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No meu Palato

No meu Palato

Os melhores de 2023 | Para a alma não ter raízes

"Viajar? Para viajar basta existir. Vou de dia para dia, como de estação para estação, no comboio do meu corpo, ou do meu destino, debruçado sobre as ruas e as praças, sobre os gestos e os rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são... A vida é o que fazemos dela. As viagens são os viajantes. O que vemos, não é o que vemos, senão o que somos." Fernando Pessoa

Fevereiro é o mês de "entrega" de prémios no nosso blogue, pelo nono ano consecutivo (desta vez mesmo à justa)... O ano de 2023 foi particularmente generoso connosco, mas o melhor de tudo são mesmo as memórias que nos deixou. É com grande satisfação que dedicamos esta publicação a reconhecer e a celebrar a excelência em três áreas fundamentais de qualquer experiência de viagem (pelo menos daquelas que eu acho que valham a pena :P): hotéis, gastronomia e vinhos.

A nossa família teve a honra de percorrer os quatro cantos do país, e ainda dar quatro saltos além fronteiras, descobrindo e explorando os destinos mais deslumbrantes e os estabelecimentos mais marcantes. Durante essa jornada, testemunhámos o compromisso inabalável de muitos profissionais em nos proporcionar experiências verdadeiramente memoráveis.

Em alguns hotéis, encontramos não apenas qualidade e conforto, mas também um cuidado meticuloso com os detalhes, uma atenção personalizada e um ambiente que transcendeu as expectativas. Alguns restaurantes que tivemos o prazer de visitar encantaram-nos, não apenas com suas iguarias excepcionais, mas também com sua atmosfera acolhedora, serviço impecável e uma paixão evidente pela gastronomia.

 Alguns dos vinhos que tivemos a oportunidade de degustar conduziram-nos a viagens sensoriais, revelando os terroirs únicos e o talento dos enólogos por trás de cada rótulo. É por isso que, ao contrário do que diria o simpático Papa Francisco, esta publicação não é sobre "todos, todos, todos", mas sim sobre "alguns, alguns, alguns": os especiais. 

Neste Os melhores de 2023 , não queremos apenas destacar os parceiros que mais nos marcaram nas suas respectivas categorias, mas também convidar-vos a vós, caros leitores, a juntarem-se a nós numa jornada de descoberta, de reconhecimento e, quiçá, de inspiração.  

Afinal de contas, assim como Fernando Pessoa nos convidou a explorar os recantos da alma humana em muitos dos seus textos, os lugares/parceiros que aqui destacámos convidam-nos a explorar os vastos horizontes do mundo,  assim como as riquezas que ele tem para nos oferecer. Muitas dessas riquezas materializam-se em pessoas, em gestos e em rostos, sempre iguais e sempre diferentes, como, afinal, as paisagens são. 

1 (36).JPGEsperamos que as histórias e as experiências que fomos compartilhando convosco ao longo de 2023 possam ter-vos inpirado, feito sorrir, puxar-vos para fora de casa, ainda que em pouca medida. E que tudo isso vos tenho feito embarcar nas vossas próprias jornadas de descoberta, procurando sempre o extraordinário em cada destino, cada almofada, cada refeição, cada gole de vinho.

Os melhores de 2022

Melhor Hotel: Hilton Porto Gaia

Hilton Porto GaiaO Hilton Porto Gaia vai-se tornar um caso de sucesso. É uma autêntica ponte entre a tradição das caves de vinho do Porto e o luxo da decoração e interiores contemporâneos; entre a gastronomia baseada no canône gastronómico da região e a modernidade da sua interpretação; entre a azáfama da zona ribeirinha e a tranquilidade do seu Wellness Center, entre a modernidade e requinte nos materiais de construção e simplicidade das suas linhas; entre o estar perto de ambas as margens e o suficientemente longe para as poder apreciar.

Hilton Porto Gaia

Melhor 4 estrelas: Boticas Hotel Art & SPA

Boticas Hotel Art & SPAFernando Pessoa defendeu que "a arte é a auto-expressão a lutar para ser absoluta", pois a finalidade social da arte não é, não pode ser, "apenas" agradar esteticamente, pois o prazer que daí se retiraria constituiria apenas uma relativa mediação visual. Assim, a arte é antes um meio através do qual ocorre a elevação por meio da beleza, uma espécie de elevador social catalisado pelos sentidos. Encontrei a mesma elevação no Boticas Hotel Art & SPA, no seu SPA, no atendimento, na sua na gastronomia e na sua constante renovação (de espaços, de propostas e experiências colocadas à disposição de quem o visita). Pelo Boticas Hotel Art & SPA não nos descrevem as coisas como elas são, querem que tudo o que nós por lá experimentemos cresça em nós como são sentidas, como se sente que elas são, pelo menos foi isso que eu senti!!!

Melhor Wine Hotel: Hotel de Charme Parador Casa da Ínsua

Parador Casa da Ínsua Hotel de CharmeNestas lides dos blogues por vezes dizemos coisas demasiado banais (embora eu me esforce para não o fazer), mas a magnificência do Hotel de Charme Parador Casa da Ínsua obriga-me a recorrer a um cliché: este é um dos segredos mais bem guardados do nosso país. Visitem-no enquanto a aura de Luís de Albuquerque de Melo Pereira e Cáceres ainda passeia por lá ;)

Parador Casa da Ínsua Hotel de Charme

Melhor Enoturismo: Casa Amarela - Casas da Quinta

 Casa Amarela - Casas da Quinta Não tenciono mudar-me permanentemente para a Casa Amarela (:P), no entanto escrevi-vos esta carta em forma de publicação para vos mostrar que para conhecer verdadeiramente o Douro não há que ser extremista, pois há que ter um pé na autenticidade, natureza, rusticidade, pureza e tranquilidade de Tormes e outro na classe, no conforto, na modernidade e no requinte de Paris. As Casas da Quinta da Casa Amarela permitem-vos tudo isso e ainda o "extra" de se deliciarem com o que de melhor a enogastronomia local tem para nos seduzir. Se Jacinto a visitasse diria com certeza: "Que belleza!!!" ;) Um beijinho para a Laura e para o Gil por estes dias passados no Douro, cheios de autenticidade, alegria, felicidade, natureza, rusticidade, pureza e tranquilidade, tudo isto, sem nos desligarmos do conforto, da classe e de uma certa garbosidade.

 Casa Amarela - Casas da Quinta

Hotel Revelação: Casas da Lapa - Nature & SPA Hotel

Casas da Lapa - Nature & SPA Hotel

Assim como Alberto Caeiro nos convida a apreciar a simplicidade da existência e a beleza da natureza, um hotel com as características das Casas da Lapa, pode potenciar uma experiência que nos reúne com esses valores, oferecendo um refúgio tranquilo onde podemos encontrar a paz, a serenidade e a autenticidade que Caeiro tão vividamente expressou nos seus poemas. O Casas da Lapa - Nature & SPA Hotel situa-se na Lapa dos Dinheiros, uma aldeia de montanha, na encosta da Serra da Estrela. Lá fora, há pessoas atarefadas nas hortas. Há rebanhos. Há soitos. Há montes e vales a perder de vista. Lá dentro há acolhimento e autenticidade, o luxo que não se vê.  

Casas da Lapa - Nature & SPA Hotel

Melhor Hotel internacional: Amathus Beach Hotel (Limassol, Chipre)

Aninhado na praia, entre jardins tropicais e o mar índigo, o recém-renovado Amathus Luxury Hotel em Limassol, Chipre, é um santuário sereno de conforto de classe mundial.  Como membro orgulhoso dos Leading Hotels of the World, este hotel de design de luxo oferece uma fabulosa variedade de instalações de última geração, serviços de primeira qualidade, bem como um SPA premiado. Este hotel proeminente oferece ainda um oásis tranquilo de indulgência holística para recém-casados, entusiastas de SPAs, famílias e viajantes corporativos que desejam visitar a apaixonante ilha de Chipre.

Amathus Beach Hotel

Melhor Quarto: Hotel de Charme Parador Casa da Ínsua

Parador Casa da Ínsua Hotel de CharmeO edifício mantém a imponente fachada e apresenta um interior ricamente decorado, com presença de azulejaria barroca, tectos trabalhados, lareiras de grande beleza arquitectónica, armas indígenas brasileiras e diversas pinturas nas paredes que nos contam um pouco da história do país e do modo de vida da nobreza da época. Cada quarto do Hotel de Charme Parador Casa da Ínsua possui um nome associado à história da casa, oferecendo grande conforto e uma atmosfera única.

Parador Casa da Ínsua Hotel de Charme

Melhor Spa: Hilton Porto Gaia

Hilton Porto GaiaUm das mais valias do Hilton Porto Gaia é o seu Welness Center, um imponente espaço de saúde e bem-estar, com um total de 1.100 metros quadrados. Por lá promove-se a Slow Beauty, numa abordagem holística do corpo, mente e espírito. Em destaque aparece a luxuosa piscina interior aquecida, caracterizada pelos tons grená e vermelho, um espelho de água e uma área de descanso e relaxamento. Nas suas mais valias surgem ainda o Fitness Center, um elegante estúdio de yoga, e outro de pilates e pilates clínico.

Hilton Porto Gaia

Melhor Piscina: Pena d'Água Boutique Hotel

Pena d'Água Boutique Hotel

O Pena d'Água Boutique Hotel é uma autêntica casa portuguesa, que mistura o tradicional com o moderno. É acolhedor e cosmopolita. Em tempos, foi o lar de uma família no séc. XIX. Hoje, é administrado por outra família, transformando-se num hotel que preserva e compartilha histórias de geração em geração, proporcionando o conforto indispensável num hotel de charme em pleno séc. XXI. Os hóspedes têm acesso livre às instalações de lazer, incluindo a piscina exterior, a piscina interior aquecida, a sauna e o banho turco. O SPA, com sua sofisticação e funcionalidade, oferece uma experiência única. Visitem-no durante a noite que não se vão arrepender. 

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Melhor Pequeno Almoço: Hilton Porto Gaia

Hilton Porto GaiaQualidade, riqueza, frescura, diversidade, ovos mexidos e espumante, o que mais podemos querer num pequeno-almoço? :P Aos fins de semana e feriados no Hilton Porto Gaia, há ainda um delicioso brunch que inicia com uma selecção de pão e pastelaria e inclui ainda os clássicos de pequeno-almoço como os ovos Benedict (dos melhores do país!!!), Florentine ou Royal, french toast e panquecas.

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Melhor Vinho: Quinta do Noval Colheita 1937

Porto Extravaganza 2023 - Colheitas Quinta do Noval

Quinta do Noval Colheita 1937 é um autêntico "rebuçado de acidez"!!! Couro, figos secos, damasco caramelizado, maçã assada, amêndoa torrada, pedregosidade, figos secos e trufa. O paladar é super concentrado, balsâmico, delicado, harmonioso, longo e com uma bela acidez (sobre)viva. Há expressões da actividade humana – seja na arte, na literatura, música, ou nos vinhos – que achamos que são perfeitas. E depois há aquelas que são inesquecíveis. E estas são as que, podendo não ser perfeitas, mostram um carácter e uma personalidade tão vincada que sabemos logo que são inconfundíveis e inimitáveis. Este visto é um desses últimos casos. Se cada garrafa conta uma história, a desta, ainda hoje a ouço...

Porto Extravaganza 2023 - Colheitas Quinta do Noval

Melhor Tinto: Quinta do Vale Meão 2020 

FotoJet - 2024-02-28T121048.205.jpgAdorei a esteva, as amoras, as framboesas, a caixa de tabaco, a baunilha, a complexidade, a frescura e o equilíbrio do Quinta do Vale Meão 2020 (200.00 €, 98 pts.), um vinhaço, em qualquer parte do mundo!!!

Festival do vinho do Douro Superior 2022

Melhor Branco: TITAN of Távora-Varosa Daemon “Sescenti Sexaginta Sex” 2020

Titan Daemon 666

O TITAN of Távora-Varosa Daemon “Sescenti Sexaginta Sex” 2020 apresenta-se amarelo-dourado com laivos alaranjados. No nariz é incrivelmente complexo com notas de limão, maçã verde, marmelo, telha de amêndoa, pão torrado, mel, flores silvestres, pedra partida e pimenta preta. No palato é musculoso, fresco (a acidez é vibrante e arrebatadora), untuoso, preciso, longo, acutilante, crocante e ligeiramente salgado.

Titan Daemon

Melhor Rosé: São Luiz Winemaker’s Collection Tinto Cão Reserva Rosé 2022

São Luiz Winemaker’s Collection Tinto Cão Reserva Rosé 2022O São Luiz Winemaker’s Collection Tinto Cão Rosé 2022  veste uma bonita cor salmão-rosada e mostra no nariz fruta vermelha muito fresca (morango, groselha e romã), esteva, flores silvestres, baunilha, pedregosidade (xisto molhado) e algum fumo. Na boca cresce imenso, exibindo um equilíbrio perfeito entre acidez e açúcar, com uma pitada de austeridade robusta que lhe faz muito bem. É complexo, elegante, longo, largo e muito gastronómico.

São Luiz Winemaker’s Collection Tinto Cão Reserva Rosé 2022

Melhor Espumante: Adega de Favaios Grande Reserva 2013

Espumante Adega de Favaios Grande Reserva 2013Com um teor Alcoólico de 11,68%alc./vol., o Espumante Adega de Favaios Grande Reserva 2013 mostra-se no copo amarelo-citrino cristalino, passando para o copo com notas deliciosas a lichias, maçã, manga, flor de limoeiro, brioche, pedregosidade (xisto molhado) e avelã. No palato é cremoso, intenso, fresco e muito equilibrado.

Espumante Adega de Favaios Grande Reserva 2013

Melhor Porto Vintage: Quinta de Ervamoira Vintage 2020

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Na boca o Quinta de Ervamoira Vintage 2020 apresenta-se muito aguerrido, estruturado, complexo, com taninos invulgarmente sedosos e frescos, combinados com camadas de fruta (frutos silvestres e ameixa) e uma frescura notável. O final é fino, harmonioso e bastante aromático.

Festival do vinho do Douro Superior 2022

Melhor Porto Tawny: Churchill´s Tawny 40 Anos

Novas colheitas Churchill's

O Churchill´s Tawny 40 Anos possui uma cor cobre-esverdeada cintilante. No nariz, as notas surgem incertas, surpreendentes, uma após a outra: caixa de charutos, figos secos, ameixa seca, avelãs, mel, anis e casca de laranja. No palato é denso, opulento, elegante, voluptuoso e inacreditavelmente fresco.

Novas colheitas Churchill's

Melhor Relação Qualidade/Preço: Três Bagos Reserva tinto 2019

 Três Bagos Reserva tinto 2019Este Três Bagos Reserva tinto 2019 traja uma bonita cor rubi cristalina. No nariz exibe ameixa vermelha, cereja, frutos silvestres, esteva, baunilha e um ligeiro fumado. No palato, para além de exibir uns taninos redondos e bem integrados, é também seco, fresco, carnudo, harmonioso e muito estruturado.

 Três Bagos Reserva tinto 2019

Vinho Revelação: Quinta Casa Amarela Laura 2017

 Casa Amarela - Casas da Quinta

Não é um vinho consensual mas encheu-me as medidas. De traje rubi intenso, mostra no nariz ameixa preta, cassis, cereja madura, esteva, baunilha, pimenta preta, xisto e caixa de tabaco. Na boca passeia-se com taninos por camadas, enorme estrutura, densidade, elegância, equilíbrio e complexidade.

 Casa Amarela - Casas da Quinta

Énologo do ano: Luís Leocádio

Titan Daemon 666Aquando da apresentação do Fragmentado Branco Blend I fiquei com a impressão que o Luís Leocádio estaria a preparar algo (sobretudo mentalidades) para algo parecido com o TITAN of Távora-Varosa Daemon “Sescenti Sexaginta Sex” 2020. Para além de esculpir vinhos com denominadores comuns óbvios (complexidade, a elevada frescura, a mineralidade muito própria, a intensidade inebriante, a harmonia completamente arrebatadora e a identidade muito vincada), neste novo topo de gama este jovem e experiente enólogo arriscou elevar a noção holística que promove em todos os seus vinhos a um patamar de quase de joalharia, não deixando, no entanto, que este diamante deixasse de ter as arestas que o ano, o terroir e a própria vinificação lhe deram. O melhor branco do país tem de ter um preço que o metamoforize, neste caso, mistério rima com critério.

Titan Daemon

Produtor do ano:  AdegaMãe

AdegaMãe BIO 2021Uma enologia de intervenção minimalista é uma expressão pura do terroir justificaram esta distinção. Para além de tudo isto, os seus vinhos carregam também a vibração, a acidez aguerrida, a fruta generosa e a mineralidade salina, características dos néctares da AdegaMãe, e que por isso merece o meu aplauso.

AdegaMãe BIO 2021

Evento do ano: Porto Extravaganza 2023

Porto Extravaganza 2023 - Colheitas Quinta do Noval

Este reconhecimento vai para o Paulo Cruz, o "senhor dos toneis", que para além de manter intactas todas as qualidades que lhe destaquei anteriormente na organização deste tipo de provas avassaladoras (qualidade, profissionalismo, exigência e bom gosto) tenta sempre acrescentar algo que engrandeça a experiência. Neste ano, o espaço escolhido para o Porto Extravaganza 2023 introduziu um contexto estético-paisagístico na prova muito difícil de bater e que nos remete para um certo misticismo. Muito obrigado e até uma outra viagem no tempo ;)

Porto Extravaganza 2023 - Colheitas Quinta do Noval

Restaurante do ano: A Cozinha por António Loureiro

A Cozinha por António LoureiroAmor pela gastronomia, pelas origens e pelo que somos. Só o amor pelo aquilo que fazemos permite ao Chefe António Loureiro conceber pratos, com tantos elementos, com tantas texturas, com tantas cores, com tantos contrastes, com tanta dedicação, com tantos detalhes. Tem ao lado a esposa Isabel que lhe permite ser um pouco mais todos os dias e uma equipa (parabéns Hélder Silva e Patrícia) que lhe permite ambicionar algo ainda maior que o que já alcançou em Guimarães. São especialistas, em tudo aquilo que não se vê com o olhar.

A Cozinha por António Loureiro

Restaurante revelação do ano: Seixo by Vasco Coelho Santos

Seixo by Vasco Coelho Santos

O Seixo by Vasco Coelho Santos para além de uma proposta gastronómica assente numa tradição reinterpretada com originalidade, coerência e rigor, também é uma óptima desculpa para visitar a Quinta do Seixo que nos permite desfrutar da beleza natural do Douro, aprender sobre a produção de vinho do Porto, degustar vinhos de qualidade e mergulhar na rica história e cultura da região. Já agora, porque não ler umas páginas do "Amor de Perdição" com um Tawny 40 anos na mão e o Douro como testemunha? :P

Seixo by Vasco Coelho Santos

Restaurante tradicional do ano: Stramuntana Gaia

Stramuntana GaiaAs paredes em pedra, as máscaras e os trajes, a lareira, os utensílios da faina, a louça nas paredes, o grelhador como elemento central da sala de refeições, o quintal nas traseiras, e a comida generosa e de conforto intercalada com conversa bem dispostas e sem pressas, têm o puro dom de transformar um "simples cliente estranho" num irmão bem-vindo. O Stramuntana Gaia foi, sem margem para dúvidas, uma das melhores experiências que tivemos em restaurantes!!!

Stramuntana Gaia

Restaurante internacional do ano: Rechberg 1837 (Zurique, Suiça)

7 pratos, um menu. Utiliza apenas produtos regionais que existiam por volta de 1837 (ano da construção da casa), ou seja, antes da industrialização. O menu é acompanhado de vinhos da região. O prato vegetariano (couve-flor, batata e miso) foi dos melhores que provei até hoje. É incomparavelmente sustentável, exclusivamente local, o ambiente é aconchegante e atendimento é eficiente charmoso.

Restaurante tradicional internacional do ano: Gourmet Taverna (Paphos, Chipre)

A Gourmet Taverna em Paphos - Chipre, que oferece uma experiência gastronómica excepcional com vista para o mediterrâneo e um menu inspirado em receitas e ingredientes locais/regionais verdadeiramente magníficos. Todos os pratos são cuidadosamente elaborados tendo em mente uma filosofia alimentar sazonal, com forte foco na utilização de produtos cultivados, caçados ou pescados localmente. Foi o melhor restaurante da roadtrip de verão: diversidade, texturas, sabores e muita qualidade no produto.

Chefe do ano: Rui Paula

Chefe do ano: Rui PaulaJá por diversas vezes destaquei a excelência do que vai fazendo por todos os lugares por onde vai passando. Excelência essa assente no conhecimento, na destreza e na cozinha com memória e para as memórias. O que ele está a fazer no DOP (esta foi sem dúvida a melhor experiência gastronómica que lá tivemos) só vem reforçar o que já achava dele: que é um predestinado. A excelência é um acto que se cultiva diariamente, em qualquer local, situação, contexto ou etapa do menu de degustação. Neste, não falhou nada...

DOP - Chef Rui Paula

Chefe revelação: Rui Martins

Culto ao Bacalhau

Cada cultura possui suas próprias tradições, rituais e valores que são transmitidos através da comida. Ao reconhecer e compreender esses detalhes na gastronomia, somos capazes de apreciar e respeitar a diversidade culinária, mergulhar em diferentes culturas, conectarmo-nos com pessoas de diferentes origens e arriscar novos sabores. Quando esses detalhes nos entram pelo palato a dentro, enquanto que os que ficam cá fora (as mesas, os talheres, os copos, a decoração, as fardas, a iluminação, os menus, ...) nos colocam no habitat de onde a matéria prima é originária, a experiência gastronómica cresce em valor, sentido e profundidade. O Chefe Rui Martins para além de tratar esses detalhes com pinças, não perde a ligação com o objectivo primordial da gastronomia: o sabor. Trabalha como poucos o ponto do sal, o picante (quando visitarem o Culto ao Bacalhau exagerem na sua utilização pois não se vão arrepender) , a acidez e as texturas.

Culto ao Bacalhau

Chefe em destaque: Justa Nobre

Boticas Hotel Art & SPAO cozido é a especialidade da Chefe Justa Nobre, que usa nele produtos genuínos da terra (de Trás os Montes e enriquecidos com os do Barroso): vitela, entrecosto bísaro, orelha, chispe, rabinhos e joelhos de porco, batata (incluindo a doce), nabo, cenoura, feijão branco, couve, arroz de farinheira e ainda um vasto leque de enchidos (que ainda hoje me fazem salivar :P). Tudo com uma diversidade, qualidade e quantidade muito difícil de reproduzirmos em casa. Assim, este Cozido Barrosão by Justa Nobre é a desculpa perfeita para celebrarmos a família com tempo, tranquilidade e partilha, aquecendo o corpo e a alma, construindo memórias alicerçadas à mesa.

Boticas Hotel Art & SPA

Prato do ano: Coelho do campo com puré de feijão e gelatina de cenoura (António Loureiro)

 

A Cozinha por António Loureiro

O Coelho do campo com puré de feijão e gelatina de cenoura brindou-nos com um coelho delicado, tenro, suculento e saboroso. Mas para além disso teve o condão para remeter para uma monumental epopeia sobre memórias que me sentou de novo à mesa com os meus pais e irmão umas décadas atrás (não acredito que já envelheci o suficiente para poder dizer estas coisas :-P). Voltei a viver aqueles dias de menino, em que passava o inverno na aldeia, povoada de frio, nevoeiro, cheiros, sons e sensações, quase que era capaz de vos jurar que este coelho tinha o aroma da caruma que ardia na fogueira feita pelos meus avós.

A Cozinha por António Loureiro

Prato tradicional do ano: Naco de entrecote com Batata rústica e Cuscus Transmontanos. (Stramuntana Gaia)

Stramuntana GaiaA carne estava no ponto (na verdade com os três pontos de carne) e cheia de sabor; a batata era viciante, no entanto, o destaque foi para a pureza, o carácter e a riqueza dos Cuscus em estilo arroz malandrinho. Uma delicia!!! Só estes Cuscus justificam uma viagem.

Stramuntana Gaia

Sobremesa do ano: Mil Folhas de Bacalhau com Doce de Ovos (Rui Martins)

Culto ao Bacalhau Uma combinação interessante, improvável e certeira de sabores e texturas. O bacalhau salgado seco no início contrastava com o sabor adocicado e rico, com notas de baunilha do doce (quase que pareciam estar a digladiar-se pelo protagonismo no prato) mas depois ambos começaram a conversar, enobrecendo e realçando as mais valias um do outro. Uma combinação inusitada que ainda me faz salivar.

Culto ao Bacalhau

Sobremesa tradicional do ano: Pão de Ló e queijo de cabra (Seixo by Vasco Coelho Santos)

Seixo by Vasco Coelho SantosPão de Ló e queijo de cabra oferecia uma interacção prazerosa entre o doce e o salgado e acabava por servir de metáfora para a cozinha que o Chef Vasco Coelho Santos propõe no Seixo. Uma cozinha assente na tradição, propulsionadora de contrastes, indutora de momentos de partilha, alegre, descomplicada, mas assente, sempre, no rigor. É tudo isto, mas sem perder o "ADN Vasco" que o catapultou para as luzes da ribalta, o da coerência, o da complexidade disfarçada de simplicidade, o da extracção máxima de sabores, o da brasa, o dos toques defumados e o de algumas pitadas irreverentes de influências de cozinhas além-fronteiras.

Seixo by Vasco Coelho Santos

 

Harmonização do ano: Corvina | Acelgas | Belgroegas | Champagne e Rascunho by Quinta de Santiago 2019  (DOP - Chef Rui Paula)

DOP - Chef Rui PaulaA emulsão de Champagne estava fresca, rica e untuosa, mas ao mesmo tempo, equilibrada, fina e delicada. A esta obra de arte degustativa, era acrescentado o peixe de sabor suave, textura firme e notas levemente adocicadas; acelgas; beldroegas; e uma cobertura de azeitona e tomate seco no topo da corvina que lhe dava um fundo érvaceo/vegetal que colocava todo o prato a dançar ao mesmo ritmo. Tem tudo: sabor, identidade, apresentação, trabalho, equilíbrio e complexidade. Esse tudo cresceu com as notas cítricas, a acidez, a garra e a intensidade do Rascunho by Quinta de Santiago 2019.

DOP - Chef Rui Paula

Sommelier do ano: Elisabete Fernandes

Sommelier do ano: Elisabete FernandesA distinção não se deve apenas ao serviço de excelência que promove no restaurante gastronómico (o menu de harmonização premium é verdadeiramente assombroso!!!) mas também ao dinamismo, primor e empenho que transporta para iniciativas no The Yeatman como a loja de vinhos, o Christmas Wine Experience, as Sunset Wine Parties, o clube de vinhos, ou os jantares com produtores.

Sommelier do ano: Elisabete Fernandes

Mais uma vez, obrigado a todos vós, colaboradores, pelas emoções que nos proporcionaram em 2023. Um obrigado também, a vocês, queridos leitores. Aqui fica o nosso mais profundo agradecimento por nos acompanharem nesta jornada. É também por vocês que buscamos incansavelmente os melhores destinos, as melhores refeições e os melhores vinhos para esmiuçarmos em cada publicação. Porque se não fossem vocês, não haveria blogue e isso seria uma chatice :P

Os melhores de 2022 E assim, em 2024, renovamos nosso compromisso de continuar a procurar, a descobrir e a compartilhar as maravilhas que a vida nos tem para oferecer. Assim como Fernando Pessoa nos ensinou a procurar o desconhecido e a abraçar as surpresas que a vida nos oferece, seguiremos em frente com a mesma curiosidade e entusiasmo, prontos para novas descobertas e novas experiências: para que a nossa alma, não crie raízes ;)

2015 é ano de Barca-Velha | O Regresso do Rei

"O momento das carícias voltou a entrar no quarto, pediu desculpa por ter-se demorado tanto lá fora, não encontrava o caminho, justificou-se, e, de repente, como aos momentos algumas vezes acontece, tornou-se eterno." José Saramago

2015 é ano de Barca-Velha

Chegou a notícia mais aguardada para os apreciadores de grandes vinhos. Passados 9 anos de uma vindima de excelência no Douro, que a enologia e o tempo souberam exaltar, a decisão está tomada. Barca-Velha 2015 chega ao mercado ainda antes do verão. A exigência numa declaração de Barca-Velha é conhecida. Afinal, desde 1952 até hoje, apenas 21 colheitas mereceram o estatuto de expoente máximo do Douro com a assinatura de Casa Ferreirinha. Uma decisão enológica que na Sogrape se recebe com um misto de celebração e responsabilidade.

2015 é ano de Barca-Velha

“O anúncio de um novo Barca-Velha é sempre um momento muito especial e de enorme alegria. Por um lado, há o orgulho de ver nascer um dos mais emblemáticos e reconhecidos vinhos nacionais, e por outro, a consciência do cuidado imprescindível para escrever um novo capítulo nesta história sem igual no setor vitivinícola”, comenta Fernando da Cunha Guedes, Presidente da Sogrape.
Graciosidade, carácter e persistência são alguns dos adjetivos que o enólogo Luís de Sottomayor utiliza para descrever o vinho, mas foi a sua impressionante capacidade de guarda que ditou o juízo final quanto a Barca-Velha 2015.

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“2015 foi uma vindima curta e atípica, mas muito próspera em qualidade, marcada por pouca chuva e duas ondas de calor em Junho e em Julho, que contribuíram para a produção de vinhos muito complexos, com boa estrutura e fruta bem presente”, descreve o responsável para quem sempre houve uma “enorme convicção quanto ao destino desta colheita”, e que agora se confirma.
Declarado apenas em anos verdadeiramente excepcionais, Barca-Velha é, desde a sua criação, elaborado com uvas seleccionadas de diferentes altitudes no Douro Superior. A Quinta da Leda, com 170 hectares de vinha, dá actualmente origem à maior parte do lote composto pelas castas tradicionais da região.
Barca-Velha 2015 chegará ao mercado em Junho deste ano.

Stramuntana Gaia | O puro dom de olhar um estranho como irmão

"É destes que se tem de partir para chegar à trindade tradicional do reino: os presuntos, as alheiras e os salpicões... Quem não comeu ainda desses manjares ensacados, prove… E há-de encontrar neles o sabor das invernadas passadas ao borralho enquanto a neve cai, o perfume das graças dadas por alma daqueles que Deus tem, a magia da história de João de Calais contada aos filhos, e uma ciência infusa de temperar, que vem desde que a primeira nau chegou à Índia." Miguel Torga

Stramuntana Gaia

Na aldeia de S. Martinho de Anta, localizada no concelho de Sabrosa, no distrito de Vila Real, nasceu em 1907 um dos maiores escritores portugueses: Adolfo Correia da Rocha. Dito assim, pode levar-vos a pensar que estou a exagerar nos elogios literários a um "ilustre desconhecido".

Stramuntana Gaia

Nada mais errado. Para o mundo das letras, Adolfo Correia da Rocha ficou imortalizado como Miguel Torga. Médico de profissão, com consultório em Coimbra, foi um viajante insaciável, aquém e além-fronteiras, mas sem nunca perder a ligação ao seu berço. 

Stramuntana Gaia

Embora Torga seja mais conhecido pelas suas obras literárias, a sua origem transmontana está também intrinsecamente ligada à cultura e à gastronomia da região. Torga adorava a caça, muitas vezes degustando as delícias transmontanas nos montes da sua região, saboreando também o contacto com a terra e o povo que ali vivia.

Stramuntana Gaia

O livro «Contos da Montanha» é o melhor exemplo dessa relação quase umbilical à terra e aos seus produtos regionais. É uma autêntica colecção de retratos pintados a letras, cujo foco era a vida do seu povo, as suas paixões, os seus dramas, as suas rivalidades e as lutas de uma gente arreigada, brava, mas também humilde, que batalha pela sustento a cada momento.

Stramuntana Gaia

São crónicas pitorescas das vivências aldeãs, retirando-se delas o essencial das formas de viver e de sentir populares. Nesses contos há uma referência deliciosa a um arraial, onde a aldeia se juntava em peregrinação para degustar um farnel de emoções.

Stramuntana Gaia

«Coisa rica! Pipas e pipas de vinho debaixo da carvalhada, e do melhor, que parece que todos capricham nisso, tascas de fritos, mesas de cavacas e de refrescos, medas de regueifas, carros de melancias, um louvar a Deus. Fartura de tudo para quem tiver conques».

Stramuntana GaiaCuriosamente, Torga parece fazer uma ligação metafórica entre essas gentes e a sua gastronomia.  O "comer" revelava-se sempre substancial, em sintonia com a imponência austera das montanhas, com a vastidão dos horizontes transmontanos e com a árdua labuta agrícola.

Stramuntana Gaia

O escritor convida-nos a encontrar uma relação quase directa entre o esforço físico despendido pelos trabalhadores que "cavam a vida inteira, e, quando se cansam, deitam-se no caixão com a serenidade de quem chega honradamente ao fim dum longo e trabalhoso dia" e a  sabedoria acumulada pela experiência, que confirma que o "ar puro do campo - especialmente o das montanhas - estimula o apetite", justificando dessa forma, a presença em toda a região dos "pratos de resistência", notáveis tanto pela quantidade quanto pela variedade, pelo sabor e pela qualidade de seus ingredientes.

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A gastronomia transmontana é-nos apresentada assim, fortemente influenciada pelo isolamento que Trás-os-Montes experimentou ao longo dos séculos, resultante da falta ou melhor adequação das vias de comunicação, bem como das duas marcantes barreiras naturais que a cercam: a Serra do Marão e o Rio Douro.  

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Os Transmontanos não apenas aceitaram estas limitações da sua terra, como também a respeitaram, ultrapassando as dificuldades inerentes à sua condição humana. Dessa forma, a partir de toda a severidade dessa terra, conseguiram, com um esforço hercúleo, extrair dela receitas extraordinárias cheias de sentimento de pertença. Hoje falo-vos de um restaurante que invoca todo esse legado: o Stramuntana Gaia.

Stramuntana Gaia

Em Mirandês, uma das duas línguas oficiais em Portugal, Stramuntana significa "Transmontana". A Chefe Lídia Brás, natural de Estevais, uma aldeia de 40 habitantes no extremo nordeste do nosso país, é uma das cerca de 5.000 falantes nativas dessa língua. O pai é de Estevais, Mogadouro, e a mãe de Souto da Velha, em Torre de Moncorvo. 

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A Chefe Lídia utiliza o Mirandês nas redes socais para promover o restaurante que ela e o marido, Fernando Araújo, também natural do norte, administram. Fernando é bracarense e um apaixonado por Trás-os-Montes (e por uma transmontana em particular ;)). Trata dos vinhos de forma exemplar e pedagógica (a garrafeira é uma das mais valias do restaurante: diversificada, de qualidade e com referências de nicho) e comanda o grelhador.

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Durante duas décadas, o casal foi proprietário e cozinhou em diversos restaurantes na zona do Porto, que serviam pratos de natureza mais rústica. Mas, de acordo com a Chefe Lídia, esses locais costumavam enfatizar a quantidade em vez da qualidade. Com o Stramuntana, aberto há quatro anos, o casal tem finalmente a oportunidade de apresentar a comida da sua região natal, bem como a sua língua e a sua cultura, de uma maneira mais genuína, refinada e subtil.

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Na sala do piso inferior existe uma mercearia que disponibiliza alguns petiscos e também vende presuntos, enchidos, cogumelos e vinhos. É daí que surge o restante nome da casa: Soto, que atrás das montanhas, é sinónimo de mercearia.

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O nosso almoço começou com um cesto com três tipos de pão que acompanhou as entradas: azeitonas; cenoura marinada; cebola com sal e vinho tinto; salada de bucho e orelha fumada; e manteiga de leite de cabra e mel. Remetem-nos imediatamente para a memória da gastronomia substancial, genuína e rústica de Torga.

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No entanto, a Salada de bucho e orelha fumada surge de peito erguido, orgulhosa, com alcaparras verdes, pimentos vermelhos, malaguetas, tomates cereja e cebolas em conserva. Tudo isto acrescentou largura, acidez, texturas e cor. Seguiram-se uns Rojões de redenho de porco, voluptuosos, crocantes, intensos, saborosos, em que a salicórnia acrescentava um salgado vegetal muito engraçado. 

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O tradicional folar transmontano surgiu na sua versão Folarico, ao estilo "finger food", mas com todos os predicados da sua versão original: riqueza, untuosidade e sabor. O Piano (entrecosto) assado na grelha, na companhia de batatas rústicas (também assadas na grelha) é daqueles que nos faz "lamber os dedos" de satisfação. Possuía um sabor defumado, uma ligeira caramelização, suculência e o sal/tempero no ponto certo.

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Seguiu-se, quanto a mim, o melhor prato: Javali com castanhas. A carne de javali tinha um sabor incisivo, intenso, robusto, quase selvagem. As castanhas adicionaram uma doçura natural ao prato e a sua textura macia contrastou com a carne mais firme do javali. Além disso, os temperos e ingredientes adicionados durante a confecção, como o alecrim, as especiarias, o vinho tinto e o azeite, contribuíram para a complexidade e o sabor final do prato. O resultado é uma combinação de sabores deliciosos e reconfortantes, típicos da culinária tradicional de Trás-os-Montes. Adorei!!!

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O Bacalhau com crosta de alheira e batata a murro, cozinhado no forno,  possuía uma camada de legumes escondidos entre o bacalhau e a crosta de alheira. Combina de modo magistral, quase presunçoso, a delicadeza do bacalhau com a robustez da alheira, a textura das batatas a murro e a generosidade de sabores e texturas dos legumes, resultando numa proposta reconfortante e muito saborosa.

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Antes das sobremesas: Naco de entrecote com escolta de Batata rústicaCuscus Transmontanos. A carne estava no ponto (na verdade com os três pontos de carne) e cheia de sabor; a batata era viciante, no entanto, o destaque foi para a pureza, o carácter e a riqueza dos Cuscus em estilo arroz malandrinho. Uma delicia!!! Só estes Cuscus já justificavam a viagem.

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A primeira sobremesa foi Milhos doces. Simples mas cheios de aromas e memórias, sabores subtis e ricos, e uma textura macia e prazerosa. A Chefe Lídia deu-lhes um "fato" todo janota, que os tornaram cheios de si, porque afinal, os olhos também comem. Para finalizar o repasto. Pudim de grelos. Ao tradicional pudim de ovos doce é acrescentada a austeridade vegetal dos grelos que acaba por tornar a degustação mais rica, mais ampla e menos enfadonha. Neste prato a Chefe Lídia Brás mostra que para inovar não é necessário andar com reduções, espumas ou esferificações, o que importa mesmo, são os produtos que nos remetem para as tradições.

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 Neste caso os milhos transportam-nos para épocas festivas da aldeia, como o Natal, a Páscoa ou as festas de Verão, onde a mãe da Chefe utilizava esta receita: embrenhava-se pela casa o aroma do milho fervido, da canela e do limão. A travessa vasta e perfumada era pousada na mesa da sala para que os pequenotes pudessem encontrar o seu pedaço de céu. Voltando a Torga, parte dos seus livros (na poesia e na prosa) são a afirmação de um homem rural, que recusa a fatalidade da vida citadina, impondo-se como filho do campo que não mais aceita desligar-se das origens. 

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Nas suas obras estão presentes as serras e as fragas transmontanas, os pais, o professor e os colegas de escola e a demais gente da aldeia. As terras transmontanas e o valeroso povo que as habitam são, afinal, os grandes amores da sua vida, a eles dedicando o melhor da sua escrita. Esse mesmo amor pela terra pode também ser demonstrado através da gastronomia. A Chefe Lídia e o seu marido Fernando Araújo conseguiram criar uma bolha transmontana em Vila Nova de Gaia. 

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As paredes em pedra, as máscaras e os trajes, a lareira, os utensílios da faina, a louça nas paredes, o grelhador como elemento central da sala de refeições, o quintal nas traseiras, e a comida generosa e de conforto intercalada com conversa bem dispostas e sem pressas, têm o puro dom de transformar um "simples cliente estranho" num irmão bem-vindo. Foi, sem margem para dúvidas, uma das melhores experiências que tivemos em restaurantes!!!

Como defendia Miguel Torga, onde estiver um transmontano está qualquer coisa de específico, de irredutível, porque mesmo transplantado, ele ressuma a seiva de onde brotou. Corre-lhe nas veias a força que recebeu dos penhascos, hemoglobina que nunca se descora.  "Que há de fazer um filho, senão ser fiel à sua cepa?"

 

 

 

Tintos Dona Matilde | Uma quase gratidão

"Sábio é o que se contenta com o espetáculo do mundo, e ao beber nem recorda que já bebeu na vida, para quem tudo é novo e imarcescível sempre." Ricardo Reis

Tintos Dona Matilde

A Quinta Dona Matilde lançou o Dona Matilde Vinha do Pinto 2021, um vinho que tem como objectivo fazer história no já longo legado desta propriedade, uma das mais antigas da região do Douro e que integrou a primeira demarcação ordenada pelo Marquês de Pombal em 1757.

Tintos Dona Matilde

A nova edição do Dona Matilde Vinha do Pinto reedita o tempo e o carácter do lugar para nos oferecer um tinto unoaked de vinha quase centenária, metamoforizando a sabedoria do Douro num vinho de elegância e harmonia surpreendentes.

Tintos Dona MatildeComo um sábio, a Vinha do Pinto da Quinta Dona Matilde parece conhecer tudo do lugar, numa contabilidade de ciclos da vinha, mais de 90, a que acrescenta uma capacidade de resposta e de adaptação, seja a anos de bonança e abundância ou de intempéries e escassez.

Tintos Dona Matilde

Este vinho expressa uma vinha, recatada dos exageros do Douro numa encosta virada a nascente, que nos oferece frutos de um equilíbrio e harmonia surpreendentes. A ausência de barrica funciona como uma quase gratidão, uma capacidade abnegada de absorver e integrar as diferenças próprias de cada ano, mantendo, ao mesmo tempo, o carácter único e a identidade exclusiva do lugar.

Tintos Dona Matilde

Assim, o Dona Matilde Vinha do Pinto 2021 (50 €, 91 pts.), rubi denso e profundo, brinda-nos com notas de lagar, esteva, hortelã, sous-bois, frutos do bosque e uma ligeira pedregosidade. No palato mostra-se muito gastronómico, elegante, complexo e muito equilibrado.

Tintos Dona MatildeAquando da sua prova tive ainda a oportunidade de provar mais dois tintos da Quinta Dona Matilde. O Dona Matilde Field Blend tinto 2019 (10 €, 88 pts.) é produzido a partir de Vinhas Velhas com castas tradicionais da Região Demarcada do Douro, onde predominam a Touriga Nacional, a Touriga Franca e a Tinta Amarela. Realiza estágio de 12 meses em barrica. 

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É um vinho de cor rubi cristalina, com um aroma intenso, pontuado por notas de  hortelã, ameixa preta, groselha, pimenta preta, uvas passas e um ligeiro anisado que lhe assenta muito bem. Na boca é equilibrado carnudo, focado e longo. 

Tintos Dona Matilde

Já o Dona Matilde reserva tinto 2019  (22 €, 90 pts.)  é produzido a partir das castas tradicionais como Touriga Nacional, a Touriga Franca e a Tinta Amarela, e é vinificado pelo ancestral método da pisa a pé nos tradicionais lagares de granito. Estagia 18 meses em barricas novas de carvalho francês. 

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É um vinho de cor vermelha-rubi , que transporta notas sedutoras de ameixa preta, frutos silvestres, pinho, fumo, sous-bois e caixa de tabaco. Na boca é untuoso, fresco, equilibrado, longo e persistente.

Tintos Dona Matilde

Encontrei um trabalho minucioso nestes três vinhos, na vinha e adega, cada um no seu patamar. Todos eles procuram explorar o conhecimento do património vitícola da quinta, parcela a parcela, visando tirar o máximo partido do potencial de cada micro-terroir. Tudo isto leva a um perfil elegante, sem muita extracção, de aromas complexos, concentrados e com uma longevidade capaz de oferecer surpresas aromáticas, frutos do passar do tempo.

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Uma nota final para outra novidade. De forma a permitir uma experiência de quinta agrícola do Douro, a Quinta Dona Matilde vai estrear-se brevemente no turismo, com a abertura de um espaço de turismo rural, com cinco quartos e serviço de pequeno almoço.

 

Novas colheitas Churchill's | O guardador de pleonasmos: uma outra primeira vez

"Vale mais a pena ver uma cousa sempre pela primeira vez que conhecê-la, porque conhecer é como nunca ter visto pela primeira vez, e nunca ter visto pela primeira vez é só ter ouvido contar." Alberto Caeiro

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Dos quatro heterónimos principais (Álvaro de Campos, Ricardo Reis,  Bernardo Soares e Alberto Caeiro), Caeiro é reconhecido pelos restantes, e também pelo próprio Pessoa, como o seu “mestre”. A sua principal obra é uma colecção de poemas intitulada “O Guardador de Rebanhos”. Nesses poemas, Alberto Caeiro expõe e explica a sua posição filosófica acerca de ele próprio ser um “sensacionista”. O sensacionismo enfatiza a importância da percepção sensorial e da experiência imediata do mundo, sob o intelectualismo abstracto. Como tal, Caeiro propõe uma descrição básica da natureza baseada apenas nas sensações, sem o recurso a metáforas ou metafísicas.

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Esta abordagem pode ser entendida como uma variação da intelectualização, um mecanismo de defesa quer do isolamento do afecto, quer da tradução psicológica de questões emocionais em termos intelectuais.  Paradoxalmente, nos versos iniciais do poema IX (Sou um guardador de rebanhos), Caeiro introduz a metáfora central do poema: o poeta como guardião de rebanhos, sendo o rebanho o seu próprio pensamento.

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Esta metáfora sublinha a ideia de que os pensamentos de Caeiro, como um rebanho, são simples e naturais. Ele não se envolve em ponderações filosóficas complexas, mas, em vez disso, abraça o imediatismo da experiência sensorial. Caeiro sugere que a verdadeira compreensão vem de um envolvimento directo com o objecto ou ideia em questão. Concebe o acto de pensar numa flor através da visão e do cheiro. Esta abordagem sensorial, quase primitiva, do pensamento sublinha a rejeição do raciocínio abstracto e despegado. 

Novas colheitas Churchill'sRecorrendo a outro paradoxo, Caeiro sugere que embora a sua abordagem não produza necessariamente uma compreensão intelectualmente estruturada sobre um determinado assunto, permite-lhe compreendê-lo a um nível mais profundo e intuitivo. Nesse sentido, para Caeiro a complexidade parece emergir paulatinamente da repetição sensorial da simplicidade.

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Curiosamente este confronto semântico entre simplicidade e complexidade também encontra eco no mundo dos vinhos. Como avaliaria Caeiro a complexidade de um vinho? Para responder a essa pergunta vamos ter de passar de Caeiro para Matt Kramer (um dos colaboradores mais afamados da revista americana "Wine Spectator" e um apaixonado pelos vinhos do Douro). Li há uns tempos no seu livro "How to taste wine", que a complexidade (segundo ele uma das seis palavras mais importantes no mundo vínico) é a capacidade que um vinho tem para nos transmitir uma sensação de dinamismo, de incerteza ou de surpresa sempre que regressámos ao copo para o provar. 

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O problema, porém, é que para não variar, esta definição não é consensual. Muitas vezes, em prova, a complexidade é erradamente (quanto a mim) associada com quantidade, com soma e com "mais": mais sabor, mais textura, mais aromas. Nesses casos a palavra "complexidade" parecia funcionar como um "conta-aromas" de coisas a provar, materializando-se numa longa lista de descritores, onde a surpresa, o dinamismo, ou a incerteza são simplesmente chutados para um canto. 

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Outro problema decorre da batalha semântica entre o simples e o complexo. Um vinho simples não necessita forçosamente de ser barato, fácil ou de qualidade inferior. Não tem de ser um adjectivo pejorativo,  certo?  Pode haver incerteza, intensidade e surpresa na simplicidade. Reparem nos exemplos que a arte nos oferece:  na espiritualidade, infinito e eternidade do "Several Circles" de Kandinsky; no existencialismo humanista do "Man Pointing" de Alberto Giacometti ou a alegria, inocência e melódico-agressividade dos solos de guitarra de George Harrison.

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É por isso que tal como na arte, nos vinhos a palavra “complexo” talvez não seja a melhor bitola para avaliar todos os grandes vinhos, pois existem alguns que também podem ser reconhecidos pela sua pureza, pelo seu dinamismo ou pela sua subtileza. Todas estas questões semânticas surgiram-me aquando da apresentação  das novas colheitas dos vinhos Churchill´s Estate Grafite e Quinta da Gricha.

Novas colheitas Churchill'sEstes são vinhos que para além de colocarem em "confronto" a simplicidade minimalista dos rótulos com a complexidade incerta, intensa e surpreendente dos seus vinhos, usam esse confronto interior/exterior para realçar a riqueza daquilo que produzem. John Graham fundou a Churchill's em 1981, tornando-a na primeira empresa de vinho do Porto a ser estabelecida em 50 anos. John Graham queria continuar a longa tradição nos vinhos do Porto da sua família, mas ao mesmo tempo criar o seu próprio estilo de vinhos.

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 Ao contrário do que possam pensar, Churchill’s não é uma homenagem ao primeiro-ministro britânico viciado em Champanhe, mas sim um tributo à história de amor que vive com a sua esposa, Caroline Churchill. A compra da Quinta da Gricha em 1999 foi um passo não só importante como também fundamental para levar a Churchill’s à produção de vinhos do Douro e a torná-los um caso de particular sucesso.

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Enquanto as outras casas de vinho do Porto têm séculos de existência, a Churchill’s ainda tem o seu fundador ao comando e é hoje a última casa ‘produtora-exportadora’ britânica independente. Os vinhos do Douro da Churchill’s nasceram de uma longa parceria entre John e o enólogo Ricardo Pinto Nunes. São vinhos que privilegiam a fruta, a frescura, e o respeito pelo terroir.

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A Quinta da Gricha é a casa da Churchill’s no Douro – uma propriedade de 50 hectares localizada no Cima Corgo, com 40 hectares de vinhas ‘letra A’ e lagares de granito onde vinhos do Porto são pisados a pé desde 1852. As vinhas mais antigas têm mais de 80 anos, com castas autóctones e os vinhos são produzidos com intervenção mínima e agricultura sustentável. Hoje, Zoe Graham (filha de John Graham) e o genro, Ben Himowitz, juntam-se ao fundador, na transição para a segunda geração.

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A apresentação das novas colheitas, por parte do enólogo Ricardo Pinto Nunes e Zoe Graham, ocorreu no Manja Marvila e foi harmonizada pelas mãos do Chef Bruno Rocha (Chef Executivo do Bairro Alto Hotel em Lisboa). Falemos então dos vinhos. Para a elaboração do Churchill's Estates Grafite Branco 2022 (13.5 €, 88 pts.), as uvas foram cortadas para caixas pequenas (cerca de 20 Kg/ caixa) e transportadas para a adega onde foram submetidas a um processo de selecção muito cuidadoso. Após serem colhidas, as uvas foram arrefecidas a 5ºC durante a noite, sendo posteriormente esmagadas e sujeitas a maceração a  frio por um período de 12 horas. Em seguida, o mosto foi prensado e transferido para uma cuba sendo então fermentado gentilmente durante duas semanas a temperaturas nunca superiores a 15ºC.

Novas colheitas Churchill'sApós o final da fermentação, aproximadamente 20% do lote estagiou em barricas de carvalho francês, mantendo-se o restante em cubas de inox, de forma a combinar um perfil frutado com a complexidade do estágio em madeira. É um vinho de cor amarela-cítrica que passa para o nariz com maçã verde, toranja, acácia-lima e muita pedregosidade. Na boca mostra nervo e é tenso, fresco e suculento. 

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Para a elaboração do homónimo tinto 2 anos mais velho, o Churchill's Estates Grafite Tinto 2020 (13.5 €, 89 pts.), a escolha das áreas de vinha ou talhões dependeu das castas mais favorecidas pelas condições climáticas de 2020. As uvas foram cortadas para as tais caixas pequenas e transportadas para a adega onde foram submetidas a um processo de selecção muito cuidadoso, sendo posteriormente esmagadas. A vinificação ocorreu em cubas de inox, de pequena capacidade.

Novas colheitas Churchill's 

As uvas foram totalmente desengaçadas e posteriormente esmagadas. Após um período de 4 dias em maceração a frio, a fermentação ocorreu sob temperatura controlada, procedendo-se a suaves remontagens e macerações prolongadas, conseguindo-se desta forma uma boa extracção aromática e polifenólica.   Cerca de 30% deste vinho estagiou 12 meses em cascos novos e velhos de carvalho francês. O restante foi guardado em cubas de inox para manter o seu carácter frutado aliado à complexidade do carvalho proveniente dos vinhos em cascos. Foi ligeiramente filtrado antes do engarrafamento. De porte rubi escuro-violeta, emana notas de ameixa preta, compota de cerejas, pimenta preta, resina e bosque. No palato mostra-se fresco, seco, elegante e aveludado. 

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Por sua vez o Quinta da Gricha Douro 2020 (45 €, 89 pts.) teve o mesmo cuidado na apanha e transporte que os anteriores, sendo as suas  uvas posteriormente esmagadas. A vinificação foi dividida em duas fases: uma primeira no lagar com suaves remontagens e uma segunda em cascos de carvalho francês de 500 litros, onde ocorreu também a fermentação maloláctica. Todo o vinho estagiou cerca de 12 meses em barricas de carvalho francês. No copo surge violeta escuro, entrando no nariz com ameixa preta, amoras silvestres, cravo-da-Índia e pinheiro. Na boca é especiado, longo, untuoso e muito equilibrado.  

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Passando para um monocasta, no Churchill's Estates Grafite Touriga Nacional 2015 (17 €, 90 pts.) as  uvas foram transportadas para a adega onde foram submetidas a um processo de selecção muito cuidadoso, sendo posteriormente esmagadas. A vinificação ocorreu em cubas de inox, de pequena capacidade. As uvas foram totalmente desengaçadas e posteriormente esmagadas. Após um período de 4 dias em maceração a frio, a fermentação ocorreu sob temperatura controlada, procedendo-se a suaves remontagens e macerações prolongadas, com vista a uma boa extração aromática e polifenólica. Todo o vinho estagiou 12 meses em barricas de carvalho francês de 2º e 3º ano, sendo colado e filtrado ligeiramente antes de ser engarrafado.

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De cor rubi-violeta exibe agradáveis notas de hortelã-pimenta, esteva, pimento verde, mirtilos, eucalipto e algumas violetas escondidas. Na boca é aveludado, complexo, equilibrado, intenso e muito fresco. O Churchill's Estates Grafite Grande Reserva 2015 (38 €, 95 pts.) é um vinho enorme!!! As uvas passaram por um criterioso processo de selecção antes de serem esmagadas. 

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A vinificação ocorreu em cubas de inox, de pequena capacidade. As uvas oriundas de vinhas muito velhas foram totalmente desengaçadas e posteriormente esmagadas. Após um período de 4 dias em maceração a frio, a fermentação ocorreu sob temperatura controlada, procedendo-se a remontagens ligeiras e macerações prolongadas, conseguindo-se desta forma uma irrepreensível extracção. 

Novas colheitas Churchill's

O vinho estagiou 12 - 15 meses em barricas de carvalho francês, antes de  ser colado e  filtrado ligeiramente antes de ser engarrafado. De porte rubi-violeta cristalino, exibe orgulhosamente cereja madura, hortelã-pimenta, cassis, pimenta preta e sous-bois. No palato é aguerrido, largo, redondo, equilibrado, carnudo, viçoso, complexo e intensamente ponderado. É um vinho "cheio de si", um dos melhores que provei em 2023. 

Novas colheitas Churchill's Passando para os Porto, o Churchill's Quinta da Gricha Vintage 2021 (65 €, 94 pts.) foi vinificado nos tradicionais lagares de granito. Para esse efeito, várias equipas de pisa a pé trabalharam durante o dia e inicio da noite nos lagares. Durante os primeiros seis meses, o vinho passou o inverno no Douro antes de ser transportado para as Caves em Vila Nova de Gaia, onde passou por  período de envelhecimento de 18 meses em tonéis de madeira de grande capacidade antes do seu engarrafamento. 

Novas colheitas Churchill's

Exibe uma cor rubi escura, opaca, intrigante, com laivos violetas. No nariz surgem frutos silvestres, chocolate preto, mato, lavanda e casca de laranja cristalizada. Na boca é exuberante, intenso, puro e vibrante. A acidez deste vinho é de uma delicadeza impressionante!!! Seguiu-se um monstro: o Churchill´s Tawny 40 Anos (200 €, 97 pts.). 

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Tal como os outros vinhos do Porto da Churchill’s, as reservas de vinhos do Porto Vintage que entram neste Tawny foram vinificadas nos tradicionais lagares de granito. Após a fermentação, o vinho passou por um período de envelhecimento médio de aproximadamente 40 anos em casco. Antes de serem engarrafados, os vinhos foram combinados de forma a garantir que este Tawny 40 anos reflectisse o estilo da casa.

Novas colheitas Churchill's

Possui uma cor cobre-esverdeada cintilante. No nariz, as notas surgem incertas, surpreendentes, uma após a outra: caixa de charutos, figos secos, ameixa seca, avelãs, mel, anis e casca de laranja. No palato é denso, opulento, elegante, voluptuoso e inacreditavelmente fresco.

Novas colheitas Churchill's

Todos estes vinhos tinham no ADN a frescura duriense, uma mineralidade quente e o respeito pelas características das uvas, resultantes da simbiose entre a arte dos enólogos com as características especiais da Quinta da Gricha. No rótulo há minimalismo e sustentabilidade. No vinho há fruta, há frescura, há estrutura,  há uma acidez natural vibrante e há respeito pelo terroir.

Novas colheitas Churchill's

E como defende Johny Graham, todos eles sabem dizer-nos adeus. Isso acontece porque sabemos que sempre que os encontrarmos de novo é como se o fôssemos provar uma outra primeira vez. Tudo isto, repetido vinho após vinho, é como se fosse um pleonasmo que enfatiza a complexidade assente nos sentidos, aquela que Caeiro apreciava.

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Bem, com tudo isto quase que me esquecia de responder à pergunta. O que acharia Caeiro destes vinhos?

Acho que a "cousa" a que ele se referia na citação que introduziu esta publicação, poderia muito bem ser um vinho da Churchill's Estates ;)