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No meu Palato

No meu Palato

Conversas de Alpendre, Colégio, Zïque e À Mesa | A espada centrífuga

"No fundo, e à semelhança dos nossos primeiros reis, que se intitulavam senhores de Portugal e dos Algarves, separando sabiamente nos seus títulos o que era centrípeto do que era centrífugo no todo da Nação, não me vejo verdadeiramente dentro da pátria." Miguel Torga

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoO Algarve é o país do sol, como bem disse Miguel Torga, um pedaço de terra onde o mar nunca dorme e as amendoeiras florescem como se a primavera não respeitasse os ditames do calendário. É um lugar onde o tempo corre em cadência própria, embalado pelo ondular das ondas que beijam a costa e pelo aroma doce do figo seco. Diferente? Sem dúvida. Mas é exactamente nessa diferença que encontramos a essência mais fascinante do que é ser português.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocado

@Conversas de Alpendre

Desde os primórdios do nosso Portugal, o Algarve foi visto como um complemento necessário, quase como a peça final que daria ao reino a sua verdadeira identidade. D. Afonso Henriques, o nosso primeiro rei, olhava para o sul como o território onde Portugal poderia alargar horizontes, literal e simbolicamente. Embora não tenha chegado a conquistar o Algarve, o seu sonho de um reino que incluísse aquelas terras, quentes e ricas em diversidade cultural, plantou uma ideia que os seus sucessores não deixariam morrer.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoO trabalho de expansão começou com D. Sancho I, mas foi sob o reinado de D. Afonso III que o Algarve se tornou parte integrante de Portugal. Contudo, falar dessa "conquista" sem recorrer a imagens de batalhas, tão em voga nos dias de hoje, é revelar a verdadeira riqueza que ela trouxe ao país. Foi uma absorção de algo que nos faltava: o exotismo das culturas que por ali passaram, desde os romanos aos mouros, e que deixaram a sua marca na paisagem, na arquitectura e, claro, como não poderia deixar de ser, na gastronomia.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoMomentos como a conquista de Silves, cidade então conhecida como um dos maiores centros culturais e comerciais da Península Ibérica, não foram apenas marcos militares. Trouxeram para o reino um novo entendimento do que significava ser português.  Silves era um lugar de mercados vibrantes, onde especiarias exóticas, frutas raras e técnicas agrícolas avançadas mudaram a forma como se cultivava e comia no país. Era uma cidade onde a poesia árabe ecoava pelos pátios e onde o uso engenhoso da água, nos sistemas de irrigação e nas fontes, nos deixou lições que ainda hoje escutámos no Algarve.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoE o que dizer de Faro? Esta cidade, hoje um dos epicentros turísticos, foi também um marco dessa transição. Quando D. Afonso III firmou a sua soberania sobre o Algarve, não o fez apenas com a espada, mas também com uma visão de integração. Ali, entre igrejas que outrora foram mesquitas e ruas que guardam os ecos de línguas esquecidas, vemos o cruzamento de mundos que moldou a nossa identidade.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoE não é de admirar que, até hoje, a culinária algarvia traga consigo essa fusão: o uso de amêndoas, figos e mel nas sobremesas é uma herança mourisca que nos lembra que o doce pode ser tão histórico quanto a pedra. Essa distinção que os nossos primeiros reis reconheceram no Algarve — como um lugar que é, ao mesmo tempo, Portugal e mais do que Portugal — cimentou a nossa capacidade de sermos múltiplos na unidade. Daí o cargo "rei de Portugal e dos Algarves".

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoSer português é, afinal, carregar na língua, no prato e na alma, um mosaico onde cada peça tem a sua cor, mas todas se unem em harmonia. No Algarve de hoje, essa pluralidade reflecte-se de forma brilhante na oferta turística e gastronómica. É possível, num mesmo dia, deliciar-se com uma cataplana de mariscos que remonta aos tempos mouriscos, seguida de um vinho branco fresco das colinas de Lagos, enquanto se admira o entardecer dourado de Tavira, uma das cidades mais emblemáticas dessa integração cultural. 

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoOs hotéis variam entre o luxo de uma villa moderna em Vilamoura e a simplicidade acolhedora de uma casa de campo em Monchique, onde o aroma de medronho nos lembra que o Algarve é, também, um lugar de tradição. Experimentar o Algarve é, portanto, muito mais do que visitar um destino de sol e praia. É redescobrir a riqueza de um território que os nossos reis souberam integrar, não apenas pela geografia, mas pelo coração.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoÉ sentir que o Algarve, com a sua luz única e as suas diferenças, não é apenas um pedaço de Portugal: é um pedaço de todos nós. E, enquanto exploramos os restaurantes e hotéis deste lugar onde o mar nunca dorme, lembrámo-nos de que, na complexidade das suas paisagens e sabores, encontramos a alma heterogénea e vibrante do ser português.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoExperimentar o Algarve é, portanto, descobrir que as diferenças nos unem. É rir do sotaque que transforma um "bolo de chocolate" num "bolinho de xocolate". É maravilhar-se com a humildade de uma cataplana que, apesar de feita com simplicidade, sabe mais de mundo do que muitos de nós. 

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoÉ passear pelos mercados e ouvir os vendedores a debaterem, com paixão, se a melhor laranja vem de Silves ou de Monchique, como se essa fosse a discussão mais importante do dia. É, em suma, sentir que o Algarve não é apenas diferente de Portugal: é Portugal em toda a sua riqueza, contradição e vitalidade.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoA espada, tantas vezes símbolo de separação, foi aqui instrumento de união, cruzando culturas, tradições e paisagens num mesmo destino. E é justamente essa complexidade, esse entrelaçar de diferenças que se reflecte também na oferta turística e gastronómica da região.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoFoi com esse espírito de descoberta e integração que partimos à exploração do Conversas de Alpendre Hotel e de alguns dos mais notáveis restaurantes da região: o Colégio, o Zíque e o À Mesa Tavira. Todos eles, à sua maneira, não apenas acolhem, mas também celebram esse encontro de histórias e sabores, oferecendo aos visitantes uma verdadeira viagem à alma do Algarve.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoO Conversas de Alpendre, localizado na encantadora região de Cacela Velha, no coração do Algarve, é muito mais do que um hotel; é uma experiência que combina o charme rústico com o conforto contemporâneo. Situado numa paisagem serena, rodeada por colinas e com vistas que se estendem até ao horizonte, este refúgio oferece uma hospitalidade que parece abraçar cada hóspede, proporcionando um verdadeiro mergulho na autenticidade do sul de Portugal.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoAs acomodações são cuidadosamente pensadas para aliar conforto, privacidade e um toque de exclusividade. Cada quarto e apartamento apresenta uma decoração que harmoniza elementos tradicionais e modernos, criando ambientes acolhedores que reflectem o espírito da região. Entre as opções, destaca-se a Casa na Árvore, construída inteiramente em madeira, que oferece uma experiência única e memorável, conectando os hóspedes à natureza de uma forma muito especial.

16.jpgA experiência gastronómica no Conversas de Alpendre é, sem dúvida, um dos seus grandes destaques. O restaurante local valoriza os produtos regionais, muitos deles cultivados na própria horta do hotel, e transforma-os em pratos deliciosos que capturam os sabores autênticos do Algarve. Desde um pequeno-almoço farto, repleto de especialidades locais, até jantares que celebram a sazonalidade e a frescura dos ingredientes, cada refeição é um convite ao prazer gastronómico.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoAo jantar, o Tataki de atum, pimento, beterraba e rúcula marcou o início de uma experiência gastronómica delicada e sofisticada, com a frescura do peixe realçado por uma crosta de sementes e um toque cítrico equilibrado. Seguiu--se o Bacalhau fumado com saquê, camarão em molho de marisco e espargos salteados, um prato que traduz a essência do mar algarvio: a suavidade da corvina contrasta com o molho rico e profundo, enquanto os espargos traziam frescura e textura. Para os apreciadores de carnes, o Entrecôte de angus com risotto de cogumelos trufados e molho de queijo azul é uma escolha irrepreensível, suculento e cozinhado no ponto, evidenciando a simplicidade elevada ao sublime. A refeição culmina com o Tiramisú, que, numa interpretação leve e cremosa, encerrava a noite com notas de café e cacau que evocam conforto e elegância.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoJá ao almoço, a descontracção encontra-se em pratos como o camarão empanado ou a leve tosta de abacate, tomate e mozzarella, perfeitas para acompanhar cocktails refrescantes à beira da piscina. Para algo mais consistente, o hambúrguer é uma opção robusta e cheia de sabor, mantendo o equilíbrio entre indulgência e descontracção. As manhãs, por sua vez, começam com a perfeição dos ovos Benedict, pastelaria fresca e uma cuidada selecção de queijos e enchidos, transformando o pequeno-almoço numa celebração das tradições e sabores locais, com um toque de sofisticação.

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@Colégio Charm House

Para complementar a estadia, o hotel oferece uma variedade de actividades que vão desde massagens terapêuticas a aulas de natação, ideais tanto para relaxamento quanto para aprendizagem. Além disso, a propriedade conta com um pomar onde os hóspedes podem participar na apanha manual de frutos, uma experiência que reforça a ligação à terra e ao ambiente rural. Essa conexão com a natureza é também um reflexo do compromisso do hotel com a sustentabilidade, visível no uso de energia solar, na redução do consumo de plástico e na valorização de fornecedores locais.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoA localização do Conversas de Alpendre é outro trunfo, estando a apenas alguns minutos de algumas das praias mais belas e preservadas do Algarve. A proximidade com a Ria Formosa e outros pontos de interesse natural permite aos visitantes explorar a região com facilidade, seja através de caminhadas, passeios de bicicleta ou simplesmente apreciando as vistas panorâmicas que tornam esta parte do Algarve tão especial.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoO Colégio Charm House, situado em Tavira, é uma celebração da história e da herança cultural do Algarve, traduzida num espaço que combina sofisticação, tradição e um toque de realeza. Criado pelos mesmos proprietários do aclamado Conversas de Alpendre, Marta e Tiago Cunha, o Colégio reflecte o mesmo compromisso com a autenticidade, a atenção aos detalhes e a paixão por contar histórias através de experiências únicas.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoEste boutique hotel, que ocupa um antigo edifício escolar, preserva a memória do passado enquanto convida os hóspedes a vivenciar o Algarve com uma nova e sofisticada perspectiva. É na sua gastronomia e na sala de jantar que o Colégio atinge o ápice da sua proposta, oferecendo uma verdadeira viagem sensorial e cultural.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoA sala de jantar, elegantemente decorada, transporta-nos para uma atmosfera que evoca o esplendor de outros tempos, quase como se estivéssemos a participar de um banquete real. O ambiente, cuidadosamente pensado, combina elementos da tradição mourisca com o classicismo português, criando um espaço que é, ao mesmo tempo, refinado e acolhedor.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoA luz natural que atravessa as amplas janelas ilumina os detalhes históricos preservados, enquanto o mobiliário e os acabamentos modernos adicionam um toque de contemporaneidade.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoÀ mesa o Colégio brilha ainda mais. pois a gastronomia torna-se uma celebração dos sabores autênticos do Algarve, reinterpretados com técnicas inovadoras. Os pratos são uma ode aos ingredientes locais, desde os peixes e mariscos frescos das águas algarvias até aos produtos da serra, como as amêndoas, o mel e as ervas aromáticas. Cada receita é cuidadosamente trabalhada para destacar a riqueza dos sabores regionais, enquanto explora novas combinações que surpreendem e encantam.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoA experiência é amplamente enriquecida pelo serviço impecável, que nos trata com a atenção digna de convidados numa casa nobre. Os pratos chegam à mesa acompanhados por histórias que reflectem a herança cultural do Algarve, muitas vezes inspiradas nas tradições mouras e cristãs que moldaram a região.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoA nossa experiência no Restaurante Colégio Charm House começou com um Creme de espargos que inaugurou a refeição com uma textura aveludada e um sabor delicado, realçado por um toque subtil de especiarias que elevam a simplicidade do prato. Seguiu-se o Ceviche de atum, onde a frescura do peixe era harmoniosamente equilibrada por notas cítricas e ervas aromáticas, proporcionando uma explosão de sabores frescos e vibrantes.

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@À Mesa Tavira

Como prato principal, a Corvina com vieiras e vegetais destacou-se pela combinação de texturas e sabores do mar, complementados por vegetais sazonais que adicionam cor e frescura ao prato. Para os apreciadores de carne, o Entrecôte é servido no ponto perfeito, suculento e tenro, acompanhado por guarnições que realçam a riqueza da carne. A sobremesa, uma esfera de chocolate e framboesa, encerra a refeição com uma fusão de doçura e acidez, onde o chocolate intenso encontra a frescura das framboesas, culminando numa experiência gastronómica prazerosa.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoA carta de vinhos, meticulosamente seleccionada, completa a experiência, oferecendo rótulos que harmonizam perfeitamente com os sabores apresentados.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoMarta e Tiago, já conhecidos pelo sucesso do Conversas de Alpendre, trouxeram para o Colégio Charm House a mesma visão de hospitalidade que une passado e presente, autenticidade e inovação. O Colégio é, assim, mais do que um hotel; é uma homenagem viva à rica tapeçaria cultural e histórica do Algarve. Cada detalhe, do ambiente à gastronomia, reflecte o amor pela região e pelo ofício de bem receber, transformando cada estadia numa memória inesquecível. Aqui, o luxo encontra a tradição, e o presente dialoga com a história, num cenário onde o Algarve é celebrado em todo o seu esplendor.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoAo explorar a rica tapeçaria cultural e gastronómica do Algarve, não se pode deixar de mencionar o Café Zique, um espaço que combina descontracção e criatividade com uma cozinha que honra os sabores locais, mas que os reinventa com uma abordagem contemporânea. Se o Colégio Charm House nos transporta para um ambiente de realeza, o Café Zique propõe um contraste vibrante e moderno, onde a simplicidade é elevada à arte e a tradição encontra a ousadia.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoLocalizado no coração de Tavira, o Café Zique é uma celebração da autenticidade algarvia, mas com uma alma cosmopolita. A decoração, que mistura elementos rústicos com toques minimalistas, cria um ambiente acolhedor e descontraído, ideal tanto para um almoço despreocupado quanto para uma noite de petiscos entre amigos. A energia do espaço reflecte-se na sua cozinha: dinâmica, surpreendente e repleta de sabores que se destacam pela frescura e qualidade.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoO menu, embora conciso, é cuidadosamente elaborado para reflectir a sazonalidade dos produtos e a paixão pelos ingredientes locais. As influências mediterrânicas são evidentes, mas há sempre um toque inovador que dá vida nova a cada prato. O pão caseiro, crocante e aromático, é quase um protagonista por si só, e a tábua de queijos e enchidos regionais serve como uma entrada perfeita para a experiência gastronómica que se segue.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoA entrada de Muxama, Presunto do Zambujal com 36 meses de cura e Pão Frito oferecia uma combinação harmoniosa de texturas e sabores: a intensidade salgada da muxama e do presunto é equilibrada pela crocância e leveza do pão frito, proporcionando um início de refeição memorável. Prosseguindo, o Tártaro de camarão vermelho da costa e Pistácio surpreenderam pela fusão de sabores: a robustez da pasta de marisco era suavizada pela cremosidade do tártaro, enquanto o pistácio adicionava uma nota crocante e um toque de sofisticação ao prato.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoO Fígado de Tamboril em Cebolada destacou-se pela textura delicada do fígado, enriquecida pela doçura caramelizada da cebolada, resultando numa combinação que exaltava os sabores do mar e da terra. O Croquete de Litão é uma homenagem à cozinha tradicional algarvia, onde sobressaía a suavidade e sabor peculiar do litão, criando um prato reconfortante e autêntico. O Sarrajão com pickle de cenoura, curcuma, puré de cenoura e pó de sálvia carbonizado exibia uma harmonia delicada entre o frescor do mar e o calor terroso das especiarias, com um toque levemente defumado e cítrico que eleva cada elemento do prato. Antes da sobremnesa Peixe porco, caril verde tailandês, ouriço do mar, puré de alface do mar e óleo de manjericão sabia a uma fusão vibrante de sabores oceânicos e exóticos, onde a riqueza do ouriço e o calor do caril se equilibram com a frescura herbal do manjericão e a delicadeza marinha da alface.

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Para finalizar, a primeira sobremesa de Laranja Amarga com Kumquat demonstrava um equilíbrio perfeito entre a acidez e a doçura, refrescando o palato e encerrando a refeição com uma nota cítrica e revigorante. A carta de vinhos, com destaque para rótulos algarvios, complementa a experiência, convidando os visitantes a explorar mais um aspecto da riqueza desta terra. O serviço é atencioso, mas descontraído, captando o espírito do espaço: um equilíbrio entre excelência e informalidade. Depois o Cremoso de couve-flor assada, mousse de cgocolare negro 70%, bolo de alfarroba e crocante de couve-flor com alfarroba combinava algumas notas terrosas e tostadas com a intensidade rica do chocolate, criando uma sobremesa inesperadamente equilibrada entre a doçura subtil e o umami da couve-flor e da alfarroba.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoO Café Zique é, portanto, mais do que um simples café; é um ponto de encontro onde o Algarve se revela em cada prato, em cada taça de vinho, e até no sorriso de quem nos serve. É uma celebração do que torna esta região única: uma capacidade inata de transformar o simples em extraordinário, o quotidiano em inesquecível. Aqui, a gastronomia não é apenas comida; é uma conversa entre o passado e o presente, num tom leve e inspirador que convida a voltar sempre para mais.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoSe o Café Zique nos convida a um Algarve descontraído e contemporâneo, o À Mesa Tavira leva-nos a uma celebração requintada da tradição, onde a gastronomia se transforma numa arte profundamente enraizada nos sabores e histórias da região. Num espaço onde cada detalhe parece pensado para honrar o passado e projectar o futuro, o À Mesa Tavira proporciona uma experiência que alia autenticidade e inovação, tudo isso envolto na atmosfera encantadora de Tavira.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoSituado nas proximidades da histórica Igreja de São Paulo, o restaurante apresenta uma decoração que traduz o equilíbrio entre o rústico e o moderno. As paredes de pedra exposta e os detalhes minimalistas criam um ambiente acolhedor, enquanto a luz natural que inunda a sala de jantar proporciona uma sensação de conforto e elegância. Este é o cenário perfeito para uma experiência gastronómica que combina técnica apurada e respeito pelos ingredientes.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoO menu, concebido pelo talentoso chef João Dias, é uma ode aos produtos do Algarve. A refeição iniciou-se com a Ostra e texturas de framboesa, onde a salinidade natural da ostra surgia equilibrada pela acidez e doçura das framboesas, proporcionando uma entrada refrescante e intrigante. Seguiu-se o Cremoso de bacalhau, gamba da costa e manjericão, uma reinterpretação sofisticada de sabores tradicionais, onde a suavidade do bacalhau se fundia com a doçura da gamba e o aroma fresco do manjericão, resultando numa combinação equilibrada e reconfortante.

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O Carabineiro com aromas asiáticos destacou-se pela fusão de ingredientes locais com influências orientais, apresentando o carabineiro suculento acompanhado por notas cítricas e especiarias que elevam o prato a um nível exótico e complexo. O Salmonete com arroz de citrinos é uma celebração dos sabores do mar, onde a textura firme do peixe é complementada pela leveza e frescura do arroz aromatizado com citrinos, criando uma harmonia perfeita entre terra e mar. O Peixe da costa com porco preto e especiarias revelava uma combinação ousada, onde a delicadeza do pargo se encontrava com a riqueza do porco preto, realçada por um toque de especiarias que conferem profundidade e intensidade ao prato.

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@Café Zïque Restaurante & Enoteca

As sobremesas não ficam atrás na criatividade e execução. O Ruibarbo com yuzu apresentava-se equilibrado, onde a acidez do ruibarbo era suavizada pelas notas cítricas e aromáticas do yuzu, resultando numa finalização leve e refrescante. Já a Banana com sésamo surpreende pela combinação de texturas e sabores, onde a doçura natural da banana surgia contrastada pelo sabor terroso e ligeiramente amargo do sésamo, culminando numa sobremesa que encerra a refeição de forma memorável. A atenção aos detalhes e a capacidade de reinventar sabores tradicionais fazem do À Mesa Tavira uma paragem obrigatória para os amantes da alta gastronomia em Tavira.

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Toda esta experiência pode ser enriquecida por uma carta de vinhos cuidadosamente seleccionada, que destacareferências nacionais pensadas para harmonizar "na mouche" com os pratos. O serviço, discreto e atencioso, complementa a qualidade da cozinha, garantindo que cada momento seja memorável.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoO À Mesa Tavira é mais do que um restaurante; é um tributo à herança cultural e gastronómica do Algarve. Se o Café Zique nos mostrou a leveza do Algarve moderno e o Colégio Charm House nos transportou para um banquete de realeza, o À Mesa Tavira surgiu como um espaço onde cada prato conta uma história, e cada refeição se transforma numa celebração da identidade e da diversidade algarvia, tudo com traje de gala.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoNo fundo, e à semelhança dos nossos primeiros reis, que sabiamente se intitulavam senhores de Portugal e dos Algarves, reconhecendo tanto a unidade como a diversidade do reino, também a experiência do Algarve se revela como uma jornada centrípeta e centrífuga, onde cada elemento é parte do todo, mas carrega sua própria singularidade. A espada do destino que atravessou a história deste território, longe de separar, uniu culturas, tradições e sabores, moldando o que hoje entendemos como uma das mais ricas expressões da alma portuguesa.

Conversas de Alpendre, Colégio,  Zïque e À Mesa Tavira | Algarve intocadoTal como os nossos reis, que viam no Algarve um complemento indispensável à pátria, percebemos que este território é uma ponte entre o que fomos, o que somos e o que podemos ser. A espada, símbolo tantas vezes associado à separação, aqui tornou-se ferramenta de união, ligando mundos e tempos num destino comum. E, tal como Miguel Torga, ao percorrer os sabores e os espaços que aqui celebrámos, sentimos que estamos simultaneamente dentro e além da pátria, num Algarve que, ao mesmo tempo que é outro, é profundamente nosso.

 

Vinha dos Santos Branco 2023 e Quinta dos Frades Vintage 2017 | Margens da mesma essência

"Não é a aparência, é a essência. Não é o dinheiro, é a educação. Não é a roupa, é a classe." Coco Chanel

Vinha dos Santos Branco 2023 e Quinta dos Frades Vintage 2017
As palavras de Coco Chanel capturam uma verdade intemporal sobre a procura por autenticidade e qualidade, seja na moda, na vida ou nos vinhos. Na essência de um grande vinho, como na verdadeira sofisticação, o que importa não é o preço ou o rótulo, mas sim o carácter, o cuidado e o respeito pelo processo. 

Vinha dos Santos Branco 2023 e Quinta dos Frades Vintage 2017
Essa parece ser também a filosofia que a Quinta dos Frades adopta ao criar vinhos que, desde o acessível ao exclusivo, traduzem a riqueza do Douro em cada cálice. Na Quinta dos Frades, excelência e identidade encontram-se em harmonia, seja no entrada de gama Vinha dos Santos Branco ou no exclusivo Porto Vintage. Cada um desses vinhos, único no seu estilo, representa a essência do terroir e o legado das castas tradicionais da propriedade.

Vinha dos Santos Branco 2023 e Quinta dos Frades Vintage 2017Esta jornada de produção, marcada pelo compromisso com a autenticidade e a tradição, revela que a verdadeira distinção não está no custo, mas na integridade com que cada vinho é feito. A nova edição do vinho branco de entrada da Quinta dos Frades, sob a orientação do enólogo Diogo Lopes, é uma expressão genuína do terroir de altitude da Quinta do Castelo, localizada em Santa Marta de Penaguião. 

Vinha dos Santos Branco 2023 e Quinta dos Frades Vintage 2017As vinhas, plantadas em tradicionais socalcos e patamares, proporcionam o cenário perfeito para a colheita manual das uvas, garantindo a integridade de cada cacho. Após a vindima, as uvas são cuidadosamente encaminhadas para uma prensa pneumática, onde ocorre uma prensagem suave. O mosto é então arrefecido e submetido a uma decantação lenta de 48 horas a baixa temperatura, antes de passar para a fermentação controlada.  

5.jpgO resultado desse processo é o amarelo claro e cristalino Vinha dos Santos Branco 2023 (8,90€; 85 pts.). No nariz surge com acácia-lima, lichias, limão maduro, pêra e damasco, passando para a boca com secura, intensidade e muita frescura. É daqueles que pede comida ;)

Vinha dos Santos Branco 2023 e Quinta dos Frades Vintage 2017
Já o Quinta dos Frades Porto Vintage 2017 (88,15€; 93 pts.) da Quinta dos Frades representa a exclusividade em sua forma mais notável. Colhidas manualmente nas vinhas centenárias da propriedade, as uvas para este vinho provêm de uma selecção rigorosa dos melhores cachos. A tradição da pisa a pé em lagares de granito mantém viva uma técnica ancestral, permitindo uma extracção complexa e profunda. 

Vinha dos Santos Branco 2023 e Quinta dos Frades Vintage 2017
Este Porto envelhece por dois anos em antigos tonéis de madeira, o que lhe confere uma riqueza e complexidade de sabor incomparáveis, reflectindo de forma singular, o carácter das castas tradicionais da Quinta dos Frades e é perfeito para celebrações memoráveis. Surge no copo quase opaco, apenas com alguns apontamentos violetas, como se a dizer para o não chatearem. No nariz é muito generoso com amoras pretas, mirtilos, cassis, cacau, lagar e esteva. No palato exibe orgulhosamente uma bela harmonia entre açúcar, taninos e acidez. É complexo, untuoso, longo, equilibrado e muito fresco. Digo com toda a certeza que foi dos Porto Vintage novos que mais prazer me deu a beber. A ver se sobrevive ao teste do tempo.

Vinha dos Santos Branco 2023 e Quinta dos Frades Vintage 2017Com esses dois vinhos, em gamas de margens opostas, a Quinta dos Frades demonstra que a excelência e a autenticidade do Douro passaram a ser características de tudo o que lá se produz. Cada rótulo é uma prova de que a verdadeira essência pode ser desfrutada em diferentes formas e momentos, do simples ao sofisticado. Provem-nos que valem bem, a pena.

A Ver Tavira | Abre a quem não bater à tua porta

“Nós somos casas muito grandes, muito compridas. É como se morássemos apenas num quarto ou dois. Às vezes, por medo ou cegueira, não abrimos as nossas portas.”  António Lobo Antunes

 A Ver TaviraEm "As Portas da Percepção" (1954), Aldous Huxley convida-nos a explorar as profundezas da consciência humana e os mistérios ocultos do universo que normalmente permanecem invisíveis aos nossos olhos. Inspirado por uma experiência com mescalina, um psicodélico que altera a percepção, Huxley descreve um mundo que transborda de cores, texturas e padrões antes despercebidos.

 A Ver TaviraEste escritor britânico argumenta que a mente humana, por necessidade de sobrevivência e para garantir a ordem no quotidiano, funciona como uma espécie de “válvula redutora”, limitando o fluxo de estímulos e mantendo apenas o essencial para que possamos funcionar de forma prática.

 A Ver TaviraSegundo ele, o que consideramos “realidade” é apenas uma versão empobrecida do que na verdade nos cerca, filtrada e simplificada para que possamos lidar com ela. No entanto, ao abrir as “portas da percepção”, como Huxley refere poeticamente, podemos experimentar uma expansão dessa realidade limitada. 

 A Ver TaviraNessa nova dimensão de experiência, as coisas comuns tornam-se extraordinárias; uma simples flor é uma explosão de complexidade e beleza, cada detalhe da natureza revela uma vitalidade que transcende a função e a aparência. Para Huxley, essa experiência não é apenas visual, mas profundamente espiritual. Ele acredita que, ao ver o mundo sem os filtros condicionados pelo ego e pela sociedade, podemos vislumbrar uma realidade mais pura e essencial, onde tudo parece interligado.

 A Ver TaviraA metáfora das “portas” é, assim, um chamamento para atravessar fronteiras, para deixar de lado o familiar e confortável, em busca de algo mais vasto e, quem sabe, mais verdadeiro. Ele sugere que todos nós, presos às limitações da percepção ordinária, vivemos como prisioneiros dentro de uma sala com paredes fechadas.

 A Ver TaviraContudo, além dessas paredes, existe um vasto mundo à espera para ser descoberto. Para Huxley, abrir essas portas não é apenas uma expansão dos sentidos, mas uma entrada para o sublime, onde cada detalhe, cada momento, carrega o potencial para transformar nossa visão da vida e do mundo.

 A Ver TaviraAo mergulharmos numa experiência assim, ele sugere que cruzamos uma fronteira invisível para um estado de revelação, onde o que antes era banal se torna iluminado por um novo significado. Tal jornada, além de desafiar os nossos conceitos de “realidade” e “normalidade”, é também uma oportunidade de explorar o desconhecido, por vezes em nós mesmos.

 A Ver TaviraHá uma cidade portuguesa onde essa ligação quase umbilical com a metáforas das portas é bastante significativa: Tavira.  Por lá, as portas e janelas não são apenas aberturas funcionais; elas são quase personagens, feitas para comunicar, proteger e ventilar, para filtrar o calor e moldar a luz, ou mesmo para permitir que brados ecoem pelas ruas.  A Ver TaviraInspirando-se nesta riqueza cultural das portas tavirenses, o restaurante A Ver Tavira convida-nos a atravessar um portal culinário, onde cada prato é uma passagem para novas descobertas. Assim como as portas das casas locais, que protegem e embelezam, criando conexões entre o interior e o exterior, a cozinha do Chef Luís Brito abre caminho para uma fusão entre tradição e inovação, envolvendo o paladar numa experiência que surpreende e conforta. 

 A Ver TaviraNo A Ver Tavira, essa ligação com a cidade e suas tradições ganha vida na selecção de ingredientes que valorizam o que há de mais autêntico na região, e nas janelas amplas que moldam a luz enquanto revelam vistas deslumbrantes do rio Gilão. Assim como as casas que pontuam a cidade com suas portas de madeira e batentes elegantes, o restaurante destaca-se pela maneira única de criar um diálogo entre o ambiente local e as criações modernas servidas no prato.

 A Ver TaviraSob o comando do Chef Luís Brito, cada menu degustação é como abrir uma nova porta para os sabores algarvios reinterpretados com criatividade. As combinações improváveis, que equilibram vegetais frescos e frutos do mar regionais, remetem à diversidade e funcionalidade dos batentes de Tavira, cujos toques distintos identificavam cada lar.

 A Ver TaviraDa mesma forma, cada prato do A Ver Tavira parece bater à porta do paladar com uma proposta única — seja o Carabineiro do Algarve, o Choco da ria formosa, o Porco preto do Zambujal,  ou as raízes e ervas locais que evocam o espírito da cidade. Falemos então de gastronomia...

 A Ver TaviraO menu "A Viagem do Sabor" iniciou com uma “Homenagem à ilha da Madeira”, Gaiado | milho | banana. O gaiado trazia a força salgada do Atlântico, evocando as ondas e a tradição pesqueira da ilha, enquanto o milho lembrava as montanhas e os campos cultivados com dedicação. A banana, doce e tropical, equilibrava o prato, dando-lhe um toque exótico que reflectia o calor e a exuberância da Madeira. 

 A Ver TaviraSeguiu-se Saltieun”,  Sapateira | ovas de truta | especiarias, uma explosão de frescura marinha e exotismo. A sapateira revelava uma riqueza de sabores oceânicos, delicada e cremosa, enquanto as ovas de truta acrescentam pequenas explosões de sabor salino. As especiarias, com o seu perfume envolvente, atravessavam o prato como uma brisa quente, elevando e transformando cada elemento em algo inesperado e vibrante.

 A Ver TaviraO “Mar Profundo”,  Carabineiro do Algarve | limão caviar | cardamomo, é uma viagem aos sabores intensos e misteriosos do oceano. O carabineiro do Algarve trazia uma profundidade rica e suculenta, com uma brisa adocicada que nos remetia para o calor das águas do sul. O limão caviar, com as suas pequenas esferas ácidas, estalavam no palato, refrescando e iluminando cada mordida com uma acidez vibrante que contrastava e intensificava o marisco. O toque subtil do cardamomo acrescentava uma camada aromática, quase etérea, como um eco distante que deixava no ar um exotismo sedutor, quase insinuante. O prato é uma ode ao mar, denso e refrescante, sofisticado e visceral.

 A Ver Tavira“Entre o mar e a terra”, Peixe de linha | caldo de urtigas | chouriço, encontramos a delicadeza do peixe de linha com notas profundas e terrosas. O peixe, fresco e suave, é elevado pelo caldo de urtigas, que traz um verde amargo e mineral, evocando a terra fértil e selvagem. O chouriço, com o seu toque defumado e picante, insinua-se no prato, aquecendo e completando o perfil marítimo com uma robustez que vem da terra. Cada elemento e cada textura destaca o outro, criando uma harmonia inesperada.

 A Ver TaviraPor sua vez, o “Choco da ria formosa”, Choco | arroz | limão verde, inspirado no ataque deste molusco, é uma celebração da simplicidade dos sabores locais, intensos e refrescantes. O choco, tenro, suculento e com um sabor marinho suave, transportava a frescura da Ria Formosa, enquanto o arroz, cozido no ponto certo, absorvia cada essência do mar, conferindo uma textura exótica, cremosa e envolvente. O limão verde acrescentava uma acidez vibrante e cítrica, que cortava a riqueza do prato com um toque revigorante, realçando a frescura do choco e deixando uma sensação leve e refrescante no final. Tal como no ataque do choco, a parte importante está escondida. ;)

 A Ver Tavira“Feito no zambujal”, Presa de porco preto |mexilhão | jus, é uma fusão terrosa e marítima, onde a presa de porco preto, suculenta e robusta, nos brindava com o sabor autêntico do campo, com o toque de doçura e intensidade característico deste corte. O mexilhão, com a sua salinidade delicada, adicionava um contraste surpreendente, lembrando o mar próximo e elevando a carne com uma nota fresca e inesperada. O jus, em forma de elo aglutinador, concentrado e rico, unia os elementos, impregnando cada componente com profundidade e um toque de rusticidade, como uma celebração dos sabores profundos e genuínos da paisagem do Zambujal.

 A Ver TaviraPara terminar, como não poderia deixar de ser, uma porta e 5 dedos que significavam felicidade, sorte e fortuna. “Hamsa”, Mandarina | mirra | bela luísa, é uma sinfonia de aromas delicados e exóticos, onde a mandarina, com sua doçura cítrica e refrescante, trazia uma nota vibrante e ensolarada, quase como o toque inicial de uma brisa mediterrânica. A mirra, misteriosa e resinosamente aromática, acrescentava uma profundidade terrosa e levemente amarga, evocando perfumes antigos e tradições ancestrais. A bela-luísa, com o seu toque herbáceo e cítrico, envolvia o prato com uma suavidade floral e refrescante, ligando cada elemento numa harmonia subtil e envolvente. É um prato que transporta, evocando a frescura e a espiritualidade de terras distantes.

 A Ver TaviraFoi assim que, neste cenário elegante e histórico, rodeado pelas igrejas e pelo antigo castelo árabe, Cláudia Abrantes e Luís Brito nos acolheram no A Ver Tavira com a mesma hospitalidade que enche de vida as ruas desta cidade. Cuidam do restaurante com uma paixão que transparece em cada detalhe, transformando a experiência em algo tão único quanto a própria Tavira.

 A Ver TaviraAqui, como nas portas discretas das casas tavirenses, não há pressa, nem formalidade, apenas um convite implícito para atravessar um limiar de sabores e sentidos. Como sugere o poema de Pessoa, a quem "roubei" o título desta publicação, o convite é silencioso, uma espécie de intuição para aqueles que aceitam o prazer da descoberta em lume brando, sem pressa e sem ostentação.

 A Ver TaviraNo A Ver Tavira, quem realmente "bate à porta" são os sentidos, ávidos para encontrar uma nova linguagem. E, para quem aceita esse convite, cada prato torna-se uma passagem, uma janela onde Tavira se apresenta em nuances que esperam ser reveladas, como um segredo que só se entrega a quem arrisca a deixar o "um quarto ou dois" da sua casa grande e comprida, sem medo ou cegueira, à espera de ser tocado pelo inesperado.

 A Ver TaviraPor lá, a tradição e a inovação entrelaçam-se como um murmúrio antigo reimaginado, levando-nos a revisitar memórias e descobrir novos sabores. Cada garfada é uma surpresa, um vislumbre da Tavira profunda e autêntica, onde cada ingrediente conta uma história. É uma Tavira que se veste de gala, que se maquilha com toques de subtileza para parecer ainda mais bela, sem perder o seu carácter genuíno. A mesa torna-se um palco, e a cidade uma musa, pronta a revelar-se em camadas, como um pergaminho antigo desdobrado. Obrigado por nos terem aberto a vossa porta, mesmo sem termos batido ;)