Alibi by YoursPorto | Um copo com ócio criativo
“Aquele que é mestre na arte de viver faz pouca distinção entre o seu trabalho e o tempo livre... Distingue uma coisa da outra com certa dificuldade. Almeja, simplesmente, a excelência em qualquer coisa que faça, deixando aos demais a tarefa de decidir se está a trabalhar ou a divertir-se.” Domenico De Masi
Aqui há uns anos, o então presidente dos Estados Unidos da América Donald Trump, sem querer, iniciou um debate sobre a importância do ócio para a criatividade/felicidade das pessoas. Por certo estarão recordados da vontade de Trump em querer proibir computadores a bordo dos aviões de algumas companhias aéreas provenientes do médio Oriente e que voassem para os Estados Unidos. Tudo isto por razões de segurança...
A companhia aérea Royal Jordanian, com medo dos expectáveis prejuízos (na ordem dos biliões de dólares), cedo respondeu com a criação de um kit que oferecia aos seus passageiros “12 coisas para fazer num voo de 12 horas sem tablet ou laptop”. A número 11 dessa lista era ... “analisar o sentido da vida”.
Se pensarmos bem não há nada inerentemente engraçado nessa sugestão, no entanto, essa ideia parece-nos apenas uma brincadeira pois a contemplação silenciosa da nossa vida num voo transcontinental quando comparada com as maravilhas que o mundo tecnológico e conectado tem para nos oferecer, soa a pouco.
O problema é que foi sempre a ausência de trabalho o catalisador dos pensamentos sobre a vida dos nossos antepassados, desde há milhares de anos. No entanto, hoje em dia, os momentos livres são preenchidos com o uso de nossos smartphones, tablets e portáteis que nos permitem navegar nas redes sociais, ler blogues (olá, não deverias de estar a pensar na vida? ;)) ouvir podcasts, e responder a e-mails, deixando pouco tempo para as nossas mentes (di)vagarem.
Tudo isto pode-vos apenas parecer um detalhe na vida digitalizada que levamos, no entanto o seu efeito a longo prazo, no modo como nossas mentes funcionam, pode ser um pormaior. Na verdade, essa obsessão por estarmos sempre ligados pode prejudicar a nossa capacidade para ter ideias novas/inovadoras e resolver problemas inesperados.
Em 2012, alguns cientistas da Universidade da Califórnia nos Estados Unidos da América descobriram que a distração, o ócio e a realização de tarefas não digitais permitia uma solução mais criativa e rápida de problemas (basicamente quando se pretendia que dois grupos resolvessem um determinado problema, fazendo com que um dos grupos pudesse imediatamente pesquisar tudo na internet e o outro aguardasse pelo menos uma hora antes de começar a tentar solucionar o problema, o grupo inicialmente atrasado completava a tarefa primeiro).
A história está repleta dessas ligações, por vezes quase anedóticas, entre devaneios e criatividade. Desde Einstein a Linus Pauling vencedor do prémio Nobel da Química de 1954, passando por Art Fry, o inventor do post-it. Estes e muitos outros dos grandes pensadores do mundo adoptaram o ócio como dínamo da originalidade e foco.
Mas não é preciso sermos génios ou filósofos para recebermos as benesses desse ócio criativo. Talvez já tenham notado que as vossas melhores ideias surgem (quase sempre) depois de um banho, de uma caminhada, de um copo de vinho ou de uma viagem desconectada.
Domenico De Masi, um sociólogo italiano famoso pela criação do conceito de "ócio criativo", defende que quando deixamos a nossa mente vaguear, permitimos que ela consiga aceder a memórias, emoções e pedaços aleatórios de todo o conhecimento que temos armazenado.
Assim o "sonharmos acordados" é um espécie de compactação do nosso "disco interno" de memórias e conhecimentos, que possibilita que ele funcione melhor e seja capaz de visualizar e simular a sua própria versão dos eventos. Essa mais valia, ajuda-nos invariavelmente na obtenção de uma nova perspectiva sobre um problema ou então na vinculação de dois pensamentos anteriormente desconexos que nos conduzem a uma ideia original.
Curiosamente (ou não, caso contrário não estaria a contar esta história para introduzir esta publicação :P) Domenico de Masi defende que essa "ociedade" criativa pode ser potenciada pelo nomadismo sensorial associado aos vinhos e à gastronomia. Normalmente quem gosta de vinhos e gastronomia, quem gosta de os combinar, quer sempre mais novidades, pois está à procura de novos sabores, novas harmonizações, novas descobertas, e isso para Domenico é o que faz estreitar a linha que separa o trabalho da diversão. Quanto mais ténue for essa linha mais criativos e originais seremos.
É claro que esse estreitar de linhas tem de ser responsável, pois só assim o ócio criativo pode conciliar 3 pilares que sustentam uma determinada profissão: o trabalho com o qual criamos a riqueza; o estudo com o qual criamos conhecimento; e o lazer com o qual criamos a alegria e o nosso bem-estar. Desta ultima, dependem as primeiras.
Tendo em conta estes conselhos de Domenico De Masi vou recomendar-vos um lugar, que junta passeio, gastronomia e vinhos, tudo para que possam potenciar o vosso ócio criativo: o Alibi by YoursPorto.
Com tudo isto, da próxima vez que o/a vosso/vossa companheiro/companheira disser que estão a gastar demasiado dinheiro em vinho, podem refutar essa ideia dizendo que apenas estão a investir na carreira... ;)
Criada em 2012, a YoursPorto combina a sua experiência em turismo, alojamento, comunicação e gestão para proporcionar experiências e oportunidades únicas a todos aqueles que visitam ou querem investir no Porto. Nesse âmbito criou na Rua dos Caldeireiros um espaço que junta três dimensões ligadas ao ócio: o vinho, a restauração e a hotelaria.
Nos vinhos, o Alibi The Wine Spot procura acrescentar ao restaurante, uma nova área exclusivamente dedicada a este universo que tanto nos fascina. O novo espaço, que integra um wine bar e uma garrafeira, pretende afirmar-se como um local de referência para todos aqueles que queiram descobrir o melhor que cada região do país tem para oferecer em termos vínicos.
Dando primazia aos vinhos nacionais, o Alibi The Wine Spot conta na sua carta com mais de 150 referências, de várias regiões do país, havendo também lugar para propostas de vinhos provenientes de países como Itália, França ou Alemanha. Todas as referências estão disponíveis em garrafa ou a copo, com a possibilidade de os clientes levarem também o vinho para casa, a preço de garrafeira.
No que diz respeito às provas temáticas, a carta integra, neste momento, sete propostas distintas (a partir dos 25€ por pessoa): quatro que convidam à descoberta dos vinhos fortificados e três dedicadas aos vinhos tranquilos e às especificidades de cada região. Uma vez por mês, o Alibi Wine Spot organiza também provas comentadas, com a presença de produtores convidados, onde qualquer pessoa pode participar de forma gratuita.
Quanto a mim, a mais valia do Alibi Wine Spot é que devido à diversidade de vinhos/regiões/perfis colocados à disposição dos clientes é muito fácil criar uma prova ad hoc que corresponda aos gostos do consumidor ou então uma que o surpreenda com a sua casta favorita plantada numa região inesperada. A titulo de exemplo, gostei muito da mineralidade, tosta, acidez acutilante e untuosidade do Página Encruzado 2021, um DOC Óbidos.
Para acompanhar todos estes vinhos, o wine bar apresenta uma carta própria de petiscos, onde se podem encontrar as mais diversas sugestões, das quais destacamos a Tábua de queijo da serra e presunto bísaro laminado, a Ceviche de robalo, e oTártaro de novilho. Todos eles assentes em ingredientes da máxima qualidade.
Quanto ao restaurante, o espaço foi inaugurado em 2020 mas, com a chegada da pandemia, mal teve tempo de se apresentar à cidade. Reabriu portas em 2021, com a combinação perfeita: uma cozinha de confeção simples, mas surpreendente, um ambiente acolhedor, um serviço de proximidade e um segredo que merece ser revelado: uma vista privilegiada e envolvente sobre o centro histórico do Porto, que não deixa ninguém indiferente.
Posicionando-se como um espaço que faz a apologia dos bons momentos à mesa, o Alibi apresenta uma carta pensada para proporcionar esse convívio à volta dos pratos, com propostas que convidam à partilha de sabores. A qualidade dos ingredientes e o respeito pelos sabores autênticos são os traços distintivos da gastronomia que aqui se pratica, com a criatividade do Chefe a fazer-se notar em combinações inesperadas ou em detalhes que marcam a diferença.
A carta é extensa mas existem cinco propostas gastronómicas que merecem ser destacas. O Polvo exibia uns tentáculos crocantes por fora, quase que levemente confitados, e por dentro gulosamente tenros e suculentos. Os grelos, o alho e alecrim conferiram um fundo vegetal, fresco e perfumado. Por sua vez o Tomahawk maturado 30 dias passeava pela nossa mesa uma crocância fumada exterior e um suco muito rico aprisionado no interior. O Puré de cebola roxa, o Puré de batata doce, os Legumes salteados, a Batata gratinada com queijo Brie e o Arroz de forno são acompanhamentos que devem experimentar... ;)
Nas sobremesas o Toucinho do céu com gelado de abacaxi, a Pêra cozida em açafrão e especiarias com espuma de requeijão e telha de chocolate negro, e o Fondant de chocolate com espuma de maracujá e sorbet de framboesa são apostas certeiras, se bem que a pêra se destaca na originalidade, risco e complexidade. Tudo isto, é claro, podendo ser harmonizado com alguns dos melhores vinhos do país.
Por último, no mesmo edifício do restaurante e da garrafeira/wine bar, situa-se ainda a Alibi Guesthouse, outro projeto do grupo YoursPorto, com nove quartos que oferecem a mesma vista única sobre a cidade e todo o conforto necessário para uma estadia a dois ou em família em pleno centro histórico do Porto. Esta guesthouse permite a tal fuga da rotina quotidiana tão importante para o nosso bem estar, pois possibilita que se tire um fim-de-semana para os vinhos e para gastronomia com o garante de uma cama super confortável a apenas 30 segundos de distância.
E é esse o melhor elogio que posso tecer ao Alibi by YoursPorto, o de nos permitir imergir no mundo dos vinhos nas suas múltiplas dimensões: desde a prova na garrafeira, até à harmonização no restaurante, passando por um copo de espumante no pequeno almoço (generoso, diverso, rico e completo). Este é um espaço com visita obrigatória para quem, como eu, se gosta de perder encontrar nesse mundo.
Numa das ruas mais típicas da Baixa do Porto, o Alibi by YoursPorto (e tudo o que ele engloba: guesthouse, restaurante e wine spot) quer afirmar-se como um espaço de experimentação onde as pessoas possam descobrir o que de melhor se faz ao nível da gastronomia e vinhos no nosso país. Experimentação essa, que segundo Domenico De Masi, fará com que encaremos a vida com mais originalidade, menos peso mais e felicidade: ora aí está um bom alibi para bebermos vinho ;)