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No meu Palato

No meu Palato

Hilton Porto Gaia | Uma ponte chamada liberdade

“Entre a minha casa e a tua, há uma ponte de estrelas. Uma ponte de silêncios.”  Mário Quintana

Hilton Porto GaiaEstamos numa ponte construída com 20 barcas sob o rio Douro. O dia está chuvoso e frio. As barcas estão ligadas por cabos de aço que podem abrir em duas partes para dar passagem ao tráfego fluvial. Para pagar a sua construção e limitar o fluxo de pessoas são cobradas portagens: 5 réis por um simples caminhante, 20 réis por uma pessoa montada num cavalo, 40 réis por um carro de bois e 160 réis por uma carruagem. Se quisermos atravessar esta ponte durante a noite, pagamos o dobro.

Hilton Porto GaiaDentro de minutos os portuenses vão tentar fugir por esta ponte da sua cidade perseguidos pelo exercito francês, procurando abrigo em Gaia. O exército invasor virá no seu encalço. Num piscar de olhos morrerão 4 mil pessoas (há quem fale de 20 mil!!!) afogadas no Douro, devido ao colapso da Ponte das Barcas. Parece-vos um conto aterrador? Pois, não é, tudo isto aconteceu há pouco mais de 200 anos perto do local onde hoje encontramos a ponte Luís I. 

Hilton Porto GaiaRegressemos a 1800, altura em que a corte portuguesa enfrentava uma situação particularmente preocupante. D. Maria I, a "louca", foi afastada do poder devido a supostos problemas mentais. Digo supostos, porque os estudos mais recentes indicam que se trataria  "apenas" de uma depressão profunda resultante de alguns traumas familiares (entre os quais a morte de um filho devido a varíola). 

Hilton Porto GaiaO problema é que naquela época, a depressão era vista como um sinal de insanidade, certamente uma obra de forças malignas. Neste impasse o seu filho mais velho, D. João VI, assume a regência para acalmar a corte e o povo. Resolvido um problema, logo surge outro...

Hilton Porto GaiaEmbora Portugal (ao contrário dos ventos de mudança que sopravam um pouco por toda Europa) mantivesse a sua postura conservadora, frequentemente neutra e absolutista, é invadido a 20 de maio de 1801 por Espanha e França, durante a Guerra das Laranjas (uma espécie de prelúdio das Invasões Francesas) devido à nossa ligação estratégica com Inglaterra (é aqui que ficamos sem Olivença, até hoje...). Esta guerra, quase esquecida na história, pode parecer pouco relevante, no entanto foi apenas o primeiro sinal de que algo pior, algo muito pior, estava a bater à porta. 

Hilton Porto GaiaEm 1806, Napoleão Bonaparte emite o famoso Bloqueio Continental, que proibia o comércio portuário com Inglaterra. Portugal, sendo um dos mais antigos aliados dos britânicos, resiste em acatar as ordens napoleónicas e tenta negociar com França e Inglaterra, uma posição de neutralidade, tarefa essa que se revelaria infrutífera.  Irritado com as atitudes dos portugueses, Napoleão reúne a 7 de Outubro de 1807 em Fontainebleau (próximo de Paris) com o ministro espanhol Manuel de Godoy para negociar um acordo secreto. 

Esse acordo dividia Portugal entre a França e a Espanha, com o Entre Douro e Minho a passar a chamar-se Reino da Lusitânia Setentrional e entregue à filha de Carlos IV de Espanha. O Algarve e Alentejo formariam o Principado dos Algarves, governado por Manuel de Godoy, enquanto que as províncias de Trás-os-Montes, Beiras e Estremadura ficariam para Napoleão. O destino de Portugal parecia estar traçado... 

Hilton Porto GaiaCom Portugal previamente repartido por franceses e espanhóis, em 1807, Napoleão ordena a invasão de Portugal, dando ao general Jean-Andoche Junot duas tarefas muito concretas: prender família real portuguesa (sobretudo D. Maria I e D. João) e pilhar os navios fundeados no Tejo. Jean-Andoche Junot falhou ambos os objectivos...

Hilton Porto GaiaComo é sabido a família real portuguesa fugiu para o Brasil com a ajuda de Inglaterra (que bonito!!!). Alguns textos históricos com alguma credibilidade dizem que o general francês ainda terá visto os navios da armada real a deixar o Tejo.  Apesar de não conseguirem apanhar a família real (e com isso aprisionar também formalmente o poder: com o Rei no Brasil a capital de Portugal passa a ser o Rio de Janeiro) espanhóis e franceses, ocupam Lisboa.

Hilton Porto GaiaO objectivo seguinte era o Porto, sendo destacado para essa missão o temível general francês François Jean Baptiste Quesnel e também uma guarnição espanhola proveniente de Vigo. Quando o exército invasor começa a conquistar o Porto eclode uma revolta em Espanha que põe fim à colaboração de Espanha com Napoleão. 

Hilton Porto GaiaNeste momento de fraqueza do invasor, o povo do Porto revolta-se contra os ocupantes, sendo mesmo içada a bandeira portuguesa no forte de São João da Foz. Esta revolta contamina todo o norte do país e os franceses começam a ver-se em muito maus lençóis.   

Aproveitando todo este inesperado cenário, a 1 de Agosto de 1808, uma guarnição inglesa desembarca na foz do rio Mondego. Nas semanas seguintes, ingleses e portugueses ganham duas importantes batalhas,  a da Roliça (dia 17) e a  do Vimeiro (dia 21). Não restou aos franceses nada mais que bater em retirada e regressar aos seus croissants.

Hilton Porto GaiaMas Napoleão, ferido no orgulho, queria mesmo conquistar o Porto. Em Março de 1809 um exército francês comandado pelo marechal Nicolas Jean-de-Dieu Soult entra em Portugal. No dia 16 de Março de 1809, as tropas napoleónicas ganham uma batalha perto de Braga e no dia 29 entraram facilmente no Porto (não se esperava uma invasão devido ao armistício assinado um ano antes).

Sem grande oposição, os soldados franceses queimaram casas, pilharam o que conseguiam carregar, violaram e atacaram a população que, indefesa, correu para a ponte das Barcas para procurar abrigo em Gaia, onde já se encontravam militares portugueses, prontos a defender a pátria.

Hilton Porto GaiaCom tanta gente na ponte, a estrutura frágil não aguentou o peso da avalancha humana e ... cedeu. Nesse tempo pouca gente sabia nadar, mesmo por ente marinheiros ou pescadores. À maioria nada mais restava que esbracejar e esperar que o Douro as embalasse. Esta é a chamada Tragédia da Ponte das Barcas e quase todos os portuenses a conhecem.

Hilton Porto GaiaO cenário apocalíptico que se viveu naquela ponte, o esbracejar dos entes queridos no Douro, o abandonar do lar, as vidas inocentes roubadas por ganância, marcou as gente do Porto, unindo-as. Não podiam recuperar a vida ceifada aos familiares, podiam, no entanto, devolver-lhe o seu país. 

Hilton Porto Gaia

Dois meses mais tarde, a 12 de Maio, os franceses foram expulsos, pela segunda vez do Porto pelas tropas portuguesas (ajudadas pelos camaradas britânicos), forçando-os a retirarem-se de território nacional pela fronteira de Montalegre.  

Hilton Porto GaiaO Porto e Gaia nunca esqueceram esta tragédia, e diariamente, ainda surgem velas junto da lápide que desde 1897 evoca esse acontecimento. Este desastre é também recordado no local  através de um memorial projectado pelo arquitecto Souto Moura (são duas placas de aço uma em cada uma das margens do Douro, perto da Ponte Luís I). 

Hilton Porto GaiaA ponte das Barcas deu origem à Ponte D. Maria II (Ponte Pênsil), que por sua vez foi substituída por uma estrutura mais robusta: a Ponte Luís I). Todas elas, por tudo o que disse anteriormente, símbolos de liberdade. Liberdade que foi total apenas a 24 de Agosto 1820 quando os coronéis Cabreira e Sepúlveda fizeram um pronunciamento militar onde defenderam o regresso do rei, a expulsão dos ingleses (que entretanto se tinham aproveitado da situação para nos sorver recursos), a regeneração da pátria e a elaboração de uma Constituição.

Hilton Porto GaiaAssim a "neta" da Ponte das Barcas, a ponte Luiz I, não nos deve remeter apenas para os momentos de aperto que vivemos enquanto país; para nos alertar que a nossa guarda nunca pode estar completamente baixada; ou para nos avisar que nem todos os que lutam a nosso lado estão a lutar por nós; devia também encher-nos os pulmões com a brisa de liberdade que serpenteia por entre as margens do Douro. Gosto muito do Porto e de Gaia, não só por toda a sua história, alma acinzentada mas alegre, vinhos, gastronomia e cultura, mas também devido a este liberalismo (daqueles liberalismos à séria e não dos modernos :P) identitário.

Hilton Porto GaiaO hotel de que hoje vos falo, o Hilton Porto Gaia, tem uma das melhores vistas para esse local icónico da região (ao nível to The Yeatman, WOW, Vinum e Barão de Fladgate) mas oferece muito mais. Este novo hotel de luxo cinco estrelas, com um custo de 40 milhões de euros, evidencia toda a sua personalidade à primeira vista, com a traça exterior preservada com o objectivo de (re)lembrar os telhados das tradicionais Caves de Vinho do Porto.  

Hilton Porto GaiaQuando entrámos pela sua porta somos imediatamente brindados com uma autêntica ode ao detalhe, numa simbiose perfeita entre o conforto que caracteriza as propriedades da Hilton Hotels & Resorts e uma arquitectura e design de interiores sofisticados e contemporâneos, assinados pela  designer portuguesa Nini de Andrade Silva.

Hilton Porto GaiaNo total, o Hilton Porto Gaia ocupa uma área útil de cerca de 32 mil metros quadrados, divididos por 8 pisos, e oferece 194 quartos e suites muito espaçosos e com luz natural, alguns dos quais com vista privilegiada para o rio Douro e centro histórico do Porto. Já as tipologias superiores garantem acesso a um exclusivo Executive Lounge, com sala privada para refeições e serviço permanente de café e snacks ligeiros.

Nas áreas sociais do hotel, desenhadas para receber, sem formalismos, a comunidade local, destaca-se o restaurante, que conta a história da cidade e das suas pessoas, numa filosofia que privilegia a origem e a essência de cada ingrediente. A cozinha, com abertura para a sala de jantar, é liderada pelo jovem Chefe Hugo Portela, que procura encontrar-se com a verdadeira identidade da cozinha autêntica do Porto e Norte de Portugal, reinterpretada com uma visão moderna e contemporânea.

Hilton Porto GaiaAconselhamos a originalidade da Cherokee, Burratina com Tomate roxo, burratina, vinagrete de manjericão e cajus torrados; a frescura picante do Ceviche Peruano com ceviche de peixe, malagueta, coentros, cebola e espuma kalamansi; e a intensidade untuosa mas fresca do Carpaccio Asiático com carpaccio de boi, maionese kimchi, cebola crocante e mão de buda.

Do mar não podem deixar escapar o Tentáculo De Polvo com puré de batata doce, funcho grelhado e chips de vitelotte em que o tentáculo se apresentou crocante por fora, quase que levemente confitado, sendo enriquecido pelo fundo vegetal, fresco e perfumado do funcho, pela doçura cremosa da batata doce e pela crocância das vitelotte.

Experimentem também o Bacalhau Bt com o peixe cozinhado a baixa temperatura, emulsão de salsa, puré de cebola, coulis de pimentos assados e mil folhas de batata,  que exibia muitas texturas, camadas de sabor (muito sabor!!!),  intensidade, riqueza, elegânica, equilíbrio e voluptuosidade, Uma delícia!!! 

Hilton Porto GaiaDa terra, gostámos muito do Jarrete De Vitela com batata, cebolinhas, bacon, castanhas e cogumelos de época, que conciliava de modo muito eufônico o sabor a tradição, aromas dos assados de Domingo e notas de modernidade sensorial; e da generosidade organoléptica do Lombo De Boi À Portuguesa,  com molho à portuguesa, batata às rodelas e legumes salteados: um prato simples, quer na confecção que na apresentação, mas que nos enche a alma de conforto. 

Nas sobremesas, quanto a nós a parte do menu mais bem trabalhada, destacámos o Chocolate, Amendoim e Bolacha com tâmaras e caramelo salgado que engrandece a já vencedora relação entre amendoim e caramelo salgado, a Pêra Bêbeda com a pêra cozida em vinho do Porto com gelado de baunilha, cheia de intensidade, complexidade e acidez, e o Queijo E Cajá, com tarte de queijo com creme de cajá, um espécie de tarte de cheesecake, com uma espécie de leite creme de cajá, que resulta numa espécie de ode aos sabores.

Hilton Porto Gaia

Para refeições mais ligeiras como hambúrgueres, sandwiches e saladas, preparados com produtos locais e frescos, sugerimos o Ground Caffé. Tem um ambiente elegante, contemporâneo e cosmopolita, e para além dessa proposta gastronómica oferece uma cuidada selecção de vinhos e bebidas nacionais. 

Hilton Porto GaiaDurante a semana há ao almoço um menu executivo a um preço bem convidativo. O outro bar contíguo ao restaurante, funciona durante todo o dia, oferecendo um menu especial de snacks ligeiros e cocktails de assinatura, assim como uma selecção premium de vinhos, espumantes e Champagne. Tudo para desfrutar sem pressas com uma vista privilegiada sobre as margens do Rio Douro. 

Hilton Porto GaiaUm dos segredos mais bem guardados (acredito que não por muito tempo ;)) do Hilton Porto Gaia é o seu Welness Center, um imponente espaço de saúde e bem-estar, com um total de 1.100 metros quadrados. Por lá promove-se a Slow Beauty, numa abordagem holística do corpo, mente e espírito. Em destaque aparece a luxuosa piscina interior aquecida, caracterizada pelos tons grená e vermelho, um espelho de água e uma área de descanso e relaxamento. Nas suas mais valias surgem ainda o Fitness Center, um elegante estúdio de yoga, e outro de pilates e pilates clínico.

Hilton Porto GaiaPor tudo o que vos disse anteriormente temos a certeza o Hilton Porto Gaia se vai tornar um caso de sucesso. É uma autêntica ponte entre a tradição das caves de vinho do Porto e o luxo da decoração e interiores contemporâneos; entre a gastronomia baseada no canône gastronómico da região e a modernidade da sua interpretação; entre a azáfama da zona ribeirinha e a tranquilidade do seu Wellness Center, entre a modernidade e requinte nos materiais de construção e simplicidade das suas linhas; entre o estar perto de ambas as margens e o suficientemente longe para as poder apreciar.

Hilton Porto GaiaNuma altura em que as noticias cada vez falam mais em muros; esses que separam os ricos dos pobres, os do norte dos do sul, os israelitas dos palestinianos, os Russos dos Ucranianos, os mexicanos dos americanos, os de Ceuta dos de Melilla, hoje falei-vos dos seus arqui-inimigos: as pontes. As pontes são o contrário de muros. As pontes unem aquilo que os muros tentam separar.

37 (1).jpgAs pontes estão para o silêncio como os muros estão para o diálogo. As pontes fazem-nos ir a algum lugar, os muros impedem que o consigámos fazer. As pontes unem: margens, populações, países, pessoas e até diferentes estados da alma. É também através da ponte dos afectos (ou a ausência deles) que nos relacionamos com os outros.

Hilton Porto GaiaÉ por isso que as pontes são um dos pilares que impulsionam a saudável comunicação, o mundo e a nossa sociedade. Nenhum de nós quer/deve ser uma ilha ou uma margem desprendida de curiosidade. Ficarmos presos dentro de muros, das nossas casas, dos nossos empregos, das nossas vilas, do nosso país, dentro daquilo que achamos ser a nossa área de conforto, vai dificultar, e muito, a bela compreensão do todo, sacrificada pela simples, fácil e cómoda observação da parte. É por isso, que "ponte" também significa viajar, descobrir, experimentar, provar. O Hilton Porto Gaia oferece-vos muitas "ferramentas" para construírem novas pontes...

Os novos Gricha | O leão que ouve Chopin

"O pensamento pode ter elevação sem ter elegância, e, na proporção em que não tiver elegância, perderá a ação sobre os outros. A força sem a destreza é uma simples massa." Fernando Pessoa

Os novos GrichaAproveitando a comemoração das 50 vindimas consecutivas no vale do Douro do seu fundador, Johnny Graham, a Churchill’s lança uma nova imagem para a sua gama de vinhos da Quinta da Gricha. Três vinhos produzidos apenas com uvas da Gricha e que expressam a riqueza inigualável de um terroir extremo e único no mundo.

Os novos GrichaA marca tirou partido desta data tão marcante para apresentar a nova imagem dos vinhos que reflectem fielmente as características únicas da Quinta e que, segundo Johnny Graham, sempre estiveram intrinsecamente associadas à personalidade dos vinhos.

Os novos Gricha“Gricha significa nascente de água. A Quinta fica num lugar de antigas minas de estanho, o que, juntamente com a nascente de água que corre pela quinta, confere uma qualidade distinta ao solo e às vinhas. E, por isso, pureza, mineralidade e electricidade são palavras que os nossos enólogos usam frequentemente para descrever estes vinhos. Para o meu pai, a cor que melhor transmite estas características é o azul, e por isso trabalhámos com um estúdio local para que fosse essa a cor da cápsula e dos rótulos”, explica Zoe Graham, Co-CEO da Churchill’s.

Os novos GrichaEsta mudança de imagem acompanha o rebranding da marca, apresentado no início do ano passado, e o lançamento das novas colheitas: o Quinta da Gricha 2019, o Quinta da Gricha Talhão 8 2018, e o Quinta da Gricha Vinhas Velhas 2014 (um vinhaço!!!).

Os novos GrichaQuinta da Gricha 2019 (43.00 €, 93 pts.) expressa as características únicas dos solos da Gricha: mineralidade, pureza e delicadeza. O vinho, que será também lançado este ano pela primeira vez nos mercados de exportação, representa desde 2016 um vinho emblemático para a empresa, com a personalidade da casa, mais descontraído mas sempre elegante. 

Os novos GrichaTraja um bonito rubi-sangue escuro, e no nariz revela amora preta, ameixa preta, bosque, notas florais a esteva, fumo, baunilha, cedro e pimenta preta. Na boca mostra uns taninos redondos, ligeira untuosidade, corpo elevado, boa acidez e muito equilíbrio.

Os novos GrichaJá o Quinta da Gricha Talhão 8 2018 (50.00 €, 94 pts.), um monocasta proveniente da mais antiga parcela de Touriga Nacional da Quinta da Gricha, é um vinho que devido à produção bastante limitada e às características únicas desta notável parcela, a marca decidiu passar a numerar as garrafas e a disponibilizá-lo apenas por alocação no mercado nacional.

Os novos GrichaNo copo mostra-se vermelho grená super denso, quase opaco; no nariz passeia com cereja, violetas, cedro, menta, pimento verde e acácia-lima; e na boca apresenta-se encorpado, com acidez elevada, taninos redondos e muita raça. 

Os novos GrichaO anterior Quinta da Gricha passou a denominar-se Quinta da Gricha Vinhas Velhas, uma vez que é 100% produzido com vinhas velhas (com mais de 80 anos). Também ele resulta de microprodução, disponível apenas no mercado nacional. A sua primeira colheita é a de 2014, que vos falo hoje, lançada em Janeiro de 2023.

Os novos GrichaAssim, o violeta escuro Quinta da Gricha Vinhas Velhas 2014 (65.00 €, 96 pts.) transporta notas harmoniosas de mirtilos, esteva, chocolate preto, pinho, resina, alcatrão, grafite e amêndoa amarga. 

Os novos GrichaNo palato é super equilibrado, complexo e elegante, com os taninos a surgirem por camadas, potenciados por uma acidez que pincela com finesse todo o conjunto. É um grande vinho, que conjuga muito bem a força com a elegância, como se um leão tivesse vestido um fraque para assistir a um concerto de musica clássica ;)

Os novos GrichaTodos estes vinhos, apesar da nova imagem, mantêm o ADN que sempre os caracterizou: a frescura duriense, uma mineralidade quente e o respeito pelas características das uvas, resultantes da simbiose entre a arte dos enólogos com as características especiais do terroir da Quinta da Gricha. A aposta num vinho com estágio prolongado em garrafa, como o Vinhas Velhas, parece-me certeira. Eu, adorei o vinho!!! 

Grande prova da Discórdia | O clássico, o potente e o improvável

"Existem lugares que declaram a identidade das paisagens que habitam na própria alma." Joni Baltar

Herdade Vale d’Évora Os vinhos da Herdade Vale d’Évora confirmam o vigor e originalidade do oásis vitícola de Mértola. Deste baixo Alentejo quente e agreste surgem dois colheita distintos, um Syrah elegante, duas Tourigas em sinfonia na mesma garrafa, um Reserva que já é um clássico, e regressam também dois vinhos provocadores: um tinto pujante e um branco improvável. Está instalada a Discórdia.

Herdade Vale d’Évora Os vinhos Discórdia têm origem na vinha (uma das mais bonitas do país) de 10 hectares plantada na Herdade Vale d’ Évora, uma propriedade de 550 hectares integrada no Parque Natural do Vale do Guadiana, Baixo Alentejo. Plantada em 2009, esta vinha tem talhões de quatro castas tintas (Touriga Franca, Touriga Nacional, Alicante Bouschet e Syrah) e de três brancas (Arinto, Verdelho e Antão Vaz).

Herdade Vale d’Évora O seu terroir é marcado por uma paisagem de grande beleza, com terrenos de ondulação generosa, uma vegetação autóctone e o rio Guadiana que a serpenteia. Este é também um dos últimos redutos de caça selvagem do Alentejo (e do país) e é também um outro Alentejo dos vinhos. 

Herdade Vale d’Évora A vinha está  plantada numa das regiões mais quentes do país, terra árida e agreste, de solos xistosos, com proximidade ao rio Guadiana, que vive no limite e numa luta pela sobrevivência, resultando dessa condição fruta deliciosa e bastante concentrada.  

Herdade Vale d’Évora Propriedade de duas famílias amigas seduzidas pelas terras de Mértola, a de Paulo Alho e a de Vítor Pereira, o projecto dos vinhos Discórdia começou em 2009, quando a família de Paulo Alho, empresário na área da construção civil natural de Sesimbra, decidiu plantar vinha no Baixo Alentejo, na Herdade Vale d’Évora, a qual havia adquirido em 2007. 

Herdade Vale d’Évora Volvidos alguns anos, em 2016, juntou-se à equipa o novo sócio, Vítor Pereira, natural de Vila Nova de Famalicão, engenheiro civil de formação e também apreciador de vinhos e caçador frequente em terras de Mértola. Passando aos vinhos, o Discórdia Branco 2020 (8.90 €, 82 pts.) resulta de uma vindima manual, com selecção de cachos e desengace total. 

Herdade Vale d’Évora A fermentação ocorre a temperatura controlada em cubas de inox, onde o vinho depois estagia. De porte amarelo citrino, é marcado por notas de papaia, casca de tangerina, maçã verde e flor de laranjeira. No palato é fresco, seco,  harmonioso e equilibrado.  

Herdade Vale d’Évora O seu camarada mais escuro, o Discórdia Tinto 2021 (8.90 €, 84 pts.) teve vindima manual, selecção de cachos, desengace total e fermentação com temperatura controlada em cubas de inox (onde ocorreu também o seu estágio). Rubi granado escuro, exibe frutos silvestres, pimento vermelho, bergamota e rosas. 

Herdade Vale d’Évora Na boca é seco, fresco, subtil e estruturado. Já o Syrah da Discórdia 2020 (16.50 €, 88 pts.) que é resultante de vindima manual com selecção de cachos, desengace total, fermentação a temperatura controlada e estágio em barricas de 300 litros de carvalho Francês; veste um bonito rubi cristalino, emanando pimento vermelho, frutos silvestres, ameixa preta e pimenta preta. 

Herdade Vale d’Évora Na boca é austero, seco, fresco e muito concentrado. As Tourigas da Discórdia 2020 (16.50 €, 90 pts.) tiveram o mesmo tratamento do seu homónimo Syrah, levando a um vinho rubi cristalino, com notas de ameixa preta, bergamota, compota de laranja, sous-bois, acácia-lima e grafite.

Herdade Vale d’Évora Na boca é carnudo, fino, elegante, harmonioso, longo e muito gastronómico. Quanto a mim, esta é a melhor edição deste vinho.  Elevando um pouco a fasquia, o Discórdia Reserva Tinto 2020 (19.90 €, 91 pts.), o clássico,  teve vindima manual, com selecção de cachos e desengace total. 

Herdade Vale d’Évora A fermentação ocorreu a temperatura controlada, e o estágio foi feito por 12 meses em barricas de 300 litros de carvalho Francês. Rubi granado denso, transporta notas gulosas de frutos silvestres, pimento vermelho, ameixa preta, tabaco, baunilha e bosque. Na boca é super fresco, seco, elegante e muito equilibrado. Vai crescer, muito, em garrafa. 

Herdade Vale d’Évora Nos topos de gama, o improvável Grande Discórdia branco 2020 (34.00 €, 92 pts.) tem uma vinificação semelhante aos outros brancos, mas com a fase final de fermentação e estágio (por nove meses) em barricas usadas de 500 litros. 

Herdade Vale d’Évora De cor amarela citrina-palha, exibe sobranceiramente maracujá, pedregosidade (xisto partido), pinho, caruma, fumo, baunilha, amêndoa, rebuçado de laranja e maçã verde.  Na boca tem uma acidez aguerrida e irreverente, é seco, ligeiramente untuoso e muito complexo. É uma pena ter sido bebido já, pois de todos os vinhos provados é aquele que mais precisa de tempo em garrafa para se mostrar em todo o seu esplendor. 

Herdade Vale d’Évora Para fechar em grande, o Grande Discórdia tinto 2019 (67.50 €, 94 pts.) é produzido a partir das castas Touriga Franca (93%) e Alicante Bouschet (7%), apenas em anos de excelente qualidade. Estagiou em barricas novas de carvalho francês de 300 litros durante 18 meses, seguindo-se outros dois anos de estágio em garrafa. 

Herdade Vale d’Évora No copo mostra-se vermelho sangue muito denso; no nariz com terra, tabaco esteva, mato, sous-bois, frutos silvestres, baunilha e tosta; e na boca fresco, seco, austero, elegante e untuoso. É outro que só ganha na garrafeira ;)

Existem lugares que declaram a identidade das paisagens que habitam na própria alma. Por vezes acontece o mesmo com os vinhos. Provados em conjunto, os da Discórdia para além de mostrarem que esta vinha é resultado de muito mais do que uma simples sucessão de oportunidades para sobreviver, passeiam intensidade, frescura e a tal identidade.

Boticas Hotel Art & SPA | A autoexpressão de Pessoa e um cozido

“A ciência descreve as coisas como são; a arte, como são sentidas, como se sente que são.” Fernando Pessoa

Boticas Hotel Art & SPAHá uma década e uns pozinhos (para ser um pouco mais preciso no ano de 2011) surgiam em Portugal os primeiros programas "estilo MasterChef" que, impulsionados pelo sucesso alcançado noutros países, começaram a discutir com os portugueses assuntos relacionados com a gastronomia e que normalmente eram deixados para segundo (ou terceiro) plano. Começou-se a falar de espumas, reduções e esfericações, mas também de tradição, memória e emoções, servidas conjuntamente num mesmo prato. 

Boticas Hotel Art & SPASempre achei que esse novo interesse pelo que comíamos levaria, com o tempo, a uma maior aproximação à arte. Esta ideia parece-vos estranha? Olhem que não!!! ;) As conversas dos espectadores mais fieis desse tipo de programas, os foddies, entre os quais eu me incluía, deixou de se centrar nos restaurantes onde se comia mais, nos restaurantes onde se comia mais barato ou nos restaurantes onde se serviam as iguarias mais extravagantes: trufas, caviar e lavagantes.

Os foddies portugueses estavam agora interessados em complementar os seus sentidos, em valorizar o prazer, em conseguir distinguir diferenças mais subtis entre ingredientes e em poderem fazer criticas mais incisivas: vários estudos científicos indicam que essa nova espécie de receptividade sensorial é a mesma que podemos encontrar na sensibilidade artística. Essa minha "previsão" baseada nos artigos que tinha lido pecou por escassa. A comida não conduziu somente os foddies à arte. A comida pensada, discutida e fotografada, em muitos momentos, substituiu a arte...

Um artigo publicado no New York Times em 2012 revelou que este novo movimento de interesse pela gastronomia assumiu as características sociológicas do que normalmente costumava ser conhecido como arte: Ambas são um interesse caro. Ambas requerem conhecimento, perícia, prática, tempo e repetição. Ambas simbolizavam poder e status: aquilo que Thorstein Veblen, o grande crítico social da Era Dourada, chamou de consumo conspícuo: gostamos porque é caro e está na moda, independentemente do prazer que dali retirámos.

Boticas Hotel Art & SPAMuitas vezes este elevar da gastronomia passou a roçar o esnobismo, superioridade e agressão social.  Um bom exemplo deste foodismo (:P) opressor aconteceu na Universidade onde trabalho. Há uns anos uns alunos vieram-se queixar que um colega professor os rebaixava constantemente com a frase: "Nunca provaram trufa? Então não podem dizer que já viveram verdadeiramente". Na altura, para mim, trufa havia apenas a de chocolate... :P

Boticas Hotel Art & SPAPara muitos deixou de ser importante conhecer a elegância melodiosa e a densidade expressiva de Mozart; o realismo matemático intrigante de Leonardo da Vinci, ou a firmeza, força e "movimento estático" de Michelangelo, mas todos se apressavam em saber a diferença entre um molho, uma redução e uma ganache. Muitos artigos foram escritos sobre esta aparente sobreposição da gastronomia à arte. O que é certo, é que tirando estes excessos esporádicos resultantes de modas ou egos, a arte tem verdadeiramente muito a ver com a gastronomia, mas de modo complementar e não substitutivo.

Ambas são uma forma abnegada de paixão genuína que as pessoas gostam de compartilhar com os amigos e família. Curiosamente, esta relação entre comida e arte, é anterior ao surgimento dos foodies, muito anterior... Comer tem sido uma fonte de prazer e sustento desde o início da evolução humana. Cada grupo de pessoas de todas as esferas das diferentes sociedades, tem, ao longo dos tempos, como principal objectivo diário garantir um suprimento de alimentos, para si e para os seus. 

Boticas Hotel Art & SPADepois disso estar garantido, aparece tudo o resto: o sexo, o conforto, a segurança, o descanso, os laços afectivos e por aí fora. A arte esteve sempre de mãos dadas com esse processo de busca pela comida e luta pela subsistência. Olhemos para Stonehenge em Inglaterra pois é um bom exemplo disto que vos disse. É conhecido por ser um local de culto ritual, mas também foi usado como uma ferramenta "tecnológica" para prever o movimento do Sol.

Boticas Hotel Art & SPAOs agricultores de há 5 mil anos (podia escrever atrás mas não seria a mesma coisa :P) confiavam no Stonehenge para prever quando é que as colheitas deveriam ser plantadas ou colhidas. Nesses locais de culto relacionado com o cultivo surgiu uma arte baseada em rituais, como dançar para trazer chuva para as plantações, ou então as representações artísticas como modo de agradecimento de uma boa colheita. 

Boticas Hotel Art & SPAEsta arte surgiu há milénios e, em algumas latitudes, ainda é usada nos dias que correm. Já antes os pintores rupestres da Idade da Pedra (há 2.5 milhões de anos!!!) usavam uma espécie de suco vegetal e algumas gorduras animais como ingredientes de ligação nas suas tintas. O que pintavam eles principalmente? Aquilo que os mantinham vivos:  animais selvagens, comida e momentos de caça. 

Os egípcios de há 3500 anos esculpiam frequentemente pictogramas de colheitas e pão em tabuletas hieroglíficas.  A comida tinha muita importância no Egipto Antigo: para além de ser considerada sagrada (sendo oferecida aos deuses e aos mortos), os egípcios acreditavam que a maioria das doenças provinha da má alimentação.

Boticas Hotel Art & SPANuma perspectiva totalmente pessoal e por isso forçosamente subjectiva, esta aproximação entre arte e gastronomia atingiu o seu apogeu com Giuseppe Arcimboldo (1526 - 1593). Em pleno Renascimento, Arcimboldo, um pintor da corte dos Habsburgos em Viena e, mais tarde, da corte real de Praga, pintou retratos caprichosos semelhantes a quebra-cabeças nos quais as expressões faciais das pessoas eram enriquecidas com frutas, vegetais, flores, abóboras, cogumelos e batatas. 

Boticas Hotel Art & SPAOs quadros de Arcimboldo são mais complexos do que aparentam pois estão recheados de simbolismos relacionados com os elementos pintados. O que há de comum em quase todos eles? Uma sensação de repasto, quase como se os olhos conseguissem comer. O quadro "Horticultor" de 1590, por exemplo, é simultaneamente uma natureza morta e um retrato. A imagem representa uma tigela com vegetais e legumes. No entanto, ao invertermos o quadro, esta imagem transforma-se num retrato de quem cultivou esses alimentos, sendo as bochechas feitas de cebolas.

Boticas Hotel Art & SPAA mesma lógica encontramos n'"O Cozinheiro" de 1571, em que um grotesco retrato se transforma, com o girar do quadro, num prato cheio de carne. Um cozido de leitão e galinha que vão ser cobertos para não arrefecerem. Tudo isto muito antes de se falar em surrealismo, bravo meu caro Arcimboldo!!! Quando continuo a pensar simultaneamente em comida e arte, intuitivamente surgem-me na cabeça as naturezas-mortas da Era Dourada holandesa (1584 - 1702).

Nessas pinturas gloriosas, cada superfície, desde os casacos de penas brilhantes de carcaças de pato em bandejas de prata reluzentes, até à pele orvalhada de frutas e bagas, é cuidadosamente renderizada para criar a ilusão de que o banquete está mesmo à nossa frente. Em 1600, essas pinturas atestavam a riqueza e o envolvimento intelectual dos seus proprietários que os expunham nas salas de banquetes.  Os alimentos retratados tinham muitas vezes um significado simbólico, quase sempre relacionado com (con)textos bíblicos. Até mesmo a forma como os objectos eram dispostos – e quais já haviam sido consumidos – transmitiam uma mensagem sobre a natureza fugaz do tempo ou então da necessidade de moderação no consumo.

Boticas Hotel Art & SPAMais tarde, durante a era da pop art (já na década de 1960), a comida tornou-se uma metáfora social. Wayne Thiebaud pintou conjuntos de tortas e bolos em tons pastéis brilhantes que faziam lembrar os anúncios de brinquedos para crianças. Apresentados em forma de menu realista de um determinado restaurante, no lugar de um contexto mais caseiro de uma refeição familiar, os seus arranjos gastronómicos, quase sempre sobremesas, reflectiam uma sociedade itinerante na sumptuosidade dessas mesmas sobremesas, e que procuravam transmitir a abundância relacionada com o sonho americano.

Boticas Hotel Art & SPACom esta breve história da relação, muito próxima, entre arte e gastronomia, procurei mostra-vos que a comida não tem "apenas" sido uma fonte de subsistência para os seres humanos e também não se contém somente no circulo do prazer, no mínimo, roça a sua barriga nas costas da arte. Há milénios que a arte surgiu nas pinturas devido à caça; e que algumas esculturas glorificaram a comida, celebraram a sua forma, a sua cor, a sua textura, e revelaram a sua abundância. 

Alguns fotógrafos artísticos usaram as mesmas cores, texturas e padrões que encontramos em alguns alimentos para nos "seduzir" esteticamente. Os Chefes que lutam pela estrela fazem o caminho inverso, transformam os pratos em autenticas telas, dando uma camada extra à tradicional experiência gastronómica.  Essas obras baseadas em alimentos (estejam numa galeria de arte ou numa mesa de um restaurante gastronómico) conseguem também invocar valores sociais, culturais e religiosos: uma das características mais nobres associadas a um artista.

Boticas Hotel Art & SPASerá que esta bonita, longa e frutífera relação entre gastronomia e arte pode ainda ser enriquecida? Hoje fala-vos de um espaço que acrescenta a esse duo, o tempo, o conforto, a paz e o enquadramento paisagístico necessários para nos podermos imergir totalmente, sem pressas e com requinte, nessa dicotomia gastronómico-cultural: o Boticas Hotel Art & SPA - Luxury Hotel.

Já lá tínhamos estado há uns anos, foi de novo a comida, uma nova proposta gastronómica que nos fez regressar. O Boticas Hotel Art & SPA está situado ao lado do Centro de Artes Nadir Afonso. O edifício de arquitectura moderna é da autoria do filho do pintor, o arquitecto Artur Afonso. Este hotel-peça de arte, com alma muito particular, para além de nos proporcionar um prolongamento do contacto com a vida e obra do grande mestre da pintura portuguesa, ainda nos brinda com um misto de sofisticação e tradição na interpretação da deliciosa gastronomia barrosã, através do seu Restaurante Abstrato, agora sob a batuta de Justa Nobre

Boticas Hotel Art & SPAPara que possamos aproveitar em pleno a experiência artístico-gastronómica, o hotel apostou (forte) no conforto dos quartos (também eles com quadros de Nadir Afonso), no relaxamento induzido por uma vista arrebatadora da piscina exterior no piso superior, e na activação sensorial proposta pelo renovado e relaxante SPA (com piscina interior, sauna, banho turco, centro de fitness, banhos Vichy e sessões de massagem: a solo e em casal). 

Boticas Hotel Art & SPADas renovadas propostas gastronómicas destacamos nas entradas a riqueza marítima da Sopa de Santola; a originalidade e conforto da Sopa de camarão com espinafres; a elegância e tradição dos Bilharacos de alheira em sementes de papoila e maionese de pimentos; e a simplicidade salivante da Tosta de queijo chèvre com nozes, mel de urze e salada verde. Nos peixes gostei muito da mistura de mar e horta do Filete de Peixe galo em crosta de amêndoas e migas de tomate; e do Polvo no forno com batata a murro, chalotas e couve salteada em que os tentáculos crocantes por fora, quase que levemente confitados, eram complementados pelo fundo vegetal, fresco e perfumado da couve e pela ligeira doçura das chalotas. 

Boticas Hotel Art & SPANas carnes, a Empada de vitela barrosã e legumes da estação estava cheia de intensidade, suculência e sabor; a Posta de vitela barrosã, batata rijada e legumes possuía uma textura incrível e estava muito saborosa, harmoniosa e rica (o suco que brotava incessantemente do seu interior era delicioso). Passando para os doces (talvez seja neste momento que mais tenhamos notado a evolução do menu): o Creme brûlée de baunilha com compota de maça reineta coberto por uma camada crocante de caramelo é cremoso, suave e doce, mas devido à compota é também ácido, sumptuoso e sedoso; o Fondant de abóbora com gelado de nata estava alicerçado no sabor da abóbora e os sabores transportavam muita intensidade, delicadeza e uma boa dose de soberba; a Tarte de castanhas e avelãs foi a minha favorita pois tornava requintado um produto regional e era muito rica, equilibrada e algo arriscada ao nível da texturas; o Bolo de chocolate com gelado de baunilha e coli de framboesa fez as maravilhas dos mais pequenos.

Boticas Hotel Art & SPAPara último guardo aquilo que mais me marcou neste fim-de-semana artístico-gastronómico: um cozido. Mais concretamente o Cozido Barrosão. Tido por muitos como um prato "simples", o certo é que para essa aparente simplicidade resultar à mesa ... é necessário muito trabalho. 

O cozido é a especialidade da Chefe Justa Nobre, que usa nele produtos genuínos da terra (de Trás os Montes e enriquecidos com os do Barroso): vitela, entrecosto bísaro, orelha, chispe, rabinhos e joelhos de porco, batata (incluindo a doce), nabo, cenoura, feijão branco, couve, arroz de farinheira e ainda um vasto leque de enchidos (que ainda hoje me fazem salivar :P).  Tudo com uma diversidade, qualidade e quantidade muito difícil de reproduzirmos em casa. Assim, este Cozido Barrosão by Justa Nobre é a desculpa perfeita para celebrarmos a família com tempo, tranquilidade e partilha,  aquecendo o corpo e a alma, construindo memórias alicerçadas à mesa.

Toda esta pompa e circunstância, em volta de um "simples cozido", acabou por envolver a Bia nas lides da restauração, transformando-a por momentos numa mini Justa Nobre, as fotos demonstram o porquê... :P Mais recentemente surgiu o Piquenique Barrosinho nas experiências propostas pelo hotel, um cesto que inclui presunto e salpicão fatiado; pão de centeio e d'avó; queijos variados; mel de urze; bola de carne; pastéis de Chaves; bolo caseiro; fruta variada, 1 garrafa de vinho da região, sumos, água e café. Aconselhamos a biodiversidade, envolvimento paisagístico e tranquilidade do Boticas Parque para esse piquenique. 

Boticas Hotel Art & SPAVoltando ao Boticas Hotel Art & SPA há ainda um pequeno almoço delicioso (acompanhado por um belo espumante da região) e um ambiente muito "family friendly" por todo o hotel com salas de jogos, menus infantis, actividades para crianças e um conceito "open space" que nos permite tirar o máximo partido de todas as mais valias do hotel. Como já vos disse anteriormente, no Verão há ainda uma piscina no ultimo piso com uma vista panorâmica incrível.

Fernando Pessoa defendeu que "a arte é a auto-expressão a lutar para ser absoluta", pois a finalidade social da arte não é, não pode ser, "apenas" agradar esteticamente, pois o prazer que daí se retiraria constituiria apenas uma relativa mediação visual. Assim, a arte é antes um meio através do qual ocorre a elevação por meio da beleza, uma espécie de elevador social catalisado pelos sentidos.

Encontrei a mesma elevação no hotel, no seu SPA, no atendimento, na sua na gastronomia e na sua constante renovação (de espaços, de propostas e experiências colocadas à disposição de quem o visita). Pelo Boticas Hotel Art & SPA não nos descrevem as coisas como elas são, querem que tudo o que nós por lá experimentemos cresça em nós como são sentidas, como se sente que elas são, pelo menos foi isso que eu senti!!!