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No meu Palato

No meu Palato

Pôpa Vinho Doce tinto 2019 | Simplicidade e Bom Senso

"Que ninguém se engane, só se consegue a simplicidade através de muito trabalho." Clarice Lispector

Pôpa Vinho Doce tinto 2019O Pôpa Vinho Doce tinto, agora na colheita de 2019, é um tinto especial... Resulta de uma apanha manual nos socalcos do Alto Douro Vinhateiro, em Adorigo, Tabuaço, logo no início de Outubro e mesmo antes das uvas serem atingida pela botrytis cinérea. Após uma triagem minuciosa na vinha, os cachos (uma mistura com mais de 20 de castas com predominância da Tinta Barroca) foram transportados para a adega em caixas de 20 kg.

Pôpa Vinho Doce tinto 2019Seguiu-se fermentação alcoólica em cuba de inox com temperatura controlada, fermentação essa que foi propositadamente parada quando foi atingido o equilíbrio desejado entre o álcool e açúcar, através de sulfuroso e frio. O engarrafamento aconteceu em Abril de 2020.

Pôpa Vinho Doce tinto 2019Desta forma, o Pôpa Vinho Doce tinto 2019 é feito à semelhança do vinho do Porto, mas com a fermentação a ser interrompida a frio e não com adição de aguardente, tornando-se um tinto jovem e com baixo teor alcoólico (9,5% vol.).

Pôpa Vinho Doce tinto 2019Tudo isto levou a que o Pôpa Vinho Doce tinto 2019 (14.99 €, 88 pts.) assumisse uma cor rubi-violeta, exibindo notas de arandos, morango, groselha e esteva. No entanto, o aroma mais evidente é aquele cheiro a lagar em dia de vindima, algo que também encontrámos nos Porto Vintage acabados de engarrafar.

Pôpa Vinho Doce tinto 2019Na boca é fresco, doce, e mostra uns taninos muito ponderados (tornam-se mais presentes quanto mais frio estiver). É uma espécie de mistura de vinho tinto DOC Douro com vinho do Porto Vintage e isso torna-o inusitado, único e surpreendente. Acompanha bem pratos como uma Terrine de foie gras e pera bêbada ou então um Petits gâteaux de chocolate negro. No entanto, quanto a mim, o grande mérito deste vinho é o de ser simultaneamente surpreendente, descomplicado, directo e ponderado.

Três Bagos Reserva tinto 2019 | Entre o leão e o cisne

"O pensamento pode ter elevação sem ter elegância, e, na proporção em que não tiver elegância, perderá a acção sobre os outros. A força sem a destreza é uma simples massa." Fernando Pessoa

 Três Bagos Reserva tinto 2019A Lavradores de Feitoria deu as boas-vindas a 2023 com a nova colheita de um dos seus vinhos bandeira. É ele o Três Bagos Reserva tinto de 2019, um tinto com uma graciosidade que abraça e amacia a garra dos típicos Douro. É caso para dizer que estamos perante um todo-o-terreno, bom para beber a solo, ideal para harmonizar com comida, sobretudo com foco na proteína. Está pronto a ser consumido, tem no entanto um bom potencial de guarda.

 Três Bagos Reserva tinto 2019O Três Bagos Reserva tinto 2019 resulta de um duplo trio: é um blend de três castas autóctones bem (re)conhecidas dos amantes dos vinhos do Douro – Tinta Roriz, Touriga Franca e Touriga Nacional –, que têm a sua origem em algumas das 20 quintas dos accionistas da Lavradores de Feitoria, situadas ao longo das três sub-regiões do Douro: Baixo Corgo, Cima Corgo e Douro Superior. Em média, são vinhas com mais de 30 anos de idade. O estágio deste Reserva dividiu-se entre cubas de inox (50%) e barricas de carvalho francês, 25% novas e 25% de dois anos, durante 12 meses.

 Três Bagos Reserva tinto 2019Este Três Bagos Reserva tinto 2019 (9.99 €, 90 pts.) traja uma bonita cor rubi cristalina. No nariz exibe ameixa vermelha, cereja, frutos silvestres, esteva, baunilha e um ligeiro fumado. No palato, para além de exibir uns taninos redondos e bem integrados, é também seco, fresco, carnudo, harmonioso e muito estruturado. 

 Três Bagos Reserva tinto 2019Toda esta força vínica, toda esta raça no copo, sem destreza, sem a elegância - como referia Fernando Pessoa - seria apenas massa. Tem uma excelente relação qualidade/preço. Nessa aspecto, é um dos melhores que passou pelo blogue. 

A Cozinha por António Loureiro | Ensaio sobre o ser

"Se podes olhar, vê. Se podes ver, repara." José Saramago 

A Cozinha por António LoureiroEstamos numa fila de automóveis que, impacientemente, respeita um sinal vermelho. O semáforo, finalmente, muda para o verde, e todos os carros (re)iniciam a marcha. Bem, na verdade, todos não. Um deles permanece parado, bloqueando todos aqueles que se encontravam na faixa do meio. A que se devia essa paragem? A uma avaria? A uma mulher que não acertava com o ponto de embraiagem? (:P) Falta de combustível?

A Cozinha por António LoureiroEssas teorias são desmentidas através de um grito, que repetia tão incessante quanto apavorantemente as mesmas três palavras: ''Eu estou cego.'' Perturbado e sem perceber o que lhe havia acontecido, o homem cego é acompanhado até sua casa por um estranho (aparentemente) gentil. O que o cego não sabia é que esse "bom samaritano" é na realidade um ladrão de carros. Depois de ter deixado o cego em sua casa, ele foge com o seu carro. O roubo mais fácil da vida do ladrão. 

A Cozinha por António LoureiroO carma não demora muito em se manifestar de modo exuberante. Pouco tempo depois, também o ladrão fica cego. Mas que raio é que se passará aqui? O primeiro cego desta história consulta um oftalmologista. Diz-lhe que a sua cegueira não é escura, mas antes um branco brilhante e impenetrável. O oftalmologista examina cuidadosamente os olhos desse homem, mas não encontra  degenerações, sinais de doença ou lesões. Intrigado com este estranho caso, o médico passa a noite a ler livros sobre medicina, na tentativa de encontrar uma explicação para aquela patologia desconcertante.  

A Cozinha por António LoureiroMal sabia ele que a última coisa que veria, seriam as suas próprias mãos contra as lombadas dos livros. Depois do primeiro cego, do ladrão e do médico, a cegueira capturou a menina dos óculos escuros, o menino estrábico, o velho e toda a cidade. O governo toma então medidas para travar o contágio, conhecido como o "mal branco". Aqueles que já estão cegos e aqueles que tiveram contacto com eles são reunidos e conduzidos a um asilo psiquiátrico abandonado na periferia da cidade. 

A Cozinha por António LoureiroEntre os primeiros internados estão o médico e a mentirosa da sua esposa. Esta mentiu para ficar perto do marido. Afirma que contraiu a cegueira branca, mas na verdade, é a única que não perde a visão. Porque terá sido ela poupada? À medida que o número de cegos aumenta, as condições do asilo deterioram-se. Não há comida suficiente: uns comem mais do que sua parte, outros passam fome. 

A Cozinha por António LoureiroTambém não há assistência médica. Qualquer tentativa de deixar o asilo é recebida com força letal por parte dos soldados, que impelidos pelo medo de também eles sucumbirem à cegueira, perdem a humanidade que ainda lhes restava. O asilo torna-se mais um campo de concentração do que um hospital. O pavor é tanto, que entre os militares há quem sugira que seria mais simples matar todos os cegos. Entretanto chegam novos cegos ao asilo... 

A Cozinha por António LoureiroCom eles trazem relatos do mundo exterior: tumultos, acidentes rodoviários e aviões que se despenham. Com o tempo, a vida no hospital degenera numa luta hobbesiana pelo poder e pela sobrevivência: terror cego, ódio cego, mas também - pois Saramago é um dos escritores mais apaixonados - amor cego. 

A Cozinha por António LoureiroNuma das passagens do livro "Ensaio sobre a cegueira", a esposa do médico passeia pela enfermaria completamente lotada, já em plena noite. Repara então em dois jovens recém-chegados entregues aos prazeres carnais por entre a imundície que pincelava o chão. Passados uns minutos (se este casal fosse de Guimarães Saramago teria de alterar o texto para "passadas umas horas" :P) o cego e a cega adormeceram, separados, no entanto, um deitado ao lado do outro, de mãos dadas.

A Cozinha por António LoureiroEram realmente jovens, daquela juventude bonita que por vezes quase que nos irrita. Talvez fossem namorados que foram ao cinema e que ficaram cegos enquanto assistiam a um filme, ou então, talvez uma coincidência milagrosa os tenha reunido naquele lugar sombrio. Mas, se apenas se tivessem conhecido ali, como se apaixonaram sem se olharem?  Outro escritor, Antoine de Saint-Exupéry, oferece-nos a resposta através do Princepezinho, “Só se vê bem com o coração, o essencial é invisível para os olhos”.

A Cozinha por António LoureiroAssim, e apesar de Saramago submeter todos os seus personagens a uma série de provações desanimadoras decorrentes de premissas essencialmente pessimistas (uma pandemia, o possível fim do mundo, uma sociedade tão egoísta ao ponto de se tornar suicida), o brilhante Nobel português também nos oferece algumas armas para sobrevivermos enquanto comunidade: a inteligência, a esperança, a compaixão, a moral e o amor. 

A Cozinha por António LoureiroQuanto a mim, a parte mais bonita do livro e que me levou a escolhe-lo para vos introduzir a critica relativa ao restaurante A Cozinha por António Loureiro, tem a ver não só com o modo muito subtil como Saramago decide abordar as questões de familiaridade, pertença e identidade, mas também com o facto de que se quisermos transmitir todas essas "nossas coisas" a alguém, deveríamos usar narrativas literárias, e consequentemente a arte, para nos fazermos ouvir. 

A Cozinha por António LoureiroAo longo de todo o livro, os personagens de Saramago esforçam-se para perceber o que aconteceu com eles e com a sua cidade. Esforçam-se também por tentar salvar a sua comunidade e a sua memória colectiva. Esforçam-se por tentar resgatar aquilo que são. Diante de circunstâncias tão inexplicáveis, tão desafiantes, tão inconcebíveis, todos os personagens acabam por dar sentido às suas vidas por meio de narrativas que muitas vezes acabam por definir, indelevelmente, as suas identidades. 

A Cozinha por António LoureiroSaramago mostra, assim, como as narrativas que as pessoas escolhem para se apresentarem aos outros, podem ajudar a construir aquilo que somos enquanto comunidade. Essas narrativas não precisam de ser um retrato fiel do nosso ADN ou do berço onde nascemos, antes sim, necessitam de ser o suficientemente cativantes para entramos naquilo que a outra pessoa é. Esse bater à porta da cave mental que faz o outro, tem de ser audível sem fazer ruído.

A Cozinha por António LoureiroÉ por isso que as pessoas que queiram apresentar o seu mundo a alguém fora dele, em vez de tentar definir objectivamente a realidade devem aceitar a ambiguidade, a arte e a incerteza, permitindo navegar "aos apalpões" pelas suas memórias. Hoje falo-vos de alguém que transporta aquilo que é, a terra onde nasceu e os valores que adquiriu, para um prato servido na sua Cozinha: O Chefe António Loureiro.

A Cozinha por António LoureiroA Cozinha é verdadeiramente especial. É quase como se entrássemos numa outra dimensão, onde a azáfama do dia-a-dia acalma, enternece e ganha um outro sentido, ou melhor, outros sentidos. O restaurante ocupa uma sala cuidada nos detalhes, sofisticadamente tradicional, uma combinação de paredes, pedra, madeira e azulejos que brindam ao experimentalismo geométrico do cubismo com garrafas de vinho.

A Cozinha por António LoureiroLocalizada no centro histórico da cidade-berço, em plena antiga judiaria vimaranense, actual Largo do Serralho, e vigiada pela imponente Torre dos Almadas, A Cozinha abriu há sete anos, procurando pôr-nos à mesa refeições sensoriais, saudáveis, criativas, modernas, elegantes, sustentáveis, cheias de aromas, cores e memórias.

A Cozinha por António LoureiroComo já vos tinha dito anteriormente, o Chefe António Loureiro faz rimar como poucos, tradição e inovação. Ao contrário do que se possa pensar, estes não são termos assim tão distantes, desde que tenhamos uma boa técnica e conhecimentos para os conciliar. Depois, há ainda a obsessão diária com a excelência e com as cores impressionistas, quase como se cada criação fosse concebida por um pintor. 

A Cozinha por António LoureiroA tudo isto foi acrescentando, ano após ano, menu após menu, prato após prato, aquilo que o Chefe é. A preocupação com a sustentabilidade e com o mundo que deixamos para as gerações seguintes; a identificação com as causas sociais daqueles que nos rodeiam;  a utilização de produtos locais; e a narrativa ambígua, pessoal, incerta e forçosamente subjectiva daquele que é o seu berço: Guimarães, as suas gentes, as suas tradições e os seus valores.

A Cozinha por António LoureiroNo final duma refeição n'A Cozinha por António Loureiro ficamos mesmo com a sensação que conhecemos o Chefe. Que brincamos consigo na montanha da Penha, que a subimos a seu lado em dias de peregrinação, que entrámos na casa da sua mãe enquanto esta cozinhava e sentimos os aromas familiares que saiam das panelas, ou então que festejámos com ele aquele golo do Ricardo a 26 de maio de 2013. 

A Cozinha por António LoureiroNa última vez que estivemos n'A Cozinha por António Loureiro as amuse-bouche foram servidas em forma de Tartelette de atum, com manga, coco e alga Nori (fresca, doce e untuosamente marítima); Bolo Lêvedo dos Açores com mousse de queijo da ilha e ovas de robalo fumadas (que curiosamente me remeteu para os aromas da quinta, muito reconfortantes); Cannelloni de rabo de boi e cebolinho (crocante, intenso, rico e suculento); e Enchidos do Minho com couve portuguesa e flôr de alho (generosos, fumados e com uma vegetalidade que os enriqueciam).

A Cozinha por António LoureiroCom o palato desperto, seguiu-se a Enguia & Trufa que metaforizou num prato o conceito humami: é saboroso, é intenso, é rico e é viciante. Mas para além de tudo isto, combina de modo magistral a carne acidulada da enguia com a nobreza organoléptica da trufa. Tão bom quanto inesperado e original. A Sopa de peixe & bivalves, com gamba da costa, bivalves e caviar,  parecia ser o resultado de uma redução de mar, muito densa, rica e intensa. O caviar não roubava protagonismo ao marisco, acrescentando-lhe complexidade, untuosidade e uma vincada salinidade que lhe assentava muito bem. Em conjunto é uma criação que exibe equilíbrio, ponderação e muito sabor!!! A apresentação é digna de museu.

A Cozinha por António LoureiroO Bacalhau & Bacalhau (samos, língua e tapioca) trajou o fiel amigo de gala, com fraque, gravata e espuma, num prato que organolepticamente respeita a memória e tradição que temos desse peixe. É intenso, rico, delicado, saboroso, equilibrado e voluptuoso. Mas é sobretudo genuíno, generoso e alegre. O detalhe da "espécie de patanisca" crocante acrescenta ainda mais familiaridade ao prato. Uma delícia!!! Por sua vez, o Mar português & Bulhão pato, com peixe da costa, ameijoa e brioche com coentros, trouxe para a mesa outra característica do Chefe. A preocupação (quase obsessiva) com o detalhe.  O peixe estava cozinhado no ponto, a apresentação desafiante e imaginativa colocava-nos no mar e na espuma das suas ondas, e os citrinos uniam todos os ingredientes. Fazendo jus ao nome do prato, ali viviam as mais puras recordações do mar português e das suas gentes. 

A Cozinha por António LoureiroPassando para a carne, o Coelho do campo com puré de feijão e gelatina de cenoura brindou-nos com um coelho delicado, tenro, suculento e saboroso. Mas para além disso teve o condão para remeter para uma monumental epopeia sobre memórias que me sentou de novo à mesa com os meus pais e irmão umas décadas atrás (não acredito que já envelheci o suficiente para poder dizer estas coisas :-P). Voltei a viver aqueles dias de menino, em que passava o inverno na aldeia, povoada de frio, nevoeiro, cheiros, sons e sensações, quase que era capaz de vos jurar que este coelho tinha o aroma da caruma que ardia na fogueira feita pelos meus avós. O Corço, abóbora & cogumelos, com lombo de corço do Gerês, cogumelos, terrina de abóbora e batata tinha um sabor pleno e intenso, que se derretia na boca, solidificando, mais tarde, na nossa memória. Havia a doçura e acidez do molho, havia o humami dos cogumelos, havia a untuosidade da terrina e havia também a generosidade do Corço. O detalhe da "castanha" encarna bem o ensaio sobre o ser.

A Cozinha por António LoureiroNas sobremesas, a pasteleira Maria Barroso brindou-nos com Citrinos & pistáchios (cremosa, delicada, doce, fresca, untuosa e texturalmente rica), e com Chocolate, pera & frutos secos. Este ultimo, consistia numa espécie de salada de frutos secos, café, chocolate, baunilha e pera, que ganhou complexidade ao nível da textura, apresentação, sabor e harmonia. Muito bem conseguida e extremamente prazerosa. Um hino à vida, aos sabores ricos e à boa comida, onde o chocolate é rei... Falta falar do elemento aglutinador de todos estas diferentes partes que vos fui falando d'A Cozinha ... o amor que se serve em cada prato.

A Cozinha por António LoureiroAmor pela gastronomia, pelas origens e pelo que somos. Só o amor pelo aquilo que fazemos permite ao Chefe António Loureiro conceber pratos, com tantos elementos, com tantas texturas, com tantas cores, com tantos contrastes, com tanta dedicação, com tantos detalhes. Tem ao lado a esposa Isabel que lhe permite ser um pouco mais todos os dias e uma equipa (parabéns Hélder Silva e Patrícia) que lhe permite ambicionar algo ainda maior que o que já alcançou em Guimarães.

São especialistas, em tudo aquilo que não se vê com o olhar.

Barão do Hospital | O código mineral

“As datas, e só elas, dão verdadeira consistência à vida e à sorte. Um bem que nos veio no dia 17 de Agosto, que era uma quarta-feira, fica alumiando a nossa alma com uma claridade muito diferente do bem que nos sucedesse, incertamente, no tempo, sem dia e sem data.” Eça de Queiróz

Barão do Hospital A expectativa era grande face ao sucesso e reconhecimento das edições anteriores, algumas delas elogiadas aqui no blogue. O Barão do Hospital Alvarinho 2021 e Barão do Hospital Loureiro 2021, produzidos pela Falua na Quinta do Hospital, em Monção, já podem ser provados.

Barão do Hospital A Quinta do Hospital, da Falua, está localizada num dos maiores e mais esplendorosos vales do Minho, na freguesia de Ceivães, em Monção. Carregada de História, é uma propriedade murada e na qual se insere uma casa senhorial – o Solar do Hospital -, com fachada brasonada do século XVI.

Barão do Hospital As novas colheitas sobre as quais hoje vos falo, contam mais uma vez, com a assinatura da enóloga Antonina Barbosa e mantêm-se 100% fiéis ao carácter único e à identidade do terroir onde são criados. 

Barão do Hospital “Continuidade e aperfeiçoamento são as palavras que melhor descrevem as colheitas 2021 dos vinhos Barão do Hospital. A continuidade no respeito e na preservação do carácter único e da identidade do terroir onde são produzidas. O aperfeiçoamento da personalidade, da estrutura e características distintivas do Barão do Hospital Alvarinho 2021 e do Loureiro 2021”, salienta a enóloga Antonina Barbosa.

Barão do Hospital O Barão do Hospital Loureiro 2021 (8.49 €, 87 pts.) mostra-se amarelo pálido no copo, passando para o nariz com limão, maçã-verde, acácia-lima, flor de laranjeira e louro. Na boca tem uma acidez muito vincada, é seco, intenso, equilibrado e muito gastronómico. 

Barão do Hospital Por sua vez o Barão do Hospital Alvarinho Branco 2021 (14.99 €, 90 pts.), de cor citrina-amarela ligeiramente esverdeada, carrega notas a granito molhado, pêssego, lima, casca de laranja, lichias e jasmim. Na boca cresce com uma acidez incisiva e alegre, é seco, redondo, ligeiramente untuoso, elegante e bastante harmonioso. Tal como o Loureiro, também este pede incessantemente por comida.

Barão do Hospital Acredito que os solos graníticos com apontamentos de xisto e argila e calhau, abrigado dos ventos frios (o que cria um verdadeiro microclima) e com a presença de oliveiras centenárias, terão pincelado ambos os vinhos com uma intrigante mineralidade, difícil de decifrar, mas que lhe dão uma certa elegância aristocrata, condizente com título nobiliárquico que lhes dá o nome.

Barão do Hospital  Têm sabido ser consistentes, e isso augura-lhes um futuro promissor. Apenas uma nota, é uma pena "termos" de beber este Alvarinho tão cedo, tem predicados para se mostrar com mais esplendor daqui a um par de anos.

Brancos da Quinta do Convento | O que o tempo lhes faz

"A única coisa que torna possível a identidade é a ausência de mudança, no entanto, ninguém acredita de facto que se seja semelhante àquilo de que se lembra." Gertrude Stein

Brancos da Quinta do ConventoA Kranemann Wine Estates lançou no mercado, no final do ano passado, novas colheitas da gama de brancos nascida da Quinta do Convento de São Pedro das Águias, a icónica propriedade do Douro que tem raízes no Séc. XII. Renovam-se, assim, referências que expressam a frescura e elegância características do terroir de altitude do Vale do Távora.

Brancos da Quinta do ConventoSão elas um entrada de gama de perfil versátil e sedutor (Hasso Branco 2021); um colheita que se define pela frescura e mineralidade (Quinta do Convento Branco 2021); e um Reserva de enorme elegância e complexidade, que é verdadeira expressão da propriedade que lhe dá nome (Quinta do Convento Reserva 2019).  Para testar uma teoria que tinha acerca destes vinhos acrescentei à prova o Hasso Branco 2019

Brancos da Quinta do Convento“Procuramos manter e apurar o perfil de vinhos muito especiais, que têm vindo a destacar-se, ano após ano, pelo carácter genuíno que demonstram, sobretudo uma linha comum de enorme frescura e elegância, que nos é garantida pelo terroir de altitude onde está localizada a Quinta do Convento de São Pedro das Águias”, começa por afirmar o enólogo Diogo Lopes.  

Brancos da Quinta do Convento“Entre o lado sedutor do Hasso, de fruta mais exuberante e vocação para o dia-a-dia, ou a complexidade do Reserva, temos sempre vinhos frescos, minerais, muito cativantes. O Reserva chega com especial vocação para acompanhar os tradicionais pratos de bacalhau que pedem um branco especial, elegante e com uma boa estrutura”, complementa Susete Melo, directora de viticultura e enologia da Kranemann Wine Estates

Brancos da Quinta do ConventoO Hasso Branco 2021 (8.50 €, 89 pts.), com Rabigato, Viosinho, Arinto, Gouveio e Códega do Larinho, exibe uma cor amarela citrina muito leve e notas generosas de acácia-lima, flor de laranjeira, relva cortada, toranja, pêssego e alguma pedregosidade. Na boca é muito elegante, sério e muito gastronómico. 

6 (12).JPGO seu irmão mais velho, o Hasso Branco 2019 (8.50 €, 89+ pts.) mostra que para um vinho envelhecer bem, não necessita obrigatoriamente de ser caro. Com a cor já amadurecida para um amarelo palha mais intenso, e para além dos aromas primários como os citrinos, flores e pedregosidade, surge também uma nuttiness (noz, avelã) que o tornam muito agradável no nariz. 

Brancos da Quinta do ConventoEstá numa fase óptima para consumo (posso ter sido sorte com a garrafa) porque à frescura, mineralidade e intensidade mostrada no palato, também somos brindamos com uma ligeira untuosidade, crocância e complexidade. 

Brancos da Quinta do ConventoPor sua vez, o Quinta do Convento Branco 2021 (13.50 €, 90 pts.), com 30% de Viosinho, 25% de Vinhas Velhas, 20% de Cercial, 15% de Arinto e 10% Gouveio, apresenta-se no copo amarelo cítrico cristalino, passando para o nariz com pêssego, maçã, acácia-lima, lima, esteva e alguma pedregosidade (pedra molhada). Na boca é elegante (muito fresco), seco, crocante, ligeiramente salino e moderadamente longo. 

Brancos da Quinta do ConventoO topo de gama branco da Quinta do Convento, o amarelo-citrino Quinta do Convento Reserva Branco 2019 (19.90 €, 91 pts.), com 60% de Rabigato, 40% de Viosinho e 10% de Gouveio, insinua-se ao nariz com flores selvagens, acácia-lima, toranja, ananás, xisto partido, baunilha e uma tosta muito subtil. 

Brancos da Quinta do ConventoNa boca é seco, untuoso, fresco, longo, complexo e muito sumarento. Quer a sua acidez, quer as notas subtis da barrica dão-lhe uma aptidão gastronómica invejável, sobretudo em pratos mais untuosos e ricos. Este é um excelente exemplo do que um vinho branco do Douro deve ter: elegância, mineralidade, frescura e identidade.

11 (9).JPGAliás, não é apenas este Reserva que mostra aquilo que um Douro deve ser, todos os outros vinhos que vos falei hoje, se bem que em diferentes patamares, são um bom representante dessa alma genuinamente duriense. Até mesmo o Hasso, um "entrada de gama" descomplicado, com o tempo ganha uma pitada de aristocracia que lhe assenta muito bem. Sugeria até, que parte destas uvas fossem seleccionadas para um maior contacto com a barrica e um maior estágio em garrafa, dariam origem a um "Grande Reserva" do caraças!!! 

13 (10).JPGSaramago disse um dia, que se alguém lhe perguntasse o que era o tempo, ele declararia logo a sua ignorância. Podemos ouvir o bater do relógio de pêndulo, e a resposta parece estar ali. Mas não é verdade. Quando a corda se lhe acabar, o maquinismo fica no tempo e não o mede: sofre-o. E se o espelho nos mostrar que já não somos aquilo que éramos há um ano, nem isso nos dirá o que o tempo é. Só o que o tempo nos faz. Com os vinhos acontece algo parecido. Há aqueles que sofrem com o tempo e há aqueles que o parecem desafiar, ficando cada vez melhores no espelho do nosso palato. Acho que sabem a qual dos "grupos" pertencem os Brancos da Quinta do Convento. ;)