Saltar para: Posts [1], Pesquisa [2]

No meu Palato

No meu Palato

Brancos da Ravasqueira | Ó tempo, não voltes para trás

"A paciência é amarga, mas seu fruto é doce." Jean-Jacques Rousseau

Brancos da RavasqueiraEnvelhecer vinhos é uma prática conhecida há séculos, mas muitos apreciadores ainda tendem a associar o envelhecimento apenas aos vinhos tintos. No entanto, os vinhos brancos também podem beneficiar significativamente do tempo de guarda em garrafa, desencadeando um processo fascinante de evolução de aromas e sabores. Assim como os tintos, os vinhos brancos são compostos por uma complexa mistura de componentes, incluindo ácidos, açúcares, taninos (se bem que em menor quantidade) e compostos aromáticos. Com o passar do tempo, esses elementos interagem de maneira lenta e delicada, permitindo que o vinho alcance novas dimensões sensoriais.

Brancos da RavasqueiraEnquanto novos, os vinhos brancos costumam exibir aromas e sabores frescos e frutados, com uma acidez vibrante que os torna ideais para o consumo imediato. Contudo, ao longo dos meses ou até mesmo anos em garrafa, essas características tendem a evoluir. A acidez pode-se tornar mais suave, os aromas de frutas podem dar lugar a notas mais complexas, como frutas secas, mel e nozes. Algumas castasa podem desenvolver uma textura mais cremosa e sedosa, tornando a experiência de degustação ainda mais rica e prazerosa.

Brancos da RavasqueiraPodem estar a pensar que não têm condições de armazenamento ou então que não conseguem esperar muitos anos para desfrutar dos vinhos, mas alguns vinhos precisam apenas de um par de anos para se mostrar já com alguma aristocracia resultante do envelhecimento. Hoje falo-vos de um vinho que "deveria ser proibido" beber demasiado cedo: o Ravasqueira Reserva da Família Branco. No final também esmiuçarei um dos Sauvignon Blancs mais originais do país.

Brancos da RavasqueiraEste Reserva da Família resulta da união da untuosidade do Viognier e a frescura do Alvarinho, levando a um casamento vínico complexo e harmonioso. A ligeira battonage durante seis meses, antes do engarrafamento, confere-lhe uma leve cremosidade que acompanha harmoniosamente grande parte da cozinha tradicional, ao mesmo tempo que apresenta uma expressiva mineralidade e notas de citrinos maduros bem marcadas. Para vos demostrar a capacidade de evolução deste vinho guardei a edição 2021 para agora a comparar com a de 2022.

Brancos da RavasqueiraO Ravasqueira Reserva da Família Branco 2022 (15.00 €, 88 pts.), amarelo-esverdeado no porte, emana notas de toranja, acácia-lima, pimenta branca, gengibre, damasco, pera e pedra partida. No palato é untuoso, fresco e equilibrado. Por sua vez, o Ravasqueira Reserva da Família Branco 2021 (15.00 €, 90 pts.), já mais para o amarelo-palha, para além de mostrar o gengibre-cardamomo, a acácia-lima, e a pedra partida, mostra também já alguma nuttiness (noz e amêndoa) que o torna muito mais interessante, complexo e abrangente.

Brancos da RavasqueiraNa boca mantém a untuosidade, a frescura e o equilíbrio que fazem com que não se torne maçudo. Sei bem que toda esta elevação organoléptica não resulta apenas da evolução em garrafa, o ano da colheita também tem de ser tido em conta, no entanto, o Ravasqueira Reserva da Família Branco é uma demonstração clara de que por vezes os vinhos precisam de paciência, de tempo, antes de serem lançados para o mercado.

Brancos da RavasqueiraComo tinha prometido, para último guardei outro vinho especial, sobretudo pela originalidade: o Ravasqueira Sauvignon Blanc 2021 (6.50 €, 86 pts.). Um vinho que combina a enologia do novo mundo com a elegância dos vinhos tradicionais do velho mundo, evidenciando concentração, equilíbrio e frescura. Mostra-se amarelo-esverdeado no copo, passando para o nariz com notas de maracujá, abacaxi, espargos, pimento verde, lima e relva cortada. Na boca é directo, fresco, equilibrado e muito elegante. Vai muito bem com as churrascadas bem típicas da estação ,)