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No meu Palato

No meu Palato

Dona Vitória Garrafeira Tinto 2019 | Um desafio ao tempo

"No Alentejo anda-se quatro ou cinco léguas sem ver uma só alma e há uma enorme quantidade de terra sem cultura. (...) É preciso um dia pensar seriamente nisto." Rainha Dª Maria II

Dona Vitória Garrafeira Tinto 2019No dia 4 de Setembro de 1913, D. Vitória casou-se com D. Manuel II, o recém deposto Rei de Portugal. Estando o rei exilado em Inglaterra, D. Augusta Vitória nunca recebeu oficialmente o título de rainha. Em homenagem à “última rainha de Portugal” e ao museu de atrelagens da Sociedade Agrícola D.Diniz, nascem no Alentejo vinhos que combinam a genuinidade dos vinhos tipicamente alentejanos, com a modernidade desta que poderia ter sido rainha de Portugal: os vinhos Dona Vitória.

Dona Vitória Garrafeira Tinto 2019O ano de 2019 permitiu engradecer a homenagem, assentindo o aparecimento da mais recente referência Dona Vitória: o topo de gama Dona Vitória Garrafeira. Com uvas de grande qualidade e resultante da junção sábia de Alicante Bouschet, Syrah e Touriga Nacional, este é um vinho que, como o próprio nome indica, aponta para a guarda e para momentos especiais que serão saudados em casa.

Dona Vitória Garrafeira Tinto 2019As uvas são colhidas manualmente e mecanicamente, seguindo para um tapete de escolha de cachos manual. Neste blend de Syrah, Alicante Bouschet, e Touriga Nacional, a vinificação do Syrah foi feita em lagares abertos com pisa automática e com trabalho de extração muito controlado enquanto que o Alicante Bouschet é a única que fermenta em cuba de inox fechada a 25°, procurando a concentração e a fruta.

Dona Vitória Garrafeira Tinto 2019A menção "Garrafeira", uma designação usada para os vinhos que o tempo – para além dos enólogos – ajuda a esculpir, é utilizada em vinhos especiais e de qualidade excepcional. Sendo a mais controlada, obriga também a um estágio de envelhecimento por um período mínimo de 30 meses (dos quais 12 em garrafa).  

Dona Vitória Garrafeira Tinto 2019Assim, este vinho envelheceu em pequenas barricas de carvalho francês durante 18 meses, e após engarrafamento, em garrafas deitadas numa cave fresca durante 12 meses. Tudo isto originou um vinho com elevado potencial de guarda. Foram lançadas no mercado apenas 3 332 garrafas. Dona Vitória Garrafeira Tinto 2019 (20.00 €, 90 pts.) traja um belo rubi denso e cristalino, quase real (:P), e brinda-nos com aromas a frutos do bosque, compota de amora, pimento vermelho, cacau, café, azeitona e baunilha.  Na boca é encorpado, ligeiramente austero, seco, fresco, longo e equilibrado.

Dona Vitória Garrafeira Tinto 2019Outra rainha, a rainha Dona Maria II proferiu em 1843 a frase com que emoldurei esta publicação. Se hoje nos fizesse uma visita, provavelmente, continuaria a verificar esta bipolaridade lusitana quase crónica; a de um país a duas velocidades, a quase vertiginosa das grandes cidades sobrelotadas, e a esquecidamente vagarosa do interior despovoado.  No entanto, também constataria, com alegria, que no seu Alentejo (que era urgente pensar), já se fazerem vinhos como este, que parecem querer desafiar o tempo. 

Os melhores de 2022 | A nossa máquina do tempo

"Fisicamente, habitamos um espaço, mas, sentimentalmente, somos habitados por uma memória." José Saramago

Os melhores de 2022 Fevereiro é o mês de "entrega" de prémios no nosso blogue, pelo oitavo ano consecutivo... O ano de 2022 foi particularmente rico, uma roadtrip aos Bálticos que contemplou quatro países, hotéis de charme incríveis, uma viagem de inverno a Munique, várias visitas a restaurantes Michelin (nacionais e internacionais) e provas de inúmeros vinhos com 100 pontos!!! Mas o melhor de tudo são mesmo as memórias que 2022 nos deixou e que se materializam nos sorrisos da fotografia de acima.

Os melhores de 2022 Como de costume, os prémios estão divididos em três categorias: restaurantes, hotéis e vinhos. A riqueza que vos falei anteriormente fez com que este ano tenha sido o mais difícil na decisão de quase todas as distinções. Isto foi tão renhido que numa delas, pela primeira vez, há um empate. Comecemos então pelos hotéis. 

Os melhores de 2022

Melhor Hotel: Six Senses Douro Valley

Melhor Hotel 1.jpgEm quase todos os hotéis que visitamos, o Six Senses Douro Valley é tido como o epitome, o pináculo muito superior, o símbolo inquestionável da qualidade alicerçada na sustentabilidade, quase como o grau máximo de excelência no que à hotelaria diz respeito. Acho que por tudo o que vos disse anteriormente, fica bem vincado o porquê dessa fama: lá o nosso sexto sentido, o do gene por vezes encolhido, emerge, garantido.

Melhor Hotel: Six Senses

Melhor Wine Hotel: MW Douro Wine & Spa

Melhor Wine Hotel: MW Douro Wine & SpaEste é é um hotel que, tal como o Código de Hammurabi, coloca as relações humanas, os afectos, aquilo que nos diferencia das outras espécies animais, no centro da nossa edificação cultural: um autentico património mundial de valores, catalisado pelo vinho. Vinho esse que é um dos presentes mais preciosos que a Terra nos oferece. Assim exige-nos amor, consideração e respeito. Também merece que o celebremos, o MW Douro Wine & Spa é um excelente local para essa solenidade enogastronómica :P 

Melhor Wine Hotel: MW Douro Wine & Spa

Melhor Enoturismo: Casa das Pipas, Quinta do Portal

Melhor Enoturismo: Casa das Pipas, Quinta do PortalA Casa das Pipas Hotel e tudo o que a Quinta do Portal tem para oferecer a quem a visita, passou a estar na lista dos mais recomendados (de sempre) do blogue. Para quem gosta de gastronomia, vinhos e de aproveitar as propriedades terapêuticas que a luz tem para oferecer, este é um local de visita obrigatória. Por vezes, o silêncio é mesmo a melhor confissão, por isso remeto-me a ele, confidenciando-vos apenas que adoramos este autentico cacho de luz desenturvador!!!

Melhor Enoturismo: Casa das Pipas, Quinta do Portal

Hotel Revelação: Riverside Santa Apolónia Hotel

Hotel Revelação: Riverside Santa Apolónia HotelEste é um hotel realmente especial, coloca-nos numa outra época cheia de sons, sotaques e idiomas, passeando no tempo, sem perdermos a ligação com a comodidade de um hotel de charme, mas não podem, não podem mesmo, não visitar o seu restaurante. O Chefe André provavelmente não estará lá, ou melhor, "estará", mas apenas o veremos de uma outra forma. :P Basta colocar os óculos historiográficos de Tokarczuk para conseguirmos ver o que apesar de não ser aparente, ainda assim está presente. 

Hotel Revelação: Riverside Santa Apolónia Hotel

Melhor Hotel internacional: Andaz Munich Schwabinger Tor - a Concept by Hyatt (Munique, Alemanha)

Melhor Hotel internacional: Andaz Munich Schwabinger Tor - a Concept by HyattNa viagem de Natal deste ano ficamos alojados no incrível Andaz Munich Schwabinger Tor - a Concept by Hyatt. Está localizado no animado bairro estudantil de Schwabing, entre o Estádio Olímpico e o Jardim Inglês, perto da estação de metro de Dietlindenstraße: sitio ideal para conhecer a cidade e os seus mercados, e ao mesmo tempo proporcionar um pouco de paz longe da agitação. Foi inaugurado em 2019, e por isso tudo é novo. Tem 277 quartos com sofisticados detalhes interiores e obras de arte inspiradoras, distribuídos por 12 andares. Ficamos numa suite Andaz com 77 m² e vista panorâmica para a cidade. Uma das razões pelas quais escolhemos o Andaz foi o seu Spa com 2000 m². Está localizado no quinto andar e possui uma grande piscina coberta, sauna, banho turco, massagens, sala de fitness e diversos tratamentos. Estar no quinto piso panorâmico de um hotel, numa piscina aquecida inserida num SPA de cortar o fôlego, na brincadeira com a família enquanto lá fora nevava é uma experiência que jamais esquecerei. 

Melhor Hotel internacional: Andaz Munich Schwabinger Tor - a Concept by Hyatt

Melhor Quarto: Boeira Garden Porto Gaia

Melhor Quarto: Boeira Garden Porto GaiaO Boeira Garden Porto Gaia Hotel, Curio Collection by Hilton fica perto do Porto histórico, a menos de dois quilómetros do bairro da Ribeira e a 15 minutos a pé das caves do vinho do Porto em Gaia. Oferece jardins históricos e exuberantes para eventos ao ar livre ou para um simples passeio, suites espaçosas e um relaxante SPA (com piscina interior, banhos termais, sauna, banho turco, centro de fitness, banhos Vichy e sessões de meditação). Este é um daqueles casos em que as imagens falam por si ;)

Melhor Quarto: Boeira Garden Porto Gaia

Melhor Spa: Six Senses Douro Valley

Melhor Spa: Six Senses Douro ValleyUma das mais valias do Six Senses Douro Valley é indubitavelmente o seu SPADe generosas dimensões e decorado com materiais amigos do ambiente, transmite uma atmosfera suave e actual; um encontro entre a natureza, tradições portuguesas e os elementos de água, pedra e madeira. Possui sauna panorâmica, diversos tipos de banho e uma piscina interior com cromoterapia.

Melhor Spa: Six Senses Douro Valley

Melhor Piscina: Palácio Estoril Hotel

Palácio Estoril HotelIan Fleming inspirou-se no Palácio do Estoril para escrever o “Casino Royale” em 1953, e para em 1968, ter sugerido o Hotel para cenário principal de “Ao serviço de sua majestade”. O exterior do Hotel, o lobby, a piscina e alguns quartos, são parte integrante de muitas das cenas desse filme que estreou em 1969. A piscina é realmente incrível, e foi lá onde demos os primeiros mergulhos do ano ;)

Palácio Estoril Hotel

Melhor Pequeno Almoço: Boeira Garden Porto Gaia, Curio Collection by Hilton

Melhor Pequeno Almoço: Boeira Garden Porto Gaia, Curio Collection by HiltonQualidade, riqueza, frescura, diversidade, ovos mexidos e espumante, o que mais podemos querer? :P Aos fins de semana e feriados, o inventivo Chef Bruno Drumonde, prepara ainda um delicioso brunch que inicia com uma selecção de pão e pastelaria e inclui ainda os clássicos de pequeno-almoço como os ovos Benedict (dos melhores do país!!!), Florentine ou Royal, french toast e panquecas. Para os mais gulosos há ainda ostras :P O Boeira Garden Porto Gaia só não ganha também o prémio "Melhor Brunch" por causa de algo inacreditável, da qual vos falarei mais à frente... 

Melhor Pequeno Almoço: Boeira Garden Porto Gaia, Curio Collection by Hilton

Melhor Vinho: Manoel dos Passos Freitas Boal Vintage 1896 

Melhor Vinho: Manoel dos Passos Freitas Boal Vintage 1896 

Quando coloquei o (nada consensual) Manoel dos Passos Freitas Boal Vintage 1896 (3000.00 €, 100 pts.) na boca soltei um "Che gelida manina, mio caro Madeira". Possuía uma frescura incrível (equilibrada, ainda audaz, fina) e notas de torrefacção, iodo, azeitona, chã verde e pedra vulcânica. Mas foi aquela frescura, quase gélida, que me conquistou. Confesso que guardei um pouco desse vinho num frasco para a Clarisse provar. Ainda guardo o frasco, ainda hoje, quando o abro, apenas com uma gota de vinho, perfuma toda a sala.

Melhor Vinho: Manoel dos Passos Freitas Boal Vintage 1896 

Melhor Tinto: Quinta de Ervamoira Tinto 2019

Melhor Tinto: Quinta de Ervamoira Tinto 2019O solo da Quinta de Ervamoira faz parte do complexo de xisto-grauváquico ante-Ordovícico e, neste contexto geológico homogéneo, a singularidade da Quinta de Ervamoira assenta na diversidade de exposições do anfiteatro onde está implantada. A história da quinta contada on site pelo Jorge Rosas foi um dos melhores momentos que o blogue me proporcionou. Relativamente aos vinhos e apesar de ter provado vários na visita à Quinta, vou destacar o extraterrestre Quinta de Ervamoira Tinto 2019 (100.00 €, 97 pts.) com uns apontamentos balsâmicos gulosos enobrecidos pelos frutos silvestres muito puros, pelas notas florais (violetas), caixa de tabaco, alguma pedregosidade e cachimbo. Na boca é super elegante, equilibrado, harmonioso, fresco e longo. Uma maravilha!!!

Melhor Tinto: Quinta de Ervamoira Tinto 2019

Melhor Branco: AdegaMãe Terroir Branco 2017

Melhor Branco: AdegaMãe Terroir Branco 2017O AdegaMãe Terroir Branco 2017 (49.00 €, 95 pts.) é composto por Viosinho e Arinto e resulta de desengace total, prensagem ligeira, decantação a frio, fermentação em barricas de carvalho francês de 400 L e bâtonnage durante 12 meses. De porte amarelo ocre cristalino, exibe rebuçado de tangerina, maracujá, amêndoa, flores brancas, acácia-lima, salinidade, sílex, cera e fumo. Na boca é fresco, complexo, untuoso e muito longo. É um belo branco que tem tudo para crescer (muito!!!) em garrafa. 

Melhor Branco: AdegaMãe Terroir Branco 2017

Melhor Rosé: São Luiz Winemaker’s Collection Tinto Cão Reserva Rosé 2021

Melhor Rosé: São Luiz Winemaker’s Collection Tinto Cão Reserva Rosé 2021Este São Luiz Winemaker’s Collection Tinto Cão Reserva Rosé 2021 (21.00 €, 91 pts.) traja uma bonita cor salmão-rosada e um aroma bastante complexo/equilibrado/inesperado carregado de rebuçado de framboesa, groselha, arandos, rosas, chocolate branco e cravo. As notas fumadas e uma ligeira pedregosidade aparecem em segundo plano, dando-lhe uma camada extra muito interessante. Na boca é fresco (quase a remeter-nos para um espumante), persistente e muito equilibrado. É um vinho que (incessantemente) pede comida e que entrou na lista dos meus rosés favoritos!!! ;)

Melhor Rosé: São Luiz Winemaker’s Collection Tinto Cão Reserva Rosé 2021

Melhor Porto Vintage: Noval Vintage Nacional 2020

Melhor Porto Vintage: Noval Vintage Nacional 2020O rubi-escuro Quinta do Noval Vintage Nacional 2020 (1000.00 €, 100 pts.) é uma ode à beleza tânica. Entra no nariz com aquele aroma a lagar nos dias de vindima, a engaço, a frutos silvestres e com alguma percepção de violetas. Num segundo plano surgem sous-bois, ameixa seca e menta. No palato é complexo, focado, com uma estrutura esculpida como se de uma jóia se tratasse, longo, ecléctico, quase arrogante, e exibe uns taninos como ainda não havia sentido ate hoje: elegantes, austeros e frescos. É mais um monstro que vai desafiar as linhas do tempo, criado pela Noval.

Melhor Porto Vintage: Noval Vintage Nacional 2020

Melhor Porto Tawny: Taylor's Very Very Old Port

Melhor Porto Tawny: Taylor's Very Very Old PortO Taylor's Very Very Old Port (800 €, 100 pts.) é a mais recente de uma série de edições limitadas de Vinhos do Porto excepcionais e muito raros extraídos das reservas de vinhos velhos envelhecidos em casco da Taylor’s. Esta obra de arte em forma de vinho é um dos lotes mais antigos lançados até hoje. É elaborado a partir de uma selecção de vinhos raros envelhecidos em madeira nas caves Taylor’s, alguns dos quais do espaço temporal que separa as duas guerras que vos falei no inicio, e que atingiram uma concentração que faz deles uma quintessência mágica. De côr ambar escura, densa e cristalina, exibe um nariz maravilhoso com crème brûlée, figos secos, compota de pêssego, bolo de laranja, flor de limoeiro, maçapão, café, baunilha, cardamomo, canela, pimenta preta, resina, equilíbrio harmonia, elegância, largura, profundidade, precisão, complexidade, frescura e requinte.  

Melhor Porto Tawny: Taylor's Very Very Old Port

Melhor Relação Qualidade/Preço: Quinta do Convento Tinto 2019

Melhor Relação Qualidade/Preço: Quinta do Convento Tinto 2019O Quinta do Convento Tinto 2019 (12.50 €, 88 pts.) provém de um lote de Touriga Nacional (40%), Tinta Roriz (20%), Touriga Franca (20%) e de um field blend (20%), com as uvas vindimadas à mão, e que mais tarde foi fermentado em lagar a temperaturas controladas durante 8 dias. Estagiou depois em barricas de carvalho francês de segundo ano por 9 meses. De traje rubi cristalino, exibe timidamente notas de frutos silvestres. De modo mais evidente surgem também aromas a esteva, sous-bois e pimenta vermelha. Na boca mostra carácter e é austero, fresco, intenso e harmonioso. 

Melhor Relação Qualidade/Preço: Quinta do Convento Tinto 2019

Vinho Revelação: Dona Matilde Calços Largos 2020

Vinho Revelação: Dona Matilde Calços Largos 2020O Dona Matilde Calços Largos 2020 (40 €, 92 pts.) é um vinho com pouca extracção, fermentado com leveduras indígenas e estágio de 18 meses em inox, uma opção que assegura a exuberância de aromas, mantendo, a par, grande elegância e complexidade. Foi produzido a partir de uvas colhidas em vinhas velhas da Quinta Dona Matilde, com cerca de 80 anos e 30 castas tradicionais do Douro.  A apanha das uvas foi feita à mão em caixas de 25 Kg, seguindo-se a pré-selecção dos cachos à entrada da adega. Traja um vermelho-rubi denso e entra no nariz com frutos silvestres, eucalipto, urze, sous-bois e alguma pedregosidade. Tudo muito genuíno. Na boca é fresco, elegante, surpreendentemente austero e muito harmonioso. É um excelente companheiro para um arroz de pato mas também se bebe bem a solo, tão bem que mal nos demos conta do seu término. ;)

Vinho Revelação: Dona Matilde Calços Largos 2020

Énologo do ano: Paulo Nunes

Énologo do ano: Paulo NunesEste prémio é atribuído, sobretudo, pelos trabalhos que o Paulo Nunes tem vindo a fazer com os produtores Quinta da Rede e Costa Boal. Em ambos procura expressar o terroir através da elegância, da frescura, da acidez, dessa singularidade que nos deixa o palato salivante. Tudo o resto é maquilhagem desnecessária e desvirtuadora. 

Énologo do ano: Paulo Nunes

Produtor do ano: Kopke

Produtor do ano: KopkeCarlos Alves (enólogo da Sogevinus) levou para o Palácio da Bolsa do Porto na Essência do Vinho 2022 alguns dos maiores tesouros da Kopke, a mais antiga casa de Vinho do Porto. Em patamares crescentes de densidade e complexidade, foram sendo apresentados, provados e comparados, brancos e tintos com a mesma indicação de idade, incluindo os estreantes 50 Anos. Tirando a acácia lima e notas limonadas, transversais a quase todos os brancos da Kopke, pouca diferença encontramos ao nível da intensidade, elegância e complexidade entre brancos e tintos (na maior parte dos casos a nota até foi a mesma para a mesma indicação de idade). Em todos, encontrei qualidade, finesse e identidade. Estavam "escancaradas" as portas para o prémio "Produtor do ano". Confirmado uns meses depois, com a apresentação de três novas colheitas da insígnia São Luiz. O Quinta de São Luiz Vinhas Velhas Grande Reserva Tinto 2018, o Quinta de São Luiz Vinha Rumilã Grande Reserva Tinto 2017 e a nova edição Winemaker’s Collection Folgazão & Rabigato: o Grande Reserva Branco 2018.  Três vinhos que são do que melhor se faz por Portugal no que aos vinhos tranquilos diz respeito, ponto.  

Produtor do ano: Kopke

Evento do ano: Madeira Wine Experience

Melhor Evento: Madeira Wine ExperienceEste foi mais um evento que só poderia ter sido organizado pelo Paulo Cruz. Pela sensibilidade, pelo risco, pela novidade, pela excelência e pela preocupação com quem se senta à sua mesa para provar. Como já vem sendo costume, o Paulo, para além de escolher vinhos verdadeiramente estratosféricos, acrescentou ao "menu" algumas surpresas como a inclusão de um Porto "intruso" com 110 anos, provas cegas, jogos e desafios. As seis horas de prova passaram com um piscar de olhos.  Viajei de propósito de Guimarães para Sintra para participar nesta prova memorável. Cheguei um pouco mais cedo (a prova estava agendada para as 15h30) para conversar um pouco com o Paulo e tirar algumas fotografias ao espaço e aos vinhos. Quando entrei na sala de prova senti imediatamente o aroma arrebatador e complexo proveniente dos Madeiras já abertos. Só esse momento já "valia" os mais de 400 km, percorridos na sua maioria sob forte chuva.

Melhor Evento: Madeira Wine Experience

Restaurante do ano: Le Monument Restaurant

 Melhor Restaurante: Le Monument RestaurantEm 2022 a visita ao Le Monument  consistiu numa  sublime viagem gourmet que, tal como nas anteriores, combinou diversos sabores, texturas, aromas, produtos e produtores regionais, viagens, inspirações, estórias e contrastes, mas, desta vez, tinha mais alguma coisa.  Uma certa "arrogância" abnegadamente engenhosa, demonstrada em diversos elementos surpreendentes ao longo do menu, que só pode ser (o)usada por quem sabe o que está a fazer. E o Chefe Julien Montbabut sabe muito bem o que está a fazer. Recorre a ingredientes inusitados, por vezes quase que parecendo deslocados, para nos pôr no centro das suas criações gastronómicas, e com isso nos transmitir a sua verdade acerca do canône gastronómico lusitano. É nessa irreverência resultante de uma sabedoria de experiência feita, de visita a produtores, mercados e lavradores, que separa o descobrir do encontrar.  Escusado será dizer que o Chefe Julien Montbabut e o seu Le Monument Restaurant ganharam (finalmente) a estrela Michelin em 2022. A estrela é também um prémio muito merecido para o Diogo Matos e para toda sua equipa.

 Melhor Restaurante: Le Monument Restaurant

Restaurante revelação do ano: Conceito – Restaurante

Restaurante revelação do ano: Conceito – RestauranteSegundo Pessoa, os actos de loucura  estão normalmente associados a uma inadaptabilidade ao meio, a uma vontade de querer fazer diferente, a uma tendência de querer acrescentar algo aquilo que já existe. E é isso mesmo que, na minha opinião, define o Conceito – Restaurante: comida de autor; menus de degustação coerentes e com sentido; máxima exigência nos produtos, confecção e serviço; extrema atenção aos detalhes; tudo isto enlaçado num espaço casual chic e sem pretensiosismos.

Restaurante revelação do ano: Conceito – Restaurante

Restaurante tradicional do ano: 3 pipos

Restaurante tradicional do ano: 3 piposEste é um restaurante que mistura a tradição, a comida de conforto, o legado gastronómico da região e um serviço próximo, cuidado, atento aos detalhes mas descomplicado; com ingredientes da máxima qualidade, um serviço de vinhos exemplar (até na escolha dos copos para cada um dos diferentes momentos da refeição) e um ambiente ecléctico mas relaxado. Abriu portas em Maio de 1992 quando Maria de Jesus, António Miranda e João Cavaleiro recuperaram o espaço a partir de uma antiga adega, do respectivo lagar e de outros anexos que, outrora, serviam de apoio à preparação do vinho. Ainda no que ao vinho diz respeito, a carta tem mais de 450 referências das principais regiões portuguesas, havendo, é claro, um generoso destaque para o Dão. O espaço é constituído por 5 salas, quase em labirinto, com paredes em granito, 3 lareiras, um jardim com 400 metros quadrados e uma lojinha. A decoração é casual, simples e natural, assente sobretudo em alfaias e outros utensílios agrícolas. Desse labirinto das memórias apenas é possível sair recorrendo ao olfacto, que nos conduz, invariavelmente, para a cozinha com forno a lenha e de onde saem as deliciosas iguarias servidas em travessas de barro preto de Molelos (aldeia do concelho de Tondela). 

Restaurante tradicional do ano: 3 pipos

Restaurante internacional do ano: Tantris Maison Culinaire (Munique, Alemanha)

Tantris Maison Culinaire (Munique, Alemanha)O restaurante Tantris Maison Culinaire, com duas estrelas Michelin, deu-me uma das melhores experiências gastronómicas da minha vida. Coloca o foco nas origens da arte culinária francesa, através de pratos franceses clássicos e pratos exclusivos de cinco décadas de Tantris. Pratica uma cozinha intemporal focada nos melhores produtos. Fiquei maravilhado com a delicadeza do Oeuf de poulet poché, crosnes et truffle blanche D’Alba; apaixonei-me pela complexidade salivante dos Langoustines de Guilvinec, beurre blanc à la vanille (passou a ser um dos pratos da minha vida!!!); surpreendi-me com a aristocracia organoléptica do Noix de Saint-Jaques, topinambour et hollandaise au Champagne; e jamais irei esquecer a intensidade suculenta do Tourte de chevreuil de Bavière, sauce poivrade aux airellees. O serviço é quase teatral/artístico e as sobremesas e queijos surgem com pompa e circunstancia num carrinho de sonhos gastronómicos. Tudo isto acompanhado pelos melhores vinhos franceses (se bem que nas sobremesas brilhou um Madeira D'Oliveiras Malvazia 1991) num ambiente requintado mas sem ser austero. Para quem poder, recomendamos vivamente, não se vão arrepender ;)

Tantris Maison Culinaire (Munique, Alemanha)

Restaurante tradicional internacional do ano: Põhjaka manor (Järva County, Estónia)

Põhjaka manorEntre Tallin e Riga (capital da Letónia) surge o melhor restaurante da roadtrip de Verão e um dos que mais me marcou: o Põhjaka manor, no condado de Järva. Apresenta menus sazonais, quase sempre confeccionados no fogo, e que mudam diariamente (em função do que o quintal/quinta de melhor tem para oferecer naquele dia) e que respeitam, fielmente o cânone gastronómico local. Este restaurante com fama internacional está implementado numa mansão construida em 1820 e cercada por belos bosques. A gastronomia oferecida é despojada e rústica, mas ao mesmo tempo fina e elegante. Chega-nos em porções generosas e com um sentido estético muito apurado. 

Põhjaka manor

Chefe do ano: Rui Paula

Chefe do ano: Rui PaulaJá por diversas vezes destaquei a excelência do que vai fazendo por todos os lugares por onde vai passando. Excelência essa assente no conhecimento, na destreza e na cozinha com memória e para as memórias. O que ele fez este ano Le Garage, no DOP, na Casa de Chá da Boa Nova e no DOP só vem reforçar o que já achava dele: que é um predestinado. Tal como um bom actor, procura aumentar a realidade, neste caso a da gastronomia tradicional lusitana, mas apenas o suficiente para que o seu público, nós que nos sentamos nas mesas dos seus restaurantes, nos possamos identificar com a mestria das suas obras, cada uma delas, adaptadas ao contexto onde se inserem, sem que em conjunto percam identidade. A excelência é um acto que se cultiva diariamente, em qualquer local, contexto ou situação, nem que para tal, tenhamos de colocar o restaurante numa bola de sabão.

Chefe do ano: Rui Paula

Chefe revelação: Milton Ferreira

Milton1.jpgConfesso que quis visitar a Quinta do Portal pelos seus vinhos, pela Casa das Pipas, e pela sua localização privilegiada. Não estava à espera, não estava nada à espera de encontrar uma proposta gastronómica tão cheia de tudo (de irreverência, de risco, de conforto, de generosidade, de ligação à terra e ao produto local) como a que o Chefe Milton Ferreira por lá exibiu nesses dias. O equilíbrio irrepreensível, a acidez, o sal no ponto, as diferentes texturas, os diferentes jogos de contrastes e equilíbrios, servidos à mesa conjuntamente, sem perder a ligação ao Douro e a fio condutor em todo o menu, faz-me crer que o Milton vai longe, muito longe!!!  Para além deste menu verdadeiramente arrebatador, por vezes até inesperado no que à complexidade diz respeito, existem outros dois.

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Chefe em destaque: Nuno Matos

Chefe em destque: Nuno MatosO Chef Nuno Matos e a sua equipa estão empenhados na composição de pratos saudáveis e sustentáveis utilizando produtos da horta biológica do hotel, criando os seus próprios ingredientes e utilizando técnicas tradicionais e naturais. Isto é pensar na comida a um nível diferente sem comprometer os objectivos finais de sabor e felicidade. No Six Senses Douro Valley, o conceito gastronómico reúne o melhor dos dois mundos culinários para a sua indulgência ocasional: é saudável e é também delicioso. Nessa vertente gastronómica destacamos ainda a particularidade do Chefe Nuno Matos (este é daqueles que vai longe, e não arrisco mesmo nada em dizer isto). Promove pratos muito naturais e aparentemente simples (quer no número quer no tipo de elementos), tentando destacar a qualidade e frescura dos produtos que usa, maioritariamente, sazonais e locais. Inclui também elementos não locais, para adicionar algo distinto (quase irreverente) ao prato, escondendo sabores que dão uma outra camada de emoção e identidade. Trabalha a acidez dos pratos de um modo como ainda não havia encontrado em Portugal e isso faz com que o palato esteja sempre desperto para o próximo prato e para o próximo sabor escondido. 

Chefe em destque: Nuno Matos

Prato do ano: Robalo, lingueirão e cevadinha de bivalves (Rui Paula)

Robalo, lingueirão e cevadinha de bivalves (Rui Paula)Este é um prato que agrada tanto à vista quanto ao palato. Nela, a tradicional concha do lingueirão foi trocada por uma comestível (temos apenas alguns segundos para desfrutar dela em todo o seu esplendor). Em conjunto, todos os elementos, provocam um mergulho num mar gastronómico através de um robalo espectacular. É um prato muito complexo, na apresentação, nas texturas, nos sabores e nos aromas, estando todos estes vértices unidos pelo mar.

Robalo, lingueirão e cevadinha de bivalves (Rui Paula)

Prato tradicional do ano: Linguado do mercado de Matosinhos (Vinum at Graham's)

Prato tradicional do ano: Linguado do mercado de Matosinhos (Vinum at Graham's)Linguado do mercado de Matosinhos. Sem dúvida o momento alto da refeição no Vinum at Graham's, momento esse alicerçado quer na excelência do produto quer na mestria da sua confecção. Como condimentos apenas muito azeite, bastante alho, algum vinagre e Guindilla basca. Ácido, intenso, delicado e carregado de sabor. Este é um daqueles pratos que nos faz lamber os lábios!!!

Prato tradicional do ano: Linguado do mercado de Matosinhos (Vinum at Graham's)

Sobremesa do ano: Torta de azeitona, sorvet de lima, pólen de abelha, azeitonas, curd de limão e microgreens (André Silva) e Os chocolates (Rui Paula)

Sobremesa do ano: Torta de azeitona, sorvet de lima, pólen de abelha, azeitonas, curd de limão e microgreens (André Silva) e Os chocolates (Rui Paula)

8 anos de blogue e é a primeira vez que tenho de "dividir" um prémio. Duas sobremesas incriveis por dois Chefes predestiandos. 

A primeira, Torta de azeitona, sorvet de lima, pólen de abelha, azeitonas, curd de limão e microgreens. Só poderia ter saído da cabeça do André. É seca e doce, é ácida e untuosa, e é subtil e exagerada. Passeia-se no palato, cheia de si, e com uma explosão de sabores, texturas imensas e uma acidez estonteante.

A segunda, Os chocolates com brownie de chocolate, mousse de chocolate de leite, crocante de avelã, mousse de chocolate branco e gelado de chocolate branco, de Rui Paula. Com diversos tipos, texturas e intensidades de chocolate, esta foi uma sobremesa que se demonstrou camaleónica e bastante heterogénea na prova, pois a cada momento iam surgindo diversos sabores, contrastes, intensidades e harmonias.  É um autêntico hino a este nobre e muito apreciado produto.

Sobremesa do ano: Torta de azeitona, sorvet de lima, pólen de abelha, azeitonas, curd de limão e microgreens (André Silva) e Os chocolates (Rui Paula)

Sobremesa tradicional do ano: Pudim de queijo da serra (3 pipos)

Sobremesa tradicional do ano: Pudim de queijo da serra (3 pipos)Não obstante de todas as sobremesas servidas no 3 Pipos enobrecerem o cânone gastronómico da região, o Pudim de queijo da serra conquistou-me (acreditem que falei dele durante semanas!!!). É quase como se fosse um Abade Priscos com a doçura controlada, com a complexidade reforçada e com um aroma a queijo da Serra arrebatador. É despretensioso, mas ficou logo ali na lista das sobremesas do ano para o blogue.

Sobremesa tradicional do ano: Pudim de queijo da serra (3 pipos)

Harmonização do ano: Do Fumeiro: enguia fumada Hardy, foie gras e toranja  com Pera Manca Branco 2020  (Diogo, Le Monument Restaurant)

Harmonização do ano: Do Fumeiro: enguia fumada Hardy, foie gras e toranja  com Pera Manca Branco  (Diogo, Le Monument Restaurant);"Do fumeiro" surgiu uma inesperada enguia fumada Hardy, foie gras e toranja, que conjugava as notas que normalmente associamos a um fumeiro de carnes com a nobreza do foie e ao sabor intenso e acidulado da enguia. Foi harmonizada, na perfeição com as notas fumadas, papaia, pessego, acidez aguerrida, elegancia e gulosa untuosidade do Pêra Manca 2020. Um belo momento enogastronómico. Parabéns Julien e parabéns Diogo!!! 

Harmonização do ano: Do Fumeiro: enguia fumada Hardy, foie gras e toranja  com Pera Manca Branco  (Diogo, Le Monument Restaurant);

Brunch do ano: Six Senses Douro Valley

Brunch do ano: Six Senses Douro ValleyUm conceito verdadeiramente diferenciador. Servido em modo "menu de degustação", o desfile começa com um dip sazonal e pão caseiro, azeite virgem extra de Trás-os-Montes, uma salada de folhas verdes biológicas, ostras frescas da costa atlântica (uma perdição!!!) e uma selecção de queijos e presuntos portugueses. Seguem-se um tiradito de robalo, uma abóbora assada, um robalo assado com molho béarnaise e uma selecção de carnes maturadas grelhadas no forno a carvão. O menu acaba com três sobremesas e pode ser acompanhado por uma selecção de 5 vinhos.

Brunch do ano: Six Senses Douro Valley

Sommelier do ano: Elisabete Fernandes

Sommelier do ano: Elisabete FernandesA distinção não se deve apenas ao serviço de excelência que promove no restaurante gastronómico (o menu de harmonização premium é verdadeiramente assombroso!!!) mas também ao dinamismo, primor e empenho que transporta para iniciativas no The Yeatman como a loja de vinhos, o Christmas Wine Experience, as Sunset Wine Parties, o clube de vinhos, ou os jantares com produtores. 

Sommelier do ano: Elisabete FernandesE estão assim "entregues" todos os prémios relativos aos ano de 2022. Obrigado a todos os hotéis, restaurantes, produtores, agências de comunicação e agentes turísticos, aquém e além fronteiras, por todas as memórias criadas neste ano incrível de 2022. A maior parte de vocês passaram de colaborações a amigos e isso é o maior elogio que vos posso fazer, bem hajam!!!

Os melhores de 2022 Jeremy Irons no filme "The Time Machine" (adaptado do livro com o mesmo nome escrito por H.G. Well) diz-nos que todos nós temos as nossas máquinas do tempo interiores. Algumas levam-nos pra trás, são as chamadas memórias. Outras levam-nos para frente, são por isso chamadas de sonhos. Bora virar a manípulo dessas maquinas na direcção do futuro para começarmos a criar a lista  para os melhores de 2023, pois estamos, verdadeiramente, ávidos de voltar a fazer do nosso palato um parque de diversões!!! ;)

 

 

 

Soalheiro Rosé 2021 | Um dueto chamado complementaridade

"O outro é uma complementaridade que nos torna a nós maiores, mais inteiros, mais autênticos. Essa é a minha própria vivência." José Saramago

Soalheiro Rosé 2021Delicado e seco, o novo Soalheiro Mineral Rosé nasce como mais um rasgo de inovação do Soalheiro, a primeira marca de Alvarinho em Melgaço. A sua singularidade está tanto na combinação inusitada da casta rainha da sub-região, o Alvarinho, com uma casta internacional, o Pinot Noir, como no seu perfil seco, mineral e de teor alcoólico moderado, sem a doçura intensa muitas vezes associada aos rosés.

Soalheiro Rosé 2021Inspirado no estilo de rosé originário no Sul de França, o Soalheiro Mineral Rosé 2021, que agora chega ao mercado, reflecte as características únicas de dois territórios da região dos Vinhos Verdes: a intensidade aromática característica do Alvarinho em Monção e Melgaço, aliada a uma marcante mineralidade, resultado, por um lado, da selecção de uvas Alvarinho (70%) provenientes de vinhas de altitude e solos granítico, e por outro, do Pinot Noir (30%), produzido junto à costa atlântica, que lhe confere uma frescura surpreendente e um perfil diferenciado.

Soalheiro Rosé 2021O Alvarinho provém de vinhas de altitude em Monção e Melgaço, abrigadas da influência atlântica. O Pinot Noir é proveniente de vinhas localizadas na parte atlântica da região do Minho. O vinho deve a sua intensa mineralidade aos solos de granito, mas também à forma surpreendente como o Pinot Noir se adaptou à influência atlântica, trazendo uma notável frescura.

Soalheiro Rosé 2021A casta Pinot Noir é vindimada em Agosto, mais cedo do que o Alvarinho, que apenas é vindimado em Setembro. Assim, a vinificação do Soalheiro Mineral Rosé divide-se em três fases. A primeira é a prensagem e fermentação das uvas da casta Pinot Noir. Nesta fase, estas uvas tintas são prensadas, tal como acontece com a vinificação própria de uvas brancas, imediatamente após a vindima.

Soalheiro Rosé 2021

A segunda fase é a prensagem e fermentação das uvas da casta Alvarinho, provenientes das vinhas de altitude. A terceira fase consiste na mistura do mosto fermentado das uvas da casta Pinot Noir com o mosto fermentado das uvas da casta Alvarinho. Consegue-se assim, obter um vinho simultaneamente aromático e fresco, com carácter mineral e de sabor intenso. De seguida, este lote estagia em inox durante pelo menos 6 meses em contacto com as borras.

Soalheiro Rosé 2021Tudo isto levou a um Soalheiro Rosé 2021 (12.00 €, 86 pts.) rosa-tijolo claro e cristalino, com notas de morangos, cereja vermelha, maça verde e lima. Na boca cumpre aquilo que prometia, é seco, fresco (acidez alta), elegante (corpo leve), pedregoso (pedra molhada) alegre e muito equilibrado.  Este é daqueles que pede, salivantemente, por comida!!! ;)

Madeira Wine Experience | Che gelida manina

"O homem é mortal devido aos seus medos, mas imortal por causa dos seus desejos." Pitágoras

Madeira Wine Experience10 de Abril de 1896...

Madeira Wine Experience17 homens começam uma corrida em Atenas, 13 gregos e 4 de outras nações. Um deles, Spyridon Louis, provinha de uma pequena vila grega, Maroussi, nos subúrbios de Atenas, e treinou para esta prova de uma maneira, digamos que, pouco convencional ... carregando água entre Maroussi e Atenas.

O pai de Spyridon era dono de uma empresa de águas, e como naquela altura Atenas ainda não possuía uma rede de abastecimento robusta, havia uma enorme necessidade de água mineral para consumo humano. Em resultado disso, o negócio da água era bastante lucrativo, fazendo com que Spyridon passasse os seus dias entre a vila e a cidade. 

Madeira Wine ExperienceAté aquele dia a maratona nunca havia sido disputada, apesar de já ter sido sugerida como competição olímpica pelo francês Michel Bréal. Para honrar a lenda do mensageiro Pheidippides, que segundo Heródoto, foi enviado para pedir ajuda em Esparta antes da batalha de Maratona em 490 a.C., os gregos decidiram organizar a primeira maratona, nos primeiros jogos Olímpicos da era moderna em 1896,  corrida essa que seguiria o mesmo percurso usado por Pheidippides.

Spyridon não era o favorito para vencer aquela corrida pois tinha terminado em quinto lugar numa corrida de qualificação, realizada uns meses antes. A maratona começa e o favorito, o francês Albin Lermusiaux, assume imediatamente a liderança. Muitos tinham vindo de diversos países apenas para ver correr esta famosa "lebre". A meio da corrida,  Spyridon, enquanto perseguia o veloz francês,  faz algo inesperado e que ficaria para a história...

Madeira Wine ExperienceSpyridon para na cidade de Piekrmi para beber um copo de vinho. Regressa à prova com uma energia revigorada e rapidamente alcança Albin Lermusiaux.

Madeira Wine ExperienceMesmo antes dos maratonistas terem entrado no Estádio Panathenaic, o publico focava a sua atenção na zona de entrada na pista. Quem surgiria na frente? Era quase certo que seria o grande Albin Lermusiaux. Ouve-se então o burburinho. Quem entra na pista, na frente, para os quilómetros finais, é Spyridon. 

Madeira Wine ExperienceA informação começa a percorrer as bancadas:  "O grande Lermusiaux desistiu no quilômetro 32, completamente exausto".  Os apoiantes gregos vão à loucura  com a possibilidade de um seu conterrâneo ser o primeiro vencedor da maratona olímpica. Spyridon faz os últimos metros com as bancadas completamente em êxtase e ao som de palmas, cânticos e vivas.  2 horas, 58 minutos e 50 segundos após ter iniciado a prova, Spyridon corta a meta e atinge a imortalidade.

Madeira Wine ExperienceÉ assim que o anónimo transportador de água, Spyridon, se torna um herói nacional por ter bebido ... vinho ;)  Perante tão heróico feito, o rei da Grécia concedeu-lhe um desejo. Spyridon poderia escolher tudo o que quisesse, e tudo lhe seria concedido.  

A resposta de Spyridon surpreendeu todos os presentes. Pediu uma carroça e um burro para facilitar o transporte de água para Atenas. Se ele nunca tivesse parado para beber aquele copo de vinho, talvez nunca tivesse vencido a corrida e gravado a ouro o seu nome na história.

Madeira Wine Experience2 meses antes, em Paris, a 1 de Fevereiro de 1896, Rodolfo tocava na mão de Mimí pela primeira vez, e exclamava, emocionado, “Che gelida manina” (mas que mãozinha fria). Mas, de onde é que surgiram estes dois personagens?

Madeira Wine ExperienceRodolfo e Mimí fazem parte da "La Bohème", uma das mais conhecidas óperas em todo o mundo e, porventura, aquela que sagrou Giocomo Puccini como o grande compositor de óperas italiano. Esta ópera não desperta apenas o interesse  dos públicos mais eruditos, mas pela sua humanidade e valores que transmite, tem vindo também a inspirar diversos musicais, peças de teatro, filmes e séries de televisão.

Madeira Wine ExperienceSe ainda não a conhecem, podem aprecia-la aqui. Se não têm paciência para duas horas de ópera, vejam apenas o seu momento mais bonito e que emprestou o nome a esta publicação. 

Madeira Wine ExperienceEssa cena, onde Rodolfo e Mimí se apaixonam no acto 1,  é tida por muitos espectadores como a mais bonita entre todas as óperas mundiais, pois retrata o preciso momento em que o toque leva ao amor, através da música. A cena inicia quando os dois procuram uma chave de casa, perdida no escuro. Rodolfo, matreiro, encontra-a imediatamente, mas não diz nada a Mimí,  escondendo-a no bolso. 

Madeira Wine ExperienceEle continua a busca, fingindo que não a encontrou, pois, na verdade, o que ele procurava era a mão de Mimí. Procura, procura e lá a encontra, cantando na sua ária, “Che gelida manina (que mãozinha fria)”. A peça segue com a Mimí a cantar sua ária, “Si, mi chiamano Mimi (Sim, eles chamam-me de Mimí).” 

Madeira Wine ExperiencePara além do final (bastante) triste que a ópera acaba por ter, esta é uma bonita história que nos canta sobre a vida de quatro jovens artistas e boémios (para além do poeta Rodolfo que se apaixona por Mimí, sua vizinha, há ainda o pintor Marcello, o músico Schaunard e o filósofo Colline) e do modo como a falta de dinheiro pode ser compensada com a abundância de ambições, sonhos e paixões. 

Madeira Wine ExperienceÉ este conjunto de sentimentos que serve de enredo à história que tem como principal valor a amizade. Todos os personagens revelam um desejo trivalente comum, unido por essa amizade: a felicidade, o sucesso e a longevidade.

Madeira Wine ExperienceA mensagem mais simbólica que esta peça nos oferece, é a de que, mesmo na morte, as palavras e lembranças deixadas por aqueles que mais amamos permanecem connosco para sempre. São essas lembranças em alguém que nos tornam imortais. Enquanto alguém se lembrar de nós, nós, ainda seremos nós.

Madeira Wine ExperienceEssa mensagem é-nos entregue por Rodolfo. Um jovem. Um poeta. Um sonhador. De certa forma, ele é um sábio muito para além da sua idade, capaz de emoções intensas. Por outro lado, é ingénuo e limitado na sua capacidade de sentir verdadeiramente. 

Madeira Wine ExperienceRodolfo é, talvez, um dos personagens mais ricos que encontrei no teatro,  porque conseguimos, conseguimos mesmo, sentir a sua dor, compartilhar a sua alegria e reconhecer a sua necessidade e medo de amar. Ele é alguém que conhecemos porque ele faz parte de todos nós.

Madeira Wine ExperienceNo final da ópera ficamos com aquela sensação de que somos também nós, um veiculo que Rodolfo usa para imortalizar a sua amada Mimí, será que durante toda a peça fomos enganados?

Madeira Wine ExperienceO que une estas duas histórias aparentemente desconexas? Para além do ano onde ambas ocorreram, 1896, nas duas é debatida a relação simbiótica entre felicidade, surpresa e imortalidade. Três conceitos que estiveram bem presentes no Madeira Wine Experience 2022 organizado pelo grande Paulo Cruz do Bar do Binho. Curiosamente também havia por lá um vinho de ... 1896!!!

Madeira Wine ExperienceFalemos então do evento. Juntou no passado dia 19 de Novembro de 2022 no Hotel Tivoli em Sintra, João Ghira (da Madeira Wine Company), Diana Silva ( DS Wines), Paulo Bento e Mr. Cruz para comentarem uma prova com 24 Madeiras de grande nível, alguns deles intemporais.

Madeira Wine ExperienceComo já vem sendo costume, o Paulo, para além de escolher vinhos verdadeiramente estratosféricos, acrescentou ao "menu" algumas surpresas como a inclusão de um Porto "intruso" com 110 anos, provas cegas, jogos e desafios. As seis horas de prova passaram com um piscar de olhos. 

Madeira Wine ExperienceViajei de propósito de Guimarães para Sintra para participar nesta prova memorável. Cheguei um pouco mais cedo (a prova estava agendada para as 15h30) para conversar um pouco com o Paulo e tirar algumas fotografias ao espaço e aos vinhos. Quando entrei na sala de prova senti imediatamente o aroma arrebatador e complexo proveniente dos Madeiras já abertos. Só esse momento já "valia" os mais de  400 km, percorridos na sua maioria sob forte chuva. 

Madeira Wine ExperiencePara além desse aroma, inesquecível, encontrei também o Paulo preocupado com as temperaturas (vinhos, copos e salas), com a alteração do perfil dos vinhos, como a reordenação dos vinhos e com tudo o que pudesse maximizar a experiência de quem iria participar na prova.

Madeira Wine ExperienceComeçamos pela laranja, frutos secos, bolo rei, fumados e acidez picante do Blandy's Verdelho 10 anos (25.00 €, 91 pts.); pelos frutos secos, toffe e acidez equilibrada do Blandy's Malmsey 20 anos (85.00 €, 95 pts.); pelos balsâmicos, verniz, compota de pêssego, menta, enorme complexidade e acidez aguerrida do Blandy's Bual 30 anos (90.00 €, 95 pts.); pelas tâmaras,  casca de limão, acácia-lima, cravinho, frutos secos e acidez seca do Blandy's Terrantez Frasqueira 1980 (220.00 €, 97 pts.); e pela toranja, ameixa seca, fumo, salinidade, complexidade e acidez super vincada (a mais vincada que encontrei até hoje num vinho) do Blandy's Sercial Frasqueira 1968 (300.00 €, 98 pts.).

Madeira Wine ExperienceProsseguimos com a ginja, tabaco, frutos secos, pimenta, rocha vulcânica, salinidade e frescura do Blandy's Sercial 2009 (55.00 €, 93 pts.); com o iodo, canela, frutos secos e frescura especiada do Blandy's Verdelho 2009 (100.00 €, 95 pts.); com os frutos secos, folhas secas, caixa de madeira, equilíbrio e finesse do Blandy's Bual 2008 (120.00 €, 94 pts.); e com a fruta cristalizada, avelã, damasco, e frescura adocicada  Blandy's Malmsey 2007 (120.00 €, 94 pts.).

Madeira Wine ExperienceNa prova cega, o D´Oliveiras Sercial Madeira 1969 (360.00 €, 95 pts.) trouxe ameixa seca, marmelo, limão, rocha vulcânica, secura, um ligeiro brett e intensidade; o D'Oliveiras Reserva Verdelho 1912 (1100.00 €, 100 pts.) ofereceu uma acidez descomunal, caramelo, couro e melaço; o D'Oliveiras Verdelho 1981 (290.00 €, 97 pts.) ostentou nozes, charuto, tâmaras e uma acidez super delicada e fina: um vinho delicioso!!!);  o Barbeito Frasqueira Verdelho 1995 (230.00 €, 96 pts.) carregava cacau, menta, resina, uva passa, ameixa seca, folhas secas e uma acidez picante; e o D'Oliveiras Terrantez 1988 (130.00 €, 94 pts.) entregou-nos alperce, marmelo, compota de abobora, pinho, cera, untuosidade e equilíbrio.

Madeira Wine ExperienceQuando coloquei o (nada consensual) Manoel dos Passos Freitas Boal Vintage 1896 (3000.00 €, 100 pts.) na boca soltei um "Che gelida manina, mio caro Madeira". Possuía uma frescura incrível (equilibrada, ainda audaz, fina) e notas de torrefacção, iodo, azeitona, chã verde e pedra vulcânica.  Mas foi aquela frescura, quase gélida, que me conquistou. Confesso que guardei um pouco desse vinho num frasco para a Clarisse provar. Ainda guardo o frasco, ainda hoje, quando o abro, apenas com uma gota de vinho, perfuma toda a sala. 

Madeira Wine ExperienceSeguiram-se o Manuel de Sousa Herdeiros Boal 1900 (1200.00 €, 99 pts.) com nozes, couro, fumo, casca de laranja, acácia-lima e acidez vulcânica super equilibrada; o Leacock Boal Vintage 1920 (2000.00 €, 99pts.) com nozes, fumo, caixa de tabaco, pinho, baunilha, densidade e acidez subtil; o Artur Barros e Sousa Boal Solera 1932 (1000.00 €, 99pts.) com marmelo, gengibre, casca de laranja, melaço, erva seca, maresia e acidez tensa; o Henriques e Henriques Boal 1997 (150.00 €, 93 pts.) com toffe, caramelo, salinidade, frutos secos, tabaco e acidez equilibrada; o V.J.H.  Malmsey 1933 (600.00 €, 97 pts.) com cedro, rocha vulcânica, bolo inglês, pão torrado e acidez crocante, e o Blandy's Malmsey 1981 (300€, 95 pts.) com laranja confitada, caramelo, nozes, figos secos, cacau, resina, salinidade, doçura equilibrada pela acidez inebriante e elevada concentração.

No final deste dia memorável, dois vinhos impactantes e que não conseguimos encontrar no mercado . Primeiro o MMVF Malvasia Garrafão 59 + 100 anos (??? €, 100pts.) cheio de vinagrinho, iodo, frutos secos, verniz, pinho, caixa de tabaco, charuto, melaço, tâmaras, intensidade, frescura, harmonia e complexidade. Um vinho que nos apaixona a cada aroma, a cada gole, a cada descoberta. A fechar este desfile de imortalidade surgiu o inusitado e desconhecido Madeira Wine Company Triunfo 1977 (??? €, 98 pts.) que nos deixava com notas equilibradas de brandy, avelãs, especiarias, tosta, caixa de tabaco e pedra vulcânica. Na boca era muito fresco, inquieto, harmonioso e intenso.  

Madeira Wine ExperienceAinda hoje quando cheiro o pequeno recipiente onde trouxe o Manoel dos Passos Freitas Boal Vintage 1896  para a Clarisse, consigo sentir a torrefacção, o iodo, a azeitona, o chã verde e a pedra vulcânica, mas cheiro também ... a coragem de Spyridon Louis e, para além de sentir a sua salinidade e equilíbrio,  sinto também a Che gelida manina da Mimí de Puccini. O vinho é muito mais que acidez, taninos, aromas ou sabores, pois carrega também, lendas, vidas, amores e histórias como esta ;)

Madeira Wine ExperienceEste foi mais um evento que só poderia ter sido organizado pelo Paulo Cruz. Pela sensibilidade, pelo risco, pela novidade, pela excelência e pela preocupação com quem se senta à sua mesa para provar.   Para Março está já agendado outro encontro incrível, o Porto Extravaganza 2023 que vai ser realizado na Casa dos Penedos, com o seguinte alinhamento:

Dia 10 Março- Ricardo Diogo e os Vinhos Madeira (Barbeiro, séc. XIX, 12 tesouros);

Dia 11 de Março- Dirk Niepoort e os Vintages de altíssima qualidade (1927-2020);

Dia 12 Março- Quinta do Noval e os Single Year Tawnys (1937- 2009), uma riqueza intemporal.

Apareçam que com certeza vai valer a pena.  Obrigado Paulo, mais uma vez, pelo convite e pelas memórias, um grande abraço!!!

Casa das Pipas Hotel - Quinta do Portal | Haja um cacho de luz

"O silêncio é uma confissão...  é o desafogo das grandes emoções, que abafam o espírito, enturvando-nos a razão." Camilo Castelo Branco

 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do Portal"No princípio, quando Deus criou o céu e a terra, a Terra estava sem forma e sem ordem. Era um mar profundo coberto de escuridão; mas sobre as águas pairava o Espírito de Deus. Então Deus disse: «Que haja luz!» E a luz começou a existir. Deus achou que a luz era uma coisa boa e separou-a da escuridão. E Deus chamou à luz dia e à escuridão, noite. Passou uma tarde e veio a manhã: o dia um."

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalGénesis 1:1-5: Assim começa o livro mais vendido de todos os tempos, assim começa a Bíblia. Bem antes, no século VIII a.C., já Zaratustra, profeta e poeta nascido na Pérsia e o fundador do Masdeísmo/Zoroastrismo (religião adoptada oficialmente pelo Império Aqueménida e que muito provavelmente foi a primeira religião monoteísta ética da história), articulava as noções de céu e inferno, julgamento após a morte e livre-arbítrio. A quem rezava Zaratustra? A Ahura-Mazda, o deus da Luz.

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalViajando um pouco mais para trás na história, na mitologia egípcia, todas as formas de vida foram criadas pelo Deus Rá, ao pronunciar os seus nomes secretos. Rá era também conhecido como "Pai dos deuses" e "Pai dos homens". Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalIsto porque, para os egípcios, Rá era a divindade mais importante, e acreditava-se que para além de ser o criador da vida era também o criador do mundo, dos deuses e da humanidade. Era considerado o protector do Egipto e ficou na história como o Deus Sol. 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalFugindo um pouco da religião, no início da medicina, o seu pai, Hipócrates (século V a.C.), exercia em Cos, nos templos de Esculapius - filho de Phcebus Apollo (deus do Sol, da medicina e da música), uma espécie de cura potenciada através da acção da luz solar. 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalPostulou que se tivéssemos uma cidade bem orientada para o sol, nela não existiriam tantas pragas e doenças devido a uma "imunidade solar". Já no início de nossa era (século II), Galeno e Celso, considerados os pais da farmácia, comprovaram o efeito da luz solar na anatomia, na fisiologia, na patologia, na sintomatologia e na terapêutica. Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalNa Idade das Trevas (século III), paradoxalmente, surge uma espécie de culto ao Sol Invicto. Por esta altura, o astro rei, além de se assumir como o maior adversário, simbólico, das trevas, surge também intimamente ligado  à sabedoria.  Uma sabedoria gigante, quase divina, muito maior que a soma aritmética do conhecimento de todos os humanos.

Casa das Pipas Hotel - Quinta do Portal É o sol que no código de Hammurabi (já vos falei dele anteriormente) dá as leis aos monarcas, para que eles possam de forma generosa governar os seus súbditos. É esta imagem de luz divina que os maiores imperadores romanos vão tentar capitalizar como arma política: são eles o elo de ligação entre os humanos e esse universo de divindade, de sabedoria e de luz. 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalNeste sentido, a 7 de Março do ano 32,  o imperador Constantino proclama o domingo como dia de descanso, com o objectivo de organizar o calendário semanal. Este passa a ser o dia do deus Sol, divindade oficial do império romano nessa altura, e que explica a designação utilizada pelas línguas germânicas para este dia (dia do sol: Sunday). 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do Portal“Que no venerável Dia do Sol, os magistrados e os que residem nas cidades descansem, e que todas as oficinas estejam fechadas. Porém, nos campos, os que se ocupam da agricultura poderão livremente continuar seus afazeres, pois pode ocorrer que outro dia não seja tão conveniente para as sementeiras ou a plantação de vinhas”, legislava Constantino. Voltaremos às vinhas mais tarde... :P

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalTodas estas crenças antigas (religiosas, pagãs ou ateístas), receberam uma validação científica no início do século XX, quando a luz solar foi usada para matar bactérias da tuberculose e tratar o raquitismo. Inspirados pelos defensores do sol como meio curador, a enfermeira inglesa Florence Nightingale é um dos seus nomes mais proeminentes, hospitais e sanatórios foram projectados com grandes janelas voltadas para o leste e clarabóias para maximizar a exposição solar de seus pacientes.

Casa das Pipas Hotel - Quinta do Portal Durante a gripe espanhola de 1918-1919, os pacientes que foram tratados em hospitais mais lotados e que eram regularmente levados ao sol tiveram taxas de mortalidade bem mais baixas do que aqueles que foram deixados em ambientes mais restritos e mais afastados do sol. 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalTodo este entusiasmo pela luz solar como "remédio" diminuiu depois dos antibióticos começarem a ser amplamente utilizados na década de 1930, mas ressurgiu recentemente, à medida que aumentavam as evidências do papel (muito complexo) da vitamina D, por vezes chamada de vitamina do sol, desempenhado na biologia humana. Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalEmbora os mecanismos por detrás da sua acção ainda não sejam totalmente compreendidos, um estudo publicado em 2019 pelo Dr. Holick e colegas comprovou que a vitamina D aumentava a expressão de centenas de genes que ajudavam a regular a função imunológica.

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalEsse estudo mostrou ainda que a actividade física sob luz solar ajudava as pessoas a manter o peso adequado, reduzia o risco de diabetes e doenças cardíacas, beneficiava a saúde óssea, reduzia o stress e melhorava o bem-estar emocional. Para além de tudo isso, a exposição solar permitia também que a pele criasse óxido nítrico, que reduzia a pressão sanguínea e melhorava a saúde cardiovascular. 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalAté contra o famigerado COVID-19 a luz solar parece oferecer mais valias. Paul Dabisch, um especialista em aerobiologia do Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos da América, juntamente com outros especialistas, publicou um artigo em Novembro de 2019 que reportou o facto experimental da COVID-19 ser rapidamente inactivada quando exposta à radiação ultravioleta proveniente da luz solar. 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalAssim, muitos cientistas já se referem à luz solar como a bala mágica que nos conduz à saúde, ao bom humor, à boa disposição e a um bem estar geral.  A luz solar é também muito importante para a vinha e para os vinhos. Sem luz solar, as plantas não conseguem fotossintetizar, atrofiam e morrem. 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalPara além disso, a luz do sol é um dos factores mais importantes no desenvolvimento das uvas com a quantidade certa de glicose, compostos fenólicos e moléculas que conferem sabor aos vinhos.  De forma simplista, mais luz solar corresponde a mais e melhor sabor. 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalO sol é também muito importante para equilibrar os níveis certos de luz solar com os “efeitos de arrefecimento” úteis, como a neblina e brisas matinais, de modo a garantir que as uvas mantenham a sua acidez enquanto desenvolvem características maduras e frutadas.  É essa acidez que mantém a estrutura das uvas e evita que elas se tornem muito frutadas ou até exageradamente doces. 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalÉ por tudo isto, que tal como acontece com os imóveis, as vinhas que ficam na direcção certa em relação ao sol, são as mais desejadas e também as mais caras, isto porque, normalmente,  essas vinhas produzem uvas com mais sabores. 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalPara além de todos estes aspectos mais objectivos/científicos ligados à bonita relação entre luz solar, saúde, boa disposição, vinha e vinho, existem outros mais subjectivos, como a conjugação, quase mágica, entre uma luz muito especial, gastronomia, enoturismo, vinha e paz, que encontrei no Casa das Pipas Hotel, da Quinta do Portal. É sobre ela que vos quero falar hoje.    

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalMal abri a janela do nosso quarto que conduzia a uma varanda com uma vista panorâmica sobre a vinha (onde tirei a foto à Clarisse que serve de "capa" a esta publicação), pensei instintivamente: "Pah, o tema da critica vai ter que ser esta luz!!!". Até a Bia e o Gui, seres inquietos por natureza, ficaram abismados com a beleza daquele momento e ficaram sossegados (para quem os conhecem acrescento que juro que ficaram mesmo sossegados :P) à janela durante vários minutos a contemplar o espectáculo silencioso que a mãe natureza nos oferecia generosamente.   

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalMas a Casa das Pipas da Quinta do Portal tinha muito mais para mostrar. Emerge por entre as vinhas que se encontram à distância de um abraço, permitindo ainda vislumbrar o Douro montanhoso que recorta o horizonte, desafiando os céus. A oferta é completada com a Casa do Lagar também ela situada na Quinta do Portal, a 200 metros da Casa das Pipas, confinando harmoniosamente com a aldeia de Celeirós do Douro, e que resulta da recuperação de um lagar de azeite tradicional. 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalA Casa das Pipas dispõe de 12 quartos (3 de categoria superior e 9 standard) e a Casa do Lagar 4 quartos (2 quádruplos e 2 standard), oferecendo, todos eles, vistas sobre os socalcos de vinha centenária e para o Douro, num enquadramento paisagístico, literalmente, de cortar a respiração.

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalA todos os detalhes de decoração vintage são acrescentados mimos modernos como amenidades Claus Porto e uma casa de banho grande requintada com uma banheira e azulejos tradicionais.  O armazém de estágio e envelhecimento de vinhos da Quinta do Portal também merece uma visita... 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalEssa é uma estrutura vínico-artística sofisticada e inovadora, nascida das vinhas, e que se mistura e transforma com a paisagem através da metamorfose dos materiais utilizados, como o xisto e a cortiça, que ciclicamente acompanham as cores e o estado de espírito que cada estação de cada ano vai oferecendo. 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalO xisto e a cortiça são a pele de uma estrutura fascinante, com uma área de implantação de 2,051  m2 e uma área de construção de 4,722 m2 de aço e betão, onde os vinhos do Porto e Douro da Quinta do Portal vão estagiar e envelhecer lentamente, num templo que homenageia o vinho e o tempo. 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalCom centro de visitas, auditório e sala de provas, o armazém é um complemento inovador à oferta turística já disponibilizada pela Quinta do Portal. O “Portal” desenhado por Siza Vieira na cobertura do novo edifício não é mais que um convite para a descoberta dos aromas e sabores da Quinta do Portal e do reino maravilhoso que é o Douro... 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalFoi lá que desfrutamos de uma visita guiada à adega, aos balseiros com cascos centenários e às caves de envelhecimento, onde podemos provar directamente do casco. De seguida, ficamos a conhecer alguns vinhos da Quinta do Portal.

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalO alperce, acácia-lima, flores brancas, notas fumadas, anis, frescura e harmonia do Quinta do Portal Reserva Branco 2021 (16.00 €, 90 pts.); os frutos silvestres, cassis, ginja, esteva, secura, taninos aguerridos, complexidade e boa estrutura do Quinta do Portal Grande Reserva Tinto 2019 (33.00 €, 92 pts.); e o chocolate preto, frutos silvestres, cassis, canela, pimenta preta, caixa de tabaco, tosta, intensidade, equilíbrio, taninos quase indomáveis, grande frescura, enorme comprimento e bela harmonia do (ainda) benjamim Quinta do Portal Auro 2019 (99.00 €, 97 pts.).

Nos fortificados destaco a fruta bonita (vermelha e seca) e especiarias do Quinta do Portal 10 Anos (30.00 €, 89 pts.); o equilíbrio, complexidade, acidez irreverente, ameixa seca,  casca de laranja cristalizada, amêndoas caramelizadas e nozes Quinta do Portal 20 Anos (50.00 €, 92 pts.); os figos secos, amêndoas, rebuçado de tangerina, pinho, noz, complexidade,  presença e cremosidade do Quinta do Portal 30 Anos (75.00 €, 93 pts.); os frutos secos (amêndoas, nozes e avelãs), ameixa seca, menta, mel, canela, complexidade, estrutura, belo final de boca e equilíbrio do Quinta do Portal 40 Anos (130.00 €, 96 pts.); a amêndoa, tarte de pêra, doce de maçã, e toffe do Quinta do Portal Moscatel 1996 (45.00 €, 91 pts.); e os mirtilos, ameixa escura, framboesas, esteva, rosas, xisto partido, frescura e austeridade do Quinta dos Muros Vintage 2008 (60.00 €, 95 pts.)!!!

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalPassando para a gastronomia, o restaurante da Quinta do Portal procura transmitir uma experiência única de sabores! A perfeita harmonização de uma cozinha de autor com os  pratos/produtos tradicionais da região, e a deliciosa combinação com os vinhos da Quinta do Portal, num ambiente descontraído e convivial, mais uma vez, com as vinhas do vale do Pinhão como pano de fundo.

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalAs panelas e os tachos estão sob a batuta certeira, fresca e muitas vezes irreverente do  Chefe Milton Ferreira, que trabalha diariamente com afinco e mestria para nos transmitir um experiência enogastronómica única, inspirada nas suas memórias.

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalDe todas essas memórias, as mais bonitas integram o menu de degustação intitulado "Identidade do Chefe" (95€ + 30€ para a harmonização), menu esse que se caracteriza pelas memórias e histórias que marcam o trajecto profissional do Chefe Milton Ferreira. 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalUma verdadeira epopeia de sabores, aromas, texturas e descobertas ao longo de 8 momentos verdadeiramente imperdíveis, devidamente harmonizados pelo enólogo Paulo Coutinho, com os vinhos da Quinta do Portal.

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalDe todas essas propostas gastronómicas destacamos a "Dourada com texturas de couve flor" com caviar de truta, puré de grão de bico, pickle de beterraba, caldo de Moscatel e maionese de pimentos (fresca, untuosa e com um sabor a mar arrebatador); o "Robalo com arroz cremoso de açafrão e citrinos" (rico, complexo e com uma acidez salivante); e o "Pregado com milhos cremosos" (um autentico mergulho no mar com notas adicionais de mostrada, crocância, fumo e mais uma vez uma acidez deliciosa). 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalNas carnes não podem deixar de experimentar a "Bochecha de Vitela com puré de ervilhas", com a posta de vitela e a sua bochecha (camaleónica no sabor, nas texturas e nos diferentes níveis de acidez e untuosidade); e o "Rabo de boi com puré de aipo e pêra" (inesperado, subtil, saboroso e com um belo contraste entre a crocância dos vegetais e a maciez do rabo de boi, uma delicia!!!) 

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Para adoçar o palato recomendo o conforto, a generosidade e exagero organoléptico da "Torta de Abóbora e noz com gelado de abóbora" e os contrastes (texturas, temperaturas e doçuras) e harmonia quase "abraçante" da "Tarte de Pêra". Ambas as sobremesas misturaram a tradição com a inovação e com uma apresentação cuidada/cheia de detalhes de um modo muito complementar e rico.  O serviço é muito próximo, competente, amigo, quase familiar (o Chefe de sala Bruno Dias transpira orgulho, dedicação e saber em tudo o que faz ;)). 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalConfesso que quis visitar a Quinta do Portal pelos seus vinhos, pela Casa das Pipas, e pela sua localização privilegiada.  Não estava à espera, não estava nada à espera de encontrar uma proposta gastronómica tão cheia de tudo (de irreverência, de risco, de conforto, de generosidade, de ligação à terra e ao produto local) como a que o Chefe Milton Ferreira por lá exibiu nesses dias. 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalO equilíbrio irrepreensível, a acidez, o sal no ponto, as diferentes texturas, os diferentes jogos de contrastes e equilíbrios, servidos à mesa conjuntamente, sem perder a ligação ao Douro e a fio condutor em todo o menu, faz-me crer que o Milton vai longe, muito longe!!!  Para além deste menu verdadeiramente arrebatador, por vezes até inesperado no que à complexidade diz respeito, existem outros dois.

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O "Memória Sensorial" (45€ + 17€ para a harmonização) concebido diariamente com produtos frescos e sazonais, e dividido em 4 momentos; e o "A evolução do Portal no Douro", em 5 momentos (58€ + 22€ para a harmonização), composto por saudações do Chefe, entrada, prato de carne, peixe e sobremesa. 

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalAinda na gastronomia, o pequeno almoço, de novo com vista para as vinhas, é muito rico,  diversificado, e assente em produtos da máxima qualidade, oferece ainda uma vasta lista de pratos quentes (ovos, tostas de abacate, panquecas e waffles, entre outros.)

Casa das Pipas Hotel - Quinta do PortalPor tudo o que vos disse anteriormente a Casa das Pipas Hotel e tudo o que a Quinta do Portal tem para oferecer a quem a visita, passa a estar na lista dos mais recomendados (de sempre) do blogue. Para quem gosta de gastronomia, vinhos e de aproveitar as propriedades terapêuticas que a luz tem para oferecer, este é um local de visita obrigatória.

Por vezes, o silêncio é mesmo a melhor confissão, por isso remeto-me a ele, confidenciando-vos apenas que adoramos este autentico cacho de luz desenturvador!!!