Brancos Casa Velha da Adega de Favaios | Orgulho e Preconceito
"A cada manhã, exijo ao menos a expectativa de uma surpresa, quer ela aconteça ou não. Expectativa, por si só, já é um entusiasmo. Quero que o fato de ter uma vida prática e sensata não me roube o direito ao desatino." Martha Medeiros
Todos (pelo menos aqueles que gostam de vinhos) conhecem a Adega de Favaios, uma das mais prestigiadas adegas de Portugal que, desde 1952, com o espírito de cooperativismo dos seus 550 associados aliado ao saber das “gentes de Favaios” potenciaram a produção da casta moscatel galego branco. É assim criada a designação de Moscatel de Favaios, um dos mais famosos e emblemáticos moscatéis portugueses, produzido com qualidade e rigor.
O que muitos não sabem, é que para além desse fortificado de excelência, a aldeia vinhateira dos moscatéis do Douro tem excelentes condições para a produção de brancos de altitude. As novas colheitas DOC Douro Casa Velha da Adega de Favaios, das quais vos falo hoje, evidenciam a vitalidade desta cooperativa de viticultores, 70 anos após a sua fundação.
O novo fôlego deste Douro preterido no passado (o planalto de Favaios ficou arredado da produção de Vinho do Porto durante quase duas décadas, entre 1935 e 1951) e hoje cada vez mais apreciado é, na realidade, um trabalho que já leva mais de 20 anos na Adega de Favaios.
A preocupação em manter a sustentabilidade da adega e responder à necessidade de produção dos associados justificaram a aposta nos vinhos brancos de qualidade superior. Para tal a equipa de enologia que iniciou funções em 2001 (Celso Pereira e Filipe Carvalho), incentivou os produtores locais a substituírem algumas das suas castas por outras mais adequadas ao planalto.
São elas o Viosinho, o Gouveio, o Gouveio Real, o Arinto, e o Rabigato –, sendo que actualmente está a ser também incentivada a plantação de castas quase desaparecidas como o Samarrinho e o Donzelinho Branco. Hoje, como já vos disse anteriormente, vou falar-vos de quatro vinhos produzidos por aquelas bandas.
Começo pelo Casa Velha Gouveio 2021 (5.75 €, 87 pts.) que, quanto a mim, tem um dos mais bonitos/originais rótulos da região. Antes de engarrafado sofreu uma maceração pré-fermentativa longa (até três dias) e mosto de sangria sem recurso a clarificação. A fermentação muito longa (15 a 20 dias) ocorreu em cuba de inox. O estágio foi também totalmente em inox.
É um vinho com uma cor citrina muito cristalina, é bastante exuberante e expressivo, com notas de pêssego, limonete, uma pitada vegetal e alguma pedregosidade, mas é na boca que este vinho se sente melhor: revelando autenticidade, franqueza e frescura, frescura e ... mais frescura.
Por sua vez, o Casa Velha branco 2021 (4.50 €, 85 pts.) é produzido a partir de uvas colhidas a uma altitude entre 600 e 700 metros, e contém uma pequena percentagem de Moscatel (20%), que contribui com o seu perfume para a harmonia do lote e combina muito bem com o Gouveio (40%) e Viosinho (40%). O vinho estagia depois entre três e seis meses (20% em barricas usadas e 80% em inox).
Apresenta uma cor citrina brilhante e é bastante mineral no nariz. Surgem também notas de pêra, ananás, lima e limonete. Na boca exibe intensidade, uma acidez viva e uma subtil untuosidade.
O Casa Velha Reserva branco 2020 (8 €, 89 pts.) é um lote com as castas Gouveio, Viosinho e Rabigato. É resultado de um estudo e selecção das melhores parcelas e clones, bem como de um acompanhamento mais próximo dos viticultores associados que fornecem as uvas. Para terem uma melhor noção de como é feita esta triagem, dos 550 associados, apenas 6-10 vêm as suas uvas incorporadas no Reserva ou no Grande Reserva.
Este esforço culmina na vindima manual para caixas de 20 quilos e, posteriormente, na selecção dos melhores lotes de vinhos. O estágio de um ano ocorre em barrica de terceiro ano (70%) e cuba de Inox (30%). É um vinho de cor cítrica bastante cristalina e que no nariz mostra damasco, limonete, anis e flor de laranjeira seca. Na boca pede, incessantemente, por comida e é estruturado, complexo e equilibrado. Para o preço que custa, este vinho é um achado!!!
Por último, o Casa Velha Grande Reserva branco 2019 (15 €, 90 pts.) é composto por uvas cuja selecção foi ainda mais criteriosa que no Reserva, e que incluem as castas Gouveio, Viosinho e Arinto, colhidas a uma altitude entre os 500 e 600 metros. Estagiou um ano em barricas de 1º e 2º ano (90%) e cuba de inox (10%). Tem uma cor amarela citrina, mais densa, quase já a querer fugir para o dourado, e uma fruta muito madura no nariz (alperce e laranja). A madeira (fumados e avelã) esconde um pouco essa fruta. No palato surgem apontamentos vegetais e o vinho mostra-se fresco, untuoso e muito equilibrado.
É pena que não se tenha dado um pouco mais de tempo a este Grande Reserva, porque ele tem tudo para crescer em garrafa. Há que guardar algumas na garrafeira... ;)
Confesso-vos que fiquei surpreendido pela qualidade destes brancos: frescos, equilibrados e genuínos. São vinhos como estes que estão a ajudar a derrubar o preconceito associando aos vinhos das Adegas Cooperativas. Se a vinha velha em field blend, é "vendida", com orgulho, também graças à complexidade e largura que potencia nos vinhos, algo parecido deveria de acontecer com estes Adega Blend!!! ;)