plena do Pedro Da Vinha :P), a arte diz o indizível, exprime o inexprimível, traduz o intraduzível. O mesmo sucede com os vinhos, e por isso, melhor que todo este (longo) texto, para perceberem, verdadeiramente, o que faz um grande vinho, têm mesmo de os provar ... repetidamente, até essa obra de arte se tornar clara para o vosso palato!!!

Sunset Wine Parties 2022 no The Yeatman | Crónica(mente) dos afectos

"A amizade é como o vinho, inicia-se num bom ano e aperfeiçoa-se com o tempo, tem a cor rubi e sabor a perfeição. Quando aberto deve ser degustado com cuidado para identificarmos os aromas da sinceridade e o brilho da lealdade. Ao brindar com vinho, não estamos apenas a bater com os copos ou a sorrir para a fotografia, estamos a selar um laço que se estende além do tempo e se expande até ao infinito. Assim é o vinho, assim são os meus amigos." Ivan Bottion

Sunset Wine Parties 2022Hoje, para vos falar das Sunset Wine Parties 2022 no The Yeatman recupero uma daquelas histórias incríveis relacionada com o mundo dos vinhos. A do beijo, tal como o conhecemos, ter surgido graças ao vinho no séc. I a.C.. Pelo menos isso é o que alguns historiadores italianos defendem.

Sunset Wine Parties 2022Antes disso, o registo mais antigo de uma "espécie de beijo" data de 1500 a.C. na Índia, conforme retratado em textos antigos que mencionam pessoas a afectivamente esfregar o nariz. Em 400 a.C., o beijo surge representado no famoso Kama Sutra, se bem que os beijos lá retratados são de outra "índole". :P

Sunset Wine Parties 2022Voltando aos romanos, na Roma Antiga o vinho era proibido às mulheres, uma vez que a associação entre mulheres e vinho era simplesmente imoral devido a diversas crenças, quase todas relacionadas com adultério e quase todas castradoras da liberdade das mulheres.

Sunset Wine Parties 2022Apesar dessa condicionante social, sabemos que a maioria das mulheres da antiguidade romana ficava sozinha em casa, ao longo de todo dia, a tratar do lar, dos filhos e das coisas do marido (estes bons hábitos foram-se perdendo ao longo dos tempos ;)) e que, sem ninguém para as "controlar", sem a companhia do Goucha e com a lida da casa já terminada, invariavelmente surgiam momentos ... em que o vinho lhes despertava o interesse. 

Sunset Wine Parties 2022Chegando (muito cansados após árduas horas de trabalho) a casa, os desconfiados maridos costumavam cheirar a boca das suas companheiras para tentarem perceber se elas tinham (criminalmente) bebido vinho na sua ausência. Nessas ocasiões, a saudade, o cheiro do vinho, a proximidade das respirações e a sensualidade da "inspecção" despertava um certo erotismo que levava o casal a cometer loucuras amorosas: lá surgiam os primeiros toques com os lábios, e mais tarde ou mais cedo, aconteciam os primeiros beijos e a felicidade estava garantida para o resto da noite.

Sunset Wine Parties 2022Afinal, quem consegue resistir aos encantos do sexo feminino, que apesar de nos roubar o vinho, nos encanta com a sua beleza? ;) E é assim que o beijo se transforma numa das mais bonitas demonstrações de afecto. A citação de Ivan Bottion com que emoldurei esta publicação, fala-nos que esses afectos não são exclusivamente carnais, estabelecendo uma bela metáfora entre amizade e vinho.

Sunset Wine Parties 2022Sejam esses afectos de um tipo, ou de outro, o certo é que o vinho parece criar o ambiente ideal para nos relacionarmos uns com os outros, para celebrarmos os nossos sucessos e esquecermos as coisas menos boas que por vezes vão surgindo. Se aos vinhos e aos amigos juntarmos um belo pôr do Sol e uma gastronomia de excelência, percebemos que as Sunset Wine Parties 2022 do The Yeatman são um evento a que não devemos faltar ;)

Sunset Wine Parties 2022Em 2022 estas festas regressam ao seu formato habitual, sem as "nuvens negras" da pandemia, e prometem estenderem-se pelos amplos terraços e salas de eventos do The Yeatman para dar a provar os melhores vinhos e petiscos, ao ritmo do pôr do Sol que pinta de cores quentes a vista privilegiada sobre o Rio Douro e a zona Ribeirinha do Porto.

Sunset Wine Parties 2022A primeira Sunset Wine Party acontece já dia 21 de Julho, a partir das 19h00. O hotel vai reunir mais de 30 produtores de vinho nacionais, que irão apresentar três sugestões para brindar aos dias quentes entre espumantes, vinhos brancos, tintos e Portos, num total de mais de 90 referências em prova.

Sunset Wine Parties 2022Mas nem só de vinho se faz esta experiência. Ao longo dos terraços e salas do hotel, são vários os pontos de paragem obrigatória para aliciar, desde uma vasta selecção de ostras (adoro!!!!) e mariscos, sushi, queijos e enchidos, saladas e pratos frios, pratos quentes, doces, e várias sobremesas que prometem conquistar o palato - já seduzido pelo vinho.

Sunset Wine Parties 2022Como é habitual, o Chefe Ricardo Costa vai reunir algumas das iguarias mais apetecíveis do Verão, desde os cachorrinhos, às sandes de leitão ou aos sorvetes artesanais. A música, como de costume, vai alegrar o ambiente, prolongando a festa pela noite dentro.

Sunset Wine Parties 2022A entrada nas Sunset Wine Parties tem o custo de 110,00€ por pessoa. Os grupos a partir de 8 pessoas, beneficiam do valor especial de 100,00€ por pessoa. Este ano, as festas terão lotação mais limitada, pelo que recomendamos a reserva antecipada através do site do hotel.

Sunset Wine Parties 2022Para quem não tiver a possibilidade de marcar presença no dia 21 de Julho, ainda será possível participar nas restantes edições da Sunset Wine Party, marcadas para os dias 25 de Agosto e 15 de Setembro. As reservas para estas datas já podem igualmente ser feitas na página do site de eventos do The Yeatman.

Sunset Wine Parties 2022Todas as Sunset Wine Parties têm início marcado para as 19h00 e prolongam-se até à 01h00, sendo que as apresentações dos vinhos pelos próprios produtores terminarão pelas 22h00. Enquanto procurava fotos para esta publicação, reparei que na última Sunset Wine Party em que participamos, em Agosto de 2019, antes da COVID-19, o Gui (como a foto de abaixo comprova) ainda estava dentro da barriga, o que mostra que este evento atrai mesmo boas vibrações... ;)

15 (17).jpgApareçam por lá e brindem connosco, mas não se esqueçam que este evento está cronicamente ligado aos afectos, e que ao brindar com vinho, não estamos apenas a bater com os copos ou a sorrir para a fotografia, estamos a selar um laço que se estende além do tempo e se expande até ao infinito. Até lá!!! ;)

As Tourigas da Discórdia tinto 2019 | O Yin Yang do vale vínico

"Geralmente são nossos opostos aqueles que nos complementam melhor, porque são eles os únicos que nos podem equilibrar.”  Rachel Hollis

As Tourigas da Discórdia tinto 2019Leva no nome a palavra "Discórdia", mas revela uma complementaridade admirável. O novo tinto da Herdade Vale d´Évora é um blend das castas Touriga Nacional e Touriga Franca, muito comum no Douro, mas raro no Alentejo. As terras de Mértola têm surpreendido pela originalidade dos seus vinhos. Com história, as vinhas deste lugar do Baixo Alentejo, esquecidas durante a campanha cerealífera do século passado, recuperam novo fôlego e fazem nascer vinhos com garra e identidade muito própria.

As Tourigas da Discórdia tinto 2019O novo tinto As Tourigas da Discórdia 2019 (15.00 €, 87 pts.) é disso exemplo, um vinho que exalta uma combinação inusitada no Alentejo, a apresentação em duo das castas Touriga Nacional e Touriga Franca colhidas na Herdade Vale d’Évora e com estágio por casta individual em barricas de carvalho francês. De cor rubi grená cristalina, exibe no nariz frutos silvestres, resina, sous-bois e violetas. No palato é fresco (pede salivantemente comida!!!!), longo e muito equilibrado. 

As Tourigas da Discórdia tinto 2019A apadrinhar a sua apresentação estiveram mais dois vinhos. Falo-vos primeiro do Discórdia Reserva Tinto 2018 (19.00 €, 89 pts.) produzido a partir das castas Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Touriga Franca e Syrah e com um estágio de 18 meses em barricas de carvalho francês de 300 litros. De porte rubi denso, passeia-se sobranceiramente com aromas a violetas, frutos silvestres, azeitona, pimentão, cacau e uns ligeiros fumados que lhe assentam muito bem. 

As Tourigas da Discórdia tinto 2019Por sua vez, o Syrah da Discórdia 2019  (19.00 €, 88 pts.), é um vinho que já vai na sua terceira edição (sempre com muita procura e que entretanto já esgotou ;)) e que estagia em barricas grandes para preservar a fruta (frutos silvestres, cereja e ameixa), com notas complementares de caruma e um toque ligeiro de pimenta preta. Na boca é muito elegante, rico, estruturado e cheio de fruta madura. Percebe-se claramente o porquê de esgotar rapidamente.

As Tourigas da Discórdia tinto 2019Como já vos contei, todos os vinhos Discórdia têm origem na vinha de 10 hectares plantada na Herdade Vale d’ Évora, uma propriedade de 550 hectares integrada no Parque Natural do Vale do Guadiana, beneficiando de uma paisagem marcada por terrenos de ondulação generosa, vegetação autóctone e o rio Guadiana que a serpenteia. O Alentejo dá a estes vinhos fruta madura, concentração e estrutura, enquanto que o rio Guadiana lhe transmite aquela acidez e elegância que por vezes limita os "puro-sangue" alentejanos. É esta complementaridade, quer na prova, quer na escolha das castas para os lotes, que, para mim, melhor define os elegantes vinhos da Herdade Vale d’ Évora.