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No meu Palato

No meu Palato

Zurique | O melhor dos dias

“Se eu gosto de poesia? Gosto de pessoas, animais, plantas, lugares, chocolate, vinho, conversas amenas, amizade e amor. Acho que a poesia está contida nisso tudo.”  Carlos Drummond de Andrade

Zurique Sempre que o inverno nos arrefece o corpo, o chocolate ajuda-nos a aquecer a alma. Esta é a altura dos Lindt, dos Ferrero Rocher, dos Mon Chéri, dos bombons, dos biscoitos, das trufas e dos troncos de chocolate. Mas já se perguntaram de onde terá surgido esta ligação quase mágica entre o tempo frio e o chocolate? Para responder a esta pergunta, temos de viajar 4000 anos até à civilização Maia da Mesoamérica.

Zurique

Os Maias e os Astecas foram os primeiros especialistas em chocolate. Originalmente, o chocolate era consumido como bebida amarga pelos Astecas, mas os grãos de cacau, colhidos da árvore Theobroma, também eram usados como moeda e em rituais pelo povo Maia. Estas civilizações antigas acreditavam que os grãos de cacau eram mais valiosos que o ouro. Assim, o chocolate desempenhava um importante papel económico, político e espiritual nas suas sociedades. A história diz-nos que antigos potes e vasos olmecas (outro povo pré-colombiano da Mesoamérica) datados de cerca de 1500 a.C. foram descobertos com vestígios de teobromina, um composto estimulante encontrado no chocolate. Os Olmecas, mais tarde, transmitiram o seu conhecimento sobre o cacau aos Maias da América Central, que não irião apenas consumir chocolate, mas também o iriam reinventar.

@25hours Hotel Zürich West

 A história escrita maia menciona bebidas de chocolate, sendo saboreadas em celebrações e para finalizar transacções ou cerimónias importantes. Apesar da enorme importância do chocolate na cultura maia, ele não estava reservado apenas para os mais ricos e poderosos, fazendo também as delicias dos mais desfavorecidos. Em muitas famílias maias, o chocolate era apreciado em todas as refeições. Era espesso, espumoso e muitas vezes surgia misturado com pimenta, mel ou água.

25hours Hotel Zürich West

Os Astecas elevaram chocolate a outro nível, pois acreditavam que este lhes era oferecido pelos deuses. Esse chocolate asteca, denominado xocolatl, era principalmente uma extravagância da classe alta, embora as classes mais baixas o apreciassem ocasionalmente em casamentos ou outras celebrações esporádicas. Talvez o mais notório amante do chocolate asteca tenha sido o governante Montezuma II, que supostamente bebia galões de xocolatl todos os dias para obter energia e para assuntos "afrodisíacos".  Não há consenso sobre como o chocolate chegou à Europa, embora haja certeza histórica de que entrou no velho continente através de Espanha. Existem 3 teorias principais. Uma delas diz-nos que Cristóvão Colombo descobriu grãos de cacau depois de interceptar um navio mercante na sua viagem à América, levando com ele os grãos para a Espanha em 1502.

Zurique  Outra  afirma que os Astecas da corte de Montezuma ofereceram chocolate ao conquistador espanhol Hernan Cortes. Depois de regressar a Espanha, com grãos de cacau a reboque, ele, supostamente, terá mantido a sua descoberta sobre em segredo. Uma terceira história afirma que os frades que presentearam os maias guatemaltecos a Filipe II da Espanha em 1544, também trouxeram grãos de cacau como oferta. Na verdade, não importa como o chocolate chegou a Espanha. O certo é que no final dos anos 1500 era uma indulgência muito apreciada pela corte espanhola, e que a Espanha começou a importar chocolate em 1585. À medida que outros países europeus, como a Itália e a França, "visitavam" algumas partes da América Central, também "descobriram" o cacau e trouxeram-no para respectivos países.  Em 1847, o chocolateiro britânico Joseph Storrs Fry criou a primeira barra de chocolate moldada a partir de uma pasta feita de açúcar, licor de chocolate e manteiga de cacau.

@Rechberg 1837

O chocolateiro suíço Daniel Peter é reconhecido por ter adicionado leite em pó ao chocolate para criar chocolate de leite em 1876. Mas foi só vários anos depois que ele trabalhou com o seu amigo Henri Nestlé (juntos eles criaram a Nestlé Company) com o objectivo trazer o chocolate de leite para o consumo global. O chocolate estava a percorrer um longo caminho durante o século XIX, mas ainda era duro e difícil de mastigar. Em 1879, dá-se o "25 de Abril do chocolate". Outro chocolateiro suíço, Rudolf Lindt, inventa a "Concha", uma máquina de que misturava e arejava o chocolate, dando-lhe uma consistência suave que se derretia na boca e combinava bem com outros ingredientes. Este chocolate, mais cremoso e por isso mais amigo do palato, chega mesmo a tempo do seu casamento com o Natal, tendo como padrinhos ... um tronco de madeira e uma festa pagã.

Zurique

Se quisermos ser precisos, as festividades natalícias são bem anteriores ao Cristianismo, pois estão enraizadas em crenças e tradições profanas. O dia do solstício de inverno, o dia mais curto do ano, sempre foi de particular interesse para os povos.  Representava o início de um novo ciclo, com os dias a ficarem maiores,  mais quentes, com mais luz: essenciais para as colheitas. Desta forma, o dia 25 de Dezembro passou estar associado à celebração do renascimento do Sol Invictus (deus sol oficial do Império Romano) e da Saturnália Romana (um festival da Antiga Roma em honra ao deus Saturno, que ocorria em 17 de Dezembro no Calendário juliano e que mais tarde se estendendeu com festividades até 25 de Dezembro).

Zurique

 Este feriado era celebrado com um sacrifício no Templo de Saturno, no Fórum Romano, com um banquete público, seguido de troca de presentes em privado e um festa "carnavalesca" que derrubava as normas sociais romanas: o jogo permitia aos senhores oferecerem comida e vinho aos seus escravos. O poeta Catulo chamava a este festival "o melhor dos dias". Esta origem pode ser inferida na própria palavra Noel, sinónimo de “natividade” em muitas línguas. Em inúmeras culturas, este dia está também associado a múltiplas crenças relacionadas com a maternidade, a fertilidade, o sexo e até a astronomia. É somente no século IV que esta festa pagã é oficialmente incorporada pelos cristãos e se torna na data comemorativa do nascimento de Jesus Cristo. 

@Lindt

As referências bíblicas captaram o símbolo do novo ciclo solar, chamando metaforicamente Cristo de “novo sol”, que iluminava o mundo.  Hoje, a festa, marcadamente religiosa, deu lugar a uma celebração secular e familiar que, no entanto, incorpora os elementos tradicionais dos séculos passados. Por exemplo, a árvore de Natal é uma tradição da Alemanha, embora a representação da árvore, símbolo da renovação da vida, remonte aos egípcios (já vos contei esta história no Natal do ano passado)!!!

@Lindt

Essa celebração familiar passou a simbolizar também o encontro da família e amigos em volta de uma mesa recheada. Como esse encontro acontece no inverno, havia a necessidade de aquecer as casas. Até finais do século XIX a única solução era a queima de troncos de madeira nas lareiras. Assim, cada lareira queimava grandes troncos de madeira para aquecer os convivas, criando um fogo aconchegante em torno do qual toda a família se reunia. Com o século XX, surgem os aparelhos de aquecimento, como os fogões de ferro fundido ou os aquecedores a óleo, que substituíram as lareiras.

@Swiss Chuchi Restaurant

Os troncos de madeira tornaram-se meramente decorativos, até que alguns confeiteiros tivessem a ideia de transformá-los em troncos de chocolate, com o auxilio da máquina criada por Rudolf Lindt. A cobertura de chocolate parecia querer imitar a madeira queimada. ​ Esta é uma das ligações mais evidentes entre o chocolate e o Natal, mas existem outras.  No México o peru é servido com uma camada de chocolate por cima e em Itália as crianças recebem pedaços de chocolate da bruxa Befana. Os luteranos começaram a fazer contagens regressivas para o Natal acendendo uma vela a cada domingo do Advento. Com o tempo, essa tradição evoluiu para incluir pequenas imagens religiosas ou chocolates, que eram escondidos em pequenos compartimentos para serem abertos diariamente.

Zurique

Na Suíça na noite de 5 para 6 de Dezembro, São Nicolau, um velho barbudo e benevolente também conhecido como Nicolau de Myre, aparece para recompensar com chocolates as crianças bem comportadas. Todas estas tradições Natalícias, espalhadas um pouco por todo o mundo, assim como a associação ente o tempo frio e o chocolate, não teriam sido possíveis sem Rudolf Lindt, e a sua "Concha". Foi por tudo isto, que escolhemos Zurique como o nosso destino de Natal de 2023. 

@City Rally and the WOW Museum

Para os nossos pequenos, Zurique passou a significar "o país do chocolate", mas como vão ver mais adiante, Zurique é muito mais que isso. O aroma de vinho quente e canela paira no ar da cidade, as canções de Natal soam nas lojas e shoppings, os olhos brilhantes das crianças olham para o Märlitram (um metro de superfície conduzido pelo próprio pai Natal) decorado "à Natal" e as ruas estreitas e sinuosas da Cidade Velha são banhadas por uma luz quase mística. No advento, os apaixonados pelo Natal podem desfrutar de um passeio tranquilo pelo centro da cidade e deixar-se mimar: a cada canto, uma barraca de raclette, um chalé de madeira com fondue ou um vendedor de “Maroni” com castanhas quentes. 

Zurique Existem mais de 50 mercados de Natal espalhados um pouco por toda a cidade, destes destacámos 5. Sechseläutenplatz: Localizado em frente à Ópera é um dos maiores mercados de Natal da cidade. Há comida, bebida, pistas de gelo, carroceis e artesanato local. Cidade Velha: Este é o mercado de Natal mais antigo da cidade e também o meu favorito. Está repleto de luzes cintilantes, muito vinho quente e uma atmosfera aconchegante. Werdmühleplatz: Está situado mesmo ao lado do museu WOW e é lá que podem encontrar a famosa Árvore de Natal cantante, com vários membros do coro regional que cantam  musicas de Natal em formação de árvore.

@Afghan Anar

Münsterhof: Se procuram produtos e mercadorias locais, este mercado é o lugar certo para vocês. Existem muitas lojas e boutiques que durante o Natal se instalam por ali!!! Zurich HB: Localizado mesmo ao lado da estação de comboios principal, este é o maior mercado de Natal e onde encontrámos a melhor comida de rua: raclette, fondues, carne assada, crepes e vinho quente. Ainda com o tema Natal, duas sugestões culturais. A primeira o Illuminarium. Um encantador país das maravilhas do inverno cheio de luz, iluminação, ilusão, música e delícias culinárias. Materializa-se num espétaculo de luzes e som que ocorre no pátio interior do Museu Nacional de Zurique.Todas as noites, a partir das 17 horas, há uma experiência interactiva que permite mergulhar no céu e nos aproximar das estrelas. Até as 20 horas, a orquestra Yuki  apresenta um espétaculo de luzes chamado “Ópera de Natal (La Traviata reloaded)” com uns misteriosos pequenos seres como protagonistas. Tirando os chocolates, esta foi a parte favorita dos miúdos.

Zurique

A outra sugestão  é o X-Mas Rally do museu WOW.  Formem uma equipa de exploradores por entre amigos e família e partam para uma descoberta de Zurique sob as suas luzes cintilantes. Pelo caminho vão encontrar tarefas desafiadoras, ruas labirínticas, ilusões e recompensas como chocolates e vinho quente. Este é um modo bem engraçado de descobrir, a pé, as partes menos conhecidas da cidade e que nos coloca no centro da magia urbana do Natal.

Zurique Deixando o Natal de lado, mas apenas por breves momentos (:P), passemos a outros destaques de Zurique. O Kunsthaus de Zurique pode não ser o MoMa ou o Tate, mas tem muito para oferecer. Os amantes de Alberto Giacometti encontrarão toda uma série de salas dedicadas ao artista e escultor suíço, e nomes como Van Gogh, Monet e Chagall estão expostos em salas pequenas mas cheias de luz no último andar. O seu cervo permanente pode ser visitado gratuitamente às quartas-feiras.

Zurique

A Cidade Velha estende-se entre Central e Bellevue e é frequentemente chamada de 'Dörfli' pelos habitantes locais. Na verdade, consiste em duas partes: Niederdorf e Oberdorf. Embora seja uma espécie de armadilha para turistas, com restaurantes de fondue e lojas de souvenirs, pouco tradicionais, os prédios antigos e as suas ruas estreitas são bastante charmosoas. Não percam o Cabaret Voltaire, berço do dadaísmo, e o seu Café duDA. 

Originalmente uma área degradada repleta de armazéns decadentes, Zurique Oeste, também chamado de “Kreis 5” ou “Industriequartier”, é agora um coração palpitante (alternativo) da cidade. A sua principal atracção é o Viadukt, um quarteirão de de lojas, restaurantes e bares construídos nos arcos do antigo viaduto ferroviário que circula entre a margem do rio Limmat e a estação Hardbrücke. Nas proximidades, o Frau Gerolds Garten oferece pequenas lojas pitorescas, um jardim urbano e algumas atracções sazonais, como um mercado de Natal e uma barraca de fondue no inverno. 

Zurique Conhecida como uma das ruas comerciais mais caras do mundo, a Bahnhofstrasse é muito afamada e bastante frequentada. A parte inferior (a partir da estação principal) está repleta das habituais lojas de rua, enquanto a maioria das lojas de luxo estão situadas na extremidade superior, perto da Bürkliplatz e do lago. As mesas externas do Café Sprüngli na Paradeplatz, o epicentro do mundo bancário suíço, são o lugar ideal para apreciarmos uma tarde ensolarada de inverno (experimentem o chocolate quente!!!). Em Dezembro devem esperar até escurecer para verem as luzes deslumbrantes do ' Lucy', a iluminação de Natal personalizada da Bahnhofstrasse.

Zurique Partindo da estação principal, o Felsenegg Cable Car leva-nos até a montanha do quintal de Zurique, a Uetliberg. Façam a viagem até ao topo, onde poderão subir à torre de observação e apreciar a vista em todas as direcções. Uma trilha planetária levam-nos até Felsenegg, onde podemos apanhar o teleférico até Adliswil (e retornar a Zurique de comboio). Se preferirem podem voltar directamente para a cidade, existem vários trilhos para caminhadas em declive. Num dia de inverno, se tiverem sorte, podem descer de trenó pelo Uetliberg : uma experiência excepcional!!!

@Raclette Stube Zürich

Ao redor do Lago de Zurique, em forma de banana, há um emaranhado de parques e jardins, conhecidos colectivamente como Calçadão do Lago, que constituem um lugar pitoresco para passar uma tarde. Quando o tempo está solarengo, o lago fica repleto de barcos e as suas margens ficam lotadas de pessoas. Para apreciarem algumas das melhores vistas de Zurique e dos Alpes próximos, podem fazer um passeio de barco no lago (incluídos na rede de transportes públicos: comprem os Zurich Cards pois compensam bastante) . 

@Max Chocolatier Boutique Zurich

Localizada no Kreis 1, na Cidade Velha, a igreja Grossmunster foi o ponto de partida da famosa Reforma Protestante em Zurique. O pregador Huldrych Zwingli iniciou o movimento no púlpito desta austera igreja. Mas a história do Grossmunster é ainda mais antiga. Segundo a lenda local, diz-se que Carlos Magno fundou esta magnífica igreja, que se acredita estar situada sobre os túmulos dos santos padroeiros da cidade, Félix e Regula. Para vistas mais panorâmicas (e impressionantes) da cidade, subam até uma das suas torres. A Fraumunster é popular entre os visitantes graças à sua torre distinta (que enfeita o horizonte de Zurique) e aos seus vitrais Marc Chagall. A igreja foi construída sobre as ruínas de um convento fundado no século IX pelo imperador Ludwig, neto de Carlos Magno. A sua icónica torre verde é um dos marcos mais conhecidos de Zurique.

Zurique
O Museu Nacional Suíço fica num edifício histórico parecido com um castelo no extremo norte de Kreis 1. O museu engloba a arte, a história e a cultura suíças desde 100.000 a.C. até aproximadamente 800 d.C. As exposições cobrem tudo, desde arqueologia na Suíça até arte e artesanato suíços. Há até uma exposição projectada especificamente para crianças chamada "Um passeio no tapete mágico pela história", que convida os visitantes mais jovens do museu a viajarem no tempo enquanto exploram uma réplica de um palácio árabe, um vagão ferroviário antigo e um grande veleiro.

@Yuki Show (Illuminarium)

Albert Einstein estudou na politécnica da cidade, hoje denominada Instituto Federal Suíço de Tecnologia (ETH Zürich), de 1896 a 1900. Graduou-se em Matemática e Ciências Naturais. A partir de 1909 foi Professor de Física Experimental na Universidade de Zurique e de 1912 a 1914 trabalhou como Professor de Física Teórica na ETH Zürich. O funicular UBS Polybahn (incluído nos Zurich Cards) leva-vos da praça central até à colina onde está localizado este instituto. De lá têm uma das melhores vistas da cidade.

@Nüni

Quanto à estadia aconselhámos os hotéis 25hours. Um deles localizado em Zurique Oeste e o outro mesmo ao lado da estação ferroviária principal de Zurique. Estes hotéis oferecem muito mais do que simplesmente alojamento e pequeno-almoço (com ovos Benedict, ostras e espumante :P). Eles são uma mistura colorida de serviços contemporâneos, desde restaurantes, bares, discotecas, livrarias e cafés, até lojas de produtos cuidadosamente seleccionadas, como floristas, ourivesarias e penhores. Os hotéis são feitos sob medida para sua localização e em colaboração com designers famosos. Cada detalhe, cada canto, cada antiguidade, faz parte da narrativa do hotel e garante surpresas e um toque de aventura a cada passo.

Zurique

No que diz respeito à gastronomia temos 7 propostas. No Swiss Chuchi Restaurant podem desfrutar das suas delicias gastronómicas ao ar livre (com mantas e aquecedores) na movimentada zona pedonal de Niederdorf ou no pitoresco ambiente suíço do restaurante. Existem várias propostas, desde o fondue Adler Special, passando pela raclette até ao fondue Waadtländer. Do macarrão Alp-herder, passando pelos Capuns, até o ragu de Zurique com rosti. No entanto, destacamos o fondue de trufa e a raclette

Afghan Anar vai ser daqueles que mais vai demorar a sair da minha memória. É o único restaurante Afegão incluído no guia Michelin. Lá podem provar alguns dos pratos mais populares do país, como o bolani, o kabuli pulao ou a famosa baklava. A atmosfera é descontraída e prática, o que se deve em parte à cozinha aberta e à decoração autêntica. Como alternativa às mesas e cadeiras convencionais, aconselhámos a jantarem nas tradicionais esteiras. O próximo, o Raclette Stube Zürich, foi o meu restaurante favorito desta viagem. 

Destacámos a raclette à descrição e os clássicos fondues “moitié-moitié”, “pure vacherin” e “valaisanne”. O aroma a queijo, ainda antes de abrirmos a porta to restaurante, pode já ter saído das minhas narinas mas ainda permanece na minha alma :P A decoração, uma mistura entre as tabernas suíças e  restaurantes de rua da Toscana, assenta-lhe muito bem. Como opção fine dinning sugerimos o Rechberg 1837.  7 pratos, um menu. Utiliza apenas produtos regionais que existiam por volta de 1837 (ano da construção da casa), ou seja, antes da industrialização. O menu é acompanhado de vinhos da região. O prato vegetariano (couve-flor, batata e miso) foi dos melhores que provei até hoje. É incomparavelmente sustentável, exclusivamente local, o ambiente é aconchegante e atendimento é eficiente charmoso.

@La Taqueria Altstetten

No Nüni é possível saborear as deliciosas iguarias à la carte e um menu de almoço que muda diariamente, confeccionado com ingredientes sazonais e regionais. O cardápio que tem por base ingredientes regionais e frescos, incentiva à partida e o serviço é feito informalmente mas com atenção e detalhe.  A decoração, uma espécie de PUB helvético tem como objectivo colocar os comensais o mais "à vontade" possível. O risotto de marisco é simplesmente delicioso!!!

O La Taqueria Altstetten é o local perfeito para "limpar o palato" dos sabores mais intensos, através de uma deliciosa refeição mexicana. Com ambiente colorido e despretensioso, o restaurante serve generosos, autênticos e deliciosos tacos, burritos, quesadillas e muito mais. A equipa é simpática e atenciosa, e a área externa é perfeita para uma noite descontraída. Há uma grande variedade de opções, incluindo opções vegetarianas, veganas e sem glúten. Não deixem de provar as Chicken Wings acompanhadas por uma bela Corona ;)

Zurique

O Zeughauskeller, localizado não muito longe da Paradeplatz, é um ponto de encontro popular entre moradores e turistas desde 1926.  Significa “depósito de armas” em alemão pois era exactamente para isso que o Zeughauskeller servia antes de ser restaurante. Hoje, as armas, na parede, servem apenas para decoração. Desde 1926, o Zeughaus tem sido um local de encontro pacífico e amigável. E como convém a um lugar como este, são servidos apenas pratos bons e fartos que satisfaçam até os maiores apetites: salada de linguiça e queijo, Wiener schnitzel, cordon bleu e Zürcher Geschnetzeltes são apenas algumas das especialidades da casa que vos vão deixar de queixo caído. Tudo isto é claro regado por uma bela selecção de cervejas e whiskies.

@Zeughauskeller

Voltando ao tema dos chocolates sugerimos a vista a dois espaços. A Boutique Max Chocolatier é o céu para qualquer amante de chocolate. Os mestres chocolateiros transformam ingredientes naturais da mais alta qualidade em criações de chocolate únicas e em harmonia com as quatro estações: trufas Marc de Champagne no Inverno, maracujá “SchoggliPlättli” no Verão e bombons em forma de coração para o Dia dos Namorados. As barras de chocolate vão desde o branco puro ao extra escuro, as drageias surgem recheadas com avelãs e o coco faz companhia aos grãos de café em propostas mais ousadas. Numa degustação privada de chocolate, fomos convidados a mergulhar no mundo da Max Chocolatier, por uma hora. Foi assim que descobrimos mais sobre a história da empresa e, posteriormente, experimentámos a linha de produtos premium e conversamos com alguns chocolatiers especializados.

ZeughauskellerComo não poderia deixar de ser, um dos pontos altos da viagem foi a visita ao Lindt Home of Chocolate, o maior museu de chocolate da Suíça. Este edifício impressionante que foi projectado pelos famosos arquitectos Christ & Gantenbein, recebe os amantes de chocolate de todo o mundo em Kilchberg, no Lago Zurique. Uma exposição multimédia interactiva guia os visitantes por sete mundos diferentes do chocolate, que apelam a todos os sentidos. Do cultivo do cacau à história do chocolate, passando pela degustação do chocolate suíço da mais fina qualidade, lá podemos encontrar tudo o que está relacionado com o chocolate. É ainda possível  verificar in loco as mais recentes tecnologias de produção e automação na fabricação de chocolate de qualidade superior.

Zurique

Para além da maior loja de chocolates Lindt do mundo, no adjacente e ultramoderno café Lindt, os hóspedes são tratados com deliciosas especialidades caseiras de waffles e chocolate e têm uma bela vista para a espectacular fonte de chocolate com 9 metros de altura. Por entre a atmosfera única da Lindt e sob a orientação especializada dos Lindt Maîtres Chocolatiers, os visitantes podem ainda aprender como manusear o chocolate e criar as suas próprias obras-primas de chocolate. Tudo isto levou-nos a perceber um pouco acerca da herança cultural suíça do chocolate. Este é um espaço tão rico, que, no mínimo, têm de guardar 5 horas para o conhecer. Reservem a visita com antecedência porque a enorme procura faz com que, muitas vezes, os bilhetes esgotem. Sigam um conselho aqui do Pedro, levem sacos ou bolsos vazios porque vão precisar deles no final da visita :P 

Zurique

Em conclusão, Zurique emerge como um destino de Inverno encantador, que vai muito além das suas paisagens pitorescas e a riqueza da sua história. Ao explorar esta cidade, é impossível ignorar a fusão harmoniosa entre a herança cultural e as experiências contemporâneas. As suas ruas históricas contam-nos histórias que se entrelaçam com a tradição familiar, reflectidas nos valores duradouros que permeiam a sociedade local. Por entre as suas construções arquitectónicas imponentes e museus cativantes, Zurique também se eleva através da sua alma culinária, onde o chocolate suíço, o Rösti e os queijos artesanais, se tornam elementos fundamentais para apreciar a verdadeira essência desta região. Nessa jornada, "comer" tornam-se um momento de celebração, que proporciona um mergulho inesquecível na história, na cultura e nos sabores que definem Zurique como um destino verdadeiramente enriquecedor para toda a família. Tudo isto, relembra-nos que o Natal, é mesmo o melhor dos dias.

P.S. Não se preocupem com os transportes. Todas as atracções que vos falamos estão acessíveis por transportes públicos (Zurich Cards) que funcionam muito bem e a horas.

Um obrigado especial à Zürich Tourism por nos terem ajudado com esta viagem!!!

 

Titan Daemon 666 | O mistério da estrada de Sernancelhe

"A coisa mais bela que podemos experimentar é o mistério. Ele é a fonte fundamental de toda verdadeira arte e ciência. Aquele para quem essa emoção é estranha, que não consegue mais parar e ficar envolto em êxtase, é como se estivesse morto: os seus olhos estão fechados." Albert Einstein

Titan Daemon 666O vinho, na sua essência, é uma experiência sensorial única, onde cada garrafa guarda segredos que apenas são revelados aqueles que se aventuram a experimentá-la. Assim como um bom mistério, o vinho revela-se aos poucos, à medida que as suas camadas vão desvendando narrativas inesperadas, complexas e intrigantes. 

Titan Daemon 666A primeira pista desse mistério vínico está na cor, um enigma visual que antecipa a riqueza que está prestes a ser revelada. O amarelo dourado cristalino, tal como as páginas de um romance policial, pode sugerir uma trama rica e cheia de nuances. À medida que o copo se move em direcção ao nariz, o aroma, por vezes subtil, dá-nos a pista seguinte. Um convite olfactivo que instiga à curiosidade e nos desafia a decifrar cada nota, como quem procura pistas num cenário enigmático.

Titan Daemon 666O palato é a parte central desse VSI (Vinho sob Investigação :P), onde as nossas papilas gustativas são desafiadas a decifrar os sabores complexos que se entrelaçam como personagens de uma narrativa bem elaborada. A acidez inicial pode ser um isco, escondendo a doçura que surge como uma reviravolta inesperada. Os taninos, personagens robustos, também procurar deixar sua marca, enquanto a persistência do sabor é o epílogo que perdura na memória.

Titan DaemonTodos este mistério banhado a etanol é também um desafio de paciência, que apenas se aclara com o tempo. O mesmo sucede nos bons livros de mistério, onde quase tudo é revelado apenas no final, para quem se manteve sereno. Cada gole é uma página virada, revelando um novo capítulo do enigma que é o vinho, uma bebida que guarda consigo os segredos da terra, do tempo e da arte do enólogo. Hoje falo-vos de um vinho (bem, na verdade vão ser dois) que eleva essa relação entre vinho e mistério, a um novo patamar. 

Titan Daemon

O TITAN of Távora-Varosa Daemon “Sescenti Sexaginta Sex”, é um vinho branco da colheita de 2020, proveniente de uma vinha velha no Concelho de Sernancelhe, com mais de 140 anos, plantada a 850 metros de altitude, com mistura de castas, mas predominância de Cerceal, num solo de granito e quartzo e com uma área de 0,80 hectares.

Titan DaemonNesta nova gama de vinhos de luxo, Daemon “Sescenti Sexaginta Sex” (666), somos transportados para o tal mistério, para a dimensão do oculto e da superstição. Esta é uma série limitada a 666 garrafas, com o valor de venda recomendado de 666 €. Tem o design do gabinete Rita Rivotti, produção da Etiquel, é apresentado numa embalagem que além de servir de caixa é também um candeeiro com luz LED, criação da Maxibox e tem a criação audiovisual da Goldenanimation.

Titan DaemonA vinificação foi feita com bastante simplicidade e de modo pouco interventivo: uvas frescas no seu ponto ideal de maturação, apanhadas à mão para caixas de 20 kg e transportadas para a adega onde foram sujeitas a uma criteriosa escolha manual, desengace e suave esmagamento. 

Titan DaemonSem prensagem, seguiu directamente para barricas novas de carvalho francês, onde realizou a fermentação alcoólica, a fermentação maloláctica e prosseguiu estágio por mais 24 meses, com levantamento das borras finas regularmente, a temperatura e humidade controladas.  

Titan DaemonTITAN of Távora-Varosa Daemon “Sescenti Sexaginta Sex” 2020 (666 €, 98 pts.) apresenta-se amarelo-dourado com laivos alaranjados. No nariz é incrivelmente complexo com notas de limão, maçã verde, marmelo, telha de amêndoa, pão torrado, mel, flores silvestres, pedra partida e pimenta preta. No palato é musculoso, fresco (a acidez é vibrante e arrebatadora), untuoso, preciso, longo, acutilante, crocante e ligeiramente salgado. 

Titan DaemonAté hoje a melhor nota para um branco havia sido para o  Fragmentado Branco Blend I, também de Luís Leocádio. As arestas  do TITAN of Távora-Varosa Daemon “Sescenti Sexaginta Sex” ; a sua acidez enérgica, incisiva e penetrante; e a expressão genuína de terroir fazem deste demónio vínico, o novo rei na sua categoria.  Confesso que desconfiei do mistério que este 666 poderia carregar (parte dessa desconfiança relacionada com o preço inflacionado que alguns vinhos apresentaram no último par de anos), no entanto essa suspeita não se confirmou. É, de longe, o melhor vinho branco português que provei até hoje.

Titan Daemon Aquando da prova do TITAN of Távora-Varosa Daemon “Sescenti Sexaginta Sex” 2020 tive ainda a oportunidade de provar o TITAN of Távora-Varosa Daemon 2020 (22.50 €, 92 pts.). De cor amarelo-palha bastante viva e cristalina, exibe notas contidas mas expressivas (conceitos aparentemente contraditórios, mas que neste vinho não o são) a lima, fumo, chá Earl Grey, brioche, granito molhado e sous-bois. Na boca é um vinho super completo, tenso e equilibrado, onde a enorme estrutura está assente numa acidez elegante. 

Titan DaemonChamo-vos a atenção também para o  Molho Picante Titan Daemon (10.50 €). Um picante natural que tem por base um óleo alimentar 100% natural e extraído por prensagem a frio de grainhas provenientes de uvas utilizadas na produção de vinhos. De aroma neutro e suave, a este óleo é adicionado para uma longa maceração, uma panóplia de botânicos e picantes (Satan´s Kiss, Diablo Grande e Jindungo), todos eles plantados e colhidos pelo Titan. Um produto gastronómico de excelência, de aroma muito complexo e sabor picante suave. Este é um picante pensado para quem gosta de vinhos!!! :P

Titan DaemonAquando da apresentação do Fragmentado Branco Blend I fiquei com a impressão que o Luís Leocádio estaria a preparar algo (sobretudo mentalidades) para algo parecido com o TITAN of Távora-Varosa Daemon “Sescenti Sexaginta Sex” 2020. Para além de esculpir vinhos com denominadores comuns óbvios (complexidade, a elevada frescura, a mineralidade muito própria, a intensidade inebriante, a harmonia completamente arrebatadora e a identidade muito vincada), neste novo topo de gama este jovem e experiente enólogo arriscou elevar a noção holística que promove em todos os seus vinhos a um patamar de quase de joalheria, não deixando, no entanto, que este diamante deixasse de ter as arestas que o ano, o terroir e a própria vinificação lhe deram. O melhor branco do país tem de ter um preço que o metamoforize, neste caso, mistério rima com critério.

DOP - Chef Rui Paula | Nebulosa de memórias e outras histórias

"Não há nada como a respiração profunda depois de dar uma boa gargalhada. Nada no mundo se compara à barriga dolorida pelas razões certas."

 Stephen Chbosky.

DOP - Chef Rui PaulaNo seu (muito longo!!!) romance, Remembrance of Things Past, Marcel Proust apresenta-nos um homem que dá uma pequena dentada num queque mergulhado em chá. Nesse momento essa personagem é imediatamente transportado numa viagem através de uma memória longínqua, quase esquecida. É aqui que fica "patenteado" o “momento proustiano”, um vínculo bastante estreito entre palato e memória. Vínculo esse que não foi apenas uma criação literária da imaginação de Proust, pois, na verdade, existe uma ligação cientificamente comprovada entre as papilas gustativas e as nossas memórias.

DOP - Chef Rui PaulaUm estudo publicado em 2014 comprovou essa ligação directa entre a região do cérebro responsável pela memória gustativa e a área responsável por codificar a hora e o local em que experimentamos um determinado alimento. Além disso, ficou demonstrado que esse sabor fica tanto mais fortemente guardado na nossa memória quanto mais positivo for o acontecimento relacionado com esse sabor. É por isso que um simples pedaço de carne assada pode levar-nos de volta para os almoços de domingo da nossa infância: porque temos lembranças felizes associadas a essas refeições. 

DOP - Chef Rui PaulaDa mesma forma, um biscoito pode-nos transportar para o pote de biscoitos da nossa avó. Os exemplos empíricos desta relação entre sabor e memória são incontáveis. O modo como o nosso cérebro responde a essa estimulação sensorial é particularmente fascinante. Essa relação é ainda mais importante porque a medicina mostrou-nos recentemente que a estimulação sensorial (seja através de sons, de alimentos ou objectos do dia a dia), pode desencadear um resposta ou sentimento positivo através da memória, que por sua vez desempenha um papel significativo nos tratamentos mais inovadores para o Alzheimer ou a demência.

DOP - Chef Rui PaulaSe quisermos compreender plenamente a nossa ligação com a comida e a relação que esta tem com a nossa memória, temos forçosamente de recuar até às raízes do nosso passado. E nesse passado longínquo, com milhões e milhões de anos, encontrar comida não era propriamente fácil. Não haviam supermercados, feiras, mercearias ou restaurantes. Para piorar este cenário, as partes mais saborosas e nutritivas, a carne e o peixe, eram ainda mais difícil de obter. Como tal, começamos colectores, sobrevivendo a comer frutas, ervas e sementes. Nesse nosso início, tudo era sem graça, irracional, instintivo. 

DOP - Chef Rui PaulaNo cérebro dos nossos ancestrais estava presente sempre o mesmo mantra:  se não comeres morres!!! Então eles comeram e, felizmente, sobreviveram. Mas, assim como as nossas mentes e os nossos corpos começaram a evoluir, o mesmo aconteceu com a maneira como os nossos antepassados se relacionavam com a comida. Os humanos descobriram o sabor da carne há cerca de 2,6 milhões de anos. Curiosamente o cultivo de cereais surgiu há cerca de 12 mil anos, e é há apenas 10 mil anos que a agricultura entrou em cena.

DOP - Chef Rui PaulaToda esta evolução foi alimentada pela mente humana. Pela nossa curiosidade. Pela nossa criatividade. Pela nossa necessidade/vontade de estarmos juntos. Tudo isto porque há cerca de 10 mil anos, o nosso cérebro deixou de ver a comida apenas como uma necessidade básica e institiva. Para os seres humanos, o acto de comer deixou de ser apenas uma questão de sobrevivência, passou a significar preparar, criar, descobrir e compartilhar. Passou a ser sobre a alegria, sobre o amor e sobre a conexão com aqueles que mais queremos. E são exactamente essas ligações que influenciam o funcionamento da memória. 

DOP - Chef Rui PaulaNo seu livro The Omnivorous Mind, John Stuart Allen analisa antropologicamente essa poderosa ligação entre comida e memória. A certa parte do livro, Allen diz-nos que há uma região do cérebro, chamada hipocampo, que é crítica para a memória, pois tem fortes conexões com partes do cérebro que são importantes para a emoção e o olfacto. Assim, a comida está ligada tanto à emoção como ao cheiro, o que pode explicar porque a comida parece ser uma prioridade nas nossas memórias.

DOP - Chef Rui PaulaÉ por isso que quando nos deliciamos com uma bela feijoada, os aromas que emanam do nosso prato podem fazer-nos viajar no tempo para um jantar que estava engavetado no nosso hipocampo, mesmo que já não nos recordássemos dele conscientemente. Isto porque as memórias são mais fortes e mais fáceis de recordar quando estão ligadas a uma sensação física e fundamentadas numa experiência emocional positiva.

DOP - Chef Rui PaulaEsse fenómeno é ainda mais evidente quando falámos de doces. Isto porque o açúcar tende a activar os centros de recompensa dos nossos cérebros. Esses centros de recompensa, por sua vez, podem accionar o hipocampo e transformar uma memória feliz de curto prazo de, por exemplo, comer um gelado na praia, numa memória de longo prazo que surge toda a vez que nós saboreamos um gelado à beira-mar. Mas o que é que cientificamente conjuga sabor com memória?

DOP - Chef Rui PaulaOs estudos mais recentes dizem-nos que quando os sabores passam pelas nossas papilas gustativas, as suas terminações nervosas accionam uma espécie de interruptor que envia esse sinais para o tronco cerebral, que por sua vez reencaminha essa informação para o tálamo e para o córtex cerebral, que após comparar esses sinais com a nossa "biblioteca de sabores", nos torna conscientes do sabor amargo, azedo, doce ou salgado de determinado alimento.

DOP - Chef Rui Paula Essa biblioteca chama-se bulbo olfactivo e está localizada bastante próxima à amígdala e ao hipocampo. Porque é que essa localização é importante? Porque a amígdala e o hipocampo são responsáveis pelo processamento das emoções e pelo armazenamento da memória episódica. Tendo em conta tudo isto que vos disse, é importante que os restaurantes dos dias de hoje, tenham em conta essas memórias sensoriais que transportam os clientes para experiências do seu passado.

DOP - Chef Rui Paula Cada prato pode tornar-se, assim, num veículo que evoca lembranças e emoções, criando uma ligação emocional única entre Chef, restaurante e clientes. A comida, deste modo, transcende a mera nutrição e transforma-se numa jornada pessoal e sensorial que promove a partilha de emoções. A crítica de hoje é sobre um restaurante que evoca esse legado de modo inequívoco: o DOP, do Chef Rui Paula.

DOP - Chef Rui PaulaQual é o alimento que, na vossa opinião, remete para as memórias o maior número de pessoas no planeta? Provavelmente o pão. E talvez por isso, ou não, o primeiro momento da nossa última visita ao DOP tinha como protagonista o pão. Pão massa mãe | Azeite do Douro | Pasta de azeitona. O pão é muitas vezes visto como o "parente pobre" de um menu de degustação, mas nos restaurantes "a sério" este elemento tem cada vez mais destaque, pois é a única oportunidade que o restaurante tem para causar uma boa primeira impressão.

DOP - Chef Rui PaulaPara além disso no DOP o pão define o tom, dá o mote, estabelece a bitola e prepara o palato para o que se há-de suceder: identidade, sabor e partilha. Seguiu-se a Burrata | Tomate, com tomate coração de boi, tomate cherry amarelo infusionado em gaspacho, tomate tigrado em azeite de fumo, tomate cherry vermelho em calda de pickle, sorbet de tomate, pesto e creme de burrata. Criava um jogo engraçado entre a acidez dos tomates e a cremosidade da burrata, potenciada pelo azeite, pelo manjericão e pelo sal no ponto certo.

DOP - Chef Rui PaulaA Tagliatelle de lula | Carbonara, com a carbonara elaborada somente com os sucos de peixe, estava muito fresca, cítrica, untuosa e marítima. Remeteu-me para uma espécie de beurre blanc de marisco, em que nada era deixado ao acaso. Exemplos indeléveis disso, são a substituição do bacon (indispensável para a carbonara tradicional) pelo "bacon" de lula, e a inclusão de uma gema confitada super rica, que resultaram muito bem, dando uma espécie de irreverência e aristocracia ao conjunto.

DOP - Chef Rui PaulaO Polvo à Galega, com uma apresentação simples (e por vezes o simples dá trabalho), cuidada e original, vestia as mesmas cores, aromas e sabores do molusco servido na Galiza. Era quase como se a paprika que normalmente é polvilhada nas lâminas de polvo, se transformasse numa espécie de fluido, numa onda, que banhava o tentáculo de polvo. Estava assente no polvo grelhado, no savarin de batata, na espuma de pimento vermelho e no creme de alho negro. O tentáculo apresentou-se super macio, confitado e com toques de fumo. Teve o condão de me transportar para uma das marisqueiras à beira-mar, de Vigo.  

DOP - Chef Rui PaulaSeguiu-se, quanto a mim, o momento alto do menu: Corvina | Acelgas | Belgroegas | Champagne. A emulsão de Champagne estava fresca, rica e untuosa, mas ao mesmo tempo, equilibrada, fina e delicada. A esta obra de arte degustativa, era acrescentado o peixe de sabor suave, textura firme e notas levemente adocicadas; acelgas; beldroegas; e uma cobertura de azeitona e tomate seco no topo da corvina que lhe dava um fundo érvaceo/vegetal que colocava todo o prato a dançar ao mesmo ritmo. Tem tudo: sabor, identidade, apresentação, trabalho, equilíbrio e complexidade.

DOP - Chef Rui Paula

A Maracujá | Melancia (com chipotle fumadas, melancia assada e grelhada, e emulsão de maracujá), em forma de intermezzo, acídula, cítrica e refrescante, serviu para criar uma pausa, dando tempo ao palato para se preparar para a transição suave para sabores mais intensos.

 Na carne, um clássico, o Lombinho | kale | Brás de morcela, com lombinho de vitela, couve de folhas braseadas e jus de carne. 

DOP - Chef Rui PaulaEste "exagero organoléptico" tinha inúmeras camadas de sabores, desde a doçura salgada da carne até os sabores mais robustos da morcela, complementados pela textura, aroma e sabor da couve. Esta couve, aparentemente o elemento mais modesto do prato, acrescentava intensidade, surpresa, harmonia e irreverência ao prato. Este é daqueles para ser desfrutado com tempo, com calma e na companhia de um belo vinho, no caso o Filipa Pato Nossa Calcário Tinto 2019. Que bela harmonização!!!

DOP - Chef Rui PaulaDepois, uma refrescante e incisiva pré-sobremesa (chocolate branco cristalizado, lâminas de espargos brancos fermentados com mostarda, água e sal, sorbet de lima, pó de lima e telhas de glucose), antecedeu a zen Maçã | Côco | Miso com diferentes texturas de maçã, toffee de miso, gelado e creme de côco. Uma autêntica sinfonia de sabores e texturas, que combinava a versatilidade e acidez da maçã, com as nuances salgadas e profundas do miso, e a delicadeza e indulgência do côco. Era serena, fresca e acutilante. 

24.JPGA refeição terminou com café e petit fours (gomas de cereja e crocantes de chocolate e amendoim), em que mais uma vez nada é deixado ao acaso, desde o foco na qualidade do produto, à apresentação cuidada, passando pela coerência na sequenciação do menu. Percebemos que estamos num sítio onde a gastronomia é levada muito a sério, desde o pão até ao café. A experiência que nos eleva a patamares sensoriais superiores, apenas acaba quando saímos das portas do renovado DOP.  Essa renovação é perceptível no novo traje em tons de vermelho, na maior amplitude aparente que os reflexos nos espelho introduz e a presença da cabine do DJ ao lado do melhorado bar. 

DOP - Chef Rui PaulaCada detalhe das diferentes salas do DOP procura potenciar uma atmosfera de partilha e celebração, dividindo-se em recantos estrategicamente organizados (com mesas distribuídas pelos dois andares) que asseguram uma experiência mais íntima e reservada, seja para um jantar a dois ou em grupo. A cozinha, visível através de uma porta de vidro transparente, oferece uma perspectiva parcialmente exposta a partir da sala principal. Ao leme desta viagem às memórias esteve o Chef Sandro Teixeira, com a ajuda do sommelier Tiago Leal nos vinhos. Podia tecer muitos elogios à experiência gastronómica que o renovado DOP promove, mas se uma imagem vale por mil palavras, quatro sorrisos valem por mil imagens. Pois é no calor de um sorriso, seja do Chef que sabe que o serviço correu muito bem, seja do chefe de sala cuja meticulosa atenção aos detalhes potenciou uma atmosfera propicia para momentos de partilha, seja dos clientes com o seu palato em pé a bater palmas, que a verdadeira magia acontece. Pois esse sorriso transcende o paladar, o sabor ou a textura.

DOP - Chef Rui Paula Por tudo o que disse na introdução, é esse sorriso que conecta a experiência gastronómica a uma dimensão humana, transformando uma refeição soberba numa memória afectiva e duradoura. É o sorriso que ilumina, que personaliza,  que vinca, e que antevê que este DOP se pode transformar numa autêntica nebulosa. Quem perceber de (g)astronomia, sabe bem daquilo que estou a falar. Acho que é exactamente isso que o Chef Rui Paula quer para o "novo" DOP

Já por diversas vezes destaquei a excelência do que vai fazendo por todos os lugares por onde vai passando. Excelência essa assente no conhecimento, na destreza e na cozinha com memória e para as memórias. O que ele está a fazer no DOP (esta foi sem dúvida a melhor experiência gastronómica que lá tivemos) só vem reforçar o que já achava dele: que é um predestinado. A excelência é um acto que se cultiva diariamente, em qualquer local, situação, contexto ou etapa do menu de degustação. Neste, não falhou nada...

Herdade Grande | Singularidades de uma Miúda (que não é loira)

"Descobre a tua singularidade e investe preparação, tempo e dedicação. O resultado será surpreendente."

Irlei Hammes Wiesel

Herdade Grande A Herdade Grande é uma das mais emblemáticas propriedades alentejanas. Sediada no Alentejo, a 5 Km da Vidigueira, e berço centenário da família Lança, que ali se instalou em 1920, a Herdade Grande tem uma forte tradição no sector agrícola e na viticultura. 

Herdade Grande A visão inovadora e experimentalista levou à conjugação das variedades emblemáticas da região com as grandes castas nacionais e internacionais que, pela adaptabilidade e originalidade, melhor contribuem para a expressão genuína dos vinhos alentejanos.

Herdade Grande Lançou no mercado duas novas colheitas de referências já consagradas no portfólio de vinhos da casa: o Herdade Branco 2022 e o Herdade Grande Rosé 2022. Estas propostas de verão, que renovam um dos rótulos mais antigos do baixo Alentejo, distinguem-se pela frescura conferida pelo terroir da Vidigueira. 

Herdade Grande São acompanhadas da reedição, com a colheita de 2021, do Herdade Grande Tinta Miúda e do Herdade Grande Roupeiro. A chegada destes dois varietais significa a confirmação da continuidade de dois vinhos que, nas edições de estreia (em 2020), conquistaram grande aclamação.  

Herdade Grande O Herdade Grande Tinta Miúda, um tinto cativante nascido de uma casta menos comum no Alentejo, é um improvável e sedutor exercício de expressão da Vidigueira. Um vinho raro, acompanhado por outro de enorme distinção, o Herdade Grande Roupeiro Vinhas Velhas.  

Herdade Grande Um branco pleno de frescura, complexidade e carácter, que confirma a recuperação e boa forma da mais antiga vinha plantada na propriedade familiar centenária, liderada por António Lança e Mariana Lança.

Herdade Grande O Herdade Grande Rosé 2022 (9.30 €, 86 pts.), rosa alaranjado, mostra-se ao nariz com framboesas,  morangos, cerejas e acácia-limão. No copo é fresco, fino e equilibrado.

Herdade Grande Já o Herdade Grande Branco 2022 (9.30 €, 87 pts.), amarelo-citrino, chega ao nariz com maracujá, limão, melaço, flor de laranjeira, alguma pedregosidade e uns ligeiros tostados. No palato é fresco, untuoso, ponderado e muito redondo. 

Herdade Grande Por sua vez, o Herdade Grande Roupeiro Vinhas Velhas 2021(23.40 €, 92 pts.), de porte amarelo citrino, brinda-nos com notas de pêra madura, toranja, pêssego, flores secas, e pedra partida. Na boca a pedregosidade é reforçada, surgindo ainda uma bela acidez aguerrida, equilíbrio e uma finesse que lhe assenta muito bem.

Herdade Grande Por último, o Herdade Grande Tinta Miúda 2021 (23.00 €, 91 pts.) tem tudo para não ser consensual, no entanto eu gostei. De cor rubi-grená, carrega notas tostadas, fumo, frutos do bosque e um anis-herbáceo que o faz crescer em amplitude.

Herdade Grande Na boca é muito elegante (algo que o nariz não faz antever), guloso, fresco e harmonioso. Gostava de o voltar a provar daqui a uns 10 anos, pois acredito que o melhor deste vinho ainda está para vir. 

A Vidigueira é sinónimo de singularidade. Às amplitudes térmicas elevadas juntam-se os solos pobres marcadamente xistosos. São condições únicas para a produção de vinhos de carácter e elegância. Todos estes vinhos são uma expressão muito genuína desse terroir, com uma acidez nobre e uma fruta pura, mesmo em castas difíceis de "dançarem" a sós, como a Tinta Miúda.

Rota das lendas do Chipre | Uma encruzilhada histórica, ou um arco-íris cultural? II

"Não existem mais do que cinco notas musicais, no entanto as combinações destas cinco dão origem a mais melodias do que aquelas que alguma conseguiremos ouvir. Não existem mais de cinco cores primárias, mas quando combinadas produzem mais matrizes do que aquelas que conseguiremos ver. Não existem mais do que cinco sabores fundamentais, mas as combinações desses cinco produzem mais sabores do que aqueles que alguma vez conseguiremos provar.” Sun Tzu

NicósiaO local onde a deusa emergiu das águas situa-se numa pequena e romântica praia na costa sudoeste da ilha de Chipre, a terceira maior do Mediterrâneo. É lá que encontrámos uma grande e pitoresca rocha assolada pelo mar e a origem desta popular lenda, a famosa Petra tou Romiou

É normal, portanto, que Chipre também seja conhecida como a ilha de Afrodite, existindo numerosos vestígios arqueológicos encontrados no seu território que fazem referência a esta deusa. Reza a história que após seu primeiro encontro com Marco António, Cleópatra vestiu-se como Afrodite, para seduzir o general romano.

@Moondog's Bar & Grill

Cleópatra foi carregada numa carruagem enquanto os seus criados queimavam incenso para que a carruagem criasse um enorme alarido aquando da sua passagem. Este encontro tinha como intenção inicial fortalecer os laços políticos, entre Roma e o Egipto, no entanto o que ali se fortaleceu não foi propriamente a política. :P

Famagusta GateComo prova de amor e sabendo da atracção especial e Cleópatra pela ilha, Marco António ofereceu o Chipre (sob o domínio romano) a Cleópatra. Já antes, o Chipre tinha sido oferecido à rainha do Egipto por outro general romano, mais conhecido, de seu nome Júlio César.

@Aelia Wellness Retreat

A história antiga do Chipre, incluindo a sua ligação com a mitologia grega, demonstra como a História pode permanecer viva através de monumentos, templos e sítios arqueológicos. Mas há mais dessa "bagagem histórica"...

@Aelia Wellness Retreat

Mil anos depois, ​Ricardo I, coração de leão, rei de Inglaterra, nas suas batalhas na Terra Santa, capturou o Chipre em 1191.

Machairas Monastery Diz-se que ele só tomou a ilha para poder resgatar Berengaria, sua futura esposa, que havia sido mandada pela mãe do rei, Eleanor de Aquitânia, ao seu encontro em Jerusalém e acabou capturada pelo rei cipriota.

9a.JPGA vitória e o casamento, realizado em Limassol, a segunda maior cidade do país, depois da capital Nicósia, foram celebrados com o vinho local, o Commandaria, o vinho mais antigo do mundo. Um vinho doce, ao estilo sherry.

St raphael Resort & Marina

Dia 1: Voo Porto-Zurique-Larnaca e Nicósia

Em 1481, Leonardo da Vinci decidiu visitar o Chipre devido à sua beleza impar,  à sua localização privilegiada no mar mediterrâneo, e ao seu famoso culto a Afrodite.

@St Raphael Resort & Marina

Dia 2: Nicósia 

Machairas Monastery Durante a sua visita, Leonardo encontrou na aldeia cipriota de Lefkara uma toalha de mesa de renda bordada que considerou bonita o suficiente para enfeitar o altar principal da Catedral Duomo de Milão, e é esta a prova mais irrefutável da sua visita ao Chipre.

Dia 3: Nicósia e  Lazanias

Lazanias1500 anos antes, os cristãos, após a perseguição que se seguiu ao martírio de Estêvão, refugiaram-se no Chipre, onde existia uma florescente comunidade judaica, um deles era Lázaro, aquele que Cristo ressuscitou.  Sabemos que Lázaro morreu em Betânia, o seu túmulo ainda lá está.

Zanettos Tavern

@Zanettos Tavern

Após a ressurreição, os judeus quiseram matá-lo. O Evangelho de João diz isso claramente, por isso Lázaro teve que deixar Betânia, e foi para Chipre. Lá terá encontrado Barnabé, que o ordenou bispo de Kition, uma cidade muito antiga, agora localizada perto de Larnaca. Nos dias de hoje, é lá que está seu túmulo. O imperador Leão VI, em 900, construiu uma bela igreja para homenagear o santo.

@Zanettos Tavern

Toda esta história e geografia "central" do Chipre ajudam-nos a perceber algumas características que hoje encontrámos nesse país, e que o tornam num dos mais ricos para viajar, explorar e alargar horizontes. 

Dia 4: Omodos

OmodosUma dessas características tem a ver com a enorme diversidade cultural que esse país nos oferece. Brinda-nos com heranças culturais de várias civilizações, incluindo gregos, romanos, bizantinos, cruzados, otomanos e britânicos. Isso ensina-nos que é importante estarmos abertos à diversidade e ao respeito pelas diferenças culturais do que é diferente de nós.

Nelion Winery Omodos @Nelion Winery

Chipre também tem algo a ensinar-nos sobre a polarização política, que às vezes a religião nos leva. Naquele caso em concreto, ao conflito entre as comunidades cipriotas gregas e turcas. Este, se calhar, é o assunto mais sensível quando visitamos o Chipre. É fundamental sabermos respeitar a sensibilidade dessas questões e evitar envolver-nos em assuntos políticos locais que não nos dizem respeito.

@Nelion Winery

Paradoxalmente, esse conflito "no fio da navalha" conduz a uma hospitalidade local muito generosa, acolhedora e calorosa. Essa porta aberta permite-nos interagir com os locais, aprender sobre sua cultura e tradições e mostrar gratidão pela hospitalidade oferecida.

@Katoi Restaurant

Tudo isto para vos mostrar, ou pelo menos tentar, que a nossa primeira sugestão para 2024 é uma visita à pérola do mediterrâneo.  A nossa ocorreu no final do Verão passado, durante duas semanas. Deixamos-vos aqui um guia, que mistura história, cultura, lazer e enogastronomia, para que possam desfrutar da ilha em toda a sua plenitude. 

Dia 5: Larnaca 

Todas as entidades referidas nesta publicação, foram parceiras desta roadtrip, pelo que não pagámos os serviços que nos ofereceram.

No primeiro dia voámos na Swiss Air do Porto para Nicósia, com escala em Zurique. Como íamos andar muito de carro (gentilmente cedido pela Car Rentals MZ: entregam-nos o carro na zona das chegadas do aeroporto e foram-no recolher às partidas no horário que mais nos convinha e com comunicação via whatsapp) o primeiro hotel que ficamos foi o Aelia Wellness Retreat.

Panos Steak House

@Panos Steak House

Tal como o sol nos atrai sob o seu casulo quente, o Aelia foi concebido como um refúgio de bem-estar nos arredores de Nicósia, para transportar o nosso corpo, mente e espírito para a serenidade. Tendo o sol como principal fonte de energia, a decoração do Aelia combina harmoniosamente elementos de madeira e pedra para criar um retiro tranquilo, que promete curar, "desestressar" e revigorar.

@Panos Steak House

É um resort ecológico, que combina naturalmente com seu ambiente natural imaculado. O Aelia possui um spa de última geração para o máximo relaxamento e acomodações ecológicas.  A lista completa de actividades inclui ainda ciclismo, passeios a cavalo, aulas de culinária e oficinas de bem-estar. 

A gastronomia do restaurante do hotel é requintada, fresca,  holística e mediterrânica, evocando boas histórias e memórias. Experimentem um jantar sob a luz das estrelas, no jardim do hotel, e depois digam-nos qualquer coisa. 

Dia 6: Limassol

O segundo dia foi passado em Nicósia, a 20 minutos do Aelia. Existem imensos parques de estacionamento e que cobram 3 euros por dia. Nicósia é duas capitais numa. É a capital da República de Chipre, que é um país reconhecido internacionalmente e membro da União Europeia. É também a capital do Norte de Chipre, um país reconhecido apenas pela Turquia.

A Ledra Street é a principal rua comercial de Nicósia. Para além de pitoresca, está carregada de cultura e história. Foi completamente fechada e "murada" com arame farpado, após a invasão da Turquia em 1983. A fronteira só foi reaberta em Abril de 2008. Actualmente é possível cruzarmos a fronteira a pé (precisando apenas de passaporte), através da Green Line. São visiveis algumas marcas de conflito como a forte presença militar, os capacetes azuis da ONU e muitos postos de vigia, mas o ambiente é globalmente seguro. 

Assim que cruzámos a Green Line para o Norte de Nicósia, sentimo-nos imediatamente num país diferente. A Ledra Street, na República de Chipre, é uma rua comercial europeia bastante normal, com os tradicionais Starbucks e H&M. Assim que passamos pela fronteira entrámos na Turquia. Pequenas lojas independentes que vendem roupas de marcas "não 100% legítimas", restaurantes de kebabs, mercados cheios de cheiros e esplanadas que servem cervejas turcas.

Royal Ris Restaurant - Margarita Bar & Mexican Restaurant

@Royal Ris Restaurant - Margarita Bar and Mexican Restaurant

O lugar mais interessante para ver na parte cipriota turca de Nicósia é a Mesquita Selimiye. Estranhamente, todos os arcobotantes, arcos e colunas tipicamente góticos sugerem um layout semelhante ao de uma catedral católica. Isso porque esta mesquita era inicialmente uma catedral católica romana: a Catedral de Santa Sofia.

@Royal Ris Restaurant - Margarita Bar and Mexican Restaurant

A cidade velha de Nicósia é cercada por uma muralha incrível e perfeitamente circular, pontuada por baluartes que fazem a cidade parecer uma estrela vista de cima. As paredes foram construídas pelos venezianos no século XVI e ainda estão intactas. Há ainda museus, o mercado Büyük Han (de 1572), catedrais e outros apontamentos históricos, mas a Ledra Street, com a sua cultura fervilhante foi a que mais nos fascinou.

Dia 7: Paphos, Tombs of the Kings

@Tombs of the Kings

Passámos a manhã do terceiro dia em Nicósia, e a tarde numa visita ao Machairas Monastery.  Um mosteiro histórico dedicado à Virgem Maria localizado a cerca de 20 km do Aelia (na direcção contrária a Nicósia). É um dos três Reais e Estauropégicos da ilha e alberga o ícone milagroso de Panagia (a Virgem Maria) de Machairas, que é atribuído a Agios Loukas (Apóstolo Lucas), o Evangelista.

@Gourmet Taverna

Entre uma coisa e outra almoçamos no Moondog's Bar & Grill. Oferece um oásis gastronómico para pessoas descontraídas que valorizam o desporto, apreciam boa música e gostam de compartilhar momentos especiais com amigos e familiares. Os funcionários são autênticos guias da cidade, com opiniões, dicas e histórias para contar. Lá os hambúrgueres e cervejas (muitas delas locais) são levados muito a sério.

@Gourmet Taverna

Antes do almoço desfrutamos de uma "Couples Stepping Stone", uma massagem com pedras quentes super relaxante no Aelia. Já no dia anterior tínhamos experimentado a "Couples Aromatherapy". Ambas fizeram-nos viajar para um tempo e lugar onde corpo e alma vivem momentos de puro relaxamento e calma. Jantámos na Zanettos Tavern.

@Gourmet Taverna

Um marco para a cidade de Lefkosia, uma vez que continua uma tradição de 80 anos com os mesmos elevados padrões de quando abriu as suas portas em 1938. Lá não encontrámos menus porque a receita de sucesso da taberna está consagrada no tradicional meze que serve. A pureza e autenticidade dos pratos meze da taberna e o ambiente hospitaleiro que por lá se encontra irão surpreender qualquer apreciador de boa comida.

Já agora convém clarificar o que é uma meze, porque é talvez a "comida" mais diferenciadora da gastronomia cipriota. É uma mesa cheia, que inclui sempre queijos, como o halloumi, produzido a partir do leite de cabras alimentadas com tomilho e normalmente servido frito, kaskavalli ou feta, tomate, azeitonas, aipo, alcachofra, presunto ("hiromeri"), humus (ou homus, puré de grão-de-bico temperado), taramosalata (ovas de peixe cozidas e misturadas com puré de batata, sumo de limão, cebola e óleo), tahini (puré de gergelim), polvo, camarão e salmonete ("barbouni") fritos, galinha, pimentos, salsichas sheftalia (grelhadas) e "koupepia" (folhas de videira recheadas). Este conjunto é sempre acompanhado com pão branco, típico da ilha.

Dionysus Mansion

@DionysusMansion

No quarto dia de manhã visitamos a Nelion Winery em Omodos. Um produtor, construído e administrado por uma família nos arredores da vila de Pretori. Vinhos únicos produzidos a partir de uvas cultivadas na propriedade. Lá é possível provar os vinhos no terraço, harmonizados com enchidos, queijos e frutas locais, 750m acima do nível do mar, com uma vista deslumbrante para o Vale de Diarizos. Ofthalmo, Xinisteri, Maratheftiko, Black moscatel são algumas das variedades plantadas. Gostei muito do rosé, do Branco Reserva (Xinisteri) e do Tinto Reserva (Maratheftiko).

@DionysusMansion

Almoçamos no Katoi Restaurant em Omodos, que carrega consigo uma tradição centenária, oferecendo um menu de opções criativas baseadas nas cozinhas grega e cipriota. Moussaka, risoto de orzo com cogumelos silvestres, além de doces caseiros, são apenas alguns exemplos dos best sellers. O restaurante propriamente dito está instalado num edifício antigo, com uma arquitectura semelhante à do edifício do lagar. Os grandes arcos da sua área de jantar, as pedras esculpidas nas paredes e a antiga lareira criam um ambiente tradicional. A adega do restaurante é uma sala ainda mais singular, que se presume ter sido construída há 500 anos, e que pode receber convidados em ocasiões especiais.

Dia 8:  Kourion Archaeological Site; Aphrodite’s Rock; PaphosArchaeological Park

@Amathus Beach Hotel

A tarde, como não poderia deixar de ser, foi passada em Omodos, na região vínica de montanha do Chipre. Podemos visitar um mosteiro construído em pedra do século XVII, passear por caminhos serpenteantes  construídos em pedra e provar gratuitamente o vinho local. 

Amathus Beach Hotel

@Amathus Beach Hotel

Ao final do dia mudámos o nosso berço para o luxuoso St Raphael Resort & Marina. Está situado numa das melhores/maiores praias com Bandeira Azul, nos arredores da animada cidade cosmopolita de Limassol. O resort é um hotel familiar ideal, um pequeno pedaço do paraíso, que oferece uma combinação de comodidades luxuosas de 5 estrelas com uma estadia confortável, relaxante e com cheiro a mar. O hotel dispõe de duas grandes piscinas, uma das quais com bar. 

@Amathus Beach Hotel

Além disso, possui um escorrega e uma piscina à sombra para os mais pequenos. O Kid’s Club reúne sempre uma programação variada de actividades lúdicas e interactivas, adequadas às diferentes faixas etárias (concertos, espetáculos de magia e festas temáticas), e a sala de entretenimento disponibiliza uma gama completa de jogos arcade, ténis de mesa e mesas de bilhar. O quinto dia foi passado em Larnaca, onde o Oriente encontra o Ocidente. Lá centenas de anos de civilizações, arquitectura e cultura contrastantes deixaram a sua marca numa região autêntica e diversificada. 

Amathus Beach Hotel

@Amathus Beach Hotel

Tanto o Cristianismo como o Islão têm locais religiosos importantes em Larnaka. A Igreja de São Lázaro, que viveu em Larnaka após a sua ressurreição, e a Mesquita de Hala Sultan, construída em homenagem à tia do Profeta Maomé, são duas das principais atracções da cidade.  A região também é rica em sítios arqueológicos significativos, incluindo o castelo medieval e o ‘Choirokoitia’.

O sexto dia foi passado em Limassol.  Cidade das celebrações desde a antiguidade, Lemesos (Limassol) continua até hoje o seu estatuto de centro festivo da ilha e é vibrante e animada, mas também oferece todos os elementos para uma pausa relaxante na praia ou uma jornada, sem pressas, de descobertas históricas. Desde o casamento de Ricardo Coração de Leão e as festas em homenagem às antigas divindades, até às actuais celebrações carnavalescas e à Festa do Vinho, Lemesos sempre atraiu visitantes para os  seus eventos emocionantes e folias sociais.

A sua posição priveligiada entre as duas grandes cidades-reinos dos tempos antigos, Amathous e Kourion, pincelou a área com um estatuto arqueológico significativo, enquanto a cidade nova é moderna e diversificada, com uma variedade de comércio costeiro, lojas de roupa, artesenato, bares e restaurantes.

O sétimo dia estava reservado para visitarmos diversos locais: Paphos, Tombs of the Kings, Κourion Amphitheate; Aphrodite’s Rock. Paphos é das cidades mais pitorescas da ilha, rodeada pelas vastas águas translúcidas do mediterrâneo, praias ensolaradas, imagens e vestígios de feitos de divindades, pessoas apaixonadas e aldeias cativantes. Tudo isto fortalece a nossa consciência cultural e aprofunda o nosso sentido de legado. Os famosos ‘Túmulos dos Reis’ fazem parte do Parque Arqueológico de Kato Pafos (Paphos), um dos sítios arqueológicos mais importantes de Chipre, incluído na lista de Património Mundial da UNESCO desde 1980. Os monumentais túmulos subterrâneos são escavados na rocha e datam dos períodos helenístico e romano. 

O Kourion Archaeological Site, uma das cidades-reino mais importantes da ilha na antiguidade, é um dos sítios mais impressionantes da ilha. Foi construída nas colinas da região e dominava/controlava o vale fértil do rio Kouris. De acordo com achados arqueológicos, as evidências sugerem que Cúrio estava associado à lenda grega de Argos do Peloponeso e que seus habitantes acreditavam ser descendentes de imigrantes arges. O reino outrora próspero foi mais tarde destruído num forte terremoto em 365 dC. O magnífico teatro greco-romano, peça central do local, foi construído no século II aC e ampliado no século II dC. Foi restaurado e agora é utilizado para apresentações musicais e teatrais ao ar livre. 

Dia 9: Famagusta,  Agios Ioannis Lampadistis Monaster

Famagusta

Para visitar há ainda a ‘Casa de Eustolios’, mosaicos do século V dC na sala central, os banhos frios (frigidarium), a sala média (tepidário), a sala quente (caldário), a Ágora Romana e uma basílica cristã primitiva que remonta ao século V dC, com baptistério separado no lado externo norte. Como já vos dei a entender anteriormente, visitámos também a Afrodite's Rock, um rochedo entre Paphos e Limassol. A combinação da beleza do sitio e seu status na mitologia greco-romana como o local de nascimento de Afrodite, revestem a Afrodite's Rock com um certo misticismo. 

The Grill - Amathus Beach Hotel

Almoçamos na Gourmet Taverna em Paphos, que oferece uma experiência gastronómica excepcional com vista para o mediterrâneo e um menu inspirado em receitas e ingredientes locais/regionais verdadeiramente magníficos. Todos os pratos são cuidadosamente elaborados tendo em mente uma filosofia alimentar sazonal, com forte foco na utilização de produtos cultivados, caçados ou pescados localmente. Foi o melhor restaurante da roadtrip: diversidade, texturas, sabores e muita qualidade no produto.

@Car Rentals MZ

O oitavo dia foi longo: Famagusta; Pano Platres (onde existem vários Trilhos Naturais que atravessam a aldeia, como o Trilho Kalidonia que leva à cascata Kalidonia, o Trilho Milomeri que também leva a uma bela cascata, a Cascata Millomeris e o Trilho Natural da Ponte de Milia);  Monte Olimpo (a mais alta montanha do Chipre, com 1952 m); Caledonia Waterfalls (uma queda de água pitoresca); Kalopanayiotis (uma pequena e bonita vila, na encosta de uma montanha e dedicada à agricultura); The Edro III Shipwreck (um navio que encalhou ao largo de Pegeia, numa zona avassaladora em termos de beleza paisagística,  em 8 de outubro de 2011, em mar agitado, durante uma viagem para Rodes, de Limassol, Chipre). 

Almoçamos no Village Tavern. Um restaurante ao estilo taberna, cuja meze mistura as culinárias grega e mediterrânea. Destacámos os enchidos caseiros, a sheftalia, os filets e o delicioso vinho da casa. A vista deste restaurante é magnífica!!! 

@La Cultura Del Gusto

Para jantar escolhemos o Dionysus Mansion, onde a gastronomia não é apenas uma refeição: é uma celebração de sabores, cultura e arte, materializada em pratos requintados de uma forma divertida. Utilizam apenas azeite virgem extra cipriota, vegetais frescos e carnes, apoiando os produtos locais e o mercado comunitário. Nada é pré-cozido e a recomendação é a de compartilhar os pratos do cardápio entre amigos e família, como se estivéssemos em casa. Jantem no pátio ao ar-livre, não se vão arrepender.

Dia 10: Ayia Napa, Konnos Beach, Cape Greco

@Nissi Beach e Konnos Beach (Ayia Napa)

No nono dia de manhã fomos conhecer Famagusta, uma cidade antiga com um rico património histórico. Aconselhámos a passearem pelo centro da Cidade Velha e a visitarem a Catedral Gótica de São Nicolau inspirada na Notre Dame de Paris. Visitem também a famosa Torre de Otelo e o portão de Famagusta e caminhem ao longo da muralha veneziana.

@Cape Greco

Da parte de tarde fomos até ao Agios Ioannis Lampadistis Monaster, Património Mundial da UNESCO e construído em 1731. O túmulo de São João, que data do século XII, encontra-se sob o estreito arco nordeste, e o crânio do santo está localizado num nicho. 

@Odin Restaurant

Jantámos na La Cultura Del Gusto, uma jóia culinária situada no coração de Pernera. Assim que passamos pelas portas, somos transportados para um mundo onde a gastronomia requintada encontra a diversidade cultural, capturando os sabores únicos da culinária mediterrânica. O cardápio é uma paleta de cores, sabores e texturas projectadas para encantar todos os palatos. Cada prato é cuidadosamente elaborado, inspirando-se na busca apaixonada pela excelência culinária, proporcionando uma viagem gastronómica inesquecível. Recomendámos a harmonização com Moët & Chandon.

@Odin restaurant

No décimo dia fomos para Ayia Napa, o lado oriental da ilha que tem algumas das melhores praias do Chipre, águas cristalinas e locais históricos únicos. Por tudo isto, as prais desta zona estão frequentemente nas listas de melhores praias do planeta.

yprus BBQ night at the Tropical restaurant 4 seasons Hotel

@Cyprus BBQ night at the Tropical restaurant 4 Seasons Hotel

Na parte da tarde fomos para Cape Greco, uma área bem preservada, com grande beleza natural e um oásis de tranquilidade situado a meio do caminho entre os movimentados resorts de Ayia Napa e Protaras. O parque também é uma reserva natural com raposas, lebres, lagartos, ouriços, borboletas e mais de 80 espécies de aves. Existem vários trilhos para caminhadas que se estendem por 16 quilómetros. 

Dia 11-14: Praia e Piscina

@Κourion Ancient Amphitheater

Estão sinalizados e abrangem todos os pontos de interesse do parque. Há também 4 quilómetros de ciclovia e uma área designada para piqueniques. O fundo marinho rochoso e as cavernas subaquáticas fomentam um vasto rol de vida marinha, tornando esta área muito interessante para mergulho com snorkel e com cilindro. 

Almoçamos no Odin restaurant, um restaurante familiar há 30 anos. Com foco num ambiente romântico e relaxante e homenageando receitas passadas de geração em geração. Promove uma mistura muita agradável entre os sabores italianos e cipriotas. A decoração cheia de flores coloridas e o bonito jardim, bem tratado, complementam o ambiente bastante relaxado.

@Karatello Tavern

Jantámos no Tropical restaurant do 4 Seasons Hotel na Cyprus BBQ night, cheio de música, comida e vinhos cipriotas. Este é dos momentos que recordamos com mais saudades da viagem.

@Karatello Tavern

Como ultima sugestão gastronómica sugerimos a Karatello Tavern. Com vista para o majestoso Castelo Medieval, no coração do centro histórico de Lemesos, adjacente ao Museu do Moinho de Alfarroba, a Karatello consegue criar uma fusão perfeita entre o clássico e o moderno. Capturando o ambiente de uma taberna antiga e acolhedora, a Karatello serve pratos meze tradicionais e inovadores. As conhecidas locoumades são obrigatórias como toque final de qualquer refeição!

Em resumo, Chipre é um lugar que oferece uma variedade de lições valiosas que por vezes nos escapam quando viajámos: desde a apreciação da diversidade cultural até a importância de entender a história e a política de uma região antes de visitá-la. Cada destino tem suas próprias lições a ensinar, e o Chipre mostra-nos que diferentes religiões, povos e culturas, num mesmo local, não têm forçosamente de  conduzir a uma encruzilhada histórica, pois o que por lá encontrámos foi um autêntico arco-íris cultural. 

Para o (a)percebermos em todo o se esplendor, o Ministério do Turismo do Chipre concebeu uma rota que passa por todos os pontos de interesse que vos falei anteriormente. Esse percurso procura aproximar os visitantes da natureza, cultura e história cipriota, dando-lhes a oportunidade de se familiarizarem com as tradições locais e de vivenciarem o autêntico modo de vida do país. Foi baptizada de "Heartland of Legends Route” e tivemos o enorme privilégio de termos sido dos primeiros a tê-la percorrido. 

Rota das lendas do Chipre | Uma encruzilhada histórica, ou um arco-íris cultural?

"Não existem mais do que cinco notas musicais, no entanto as combinações destas cinco dão origem a mais melodias do que aquelas que alguma conseguiremos ouvir. Não existem mais de cinco cores primárias, mas quando combinadas produzem mais matrizes do que aquelas que conseguiremos ver. Não existem mais do que cinco sabores fundamentais, mas as combinações desses cinco produzem mais sabores do que aqueles que alguma vez conseguiremos provar.” Sun Tzu

1 (36).JPGO que sairia de um hipotético encontro entre Cleópatra, Ricardo (o tal que tinha coração de leão), Leonardo da Vinci, Afrodite e Lázaro (aquele que Jesus ressuscitou)? Provavelmente haveria um denominador comum, o Commandaria, mas já falaremos dele mas adiante. :P

Chipre | Um mergulho de 11 000 anosTodas estas personagens históricas/figuras míticas, num dado momento das suas vidas, apaixonaram-se pelo Chipre. Nas próximas linhas vou tentar esmiuçar o motivo pelo qual, "pessoas" de tempos tão diferentes, com religiões tão distintas e com bagagens culturais tão dispares, se uniram no que à atracção pela pérola do mediterrâneo diz respeito. 

Aelia Wellness RetreatDe acordo com a mitologia grega, Afrodite, a deusa do amor, da beleza e da fertilidade, teria nascido das águas próximas à costa de Chipre, mais especificamente perto da cidade de Paphos, uma cidade histórica da ilha. 

@Aelia Wellness Retreat

Urano (deus do Céu) não gostava de seus filhos, considerando-os feios e monstruosos. Detestava-os tanto que os mantinha aprisionados dentro de Gaia, o que causava grande sofrimento à deusa da Terra. Gaia ficou profundamente angustiada com essa situação e pediu a ajuda dos seus filhos Titãs para se livrar do domínio opressivo de Urano.

NicósiaÉ por isso que Afrodite é frequentemente retratada como a filha do céu e da Terra, ou em algumas versões, como a filha de Zeus e Dione. De acordo com o mito, Urano tinha um relacionamento com Gaia, a deusa primordial da Terra. Urano e Gaia, para além dos Titãs tiveram outros filhos, conhecidos como os Titânides, os Ciclopes e os Hecatônquiros, que eram seres monstruosos.

Cronos, um dos Titãs, foi o único disposto a ajudar Gaia. Esperou até que Urano descesse para "se unir" a Gaia mais uma vez e, então, atacou-o com uma foice afiada, cortando os genitais de Urano e lançando-os ao mar onde formaram um novo ser entre a espuma: Afrodite.

@Aelia Wellness Retreat

Depois de criada, a figura da deusa da beleza e do amor, foi trazida à tona numa enorme concha, uma imagem imortalizada pela obra-prima do pintor renascentista Sandro Botticelli: "O Nascimento de Vénus" (o equivalente romano de Afrodite).

Nicósia

*Por ser demasiado longa, a publicação continua no post seguinte...