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No meu Palato

No meu Palato

Espumante Adega de Favaios Grande Reserva 2013 | A teimosia de fazer bem

"É só dos sentidos que procede toda a autenticidade, toda a boa consciência, toda a evidência da verdade." Friedrich Nietzsche

Espumante Adega de Favaios Grande Reserva 2013O Espumante Adega de Favaios Grande Reserva 2013 conquistou uma Grande Medalha de Ouro no Concurso Mundial de Bruxelas, tendo sido considerado o vinho “revelação de Portugal".  Ficou classificado entre os cinco melhores vinhos espumantes do mundo, ao lado de vinhos provenientes de França, Itália e Espanha. Estavam a concurso quase mil espumantes, oriundos de 25 países. 

Espumante Adega de Favaios Grande Reserva 2013Resulta de um lote com Gouveio, Viosinho e Arinto, plantadas em solos graníticos de transição numa cota de 500 - 700 metros. Após a selecção criteriosa das uvas na vinha, a vindima foi feita de forma manual para caixas de 20 kg sendo depois sujeitas a um arrefecimento em câmara frigorífica até 8-10ºC. De seguida as uvas foram seleccionadas em tapete de escolha, e prensadas a baixa pressão em prensa pneumática. A fermentação alcoólica decorreu em cuba de inox durante um período de 18 dias com temperatura controlada a 15ºC.

Espumante Adega de Favaios Grande Reserva 2013Após a fermentação alcoólica, o vinho base permaneceu em estágio de inox promovendo-se o levantamento das borras finas até Fevereiro de 2014. A segunda fermentação alcoólica em garrafa iniciou-se em Junho de 2014, prolongando-se o estágio em garrafa com as borras da segunda fermentação até ao momento de dégorgement que antecede a comercialização. Dégorgement esse que se realizou em Novembro de 2022 conferindo ao vinho uma grande complexidade em resultado dos longos anos de estágio em garrafa.

Espumante Adega de Favaios Grande Reserva 2013Com um teor Alcoólico de 11,68%alc./vol., o Espumante Adega de Favaios Grande Reserva 2013 (12.00 €, 91 pts.) mostra-se no copo amarelo-citrino cristalino, passando para o copo com notas deliciosas a lichias, maçã, manga, flor de limoeiro, brioche, pedregosidade (xisto molhado) e avelã. No palato é cremoso, intenso, fresco e muito equilibrado.

Espumante Adega de Favaios Grande Reserva 2013A finesse da bolha só está ao alcance dos grandes espumantes, e este figura entre eles, isto apesar do preço (injustificadamente) baixo. A acidez que carrega ainda lhe garante uns bons anos a evoluir positivamente em garrafa.

Espumante Adega de Favaios Grande Reserva 2013
Gosto muito daquilo que a Adega de Favaios tem feito com os seus vinhos: foco na acidez, na fruta e na elegância. No que diz respeito aos espumantes e Pét-Nats, ao trio anterior é ainda acrescentado a harmonia, o equilíbrio e a complexidade (mais nos espumantes), tudo isto sem disfarçar ou maquilhar o terroir que emprestou autenticidade ao vinhos. Gostei mesmo muito deste multipremiado Espumante Adega de Favaios Grande Reserva 2013.

Sabores da Vida 2023 | A circulatura do tempo

"Não há nada como a respiração profunda depois de dar uma gargalhada. Nada no mundo se compara à barriga dorida pelas razões certas." Rosecran Baldwin

Sabores da Vida 2023Na publicação relativa ao Sabores da Vida 2022  falei-vos de uma notícia publicada no New York Times que me chocou. Que vivemos como estranhos, mesmo com aqueles que nos são mais próximos. Aqueles que mais amamos, com quem partilhamos um tecto, uma mesa, um vinho ou uma cama, teimam em permanecer misteriosos. 

Sabores da Vida 2023Há alturas em que a vida desses desconhecidos se parece cruzar (e até fluir) com a nossa, no entanto, a esses momentos seguem-se outros de profundo afastamento. É por isso que pais, filhos, companheiros, irmãos e amigos, mais ou menos próximos, acabam por nos surpreender em algum aspecto/atitude/opinião. Há uma certa estranheza escondida dentro do que consideramos familiar.

Sabores da Vida 2023Do mesmo modo, há algo de familiar escondido naquilo/naqueles que achamos estranhos. Quantas vezes ao falarmos com um "desconhecido" deixamos que as nossas vidas (inicialmente afastadas) se toquem, fazendo com que as perguntas, as respostas e as histórias nos permitam perceber os intrincados padrões daquilo que nos faz diferentes, e ao mesmo tempo, constatarmos indelevelmente os temas que nos aproximam?

Sabores da Vida 2023Porque é que por vezes o familiar nos parece estranho, e o estranho nos parece familiar? A resposta tem a ver com o facto de sermos nós que criámos o nosso tempo, diariamente. Desde muito cedo que decidimos quando o nosso dia começa, e também quando termina.

Sabores da Vida 2023Decidimos também as nossas pausas e os nossos ritmos. O nosso tempo é nosso, não de todos. Somente nosso. É apenas quando os nossos tempos se cruzam com os tempos de outra pessoa que a começamos a conhecer verdadeiramente. Mais, não basta que os tempos se cruzem, têm de se cruzar em quantidade e em qualidade. É na balança destes tipos de tempo que, podemos ou não, nos aproximar afectivamente de alguém.

Sabores da Vida 2023Um grupo de investigação da Universidade do Kansas conseguiu quantificar o tempo que levamos a desenvolver uma amizade: 140 horas cíclicas!!! O estudo que envolveu mais de 500 participantes mostrou também que as melhores amizades surgiram depois de 300 horas cíclicas. Mas que unidade de tempo é esta, medida em horas cíclicas?

Sabores da Vida 2023As horas cíclicas, metamoforizam o facto de não bastar apenas estar na companhia de alguém para nos amigarmos... É fundamental que as conversas ocorram ciclicamente, regressando quase em loop aos mesmos assuntos, às mesmas piadas, às mesmas histórias, a temas já previamente esmiuçados. Toda esta repetição, cria intimidade, proximidade e identificação.

Sabores da Vida 2023De modo contrário, a conversa fiada e alternada, sem repetição, diminui a familiarização e aumenta a distância entre interlocutores. Apesar de todos os benefícios de ter amigos, nem sempre é fácil encontrar tempo para construir e manter relacionamentos. Um dos grandes privilégios da nossa infância é a quantidade de tempo não estruturado e repetitivo que passámos com todas as outras crianças e que nos ajuda a desenvolver amizades.

Sabores da Vida 2023É nesta fase que nos deliciamos repetidamente com as mesmas histórias, sempre com o entusiasmo de uma primeira vez. Esta é uma autêntica mina de amigos, e é também por isto, que grande parte dos nossos amigos vem dos bancos da escola. Com o passar da idade (em média após os 25 anos), vamos perdendo esta capacidade de entrar no loop dos amigos, muitas vezes por sentirmos que não temos tempo para investir em velhas histórias que nos conduziriam a novas amizades, ou pelo menos reforçar os laços das antigas.

Sabores da Vida 2023Por tudo isto que vos disse anteriormente, é muito importante que possamos criar espaço para esta autêntica economia circular dos afectos, para aquele tempo que alicerça velhas relações e potencia o surgimento de novas.

Sabores da Vida 2023E o que é que normalmente nos faz juntar com outras pessoas, para ouvir velhos relatos de conhecidos ou conhecer novas histórias de desconhecidos? A comida e o vinho, é claro!!! E é por tudo isto que esta "moldura científico-cultural" me pareceu extremamente pertinente para vos falar do Sabores da Vida 2023.

Sabores da Vida 2023Este evento reúne anualmente prestigiados produtores de vinhos e chefes de cozinha e já é visto como o maior encontro de gastronomia e vinhos do país, destinado sobretudo a profissionais destes sectores, além do turismo e hotelaria. Na sua sétima edição, o Alivetaste - Sabores da Vida tem este ano o acesso mais aberto, através da aquisição de entradas na bilheteira online Ticketline (as entradas têm o custo de 100 euros e a sua aquisição é feita aqui).

Sabores da Vida 2023Informal e criativo, o Alivetaste - Sabores da Vida 2023, regressa a 3 de julho, a partir das 17h30, aos bonitos jardins italianos do Pestana Palácio do Freixo (Porto). É um momento ímpar de lazer, troca de experiências e contactos entre profissionais ligados aos vinhos, gastronomia, turismo e comunicação social. Este ano, o evento veste-se também de África, com a apresentação, pela Prochef, de uma colecção de roupa para profissionais do sector, inspirada nas cores e paisagens africanas.

Sabores da Vida 2023Além dos produtores de vinhos e dos chefs, o evento reúne directores hoteleiros, empresários da restauração, entidades académicas e institucionais relevantes nas áreas dos vinhos, gastronomia e turismo, bem como jornalistas e bloggers, nacionais e internacionais. No total, na edição deste ano vão estar presentes 35 produtores de vinhos seleccionados de 8 regiões vinícolas do país, 18 chefs e 450 convidados, incluindo profissionais da comunicação social internacional, oriundos de sete países.

Sabores da Vida 2023Nesta experiência enogastronómica, a artista Noa é a convidada especial e fará uma performance musical ao vivo, durante o Welcome Drink, entre as 17h30 e as 19h00.

Sabores da Vida 2023Chefs participantes na edição de 2023: Angélica (Indiferente, Porto), António Carvalho (Brasão, Felgueiras), Arísio Junior (Tivoli Carvoeiro), Duarte Eira (Salpoente, Aveiro), Joana Thony Montbabut (Le Monumental, Porto), João Pupo Lameiras (Porto), Julien Montbabu (Le Monumental, Porto ), Júlio Pereira (Kampo, Funchal), Lídia Brás (Stramuntana, Vila Nova de Gaia), Lígia Santos (Casas da Li, Arcos de Valdevez), Marlene Neto (Rib Beef & Wine, Porto), Maurício Faria (Three Houses, Funchal), Mónica Pereira (Doces Tradicionais, Vila Nova de Gaia), Renato Cunha (Ferrugem, Famalicão), Rui Martins (Culto ao Bacalhau, Porto), Tiago Bonito (Restaurante Travis-Hotel das Virtudes, Porto), Tiago Carvalho (Tasca do Paiol, Braga) e Tony Salgado (Pestana Palácio do Freixo, Porto).

Sabores da Vida 2023Produtores de vinhos participantes na edição de 2023: Adega Marel, Herdade Paço do Conde, Quinta Das Arcas, Herdade Penedo Gordo, Ravasqueira, Caves São Domingos, Caves São João, Quinta das Bageiras, Messias Family Wines & Estates, Magnum - Carlos Lucas Vinhos, Quinta do Carvalhão Torto, Soito Wines, Quinta do Mondego, Casa da Passarella, Adega de Favaios, Messias Family Wines & Estates, Palato do Côa, Quinta Das Arcas Soc. Agr. - Herdade Penedo Gordo, Quinta de Tourais, Rapazotes, Sogevinus, Symington Family Estates, Val Moreira, Quinta do Piloto, Monte da Carochinha, Caves da Murganheira, AS, Marcos Hehn Pinto da Silva, Companhia das Lezírias, Falua, Lua Cheia – Saven, Quinta de Monforte, Soalheiro, Vinhos Norte e Quinta de Paços - Sociedade Agrícola.

Sabores da Vida 2023

O que é verdadeiramente único neste evento é o facto deste ser capaz de combinar os ritmos temporais de diferentes pessoas numa direcção que coloca o vinho, a gastronomia, a música e a moda como elementos potenciadores da amizade e dos afectos. Ajuda a cultivar a ideia de que o próprio tempo é a "moeda" mais valiosa, rara e universal que compartilhamos. Há que as saber gastar com quem as merece... ;)

Que esta circulatura do tempo nos volte a juntar no próximo dia 3 de Julho no Palácio do Freixo para uma boa gargalhada enogastronómica no Alivetaste - Sabores da Vida 2023!!!

Culto ao Bacalhau | O último selvagem

"Os detalhes são das coisas que mais importam. Eles criam profundidade, e a profundidade cria autenticidade." Neil BlumenthalCulto ao Bacalhau
Hoje falo-vos do "pão das marés”, do “fiel amigo", "do ouro branco", do bacalhau. O bacalhau é hoje em dia comido de mil e uma maneiras, do Círculo Polar Ártico à África subsahariana, mas até Mark Kurlansky publicar o livro "Bacalhau. A História do Peixe que Mudou o Mundo" em 1900, ninguém o celebrava com a importância que merecia. Este livro dá-nos 600 anos de receitas com bacalhau, algumas delas muito estranhas, de que é exemplo um bacalhau seco norueguês embebido em ... lixívia. Brinda-nos também com histórias curiosas, intrigantes e por vezes divertidas, como o debate nacional (que quase criou uma guerra civil ) ocorrido na Islândia sobre ... comer cabeças de bacalhau. 

Culto ao Bacalhau Em 1914, um proeminente banqueiro islandês submeteu a ingestão de cabeças de bacalhau a uma análise económica (com base numa fórmula matemática que levava em consideração o tempo de alimentação e a quantidade de nutrientes) chegando à conclusão que a prática era nutricionalmente ineficiente. Do outro lado da barricada encontrava-se o director da biblioteca nacional daquele país, que rebateu com um tratado sobre os valores sociais do consumo de cabeças de bacalhau e uma antiga crença islandesa de que esse consumo aumentava a inteligência. Mas não é apenas na sua terra que o bacalhau é rei. Os vikings (que o aprenderam a pescar, em abundância, desde o século IX nos mares frios dos países nórdicos) deliciaram-se com o bacalhau enquanto aterrorizaram a Europa e navegavam em direcção à América (há cada vez mais evidências que terá sido o viking  Leif Erikssonfoi,  conhecido como Leif, o Sortudo, o primeiro europeu a pisar a América do Norte, propulsionado a bacalhau, chegando ali cerca de 500 anos antes de Cristóvão Colombo partir de Espanha).

Culto ao Bacalhau  Os escravos nas Índias Ocidentais comiam bacalhau salgado rico em proteínas que lhes garantiu a sobrevivência. Os pescadores da Nova Inglaterra transformaram-se numa "aristocracia do bacalhau" bastante rica devido aos lucros obtidos na sua comercialização. E ainda hoje, enquanto o bacalhau luta para sobreviver, os nigerianos são apaixonados pela carne delicada da sua cabeça curada. Esta relação entre humanos e bacalhau dura, portanto, há mais de 12 séculos e fez com que o peixe se alterasse geneticamente.  Um estudo publicado na prestigiada revista Science provou que o bacalhau se começou a reproduzir mais cedo de modo a se adaptar ao ciclo de pesca por parte dos humanos. É quase como se o bacalhau tivesse pensado enquanto espécie "se nos querem pescar a partir de um certo tamanho, vamos garantir descendência antes de atingir esse tamanho". Até com a falta de bacalhau, o bacalhau nos parece querer ajudar ;)

Culto ao Bacalhau A relação (quase umbilical) deste peixe com Portugal inicia-se em 1500, através dos acordos comerciais com Inglaterra que envolviam a troca de sal por bacalhau. 50 anos depois, durante uma expedição dos Descobrimentos Portugueses a caminho da Índia, a Terra Nova foi descoberta (isto se as suspeitas relativas a Leif, o Sortudo não se confirmarem) e assim se inicia a pesca do bacalhau pelos portugueses. Durante muitos séculos, esse peixe foi considerado uma iguaria exclusiva da Casa Real e da aristocracia, mas no século XIX a sua popularidade estendeu-se por todo o país devido à sua facilidade de conservação e transporte. 

Culto ao Bacalhau No entanto, é apenas com Salazar que o consumo de bacalhau aumenta de forma exponencial no nosso país e curiosamente ... se democratiza. Até então, Portugal dependia principalmente da importação de bacalhau para suprir a procura. As empresas pesqueiras nacionais não funcionavam adequadamente, o sector era desorganizado, irregular e havia pouco investimento, o que levava a um baixo rendimento. Para reduzir a dependência externa e garantir o abastecimento alimentar do país, Salazar centralizou a organização da pesca do bacalhau no Estado, incentivando a criação de cooperativas e estabelecendo um sistema de pesca controlada. Foi assim que surgiu a famosa Campanha do Bacalhau em 1934, com o objectivo de tornar esse peixe o alimento nacional. 

Culto ao Bacalhau Talvez seja esse o maior legado de Salazar, ... o bacalhau ;)  1974 marca o último envio de uma frota de navios bacalhoeiros para a Terra Nova, que coincidiu com a queda da ditadura em Portugal. No entanto, até hoje, o bacalhau continua a ser muito apreciado no país, dizendo-se até que existem 1001 maneiras diferentes de o preparar. Actualmente, 70% do bacalhau consumido em Portugal é importado da Noruega e os portugueses são responsáveis por cerca de 20% da captura mundial, levando em consideração a sustentabilidade, as mudanças climáticas e a sua versatilidade gastronómica. Com toda esta bagagem histórica, o bacalhau foi-se tornando um símbolo de identidade nacional e orgulho para os portugueses, conectando-nos às nossas raízes marítimas e àquilo que de melhor oferecemos ao mundo: a epopeia dos descobrimentos. Quem se assume como uma casa especialista em bacalhau, tem de honrar todo este legado histórico, cultural e económico. 

Culto ao Bacalhau Esse legado deve ajudar a moldar a gastronomia através da identidade nacional e da relação com o mar, isto e como é óbvio, sem nunca se desligar do sabor. Hoje falo-vos de um restaurante e de um Chefe, que conciliam de modo magistral história, sabor, tradição, identidade e inovação: o Culto ao Bacalhau, do Chefe Rui Martins. Foi inaugurado a 30 de Março de 2023 e está localizado no icónico mercado do Bolhão. A decoração de estilo nórdico, minimalista e tons suaves, valoriza a origem do bacalhau, que apesar da sua origem longínqua, é por todos considerado um ícone da identidade portuguesa. A proposta gastronómica assenta, portanto, em quatro pilares que defendem a sua Portugalidade, o território, produto, receituário e a cultura, expressa pelos vários métodos de conservação e assumindo o fumo como assinatura.

Culto ao Bacalhau O bacalhau ali servido é proveniente da Islândia, sendo especialmente seleccionado em sinergia com a Lugrade. Com um mínimo de 24 meses de cura, apresenta um paladar intenso e uma textura homogénea e suculenta. Da mesma forma, surgem outros produtos da selecção do chef Rui Martins, em parceria com produtores renomados, como a Casa de Santo Amaro, a Luísa Pato ou a Salmarim, tais como azeite, vinagre e flor de sal, respectivamente. Renovando o conceito de vinho da casa, é ainda possível encontrar na garrafeira do restaurante, uma selecção cuidada de cinco vinhos de Culto.

Culto ao Bacalhau A nossa visita ao Culto ao Bacalhau começou com um Bolinho de Bacalhau com Salada de Feijão Frade. O bolinho de bacalhau em dimensão generosa surge na mesa cortado a meio e com uma pincelada de manteiga de alho, após fritura em triplicado. A remoção do alho nos ingredientes do bolinho e posterior pincelada tem como objectivo evitar os aromas desagradáveis a alho tostado e aumentar a harmonia. Crocante e estaladiço por fora, aprisiona no interior um suco cremoso salivante. A salada de feijão frade que o acompanha acrescenta complexidade através do fumo que carrega. Seguiu-se Cara de Bacalhau na Brasa com Molho Verde em que a combinação do sabor defumado do bacalhau grelhado na brasa com o molho verde aromático e refrescante criou um contraste delicioso e bastante alegre. É um prato que para além do bacalhau fumado também cheira a memória e tradição.  O director da biblioteca nacional da Islândia tinha razão ... que se lixe a nutrição ;) 

Culto ao Bacalhau O Bacalhau à Brás trouxe equilíbrio, riqueza, untuosidade, com notas salgadas, suaves e reconfortantes. O detalhe da batata finíssima e super crocante/saborosa acrescentou ao prato heterogeneidade e elegância.  Por sua vez, Bacalhau Gratinado com Gambas adquiriu uma textura macia e uma casquinha dourada e crocante no topo, que contrastou na perfeição com a suavidade da suas lascas. As gambas, por sua vez, introduziram sabores mais vincados e levemente adocicados, um toque de mar e mais uma textura. O resultado foi bastante harmonioso. Seguiu-se um dos meus favoritos (e para já o prato de peixe do ano para o blogue): Arroz de Bacalhau com Ostras. O bacalhau, com seu sabor característico e levemente salgado, formava a base de sabor do prato, para que a ostra, com mar, doçura, mineralidade e um toque metálico brilhasse. É uma criação original, sofisticada e cheia de sabor. Adoro ostras e adoro bacalhau, este prato é muito mais que a simples soma das partes.

Culto ao Bacalhau Nas sobremesas, o Mil Folhas de Bacalhau com Doce de Ovos é genial!!! Uma combinação interessante, improvável e certeira de sabores e texturas. O bacalhau salgado seco no início contrastava com o sabor adocicado e rico, com notas de baunilha do doce (quase que pareciam estar a digladiar-se pelo protagonismo no prato) mas depois ambos começaram a conversar, enobrecendo e realçando as mais valias um do outro. Uma combinação inusitada que ainda me faz salivar.

Culto ao Bacalhau Uma refeição para nos marcar verdadeiramente, tem de nos prender para além do olfacto e do paladar. A gastronomia é muito mais do que apenas comida; é uma expressão cultural que tem forçosamente de reflectir a identidade de um produto, de uma receita ou até de um povo. E dentro desse universo, os detalhes históricos e culturais desempenham um papel fundamental na compreensão e apreciação da culinária. Esses detalhes ajudam a transmitir as origens dos pratos, as influências de diferentes períodos e os eventos que moldaram as técnicas culinárias ao longo do tempo.  Da mesma forma, os detalhes culturais são essenciais para entender a gastronomia de um determinado lugar. Cada cultura possui suas próprias tradições, rituais e valores que são transmitidos através da comida. Ao reconhecer e compreender esses detalhes na gastronomia, somos capazes de apreciar e respeitar a diversidade culinária, mergulhar em diferentes culturas, conectarmo-nos com pessoas de diferentes origens e arriscar novos sabores.

Culto ao Bacalhau Quando esses detalhes nos entram pelo palato a dentro, enquanto que os que ficam cá fora (as mesas, os talheres, os copos, a decoração, as fardas, a iluminação, os menus, ...) nos colocam no habitat de onde a matéria prima é originária, a experiência gastronómica cresce em valor, sentido e profundidade. O Chefe Rui Martins para além de tratar esses detalhes com pinças, não perde a ligação com o objectivo primordial da gastronomia: o sabor. Trabalha como poucos o ponto do sal, o picante (quando visitarem o Culto ao Bacalhau exagerem na sua utilização pois não se vão arrepender) , a acidez e as texturas.

Culto ao Bacalhau Percebeu que a importância de um Chefe de cozinha reside na (por vezes conflituosa) relação entre o respeitar a tradição (que nos permite preservar tradições culinárias, transmitindo-as para as futuras gerações e evitando que se percam ao longo do tempo), e o ser inovador (que nos faz visitar propositadamente um determinado restaurante ou Chefe, essencial para impulsionar a gastronomia para a frente, explorando novas técnicas, ingredientes e abordagens criativas). É exactamente ali, naquele elo entre tradição e inovação,  na capacidade de criar uma ponte sensorial entre o passado e o futuro, que o Chefe Rui Martins encontrou o seu nicho.

Culto ao Bacalhau
O bacalhau é considerado uma das últimas comidas selvagens porque a sua captura não é feita através da pesca industrial, mas na sua maioria é efectuada por pescadores em embarcações tradicionais, utilizando métodos artesanais, por vezes ancestrais. Essa abordagem tradicional preserva a natureza e mantém a essência do alimento, fazendo com que o aroma, o sabor e a textura permaneçam únicos. Da mesma forma, um Chefe de cozinha deve ter um espírito selvagem em relação à gastronomia. Ser selvagem nesse contexto não significa ser indisciplinado, irresponsável ou caótico, mas antes sim ter uma paixão e uma abordagem criativa em relação aos ingredientes e à maneira como eles são combinados. Com a padronização dos menus e a industrialização da produção alimentar, é cada vez mais raro encontrar alimentos verdadeiramente selvagens e Chefes dispostos a se aventurarem além dos limites estabelecidos, privilegiando o detalhe significativo e não o detalhe da moda como espumas, reduções ou esferificações. Ainda bem que estes dois últimos selvagens, se encontraram no Culto ao Bacalhau, quem ganha somos nós, aqueles que em pleno Bolhão mergulham nas águas gélidas do mar do Norte.

Pét-Nat Adega de Favaios | Ensaio sobre a pureza

"Voa um par de andorinhas, fazendo Verão. E vem uma vontade de rasgar velhas cartas, velhos poemas, velhas cartas recebidas. Vontade de mudar de camisa, por fora e por dentro... Vontade... para que esse pudor de certas palavras?... Vontade de amar, simplesmente." Mário Quintana

Pét-Nat Adega de FavaiosA frescura do planalto abre o leque. Os novos Pét-Nat da Adega de Favaios mostram que a cooperativa do moscatel do Douro sabe manter a jovialidade e encontrar resposta para novas tendências de consumo. Assim, em Favaios nem só de moscatéis se enchem os dias. Esta aldeia do Douro e a Adega que leva o seu nome mantêm-se fiéis ao mais popular Moscatel de Portugal, mas não se perdem em nostalgias. A altitude das suas vinhas, acima dos 600 metros, favorável à maturação da casta Moscatel, é igualmente propícia à produção de vinhos espumantes e essa é uma qualidade que viticultores e Adega não querem desperdiçar.

Pét-Nat Adega de Favaios Isso mesmo nos demonstra o espumante clássico da Adega, muito pontuado no último ano pelos especialistas, e se quer agora confirmar com as duas novas variações neste estilo de vinho com ‘gás’ natural: os vinhos Adega de Favaios Nat Ensaio G Branco Gouveio e Nat Ensaio R Rosé. Do francês Pétillant Naturel, os Pét-Nat da Cooperativa de Favaios seguem um método de vinificação ancestral, com engarrafamento antes de completarem a primeira fermentação. Por esta via, conseguem-se vinhos mais puros e completos, perfil de vinhos cada vez mais pretendido, menos intervencionado e com muita expressão do ano e do terroir.

Pét-Nat Adega de FavaiosA par dos Pét-Nat, a Adega de Favaios produz também três espumantes Sparkling, bruto, meio seco e rosé (método  Charmat ), e o clássico Adega de Favaios Espumante Grande Reserva (método Champanhês). Além, claro, de toda a gama de moscatéis, vinhos DOC Douro, dos quais se destaca a marca Casa Velha, e dos Vinhos do Porto Monge.

Pét-Nat Adega de FavaiosPassando aos vinhos, o Adega de Favaios Nat Ensaio G Branco Gouveio 2021 (8.00 €, 86 pts.), foi produzido a partir de uvas selecionadas da casta Gouveio, colhidas em vinhas acima dos 600 m de altitude, na primeira semana de setembro 2021. Seguiu-se desengace total, prensagem a baixa temperatura e decantação a frio. O início da fermentação ocorreu em cuba de inox com leveduras indígenas a cerca de 16 graus, terminando a fermentação alcoólica dentro da garrafa. O vinho apresenta-se com uma tonalidade amarela-palha turva e com notas de damsco, uvas frescas, esteva, anis, flor de limoeiro e pão. Na boca é muito equilibrado, fresco, vivo, limonado e ligeiramente untuoso.
Pét-Nat Adega de FavaiosPor sua vez, o Adega de Favaios Nat Ensaio R Rosé 2021 (8.00 €, 85 pts.) foi produzido a partir de uvas selecionadas das castas Touriga Franca e Moscatel Galego Roxo, colhidas em vinhas acima dos 600 m de altitude, na segunda semana de setembro 2021. A restante enologia é semelhante ao Pet Nat anterior. De cor rosa alaranjado vivo e ligeiramente turvo, destacam-se no nariz as notas de rosas, lichias, frutos silvestres e pão torrado. Na boca é harmonioso, intenso, fresco e muito guloso.
Pét-Nat Adega de FavaiosEstive tentado a dar mais um ponto a cada um dos Pét-Nat Adega de Favaios devido ao seu extremo baixo custo, sobretudo quando ponderado com a qualidade, pureza, frescura e alegria vínica que nos entregam. Consegui resistir à tentação, ainda assim, são vinhos que passam a ser altamente recomendados pelo blogue. Harmonizam especialmente bem, com o Verão que se avizinha ;)

 

Festival do vinho do Douro Superior 2023 | Entre Torga e Einstein

"Embora muitas pessoas digam que não, sempre houve e haverá reinos maravilhosos neste mundo. O que é preciso, para os ver, é que os olhos não percam a virgindade original diante da realidade, e o coração, depois, não hesite. Fica no cimo de Portugal..." Miguel Torga

Festival do vinho do Douro Superior 2022Miguel Torga imortalizou o Douro como "um excesso da natureza". Eu acho que não há melhor caracterização que essa, um rio bravio, dos rabelo, do vinho e das vinhas, que deambula por vales apertados e protegido por socalcos suportados por muros em pedra posta.

Festival do vinho do Douro Superior 2022A 10ª edição do Festival do Vinho do Douro Superior permitiu-nos passar das palavras Torga para um dos postulados de Einstein: o do tempo ser relativo.  Em 1905 Einstein afirmou que tempo e espaço eram relativos, estando profundamente entrelaçados. Essa relação pode fazer, não só com que o tempo passe mais rápido para uns e mais devagar para outros, mas também surgir universos paralelos. Esse namoro entre tempo, espaço e simultaneidade de universos é também encontrada no Douro. 

Festival do vinho do Douro Superior 2023Porquê? Porque o Douro está em toda a parte ao mesmo tempo, banhando as caves do vinho do Porto em Gaia e beijando, no mesmo instante, as margens do Meão, em Foz Côa. Está na Serra de Urbión onde nasce e simultaneamente na foz onde toca o Atlântico. Desta forma, ele liga através da água, passado, presente e futuro.

Festival do vinho do Douro Superior 2022

Para Miguel Torga, a beleza do Douro era menos científica. Ainda hoje é uma surpresa que o Douro, esse mesmo das temperaturas elevadas, das encostas íngremes carregadas de estevas e zimbros, da chuva austera, da terra grossa e com xisto, da geada mortífera e das cheias abruptas, dê bom vinho. Mais que uma surpresa, assume-se como uma dádiva às gentes durienses, às protectoras desse reino maravilhoso de que vos vou falar hoje.

Festival do vinho do Douro Superior 2022A visita deste ano a este grande oceano megalítico começou com a participação no Concurso de Vinhos do Douro Superior, que decorreu no âmbito do Festival do Vinho do Douro Superior e que elegeu os melhores vinhos nas categorias de vinhos brancos, vinhos tintos e vinhos do Porto, entre 200 vinhos em competição.

Festival do vinho do Douro Superior 2022Terras do Grifo Vinhas Velhas 2018 (brancos), Avô Escrivão Grande Reserva 2019 (tintos) e Quinta de Ervamoira Vintage 2020 (vinhos do Porto) foram os eleitos que se destacaram nas respectivas categorias.

Festival do vinho do Douro Superior 2022Para além dos 3 vinhos vencedores foram, ainda, anunciadas 63 medalhas, 19 na categoria de brancos (6 Ouro e 13 Prata), 37 na categoria de tintos (12 Ouro e 25 Prata) e 7 na categoria de vinho do Porto (2 Ouro e 5 Prata), o que reflecte a qualidade dos vinhos em competição.

Festival do vinho do Douro Superior 2023A edição deste ano do Festival do Vinho do Douro Superior,  que decorreu nos dias 26, 27 e 28 de Maio, no EXPOCÔA – Centro de Exposições desta cidade da sub-região do Douro, alcançou um número recorde de visitantes, com cerca de 7500 pessoas, apesar da chuva e do final do campeonato de futebol. 

Festival do vinho do Douro Superior 2023Foi Organizado pela Câmara Municipal de Vila Nova de Foz Côa com a produção da ‘Grandes Escolhas’ e Contou com a presença da Ministra da Coesão Territorial, Ana Abrunhosa e do Presidente do Município de Foz Côa, João Paulo Sousa.

Festival do vinho do Douro Superior 2023As actividades paralelas, no decorrer do evento, foram também muito participadas pelos visitantes, como foi o caso das provas comentadas e do showcooking que tiveram mesmo lotação esgotada, bem como a animação do certame e os concertos, igualmente com um recorde de assistência.

Festival do vinho do Douro Superior 2023O cartaz musical contou, este ano, com nomes como Rui Luna no momento de abertura, Marisa Liz na sexta-feira à noite e Rui Veloso no sábado à noite, que tornaram este certame ainda mais abrangente. O programa destinado à imprensa contemplou ainda a visita a 3 produtores da região. 

Festival do vinho do Douro Superior 2022Começamos pelos vinhos da Quinta da Vineadouro em Numão, que produz vinhos do Douro Superior com base numa história com mais de 250 anos. São vinhos feitos segundo uma viticultura sustentável, que recorre a doses mínimas de tratamentos e adubações com respeito pela Natureza, e a uma enologia minimalista, que respeita o sentido de lugar, a história e a herança dos antepassados. 

Festival do vinho do Douro Superior 2023Destaco o Vineadouro Branco Special Edition 2021 (21.00 €, 89 pts.) com notas frescas de acácia lima, flor de limoeiro, limão e anis, e uma boca com uma acidez alegre, equilibrada e muito gastronómica; e o Vineadouro Vinhas Antigas Reserva Tinto 2019 (34.00 €, 90 pts.) com aromas de frutos silvestres, ameixa vermelha madura, pedregosidade, cravinho e alcaçuz, e um palato austero, fresco, harmonioso e com taninos redondos. 

Festival do vinho do Douro Superior 2023Seguiu-se Pedro Garcias e os vinhos Mapa. Pedro Garcias, jornalista e crítico de vinhos no jornal Público, deu início há mais de 15 anos, juntamente com a mulher Cristina Costa, ao seu projecto vínico em Muxagata, no concelho de Vila Nova de Foz Côa, terra celebre pelos extraordinários vinhos que produz. 

Festival do vinho do Douro Superior 2023Um projecto familiar que produz vinhos de grande qualidade ligados à terra, com recurso unicamente a castas do Douro que reflectem a diversidade e a riqueza do lugar: vinhos de altitude, minerais, frescos, secos e altamente gastronómicos. Por tudo isto o número de garrafas é muito limitado, em que todas elas carregam o ADN organoléptico do local onde nasceram.

Festival do vinho do Douro Superior 2023Gostei especialmente do Mapa Branco 2020 (11.00 €, 89 pts.) cheio de maçã verde, limão, anis, acácia lima, flor de limoeiro, pedregosidade e frescura; surpreendi-me com o Mapa Tinto Reserva Especial 2017 (45.00 €, 92 pts.) e a sua fruta fresca (amoras, mirtilos, framboesas), esteva, cacau, canela, grafite, baunilha, cardamomo, austeridade, finesse e complexidade; e apaixonei-me pelo Mapa Branco Vinha da Muxagata 2018 (45.00 €, 93 pts.) devido à sua generosidade na fruta (alperce, lima, maracujá), barrica super bem integrada e acidez estonteante, mordaz e penetrante. 

Festival do vinho do Douro Superior 2023Já no último dia do evento visitamos a Quinta do Gravançal, localizada entre as terras da Abelheira e Gravançal. Está exposta em “abicheiro”, como quem diz, virada a norte – predominantemente – mas também a nascente e a poente, protegendo e potenciando, em harmonia, a vitalidade e longevidade das vinhas para produção de uvas de altíssima qualidade.  

Festival do vinho do Douro Superior 2023 Classificada de letra A, numa variação de cotas superior a 150m, privilegiaram-se 3 castas tintas: Touriga Francesa, Tinta Roriz e Tinta Barroca, à qual se entretanto se juntou a Touriga Nacional. Das castas brancas prevalecem o Rabigato, o Viosinho e a Malvazia-fina.   

Festival do vinho do Douro Superior 2023

Gostei do Quinta do Gravançal Grande Reserva Branco 2019 (24.00 €, 89 pts.) com notas de limão, limonete, flores silvestres, noz moscada, baunilha, intensidade, frescura e untuosidade; e do Quinta do Gravançal Grande Reserva Tinto 2019 (24.00 €, 90 pts.) com fruta farta (frutos silvestres, cereja, cassis ), esteva, caril, corpo denso e estrutura firme e elegância.

Festival do vinho do Douro Superior 2023Dos vinhos em prova na Feira, destaco a  fruta fresca (morango, cereja, framboesa e amora), notas florais (violetas e rosas), bolha fina e acidez vincada do Espumante Quinta dos Castelares Cuvée Pinot Noir 2020 (24.99 €, 89 pts.); e dos citrinos, flores silvestres, baunilha, untuosidade, finesse e acidez vibrante do Dona Berta Vinha Centenária Reserva Branco 2019 (29.99 €, 91 pts.).

Passando para os tintos, gostei muito dos frutos silvestres, café, bergamota, acidez salivante e complexidade do Quinta do Romanos In memoriam Reserva 2010 (69.99 €, 93 pts.); da fruta preta, tabaco, cacau, pimenta preta, austeridade, acidez equilibrada e profundidade do Quinta das Mós Grande Reserva Sousão 2020 (29.99 €, 91 pts.); dos frutos silvestres, sous-bois, baunilha, fumo, frescura, elegância e taninos de veludo do Proibido Tinto Marufo 2021 (20.00 €, 90 pts.); e da esteva, amoras, framboesas, caixa de tabaco, baunilha, complexidade, frescura e equilíbrio do Quinta do Vale Meão 2020 (200.00 €, 98 pts.), um vinhaço!!! 

Festival do vinho do Douro Superior 2023 Nos Porto, sobressairam o Quinta do Crasto 20 anos Tawny (60.00 €, 92 pts.) com as suas uvas passas, melaço, figos secos, canela, intensidade, finesse e equilíbrio; e o Burmester 40 anos Tordiz Tawny (100.00 €, 95 pts.) cheio de figos secos, caramelo, crème brûlée, avelã, cacau, mel, densidade, requinte e complexidade, este é um vinho que nunca mais acaba. 

Festival do vinho do Douro Superior 2023Foi um grande festival, carregado com com pessoas extraordinárias que cantam, dançam e trabalham o vinho do Douro. São as mesmas pessoas do trabalho nas margens do rio de oiro, lá em baixo, crucificado entre o calor do céu que de cima o bebe e a sede do leito que de baixo o seca. Depois erguem-se os muros do milagre. E daí a pouco há sol engarrafado a embebedar os quatro cantos do mundo.  

Os vencedores ;)Miguel Torga disse que as pessoas que ficam naquele Reino Maravilhoso, cavam a vida inteira. E, quando se cansam, deitam-se na cama com a serenidade de quem chega honradamente ao fim dum longo e trabalhoso dia. Descanso? Esse, apenas o vão ter na eternidade, mas se na eternidade não houverem socalcos nem vinhedos para contemplar, tenho a certeza que as gentes durienses não têm pressa em lá chegar. Se quiserem saber um pouco mais deste reino maravilhoso, não há que enganar, fica no cimo de Portugal.

Festival do vinho do Douro Superior 2023

Até à próxima, neste, ou noutro universo paralelo, desde que lá haja vinho :-P