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No meu Palato

No meu Palato

AdegaMãe Terroir | Vinho (quase tudo) e cloreto de sódio

"A vida vai ficando cada vez mais dura perto do topo." Friedrich NietzscheAdegaMãe TerroirAs mais distintas expressões do terroir Atlântico da AdegaMãe, os vinhos especiais que nascem apenas em anos de excelência, com a marca AdegaMãe Terroir, têm agora novas edições no mercado.

2 (5).jpgA AdegaMãe anunciou no final do ano passado as colheitas AdegaMãe Terroir Tinto 2016 e AdegaMãe Terroir Branco 2017, confirmando assim o regresso dos vinhos topo-de-gama do projeto de Torres Vedras. 

AdegaMãe TerroirReferências que desvendam, ao mesmo tempo, uma nova imagem – um novo rótulo que é o culminar de todo o processo de rebranding iniciado na AdegaMãe em 2021. 

AdegaMãe Terroir“Este é um lançamento muito especial para nós, não apenas pelo que representa em termos de produto e de expressão máxima do nosso terroir, mas também porque é o último passo numa renovação de imagem que se estendeu a todas as nossas marcas e rótulos. Temos assim um novo rótulo, que vem acentuar ainda mais todo o caráter exclusivo destes vinhos”, afirma Bernardo Alves, CEO da AdegaMãe

AdegaMãe TerroirOs vinhos AdegaMãe Terroir impõem-se pela diferenciação. Nascem das barricas que mais se destacam no estágio em adega e que se impõem sobretudo pela originalidade. 

AdegaMãe Terroir“Mais do que procurar a expressão de determinadas variedades, ou mais do que procurar um determinado lote, nestes vinhos valorizamos, sobretudo, a expressão do terroir e a forma como é evidenciado o perfil genuinamente atlântico que nos difere”, afirma o enólogo Diogo Lopes.  

AdegaMãe TerroirSão vinhos que necessitam condições climatéricas quase perfeitas, assim como uma enologia de joelheira, e por isso é necessário saber esperar para que todos estes "astros" se alinhem. Neste sentido, o AdegaMãe Terroir Tinto 2016 é apenas a terceira edição desta referência (2013 e 2015), enquanto que o AdegaMãe Terroir Branco 2017 é a quarta edição (2013, 2014 e 2016). 

AdegaMãe Terroir O AdegaMãe Terroir Branco 2017 (49.00 €, 95 pts.) é composto por Viosinho e Arinto e resulta de desengace total, prensagem ligeira, decantação a frio, fermentação em barricas de carvalho francês de 400L e bâtonnage durante 12 meses.   

AdegaMãe TerroirDe porte amarelo ocre cristalino, exibe rebuçado de tangerina, maracujá, amêndoa, flores brancas, acácia-lima, salinidade, sílex, cera e fumo. Na boca é fresco, complexo, untuoso e muito longo.  É um belo branco que tem tudo para crescer (muito!!!) em garrafa. 

AdegaMãe Terroir Por sua vez, o AdegaMãe Terroir Tinto 2016 (49.00 €, 94 pts.) é um blend composto por Touriga Nacional, Touriga Franca e Carbernet Sauvignon, resultando de uma vindima manual para caixas de 18 kg, desengace total, maceração pré-fermentativa durante 2 dias, fermentação a temperatura controlada durante 15 dias, e estágio em barricas novas de carvalho francês durante 24 meses. 

AdegaMãe TerroirTraja um belo rubi-sangue opaco e tem um nariz cheio de frutos silvestres, cassis, cogumelos, trufa, cedro, pimento, rosas e grafite. Na boca é uma delicia: super elegante, polido, carnudo, encorpado, fresco, longo, especiado e equilibrado. 

AdegaMãe TerroirPara que os vinhos consigam atingir o nível que estes dois atingiram, não é apenas necessário as condições quase milagrosas dadas pelo terroir (de influência atlântica, que se traduz numa frescura e acidez muito particulares; ao mesmo tempo, promotor de uma excelente mineralidade, resultante dos solos predominantemente argilo-calcários) e a tal enologia de precisão, é também preciso um berço que os saiba embalar...

AdegaMãe TerroirE a AdegaMãe tem esse serviço de neonatalidade vínica: uma das adegas mais modernas do nosso país, onde a inovação surge, paulatinamente a cada canto com cubas de decantação vertical, fermentação com temperatura totalmente controlada e uma Sala do Tempo catalisadora da excelência, local onde os vinhos repousam, estagiam e envelhecem, com as condições perfeitas de luz, vibração/som, temperatura, pressão e ... tranquilidade.

AdegaMãe TerroirTudo isto coloca os AdegaMãe Terroir num patamar que poucos consegue chegar.  Friedrich Nietzsche defende que a vida vai ficando cada vez mais dura perto do topo, a prova destes vinhos contradiz esse filósofo/escritor/crítico alemão, pois neles a nobreza advém da delicadeza. Para além de tudo isso, são vinhos que combinam de forma quase perfeita a influencia atlântica, a complexidade, a estrutura, a fruta fresca e a tal acidez.    

Le Monument Restaurant | Entre o descobrir e o encontrar

“O fim duma viagem é apenas o começo doutra. É preciso ver o que não foi visto, ver outra vez o que se viu já, ver na Primavera o que se vira no Verão, ver de dia o que se viu de noite, com Sol onde primeiramente a chuva caía, ver a seara verde, o fruto maduro, a pedra que mudou de lugar, a sombra que aqui não estava.” Mark Twain

Le Monument RestaurantComeço por dizer que esta publicação demorou um pouco mais que as outras, não apenas por ser uma daquelas "que me dizem muito", mas também pelo facto do adorno cultural que para mim lhe faz sentido dar ... apenas foi "terminado" ontem. A Clarisse ofereceu-me no Natal passado o livro "Viagem a Portugal", de José Saramago, que me fez procurar mais livros sobres viagens escrito pelo Nobel da literatura português.

Le Monument RestaurantEncontrei "A Viagem do Elefante".  Começado a escrever em Fevereiro de 2007, "A Viagem do Elefante" acaba por testemunhar, na primeira pessoa, uma etapa bastante desagradável da vida de Saramago. É por esta altura que Saramago se confronta com um grave problema respiratório que o obriga, não só a suspender a sua actividade, como também a temer pela sua vida. 

Le Monument RestaurantContudo, e apesar das escassas esperanças que detinha, em Fevereiro do ano seguinte, o autor pôde retomar a escrita do livro, tendo-o terminado seis meses depois, já em 2008. Saramago morre passados 2 anos, Pilar, a sua esposa, refere muitas vezes que foi este livro que o manteve "preso" à vida por mais uns anos. 

Le Monument RestaurantVoltando ao livro, ele conta-nos uma história que se baseia em (alguns) factos reais. Em 1551, um elefante realizou uma viagem entre Lisboa e Viena, sendo escoltado inicialmente por oficiais de D. João III de Portugal, e mais tarde por subordinados do arquiduque Maximiliano da Áustria. O elefante Salomão e o seu mahout (treinador e tratador) já tinham anteriormente feito uma longa viagem marítima entre Goa e Lisboa, e permanecido alguns anos na capital portuguesa.  

Le Monument RestaurantEssa estadia é interrompida com o desejo do rei português em oferecer Salomão ao seu congénere austríaco, desejo esse induzido pela sua esposa Catarina da Áustria. Partindo de Lisboa, o elefante passa por Valhadolid em Espanha, Itália e pelos Alpes, até chegar finalmente a Viena. No romance, Salomão e seu mahout Subhro (a quem o arquiduque renomeia Fritz) percorrem todas essas diferentes latitudes, num ritmo forçadamente lento, acompanhados por vários funcionários e militares. 

Le Monument RestaurantAo longo do caminho encontram nómadas, aldeões e habitantes de cidades, que, de várias maneiras, vão procurar dar a sua interpretação subjectiva do súbito facto objectivo de um elefante ter entrando nas suas vidas. Essa narrativa da descoberta através das viagens, já havia sido usada antes por Saramago n'"A jangada de Pedra" (quando a Península Ibérica se separa da Europa e viaja pelo Oceano Atlântico), n'"O Ano da Morte de Ricardo Reis" (quando o protagonista passeia pela cidade de Lisboa), e no já referido diário de viagens "Uma Viagem a Portugal"

Le Monument RestaurantAssim, tal como nessas obras, a viagem do elefante funciona não apenas como um conceito espacial, mas também como uma forma de levar o leitor a um desvio pelos corredores da memória, da história e das interpretações forçosamente subjectivas de acontecimentos fracturantes. A escrita deste conto, como Saramago faz questão de salientar, teve como inspiração um restaurante na Áustria, chamado de “O Elefante”

Le Monument RestaurantSaramago admite que foi a decoração sui generis do restaurante, figurativa da história que mais tarde viria a escrever, que despertou a sua curiosidade para a criação da obra literária. Contudo, "A Viagem do Elefante" não é totalmente baseada em factos verídicos, como os que enunciei anteriormente. Paradoxalmente foi necessário ficcionar para que o leitor percebesse a verdadeira história real. 

Le Monument RestaurantPor tudo isto, este livro representa uma metáfora da vida humana, pois, tal como acontece com o elefante Salomão, também nós, seres humanos, parecemos não deter controlo sobre o nosso destino, como é expresso na citação do livro: “Sempre chegamos ao sítio aonde nos esperam”. Por vezes esse sitio corresponde ao que queríamos, noutras não. Por vezes esse sitio corresponde àquilo que esperavam de nós, noutras não. 

Le Monument RestaurantSem ser spoiller, pois Saramago revela logo esse facto na apresentação do livro,  o autor interessou-se pela história deste elefante devido ao fim que esse animal teve, quando depois de morrer lhe cortaram as patas para servir de bengaleiro à entrada do palácio de Maximiliano da Áustria, e de lá porem as bengalas, os chapéus, e as sombrinhas. 

Le Monument Restaurant Obviamente que devido a este final, o livro tem a ver com a morte, mas, tem sobretudo a ver também com aquilo que acontece depois. Foi esse aproveitamento caricato das patas dianteiras do elefante que impressionou o Nobel português. «Se não houvesse esse final, talvez não tivesse escrito o livro.» disse Saramago em 2008.

Le Monument Restaurant Pois é esse final impactante que põe em causa tudo o que Salomão viveu anteriormente, ou melhor, tudo aquilo que através de Salomão as outras pessoas aprenderam/visionaram/debateram/apreenderam. É nesta encruzilhada entre realidade e ficção que Saramago nos puxa para o centro do trama, atribuindo-nos a função de decidir se a interpretação de um determinado personagem é, ou não, genuína. 

Le Monument Restaurant Curiosamente, ou não, chegamos à conclusão que para percebemos, verdadeiramente, uma determinada realidade objectiva, por vezes precisámos de adornos ficcionais que elevem a verdade daquilo que pretendemos transmitir. Pois se não estamos no sitio onde os eventos ocorreram, necessitamos de ferramentas sensoriais que amplifiquem as nossas emoções. E isso tem tudo a ver com a cozinha do Chefe Julien Montbabut no restaurante gastronómico Le Monument (Maison Albar Hotels Le Monumental Palace), no coração do Porto.

Le Monument Restaurant Visitamos Le Monument Restaurant pela primeira vez em 2019 para celebrar o meu (vigésimo :P) aniversário e logo ali percebi que tinha condições para figurar entre os melhores da cidade invicta. Depois de vários anos no Le Restaurant do L'Hotel em Paris (onde conquistou uma estrela Michelin) e de passar dois anos a perceber, visitar e conhecer Portugal, o Chefe Julien Montbabut reinventou-se para nos passar a contar, de forma muito bonita, as suas histórias, aventuras e descobertas através de um menu de 14 momentos. 

Le Monument Restaurant Uma sublime viagem gourmet que combinava diversos sabores, texturas, aromas, produtos e produtores regionais, viagens, inspirações, estórias, contrastes e surpresas. Havia ainda uma bonita invocação das tradições gastronómicas lusitanas alicerçada no melhor savoir-faire da cozinha francesa. Um menu em que cada prato contava uma história e que no final nos deixa com algo bem característico do nosso país ... a saudade.

Le Monument Restaurant Tinha tudo para atingir as estrelas, no entanto,  a COVID-19 batia-nos à porta... Em 2021 regressamos ao Le Monument Restaurant. Aquele "novo" Le Monument não o fora o restaurante mais caro onde estive, nem fora restaurante onde me apresentaram os vinhos mais XPTO, também não fora o restaurante onde tive mais "mordomias", mas foi, indubitavelmente, o restaurante onde esteve mais vincada a origem da parte mais romântica das estrelas Michelin, aquela dos irmãos André e Édouard, aquela em que (ainda) acredito e cuja história podem encontrar aqui

Le Monument Restaurant À viagem/proposta gastronómica anterior, o Chefe Julien Montbabut acrescentou um passeio no restaurante, iniciando-se na sua fachada glamorosa, passando pela azáfama da cozinha, tendo os seus momentos mais altos na charmosa sala de jantar e podendo terminar, a pedido, na bela e acolhedora biblioteca. Como Saramago, Julien, começa o puxar-nos para o centro do seu enredo...

Le Monument Restaurant Nessa visita, defendi pela primeira vez que o restaurante merecia a estrela, e que se não a tivesse significava uma de duas coisas (se calhar até significaria ambas): ou que algo vai muito mal na área; ou então que eu não percebo mesmo nada disto e que a "minha lista para estrela Michelin" não tinha razão para existir... :P O Le Monument Restaurant ... não ganha a estrela em 2021!

Le Monument Restaurant Chegamos a 2022 e mal entro no restaurante percebo que está diferente. Lotado, com um serviço super detalhado e uma atmosfera requintado em que tudo parece ser feito ao ritmo sereno da musica ambiente. Também a proposta vínica parecia ter acompanhado esta elevação qualitativa, agora sob a batuta do sommerlier Diogo.  Estava já com a aura "Estrela Michelin". A viagem gastronómica, desta nova primeira vez, começou com o reconfortante  "Sentir-se Português" (pão folhado com flor de sal e azeite exclusivo Le Monument Vale de Vasco), que antecedeu a trilogia "Despertar dos sentidos" (bacalhau, vieira e cogumelos). 

Le Monument Restaurant Nela encontramos uma espécie de Bacalhau à Braga untuoso e fresco; o sal, o mar e uma ligeira vegetalidade da vieira; e notas térreas, riqueza aromática e diversidade de texturas dos cogumelos. Com o "Mercado de Matosinhos - o meu mercado favorito" chegou a cavala curada e caldo aromático que me remeteu para uma sardinhada em pleno S. João. Festividade essa que era contrabalançada por uma ligeira orientalidade organoléptica. 

Le Monument Restaurant D'"O clássico" já não posso dizer muito mais,  muito complexa (quer nos sabores quer nas texturas) e que nos remete para a riqueza do marisco, para a acidez adocicada do yuzo e para a cremosidade da mostarda Savora. O abacate coloca todas estas sensações a dançarem "no mesmo tom" no nosso palato. Tem uma nova roupagem que devolve a sapateira ao mar e lhe acrescenta mais texturas complementares. Os "Viveiros de Aveiro" ofereceram-nos ostra, vinagre de vinho tinto e uva, cuja prova conjunta criava um contraste super engraçado entre doçura e adstringência, ligados pela maresia e generosidade da ostra. 

Le Monument Restaurant  "Do fumeiro" surgiu uma inesperada enguia fumada Hardy, foie gras e toranja, que conjugava as notas que normalmente associamos a um fumeiro de carnes com a nobreza do foie e ao sabor intenso e acidulado da enguia. O "Arroz com origem" trouxe consigo arroz carolino, algas e uma manhã de nevoeiro com o mar agitado. ;) Muito mar, muita alga e muita untuosidade marítima proveniente da gamba. "Os Açores" (goraz, parmantier e caviar) brindaram-nos com um peixe super suculento, crocante na superfície, e que era elevado pela acção conjunta de dois molhos (parmatier e espumante). Muito rico, muito fresco, muito harmonioso. Seguiu-se "A Torrefacção" , que é talvez o prato mais arriscado de todo o menu de degustação. 

Le Monument Restaurant O pregado, os cogumelos e o café argumentavam entre si numa construção intrigante, funcionando o café adstrigente como elo de ligação entre a generosidade do pregado e o umami dos cogumelos. Provenientes de "Trás-os-Montes", o porco Bísaro, o milho e a mostrada encontraram num inusitado molho pesto o catalisador inesperado de aromas, texturas e sabores. Mais uma vez, e tal como havia sucedido em quase todas as propostas gastronómicas anteriores, a tradição, a memória e o sabor, foram simbioticamente realçados recorrendo a algo, que não parecia fazer parte do ramalhete gastronómico que se pretendia transmitir, no entanto, no final, é esse ramalhete que sobressai. 

Le Monument Restaurant Com lombo de borrego, alface e tâmaras foi construído um bonito "Pastoreio", um prato com tudo lá em cima: especiarias, sal, acidez, untuosidade e elegância. A redução contribuiu para balancear a adstrigência dos vegetais aliando-se à excentrecidade das tâmaras e à suculência do borrego. Conjuntamente, é promovida uma multiplicidade e densidade de sabores incríveis. A "Madeira" (água de maracujá e banana da Madeira) preparou o palato para as sobremesas "Da Joana".

Le Monument Restaurant Limão e eucalipto (original, fresco, balsâmico, irreverente); Marmelo e pêra (reconfortante, com memórias, quase caseiro); e Chocolate e laranja. Esta ultima proposta com diversos tipos, texturas e intensidades de chocolate, era camaleónica e bastante heterogénea na prova, pois a cada momento iam surgindo diversos sabores, contrastes, intensidades e harmonias. É um autêntico hino a este nobre e muito apreciado produto. Terminava assim, mais uma sublime viagem gourmet que, tal como nas anteriores, combinou diversos sabores, texturas, aromas, produtos e produtores regionais, viagens, inspirações, estórias e contrastes, mas, desta vez, tinha mais alguma coisa.  

Le Monument Restaurant Uma certa "arrogância" abnegadamente engenhosa, demonstrada em diversos elementos surpreendentes ao longo do menu, que só pode ser (o)usada por quem sabe o que está a fazer. E o Chefe Julien Montbabut sabe muito bem o que está a fazer. Recorre a ingredientes inusitados, por vezes quase que parecendo deslocados, para nos pôr no centro das suas criações gastronómicas, e com isso nos transmitir a sua verdade acerca do canône gastronómico lusitano.  É nessa irreverência resultante de uma sabedoria de experiência feita, de visita a produtores, mercados e lavradores, que separa o descobrir do encontrar. Como defende Saramago, há uma grande diferença entre as duas. Viajar pela gastronomia portuguesa com algo que lhe acrescente algo, com algo que a torne perceptível ou apetecível, isso sim é descobrir, o resto é simplesmente encontrar.

29 (1).jpgEscusado será dizer que o Chefe Julien Montbabut e o seu Le Monument Restaurant ganharam (finalmente) a estrela Michelin em 2022, quanto a mim um ano mais tarde do que aquilo que era merecido. No entanto, há males que vêm por bem. Se não fosse o final de 2021 (sem estrela), e tal como aconteceu no livro do elefante, provavelmente a história de 2022 não interpretaria a diferença entre o descobrir e o encontrar.

A estrela é também um prémio muito merecido para o Diogo Matos e para toda sua equipa. Sei que estão a preparar coisas novas, com a arte e engenho que já demonstraram, a história só pode correr bem!!!

Parabéns, foi um gosto ver-vos crescer ;)

A "nova" Quinta da Rede | Quando se faz uma panela

"Ambas as coisas baseiam-se na novidade, mas, ao passo que a originalidade é a novidade no campo mental, a singularidade é a novidade no campo emotivo. Um grande poeta pode não ser, psicologicamente, um «caso» curioso; pôde sê-lo um poeta de menor relevo. O primeiro é forçosamente mais original; o segundo evidentemente mais singular." Fernando Pessoa

A "nova" Quinta da RedeSerá que a crise de 2008; a prisão em 2013 do mais famoso falsificador de vinhos do mundo - o indonésio Rudy Kurniawan; e a reforma de Robert Parker em 2016 têm alguma coisa com o "reposicionamento" da marca Quinta da Rede no Douro? Na minha cabeça sim!!! ;) Estamos no inicio da Primavera de 2008: a 14 de Março o Bear Stearns, o quinto maior banco de investimento dos EUA, teve que recorrer à Reserva Federal e ao JP Morgan para conseguir fundos de emergência que evitassem a sua falência; a 25 de Abril um grupo de coleccionadores de vinho reúne-se no restaurante Cru de Nova Iorque para um leilão organizado por Rudy Kurniawan. 

A "nova" Quinta da RedeEstes dois acontecimentos dariam origem a autênticas hecatombes, quer no mundo financeiro, quer no mundo vínico. O primeiro levou ao aumento conjunto do crédito mal parado, dos juros e da inflação. O segundo fez com que Laurent Ponsot, proprietário do Domaine Ponsot, uma das mais importantes casas da Borgonha, aparecesse no restaurante Cru para interromper o leilão de garrafas Domaine Ponsot, alegando, entre outras coisas, que uma garrafa de Clos de la Roche 1929 era falsa, pois a sua casa apenas começou a produzir essa referência em 1934!!!

A "nova" Quinta da RedeEm poucos meses, a economia mundial estava de cocaras devido à crise financeira e a maior parte dos grandes coleccionadores perceberam/aceitaram que tinham sido burlados. A falta de liquidez e a percepção (em alguns casos dolorosa) que nem sempre o vinho mais caro é o melhor vinho, originou um admirável mundo novo nos vinhos, não determinado pelo status e muito mais democrático, heterogéneo e diversificado do que o anterior.

A "nova" Quinta da RedeUns anos mais tarde, em 2016, Robert Parker reforma-se... O mais famoso critico de vinhos que, quase sempre, criava uma proporcionalidade directa entre extracção/grau alcoólico/madeira e boas classificações,  abria assim caminho para a "desparkerização" dos vinhos. 

A "nova" Quinta da RedeDeste modo, em 2016 (e com as taxas de incumprimento das hipotecas a rondar os 10% na Europa-Estados Unidos da América), os grandes vinhos da Europa (Ponsot, Domaine de la Romanée Conti, Petrus e Comte de Vogüe) assim como alguns portugueses (Barca-Velha, Pera-Manca, Portos e Madeiras) encontram como "canal escoador" a Ásia, principalmente a China: de novo com o status como foco dinamizador. A solução para aqueles que procuravam vinho de qualidade (para o beber e não para o coleccionar) passou a ser a descoberta de novos vinhos e novas regiões. 

A "nova" Quinta da RedeTudo isto provocou mudanças dogmáticas, globais e dramáticas. Os estilos de vinho em quase todas as regiões mundiais evoluíram rapidamente, e um pouco por todo o mundo essa mudança levou a vinhos mais leves, mais frescos e mais vinculados ao terroir e não tanto à madeira. É também por esta altura que o status quo dos grandes vinhos europeus é posto em causa. Estaremos a pagar o vinho ou o rótulo?

A "nova" Quinta da RedeToda esta sequência de eventos, que algures ali pelo meio chegou a parecer catalítica, caótica e irracional, cria uma janela de oportunidade: a valorização de vinhos elegantes e que entreguem ao nosso palato singularidades do sitio onde nasceram. Os novos enófilos não procuravam tanto a originalidade pois essa poderia ser uma construção artificial no campo mental por parte da equipa de enologia, mas antes a singularidade que acrescentava algo no campo emotivo. E tudo isto, tem muito a ver com a "nova" Quinta da Rede.

A "nova" Quinta da RedeA Quinta da Rede é propriedade de José Alves desde 1995. Tem 19 hectares e vinhas a uma altitude entre os 100 e os 500 metros. Integrou a região do Douro mesmo antes da demarcação pombalina. O registo histórico mais antigo referente a esta propriedade na margem direita do rio Douro, entre Mesão Frio e a Régua, data de 1484.

A "nova" Quinta da RedeProcura agora devolver-nos o primeiro Douro, o do Baixo Corgo, e resgatar o Marão, a serra esquecida do Douro vinhateiro Património da Humanidade. A estreia do novo ciclo deste projecto de Mesão Frio faz-se de vinhos de parcela que contam com a assinatura de Paulo Nunes. 

A "nova" Quinta da RedeÉ a gama premium dos vinhos Quinta da Rede que tem por missão resgatar esse Douro mais fresco. Fazem parte dessa equipa de "elegantificação" o rosé, o branco da Vinha do Pinheiro, o tinto da Vinha da Seara, o monocasta Sousão e o Porto Vintage 2018. Estes vinhos são produzidos na adega própria da Quinta, bem equipada com lagares de inox robotizados, sistema de frio e outros apetrechos tecnológicos de apoio à enologia, que conta ainda com Jorge Cardoso, enólogo permanente do projecto.

A "nova" Quinta da RedeO Quinta da Rede Rosé 2021 (17.90 €, 89 pts.) é constituído por  Touriga Nacional (60%), Touriga Franca (15%) e Tinta Amarela (25%), e resulta de uma vinificação com cacho inteiro e prensagem pneumática muito suave, aproveitando-se apenas o mosto de gota. Metade fermentou em inox a 15ºC, a outra metade em barricas novas de carvalho francês. Em ambos os casos, houve agitação das borras finas no pós fermentação. O resultado é um vinho de cor rosa-salmão com notas de amoras, morangos, pedra de isqueiro e fumo. Na boca é fresco (quase a remeter-nos para os verdes), untuoso, crocante e muito equilibrado.

A "nova" Quinta da RedeJá o Quinta da Rede Vinha do Pinheiro 2019 (40.00 €, 93 pts.) é um branco incrível. Surge após uma vinificação com selecção manual das uvas à entrada da adega, desengace total, maceração pelicular a frio de 8 horas, prensagem pneumática suave, seguida de fermentação em barricas de carvalho francês com tosta ligeira a temperatura controlada de 15ºC. O estágio ocorre por 12 meses "sur lies" em barricas novas de carvalho francês de 500L. Amarelo citrino esverdeado, emana damasco, compota de laranja, acácia-lima, fumo, pedra partida e alguma tosta. Na boca pede incessantemente por comida: é fresco, avolumado, largo, longo e muito equilibrado. Precisa de uns bons anos em garrafa para se mostrar em todo o seu esplendor.

A "nova" Quinta da RedePor sua vez o Quinta da Rede Vinha da Seara Tinto 2019 (40.00 €, 92 pts.) tem origem numa vinha tradicional do Douro situada na encosta do Marão, a 450 metros de altitude, e é um lote com grande diversidade de castas regionais: Touriga Nacional, Tinta Roriz, Touriga Franca, Tinta Barroca, Mourisco da Semente, Alicante Bouschet, Touriga Fêmea, Tinto Cão, Tinta Amarela, e Preto Martinho, entre outras. A fermentação ocorreu em lagar tradicional robotizado a 26ºC durante 10 dias, seguido de 14 meses de estágio em barricas novas de carvalho francês de 300 litros. De cor encarnada-rubi, tem um nariz muito bonito com ameixa, fumo, pedra partida, sous bois, mato e esteva. Na boca é muito elegante, exibindo taninos por camadas, verticalidade, secura e complexidade.  

A "nova" Quinta da Rede

Ainda nos tintos, o Quinta da Rede Sousão (20.00 €, 90 pts.) é oriundo de vinha localizada na encosta da serra do Marão, a 400 metros de altitude, virada a norte. Fermentou em lagar mecânico a 26ºC durante 10 dias, seguindo-se estágio de 16 meses em barricas novas de carvalho francês de 500 litros. De cor rubi opaca carregada mostra no nariz muito sous bois, ameixa, mirtilos e cerejas. Na boca seduz pela sua frescura viva, austeridade, taninos suaves mas estruturados, intensidade e profundidade.

A "nova" Quinta da RedePor último, o Quinta da Rede Porto Vintage 2018 (60.00 €, 92 pts.) é dedicado a Bernardo e Benedita, a mais recente geração da família de José Alves, e é uma celebração destes laços inquebráveis que unem as terras e as pessoas, através de uma paixão que se transmite de pais para filhos. Rubi denso no traje, este belo Porto está cheio de frutos silvestres, lagar, lavanda e esteva. Na boca é super fresco, moderadamente doce, delicado e com taninos (quase) indomáveis.

A "nova" Quinta da RedeNo Douro costuma-se dizer que “Quando se faz uma panela faz-se (logo) um testo para ela.” O testo para este terroir é claramente esta elegância, esta frescura, esta acidez, esta singularidade que nos deixa o palato salivante. Tudo o resto é maquilhagem desnecessária e desvirtuadora. Em retrospectiva, aqueles que de nós estavam insatisfeitos com a sobrematuração dos vinhos que os tornavam demasiado maçudos, acabamos por ser beneficiados por uma cadeia de eventos que culminou no lançamento de vinhos como aqueles que vos falei hoje. Que tenhamos aprendido com os erros. Estamos num caminho (bastante) melhor, que não voltemos a substituir a caneta BIC pela Parker... ;)

 

Alibi by YoursPorto | Um copo com ócio criativo

“Aquele que é mestre na arte de viver faz pouca distinção entre o seu trabalho e o tempo livre... Distingue uma coisa da outra com certa dificuldade. Almeja, simplesmente, a excelência em qualquer coisa que faça, deixando aos demais a tarefa de decidir se está a trabalhar ou a divertir-se.” Domenico De Masi

Alibi by YoursPortoAqui há uns anos, o então presidente dos Estados Unidos da América Donald Trump, sem querer, iniciou um debate sobre a importância do ócio para a criatividade/felicidade das pessoas. Por certo estarão recordados da vontade de Trump em querer proibir computadores a bordo dos aviões de algumas companhias aéreas provenientes do médio Oriente e que voassem para os Estados Unidos. Tudo isto por razões de segurança...

Alibi by YoursPortoA companhia aérea Royal Jordanian, com medo dos expectáveis prejuízos (na ordem dos biliões de dólares), cedo respondeu com a criação de um kit que oferecia aos seus passageiros “12 coisas para fazer num voo de 12 horas sem tablet ou laptop”. A número 11 dessa lista era ... “analisar o sentido da vida”.

Alibi by YoursPortoSe pensarmos bem não há nada inerentemente engraçado nessa sugestão, no entanto, essa ideia parece-nos apenas uma brincadeira pois a contemplação silenciosa da nossa vida num voo transcontinental quando comparada com as maravilhas que o mundo tecnológico e conectado tem para nos oferecer, soa a pouco.

Alibi by YoursPortoO problema é que foi sempre a ausência de trabalho o catalisador dos pensamentos sobre a vida dos nossos antepassados, desde há milhares de anos. No entanto, hoje em dia, os momentos livres são preenchidos com o uso de nossos smartphones, tablets e portáteis que nos permitem navegar nas redes sociais, ler blogues (olá, não deverias de estar a pensar na vida? ;)) ouvir podcasts, e responder a e-mails, deixando pouco tempo para as nossas mentes (di)vagarem. 

Alibi by YoursPortoTudo isto pode-vos apenas parecer um detalhe na vida digitalizada que levamos, no entanto o seu efeito a longo prazo, no modo como nossas mentes funcionam, pode ser um pormaior. Na verdade, essa obsessão por estarmos sempre ligados pode prejudicar a nossa capacidade para ter ideias novas/inovadoras e resolver problemas inesperados.

Alibi by YoursPortoEm 2012, alguns cientistas da Universidade da Califórnia nos Estados Unidos da América descobriram que a distração, o ócio e a realização de tarefas não digitais permitia uma solução mais criativa e rápida de problemas (basicamente quando se pretendia que dois grupos resolvessem um determinado problema, fazendo com que um dos grupos pudesse imediatamente pesquisar tudo na internet e o outro aguardasse pelo menos uma hora antes de começar a tentar solucionar o problema, o grupo inicialmente atrasado completava a tarefa primeiro).

Alibi by YoursPortoA história está repleta dessas ligações, por vezes quase anedóticas, entre devaneios e criatividade. Desde Einstein a Linus Pauling vencedor do prémio Nobel da Química de 1954, passando por Art Fry, o inventor do post-it. Estes e muitos outros dos grandes pensadores do mundo adoptaram o ócio como dínamo da originalidade e foco. 

Alibi by YoursPortoMas não é preciso sermos génios ou filósofos para recebermos as benesses desse ócio criativo. Talvez já tenham notado que as vossas melhores ideias surgem (quase sempre) depois de um banho, de uma caminhada, de um copo de vinho ou de uma viagem desconectada.

Alibi by YoursPortoDomenico De Masi, um sociólogo italiano famoso pela criação do conceito de "ócio criativo", defende que quando deixamos a nossa mente vaguear, permitimos que ela consiga aceder a memórias, emoções e pedaços aleatórios de todo o conhecimento que temos armazenado. 

Alibi by YoursPortoAssim o "sonharmos acordados" é um espécie de compactação do nosso "disco interno" de memórias e conhecimentos, que possibilita que ele funcione melhor e seja capaz de visualizar e simular a sua própria versão dos eventos. Essa mais valia, ajuda-nos invariavelmente na obtenção de uma nova perspectiva sobre um problema ou então na vinculação de dois pensamentos anteriormente desconexos que nos conduzem a uma ideia original.

Alibi by YoursPortoCuriosamente (ou não, caso contrário não estaria a contar esta história para introduzir esta publicação :P) Domenico de Masi defende que essa "ociedade" criativa pode ser potenciada pelo nomadismo sensorial associado aos vinhos e à gastronomia. Normalmente quem gosta de vinhos e gastronomia, quem gosta de os combinar, quer sempre mais novidades, pois está à procura de novos sabores, novas harmonizações, novas descobertas, e isso para Domenico é o que faz estreitar a linha que separa o trabalho da diversão. Quanto mais ténue for essa linha mais criativos e originais seremos.

Alibi by YoursPortoÉ claro que esse estreitar de linhas tem de ser responsável, pois só assim o ócio criativo pode conciliar 3 pilares que sustentam uma determinada profissão: o trabalho com o qual criamos a riqueza; o estudo com o qual criamos conhecimento; e o lazer com o qual criamos a alegria e o nosso bem-estar. Desta ultima, dependem as primeiras.

Alibi by YoursPortoTendo em conta estes conselhos de Domenico De Masi vou recomendar-vos um lugar, que junta passeio, gastronomia e vinhos, tudo para que possam potenciar o vosso ócio criativo:  o Alibi by YoursPorto

Alibi by YoursPortoCom tudo isto, da próxima vez que o/a vosso/vossa companheiro/companheira disser que estão a gastar demasiado dinheiro em vinho, podem refutar essa ideia dizendo que apenas estão a investir na carreira... ;)

Alibi by YoursPortoCriada em 2012, a YoursPorto combina a sua experiência em turismo, alojamento, comunicação e gestão para proporcionar experiências e oportunidades únicas a todos aqueles que visitam ou querem investir no Porto. Nesse âmbito criou na Rua dos Caldeireiros um espaço que junta três dimensões ligadas ao ócio: o vinho, a restauração e a hotelaria. 

Nos vinhos, o Alibi The Wine Spot procura acrescentar ao restaurante, uma nova área exclusivamente dedicada a este universo que tanto nos fascina. O novo espaço, que integra um wine bar e uma garrafeira, pretende afirmar-se como um local de referência para todos aqueles que queiram descobrir o melhor que cada região do país tem para oferecer em termos vínicos. 

Alibi by YoursPortoDando primazia aos vinhos nacionais, o Alibi The Wine Spot conta na sua carta com mais de 150 referências, de várias regiões do país, havendo também lugar para propostas de vinhos provenientes de países como Itália, França ou Alemanha. Todas as referências estão disponíveis em garrafa ou a copo, com a possibilidade de os clientes levarem também o vinho para casa, a preço de garrafeira.

Alibi by YoursPortoNo que diz respeito às provas temáticas, a carta integra, neste momento, sete propostas distintas (a partir dos 25€ por pessoa): quatro que convidam à descoberta dos vinhos fortificados e três dedicadas aos vinhos tranquilos e às especificidades de cada região. Uma vez por mês, o Alibi Wine Spot organiza também provas comentadas, com a presença de produtores convidados, onde qualquer pessoa pode participar de forma gratuita.

Alibi by YoursPortoQuanto a mim, a mais valia do Alibi Wine Spot é que devido à diversidade de vinhos/regiões/perfis colocados à disposição dos clientes é muito fácil criar uma prova ad hoc que corresponda aos gostos do consumidor ou então uma que o surpreenda com a sua casta favorita plantada numa região inesperada.  A titulo de exemplo, gostei  muito da mineralidade, tosta, acidez acutilante e untuosidade do Página Encruzado 2021, um DOC Óbidos.

Alibi by YoursPortoPara acompanhar todos estes vinhos, o wine bar apresenta uma carta própria de petiscos, onde se podem encontrar as mais diversas sugestões, das quais destacamos a Tábua de queijo da serra e presunto bísaro laminado, a Ceviche de robalo, e oTártaro de novilho. Todos eles assentes em ingredientes da máxima qualidade.

Alibi by YoursPortoQuanto ao restaurante, o espaço foi inaugurado em 2020 mas, com a chegada da pandemia, mal teve tempo de se apresentar à cidade. Reabriu portas em 2021, com a combinação perfeita: uma cozinha de confeção simples, mas surpreendente, um ambiente acolhedor, um serviço de proximidade e um segredo que merece ser revelado: uma vista privilegiada e envolvente sobre o centro histórico do Porto, que não deixa ninguém indiferente.

25 (1).jpgPosicionando-se como um espaço que faz a apologia dos bons momentos à mesa, o Alibi apresenta uma carta pensada para proporcionar esse convívio à volta dos pratos, com propostas que convidam à partilha de sabores. A qualidade dos ingredientes e o respeito pelos sabores autênticos são os traços distintivos da gastronomia que aqui se pratica, com a criatividade do Chefe a fazer-se notar em combinações inesperadas ou em detalhes que marcam a diferença.

Alibi by YoursPortoA carta é extensa mas existem cinco propostas gastronómicas que merecem ser destacas.  O Polvo exibia uns tentáculos crocantes por fora, quase que levemente confitados, e por dentro gulosamente tenros e suculentos. Os grelos, o alho e alecrim conferiram um fundo vegetal, fresco e perfumado. Por sua vez o Tomahawk maturado 30 dias passeava pela nossa mesa uma crocância fumada exterior e um suco muito rico aprisionado no interior. O Puré de cebola roxa, o Puré de batata doce, os Legumes salteados, a Batata gratinada com queijo Brie e o Arroz de forno são acompanhamentos que devem experimentar... ;)

Alibi by YoursPortoNas sobremesas o Toucinho do céu com gelado de abacaxi, a Pêra cozida em açafrão e especiarias com espuma de requeijão e telha de chocolate negro, e o Fondant de chocolate com espuma de maracujá e sorbet de framboesa são apostas certeiras, se bem que a pêra se destaca na originalidade, risco e complexidade. Tudo isto, é claro, podendo ser harmonizado com alguns dos melhores vinhos do país.  

Alibi by YoursPortoPor último, no mesmo edifício do restaurante e da garrafeira/wine bar, situa-se ainda a Alibi Guesthouse, outro projeto do grupo YoursPorto, com nove quartos que oferecem a mesma vista única sobre a cidade e todo o conforto necessário para uma estadia a dois ou em família em pleno centro histórico do Porto. Esta guesthouse permite a tal fuga da rotina quotidiana tão importante para o nosso bem estar, pois possibilita que se tire um fim-de-semana para os vinhos e para gastronomia com o garante de uma cama super confortável a apenas 30 segundos de distância.

Alibi by YoursPortoE é esse o melhor elogio que posso tecer ao Alibi by YoursPorto, o de nos permitir imergir no mundo dos vinhos nas suas múltiplas dimensões: desde a prova na garrafeira, até à harmonização no restaurante, passando por um copo de espumante no pequeno almoço (generoso, diverso, rico e completo). Este é um espaço com visita obrigatória para quem, como eu, se gosta de perder encontrar nesse mundo.

Alibi by YoursPortoNuma das ruas mais típicas da Baixa do Porto, o Alibi by YoursPorto (e tudo o que ele engloba: guesthouse, restaurante e wine spot) quer afirmar-se como um espaço de experimentação onde as pessoas possam descobrir o que de melhor se faz ao nível da gastronomia e vinhos no nosso país. Experimentação essa, que segundo Domenico De Masi, fará com que encaremos a vida com mais originalidade, menos peso mais e felicidade: ora aí está um bom alibi para bebermos vinho ;)

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022 | O Natal escondido num passo de dança

“Este foi o Natal mais maravilhoso que já tive. Estávamos nas trincheiras na véspera de Natal e, por volta das 20h30, os tiros quase que se silenciaram. Então os alemães começaram a gritar para nós «feliz Natal» e também a colocar muitas árvores de Natal com centenas de velas nos parapeitos das suas trincheiras.” Capitão Leon Harris,  do 13º Batalhão do regimento de Londres, 1914

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022Numa noite gelada, escura e estrelada de 24 de Dezembro estava prestes a acontecer um milagre, e não, não estou a falar do nascimento do menino Jesus em Belem, antes sim, de uma outra noite, 1914 anos depois, em Ypres, na Bélgica. Os soldados britânicos e franceses, primeiro, começam a perceber que os alemães estavam a diminuir a intensidade dos disparos, a noite torna-se mais silenciosa, até que começam a ouvir  primeiro “O, Holy Night”, e depois o “God save the King”.

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022Nas trincheiras britânicas começam a surgir teorias para estes estranhos acontecimentos. Terão os alemães enlouquecido? Estarão bêbados? Será uma manobra de diversão premonitória de uma emboscada? Na busca de mais informação, alguns soldados Aliados erguem as cabeças para fora das trincheiras (pela primeira vez em semanas), tentam focar as trincheiras adversárias (tarefa difícil devido à noite escura) e o que veem fazem-nos coçar os olhos de tanta surpresa. 

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022Começam a erguer-se árvores de Natal iluminadas com velas nos parapeitos das trincheiras alemãs. Depois, um grito interrompe este clima misterioso: "Se você não dispararem, nós também não disparamos”. A medo, ambos os lados prometeram não disparar durante 24 horas, para celebrar o Natal de copo de vinho na mão. 

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022Este bonito acontecimento ficaria conhecido na história como "A Trégua de Natal", um cessar-fogo breve e espontâneo que se espalhou pela Frente Ocidental no primeiro ano da Primeira Guerra Mundial. Passou também a ser um símbolo da paz e da boa vontade para com os humanos, muitas vezes ausente não apenas na frente de batalha, mas na nossa vida quotidiana.

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022É hoje historicamente aceite que os soldados rivais chegaram mesmo a trocar vinho, cigarros, pão e presunto, em plena guerra, na véspera de Natal de 1914. Muito menos importante do que tudo o que disse anteriormente, a "A Trégua de Natal" é também uma daquelas ocasiões em que melhor se percebe a importância do vinho, não só nos momentos de celebração mas também em todas aquelas outras dimensões que fazem de nós humanos: a partilha, a confraternização, a união, os afectos. 

The Yeatman Christmas Wine Experience 202225 anos depois, na segunda Guerra Mundial, Winston Churchill, então primeiro-ministro do Reino Unido, reforça essa ideia ao referir aos seus soldados num discurso motivacional que "não é apenas por França que estamos a lutar, fazemo-lo também por Champagne!!!" Curiosamente, nesta segunda Guerra Mundial ocorre também uma trégua de Natal, bem menos mediática e também com menos participantes. (Para lerem coisas que já toda a gente sabe, estariam a ler outros blogues, não é verdade? :P)

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022Essa é a história de Fritz Vincken, um jovem alemão de 12 anos, que se mudou com sua mãe para uma pequena cabana na floresta de Huertgen, na Alemanha, logo após a sua cidade natal, Aachen, ter sido parcialmente destruída numa ofensiva americana. Mesmo na floresta, Fritz e a mãe continuavam a ouvir o incessante estrondo dos canhões de guerra, o barulho ensurdecedor dos motores dos aviões que sobrevoavam continuamente a zona, e  à noite, e encandeavam-se com os holofotes que perfuravam a escuridão na busca por inimigos.

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022Na véspera de Natal de 1944, Fritz e a sua mãe ouviram alguém a bater na porta de sua casa: eram três soldados americanos, um deles, muito jovem e gravemente ferido. Apesar de não falarem a mesma língua, Fritz e a mãe deram-lhes abrigo, conforto e comida quente.  Enquanto comiam tentando comunicar com sons e gestos, ouviram de novo alguém a bater na porta. Seriam mais soldados americanos? Na verdade eram soldados, mas ... alemães!!!

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022Fritz gelou de medo pois sabia bem que abrigar soldados inimigos constituía uma alta traição à pátria e que resultaria, inevitavelmente, em fuzilamento. Os soldados alemães informaram-no que precisavam de abrigo e comida pois haviam-se perdido do seu batalhão. A mãe de Fritz surgiu então à porta e disse: "Claro que podem entrar, descansar, aquecerem-se e ter uma refeição quente até a panela ficar vazia. Serão tratados como família. Mas, aviso-vos que temos outros três convidados, que vocês poderão não considerar amigos. É véspera de Natal e não quero um banho de sangue aqui".

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022Percebendo que não tinha convencido completamente os soldados alemães, a mãe de Fritz acrescenta que "vocês poderiam ser meus filhos, e eles também. Há um menino, apenas isso, um menino com um ferimento de bala, a lutar pela vida no sofá da nossa sala, e seus dois amigos, tão perdidos como vocês, tão famintos quanto vocês, tão exaustos quanto vocês, encontraram conforto nesta casa. Nesta noite, especialmente nesta noite, véspera de Natal, vamos esquecer o que nos separa e comemorar o que nos une". 

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022Logo depois um dos soldados alemães retirou da mochila uma garrafa de vinho (de novo o vinho) e outro um pão de centeio dizendo "vamos lá então celebrar o Natal com esses ca***** dos americanos, até amanhã não há inimigos". No dia seguinte, despediram-se e cada grupo seguiu a direcção do seu batalhão. Se quiserem saber um pouco mais desta história podem encontra-la, na integra, aqui.

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022Mais uma vez, o vinho uniu aquilo que a bala separou. E quando pensamos em Natal, vinho e celebração, o que é que surge imediatamente nas nossas cabeças? Na minha, a resposta é quase um reflexo de Pavlov: O Christmas Wine Experience do The Yeatman é claro ;) Evento que na edição deste ano contou com um Tawny (vai ter 100 pontos no blogue) que resultou de uma selecção de vinhos raros envelhecidos em madeira nas caves Taylor’s, alguns dos quais desde a altura destas duas guerras.

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022A experiência gastronómica deste ano foi alargada com a presença de alguns dos petiscos mais renomados da cidade, como o presunto da Casa Ibérica, ou as Ostras da Madrepérola, preparadas ao momento, entre outras propostas do Chefe Ricardo Costa para confortar o palato. Por falar em ostras, o Quinta de San Joanne Espumante Grande Reserva Brut Nature 2011 (30 €, 91 pts.) com as suas notas a pão tostado, lima, laranja cristalizada, pinho, pedra molhada e austeridade fina foram a harmonização perfeita.

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022Nessas inúmeras propostas gastronómicas, a que mais gostei foi o conforto, a generosidade e a riqueza das Tripas à moda de Gaia, acompanhadas pela ameixa vermelha, pimenta preta, sous bois, resina, tabaco, pujança, equilíbrio, complexidade e elegância do Quinta da Gaivosa 2019 (40 €, 93 pts.). É claro, que também haviam as iguarias típicas da quadra, como o buffet de queijos e enchidos e a vasta selecção de sobremesas, chocolates, bombons e trufas, da autoria da equipa de pastelaria de hotel. 

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022Mas, como já vem sendo tradição, no Christmas Wine Experience 2022, as estrelas foram mesmo os vinhos apresentados na primeira pessoa pelos produtores e enólogos, numa selecção exigente, cuidada, e pensada em parceria com a directora de vinhos do The Yeatman Elisabete Fernandes

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022

Nos brancos destaco a toranja, avelã, algas, pedra molhada, sílex, untuosidade, frescura e austeridade do  Listrão dos Profetas “Vinho do P. Santo” 2020 (55 €, 92 pts.); a toranja, flor de limoeiro, pedra partida, pureza, intensidade e incrível acidez do Valados de Melgaço 5º aniversário Grande Reserva 2016 (40 €, 93 pts.); os espargos, maracujá, baunilha, mineralidade pedregosa, frescura e salinidade do Vicentino Reserva Branco 2020 (21 €, 90 pts.); e a toranja, flor de limoeiro, flores silvestres, frescura, equilíbrio e complexidade do  Scala Coeli Reserva Branco 2020 (Viosinho) (35 €, 92 pts.). 

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022Nos tintos gostei muito dos frutos silvestres, framboesas, pinho, violetas, esteva, pimenta preta, elegância, ponderação e equilíbrio do  Quinta da Romaneira Reserva 2017 (50 €, 94 pts.); da ameixa preta, arandos, violetas, baunilha, caixa de tabaco, cedro, perigosidade, intensidade, concentração e complexidade do Bulas Grande Reserva 2011 (45 €, 92 pts.); e dos frutos silvestres, ameixa seca, esteva, tinta da China, pedregosidade, taninos carnudos, complexidade, estrutura, persistência e finura do  Quinta Nova Vinha Centenária - Ref P29/P21 2019 (90 €, 95 pts.)

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022Passando para os Madeira (em menor número e qualidade que em anos anteriores), destaco o Barbeito Single Harvest 2008 Meio Seco (25 €, 92 pts.) e a sua resina, damascos, compota de limão, telha de amêndoa, chá Earl Grey, frescura e acidez; o Blandy's Malmsey 2007 (50 €, 93 pts.) e o seu marmelo, compota de pêssego, casca de laranja cristalizada, noz, frescura e acidez equilibrada; e o Barbeito Malvasia-Cândida Reserva Especial (80 €, 94 pts.) carregado de melaço, avelãs, amêndoas torradas, caramelo e uma boca super equilibrada. 

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022Passando para os Porto, começo com três deste mundo para depois vos falar de um vinho de outra constelação :P O Taylor´s Vintage 2003 (150 €, 99+ pts.) estava cheio de café, café, baunilha, chocolate, caixa de tabaco, ameixas secas, cerejas, uvas passas, pimenta preta, taninos refinados e precisão (apesar de ainda estar aí para as curvas, este vinho já dá um enorme prazer na prova com a mistura dos aromas primários com os terciários); por sua vez o Fonseca Guimaraens Vintage 2001 (100 €, 95+ pts.) exibia um bouquet muito bonito (e pronto, acredito que não melhora muito mais) com ameixa seca, cacau, bolo de noz, canela e uma acidez que equilibrava todo o conjunto; e o Graham’s Single Harvest 1997 (130 €, 96 pts.) que mostrava uma combinação incrível entre a fruta (ameixa, uvas passas e figos) e as notas da barrica (baunilha, caramelo, mel, amêndoas, noz, charuto, café e maçapão), isto para além de uma frescura, complexidade e equilíbrio notáveis.  

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022De uma galáxia distante chegou-nos o Taylor's Very Very Old Port (800 €, 100 pts.). É a mais recente de uma série de edições limitadas de Vinhos do Porto excepcionais e muito raros extraídos das reservas de vinhos velhos envelhecidos em casco da Taylor’s. Esta obra de arte em forma de vinho é um dos lotes mais antigos lançados até hoje. É elaborado a partir de uma selecção de vinhos raros envelhecidos em madeira nas caves Taylor’s, alguns dos quais do espaço temporal que separa as duas guerras que vos falei no inicio, e que atingiram uma concentração que faz deles uma quintessência mágica.

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022De côr ambar escura, densa e cristalina, exibe um nariz maravilhoso com crème brûlée, figos secos, compota de pêssego, bolo de laranja, flor de limoeiro, maçapão, café, baunilha, cardamomo, canela, pimenta preta, resina, equilíbrio harmonia, elegância, largura, profundidade, precisão, complexidade, frescura e requinte.  

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022Martha Graham referiu acerca do bailado que há nele uma irreverência, uma força vital, uma energia, uma aceleração, que é traduzida através do dançarino em acção, e porque cada dançarino executa os seus passos de um jeito muito próprio, apesar do guião predeterminado, essa expressão é única e irrepetível, uma autêntica expressão da linguagem escondida da alma. Há qualquer coisa de Vaslav Nijinsky neste Taylor's Very Old Port, um vinho profundo, sedutor e verdadeiramente apaixonante!!!

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022

Uma palavra também para a organização, várias coisas melhoraram, comparativamente às edições anteriores, o preço é certo que subiu, mas também limitaram proporcionalmente (e bem) as entradas, desta forma foi muito fácil percorrer todos os espaços, evitando as filas (quer para os para os vinhos quer para a comida), tudo isto para que se proporcionasse um ambiente descontraído, mas com classe.

The Yeatman Christmas Wine Experience 2022Voltando ao modo como iniciei esta publicação, que o vinho continue a unir aquilo que as balas separaram, sejam elas feitas de metal, palavras ou atitudes e que (pelo menos) no Natal não nos falte a alma generosa, fraterna e condescendente dos soldados da Frente Ocidental da Primeira Guerra Mundial, do pequeno Fritz e da sua mãe. Até para o ano, no sitio do costume, para celebramos todas estas histórias que fazem o Natal, com um copo de vinho na mão, vinho esse que por vezes, assistiu escondido na garrafa a todos esses acontecimentos!!!

 

Moscatel Adega de Favaios 70 anos | Interminávelmente brilhante

"De que adianta falar de motivos, às vezes basta um só, às vezes nem juntando todos." José Saramago

Moscatel Adega de Favaios 70 anosO novo Moscatel comemorativo dos 70 anos da Adega de Favaios não é apenas um vinho raro, de colecção e único. É também um reflexo do espírito cooperativo que esta adega do Douro tem sabido reinventar.

Moscatel Adega de Favaios 70 anosEsta edição limitada (de apenas 2000 garrafas)  é um blend que junta sete dos mais excepcionais moscatéis alguma vez produzidos pela Adega de Favaios, tendo sido escolhida uma colheita de cada uma das últimas sete décadas: colheitas já fora do mercado (1964, 1975), algumas ainda em comercialização (1980, 1999) e outras em reserva de património da Adega (2007, 2011 e 2020). 

Moscatel Adega de Favaios 70 anosO Moscatel Adega de Favaios Edição Comemorativa 70 anos (150 €, 98 pts.) vai ter a classificação mais elevada que alguma vez dei a um Moscatel, 98 pontos, muito por culpa da sua acidez, mas falaremos dela mais adiante... ;)

Moscatel Adega de Favaios 70 anosNa ficha técnica que acompanhou o envio desta amostra, o Enólogo Miguel Ferreira informa que este lote é feito com “vinhos com perfil bastante diverso e que motivam diferentes preferências, juntando a jovialidade e frescura dos moscatéis mais jovens à delicadeza e harmonia dos mais envelhecidos.”, a união quase homogénea dessa heterogeneidade comportamental é simplesmente ... sublime.

Moscatel Adega de Favaios 70 anosDe cor âmbar ferrugem profunda, mostra no nariz uvas frescas, compota de laranja, avelã, noz, tília, flor de laranjeira, melaço, canela, noz moscada e pão torrado: tudo muito denso, equilibrado, harmonioso e ponderado, como se tivesse sido feito com pinças numa joelharia.  

Moscatel Adega de Favaios 70 anosA boca dá-nos aquilo, que por vezes falta nos Moscatéis desta gama: um bela dicotomia entre frescura aguerrida e notas complexas de evolução em barrica. Confirma também aquilo o que de melhor nos deu no nariz: equilíbrio, finesse e complexidade.

Moscatel Adega de Favaios 70 anosEssa acidez revitalizante, penetrante, perspicaz e edificante, faz com que o Moscatel Adega de Favaios Edição Comemorativa 70 anos não seja maçudo e se torne quase viciante. Entre dois dedos de conversa, o vinho sublimou-se!!! ;)

Moscatel Adega de Favaios 70 anosPara além disto é um vinho interminável de tão concentrado e rico que está. Se o motivo para se fazer Moscatéis do nível deste (e às vezes, tantas vezes, como defende Saramago, basta mesmo apenas um motivo), aguardo salivantemente os 80 anos da Adega de Favaios. ;) Este é, sem dúvida nenhuma, o melhor Moscatel que provei até hoje, uma delicia!!!