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No meu Palato

No meu Palato

The Lince Santa Clara & Oculto | A Liturgia do Gesto

“A beleza do cosmos é dada não só pela unidade na variedade, mas também pela variedade na unidade.” Umberto Eco

The Lince Santa ClaraEm O Nome da Rosa, de Umberto Eco, o mosteiro não é apenas cenário, é personagem. Cada corredor, cada vitral, cada livro velho na penumbra da biblioteca, cada sombra projectada pelas grades das janelas geladas, compõem uma tapeçaria de ideias, silêncio, saber e dúvida.

The Lince Santa ClaraO mosteiro de Eco é um microcosmo onde a história, a linguagem e a espiritualidade se entrecruzam. Um lugar onde o conhecimento se cultiva no tempo, nas leituras lentas, no som distante dos incensos, nos ecos de discursos que se perderam no eco das abóbadas.

The Lince Santa ClaraÉ aí que percebemos: o silêncio tem voz, a pedra tem memória, e o sagrado pode ser também humano, dúvida e mistério.

The Lince Santa ClaraMas há outra revelação nessa obra: a de que os livros, tal como os espaços que os abrigam, são simultaneamente relicários do passado e ferramentas para ler o futuro.

The Lince Santa ClaraUm livro é uma forma de continuidade: quando o abrimos, abrimos também um tempo que nos antecede e, muitas vezes, compreendemo-nos melhor o que vai acontecer nas suas entrelinhas.

The Lince Santa ClaraEm cada biblioteca há um pouco de claustro e de laboratório, um espaço para o recolhimento, mas também para a reinvenção. E é por isso que os livros continuam a ser tão modernos: porque nos ligam ao essencial, àquilo que se conserva não por tradição cega, mas por sabedoria provada.

The Lince Santa ClaraOs mosteiros foram, e são, espaços de clausura, sem dúvida. Mas também foram lugares de invenção: de preservação do passado, de diálogo com o que virá.

The Lince Santa ClaraNos seus claustros cresceram a Matemática, a Filosofia, a poesia, a ciência natural; nas suas cozinhas desenvolveu-se doçaria imortal, nas bibliotecas escreveram-se bestiários; e nos seus jardins cultivou-se a paciência.

The Lince Santa ClaraSão templos de contemplação, sim, mas também de renovação, de resistência interior, de passagem de gerações. E quando discutimos modernidade, não é raro descobrir que muitos dos nossos desejos contemporâneos, o conforto, o silêncio digno, a estética apurada, a qualidade regenerada, tiveram já morada nesse legado monástico.

The Lince Santa ClaraPorque modernidade não precisa de ser ruptura. Pode ser continuidade com inteligência: reavivar sem apagar, modernizar sem se divorciar da raiz.

The Lince Santa ClaraO que um mosteiro nos ensina é que o tempo bem ordenado, o espaço bem pensado e a tradição mantida com respeito são elementos de puro luxo. O luxo do essencial: o tempo, a luz, a proporção, o repouso interior.

The Lince Santa ClaraAo longo da história, os lugares de clausura foram também lugares de revelação. Na serenidade das celas, escreviam-se tratados e inventavam-se mundos.

The Lince Santa ClaraNos corredores, discutia-se filosofia, observava-se o céu e ouvia-se o silêncio. Aquilo que hoje chamamos de suntuosidade, tempo, atenção, contemplação, já existia ali, só que em forma de ritual.

The Lince Santa ClaraTalvez seja por isso que alguns espaços antigos se prestem tão bem à reinvenção: porque guardam, nas pedras e nas proporções, uma espécie de sabedoria sobre o essencial.

The Lince Santa Clara & OcultoUm saber-fazer que não se perdeu, mas que agora se transfigura. O conforto e a sofisticação não surgem aqui como adição artificial, mas como natural extensão de um legado. O que era recolhimento, tornou-se repouso. O que era regra, tornou-se ritmo. O que era voto, tornou-se escolha.

The Lince Santa Clara & OcultoIndo ao significado profundo das palavras, o The Lince Santa Clara, em Vila do Conde, está instalado num antigo convento, e não num mosteiro, e isso, ali, faz toda a diferença. Se os mosteiros se voltam para dentro, cultivando o silêncio e a contemplação num espaço fechado e autónomo, os conventos abrem-se ao mundo, integrando-se nas cidades e nas comunidades, onde a hospitalidade, o cuidado e a partilha se tornam formas de presença, missão e acolhimento. É essa vocação aberta, de escuta e diálogo com o que está fora, que hoje se reencontra, subtilmente transformada, em cada gesto deste lugar.

The Lince Santa Clara & OcultoNos seus 87 quartos e suítes, cada espaço foi desenhado como se preservasse a alma original do Convento de Santa Clara. Os nomes das suítes evocam figuras históricas, enquanto as texturas interiores fundem a pedra original com madeiras nobres, tecidos suaves e detalhes artesanais que reavivam memória e conforto.

The Lince Santa Clara & OcultoA luz que entra pelas janelas altas parece dançar sobre azulejos antigos; os tectos mansardados deixam adivinhar o céu em noites enluaradas. Há quartos Heritage onde se ouve o eco do passado, suítes amplas que respiram contemporaneidade. É um convite para ficarmos, para nos demorarmos, para sermos sentidos.

The Lince Santa Clara & OcultoSe a contemplação for companhia, o restaurante Mosteiro acompanha com graça: o menu é curto, mas elegante, feito de escolhas bem ponderadas e produtos locais trabalhados com leveza e criatividade. A gastronomia tradicional portuguesa é mais do que uma herança culinária, é um livro aberto de sabores que contam a história do país em cada garfada.

The Lince Santa Clara & OcultoNeste restaurante, essa tradição ganha nova vida pelas mãos experientes de D. Júlia (a do afamado restaurante em nome próprio de Braga), que transforma ingredientes locais em pratos memoráveis, repletos de alma e afecto. Aqui, o polvo “à lagareiro” partilha mesa com o borrego assado no forno e o peixe grelhado acabado de chegar da lota, numa celebração autêntica da diversidade portuguesa.

The Lince Santa Clara & OcultoDestacámos a voluptuosidade generosa dos Ovos Rotos, Presunto, Espargos e Cogumelos Silvestres; a intensidade atlântica perfumada do Camarão Selvagem ao Alho; a brisa marítima do Arroz de Robalo e Marisco; e a nobreza suculenta do Costeletão de Novilho Maturado. Nas sobremesas, a profundidade indulgente do Petit Gatêaux de Caramelo e a leveza reconfortante do Strudel de Maçã com Molho Inglês.

The Lince Santa Clara & OcultoCom 85 lugares disponíveis, o espaço conjuga a nobreza da hospitalidade nacional com a simplicidade elegante de uma cozinha que não precisa de artifícios para emocionar.

The Lince Santa Clara & OcultoCada refeição é um reencontro com o essencial: sabor, memória e partilha. Chamo ainda a atenção para a carta de vinhos, variada e cheia de qualidade. Experimentem os vinhos da Quinta da Vacaria Reserva, quer o branco, quer o tinto, que não se vão arrepender.

The Lince Santa Clara & OcultoNos interstícios silenciosos do antigo convento, dois bares, distintos na localização, mas unidos no espírito, oferecem pausas com alma e requinte. O Abadessa Concept Bar, situado nos claustros do mosteiro, é mais do que um bar: é um espaço onde a elegância clássica encontra o design contemporâneo, criando uma atmosfera que tanto acolhe como inspira.

The Lince Santa Clara & OcultoCada detalhe, do mobiliário à iluminação, foi pensado para proporcionar uma experiência sensorial plena, seja num fim de tarde descontraído ou numa reunião que pede sofisticação. Os cocktails aqui são verdadeiras composições aromáticas, pequenas sinfonias líquidas que despertam o palato e a conversa.

The Lince Santa Clara & OcultoJá junto à piscina infinita, o Arcos Bar surge como um oásis sazonal onde o tempo abranda e os sentidos se expandem. Com uma paleta de tons neutros que dialoga com a paisagem, este refúgio ao ar livre convida a momentos de pura contemplação, acompanhados por snacks leves e cocktails preparados com o mesmo cuidado que se dedica à arte de bem receber. Um lugar onde o sol, a vista e o sabor se encontram numa harmonia perfeita.

The Lince Santa Clara & OcultoNo coração do antigo convento, onde outrora as Clarissas cultivavam o silêncio como forma de elevação, o Aqueduto Wellness & Spa by Sisley Paris nasce como uma extensão contemporânea desse legado de cuidado e contemplação. Inspirado na sabedoria ancestral e nas práticas de introspecção das religiosas, este espaço convida a um retiro sensorial onde corpo, mente e espírito se alinham num mesmo propósito: o bem-estar profundo.

The Lince Santa Clara & Oculto

A piscina interior espelha tranquilidade e convida à imersão num tempo sem pressa. A sauna, o jacuzzi e o banho turco funcionam como portais discretos para a serenidade, abrindo caminho para um estado de leveza que desarma as tensões acumuladas. Cada recanto do spa foi desenhado para celebrar o silêncio, não como ausência, mas como plenitude.

The Lince Santa Clara & OcultoOs tratamentos exclusivos, como os rituais Vichy, onde a água quente cai em chuva suave sobre o corpo, e a cromoterapia, que utiliza a vibração das cores para restaurar o equilíbrio interior, são mais do que cuidados estéticos: são experiências de regeneração íntima. Aqui, cada gesto tem propósito, cada aroma conta uma história, cada toque é uma promessa de reencontro consigo mesmo.

The Lince Santa Clara & OcultoCom acesso directo a um jardim encantado, onde a natureza parece sussurrar antigas orações, o spa transforma-se assim num santuário de harmonia. Tudo neste refúgio foi pensado para que a modernidade não rompesse com o passado, mas o escutasse, e o renovasse. É o luxo do essencial, da pausa merecida, da beleza que vem de dentro.

The Lince Santa Clara & OcultoE como nos bons livros, onde muitas vezes a última página guarda a revelação mais luminosa, também aqui, entre pedras antigas e gestos renovados, uma das experiências mais inesquecíveis ficou para o fim: Um Restaurante Oculto, discreto, quase secreto, onde o sabor encontra a sua plenitude em silêncio e sob uma luz quase mística.

The Lince Santa Clara & OcultoHá experiências que dispensam apresentações e se instalam directamente no território da memória. O menu de degustação Imersão do restaurante Oculto, liderado pelos chefs Vítor Matos e Hugo Rocha, é uma dessas raras ocasiões em que a sofisticação não afasta, aproxima. Cada prato é uma composição que cruza técnica, produto e emoção num equilíbrio que parece inalcançável até ser provado.

The Lince Santa Clara & OcultoA viagem começa com a Sapateira, acompanhada de ovas de trufa e plâncton, uma combinação inesperada que introduz desde logo o tema principal: o oceano como origem, como matéria e como metáfora.

The Lince Santa Clara & OcultoO sabor é puro, salino, com textura cremosa e frescura vegetal. O Bacalhau, com gema de ovo e trufa negra, prossegue esse caminho: a tradição portuguesa filtrada por uma lente precisa e luxuosa, onde a rusticidade do ingrediente encontra a delicadeza do gesto.

The Lince Santa Clara & OcultoSegue-se um momento particularmente ousado: o Chawanmushi com ouriço-do-mar e vinho da Madeira, um prato que cruza Japão e Atlântico com fluidez, mostrando o domínio do chef Hugo Rocha sobre linguagens distantes. É um custard salgado, envolvente, iodado, onde o doce seco do Madeira traz uma nota oxidada e irreverente.

The Lince Santa Clara & OcultoA Cavala surge em escabeche leve, refrescada por citrinos e pontuada por caviar Baeri: crocante, ácido, profundo, sem nunca perder a leveza. E a Gamba vermelha, um dos pratos mais equilibrados da noite, é servida com ajo blanco, mirim e levístico, num jogo que contrapõe a doçura untuosa da gamba à gordura subtil do creme e à frescura vegetal. Foi o meu momento favorito.

The Lince Santa Clara & OcultoO momento mais inesperado chega com a Moqueca de lagostim. Um prato que respeita a origem brasileira, mas afina a textura e a densidade com elegância europeia. A cenoura surge não como coadjuvante, mas como voz complementar, elevando o prato com o seu tom doce e terroso.

The Lince Santa Clara & OcultoDepois, a Lula, servida com arroz bomba, alho negro e manteiga de ovelha, oferece um dos momentos mais indulgentes do menu: cremoso, profundo, com um jogo perfeito entre gordura, umami e estrutura. Depois, entra em cena a Pescada, com pil-pil, espigos e broa de milho, um prato de alma minhota que surpreende pela precisão da técnica e pela pureza do sabor.

The Lince Santa Clara & OcultoA transição para os sabores de terra faz-se com o Robalo selvagem, acompanhado de cantarelos, topinambo e caviar Oscietra. Um prato de entre o Verão e o Outono, leve, aromático, onde a terra e o mar dialogam sem se anularem.

The Lince Santa Clara & OcultoAs sobremesas surgem como epílogo poético: o Requeijão com mel, abóbora e flores evoca memórias de infância, mas com apresentação etérea. Já o Ananás dos Açores, com coco, especiarias e coentros, fecha a refeição com um sopro tropical e aromático, limpo e revigorante.

The Lince Santa Clara & Oculto O serviço de vinhos, com mais de 500 referências na garrafeira do restaurante, acompanha com sensibilidade e discrição, evidenciando a harmonia entre pratos e copo, sem eclipsar o protagonismo do menu.

The Lince Santa Clara & OcultoNo Oculto, a alta gastronomia assume uma forma quase espiritual: não para impressionar, mas para comover. A ideia de fine dining aqui não é ostentação, mas celebração. Celebração do produto, da origem, do tempo e da arte de cozinhar com verdade. Um jantar que é, acima de tudo, uma experiência de escuta: do mar, da terra, da tradição, do futuro.

The Lince Santa Clara & OcultoCada detalhe, da luz rarefeita à ausência de janelas, das texturas da pedra à cadência pelos diferentes espaços, da introspecção do menu ao silêncio que envolve, parece existir não por acaso, mas por desenho. por muitas outras coisas, mas sobretudo por isto, na minha opinião, este é um dos espaços mais bem concebidos pelo chef Vitor Matos.

The Lince Santa Clara & OcultoTalvez nenhum outro restaurante em Portugal traduza tão bem esta verdade essencial: que o todo, quando guiado por uma visão coerente e sensível, pode ser infinitamente maior do que a soma das partes.

The Lince Santa Clara & OcultoNo fundo, hospedar-se no The Lince Santa Clara é entrar num diálogo entre épocas. É perceber que o conforto não é um luxo moderno, mas uma herança bem cuidada. Que o silêncio pode ser hospitalidade. Que há lugares onde a beleza não se vê apenas: escuta-se. E que há hotéis que, mais do que alojamento, são uma forma de habitar o tempo.

The Lince Santa Clara & OcultoUma forma de viver a unidade na variedade, como queria Eco, onde cada pedra, cada luz, cada sabor e cada gesto participam da mesma liturgia silenciosa: aquela em que passado e futuro se curvam, por instantes, à harmonia graciosa do presente, quase como as notas sussurradas de um piano a ecoar suavemente num bar sereno, onde até o tempo pousa para ouvir.

Novidades da Noval | Uma nova forma de cantar a mesma chama

“A tradição não é a adoração das cinzas, mas a preservação do fogo.”  Gustav Mahler

Novidades da Noval

Em 1927, Virginia Woolf publicava To the Lighthouse, um dos romances mais elegantes sobre o tempo e a forma como ele se infiltra nos espaços mais íntimos da consciência. Mais do que contar a história de um dia, Woolf abria fendas no presente, permitindo que passado, memória e silêncio escorressem pelas margens da consciência.

Novidades da Noval Há uma passagem, breve e quase escondida, em que Lily Briscoe, a personagem central (pintora introspectiva que, ao longo da obra tenta completar a sua tela, uma bela metáfora da busca por sentido e expressão), contempla um instante e diz para si: “Qual é o sentido da vida? Era só isso, uma pergunta simples; daquelas que, com os anos, tendem a apertar-se à nossa volta... A grande revelação talvez nunca chegasse. Em vez disso, havia pequenos milagres diários, iluminações, fósforos acesos inesperadamente no escuro."

Novidades da Noval

É nesse instante que Woolf nos oferece uma chave subtil mas fulgurante: o tempo não se mede em horas, mas em densidade. E algumas verdades só se revelam quando recusamos a pressa e nos demoramos na escuta do que arde em silêncio.

Novidades da Noval

Esses “milagres diários”, pequenos, silenciosos, inesperados, dizem mais sobre a verdade do tempo do que qualquer calendário. Não é a grande revelação que transforma; é a intensidade do instante. Uma luz breve que se acende no escuro. Um momento que vale por todos os outros.

Novidades da Noval Esta ideia de tempo como densidade, não como linha, está presente em tudo o que realmente importa: na literatura, na infância, no amor… e no vinho. Há instantes que não se podem forçar. Só acontecem quando amadurecem. E a maturação, ao contrário do que se pensa, não é um processo passivo. É uma escuta. Uma espera atenta. Um tipo de coragem.

Novidades da Noval Há algo profundamente espiritual em provar um vinho velho submetido a esse tempo transfigurador. É quase um gesto litúrgico: aproximar o copo, sentir o perfume do tempo decantado, escutar o silêncio que se prolonga entre goles.

Novidades da Noval Não é nostalgia. É reverência. Porque sabemos que o que ali está demorou. Demorou a formar-se, a resistir, a encontrar o seu ponto. E há qualquer coisa de comovente nesse respeito que se bebe. Nesse silêncio que se escuta quando o líquido finalmente fala.

Novidades da Noval No Douro, esta relação com o tempo é visceral. A paisagem inteira parece dizer-nos que as coisas mais importantes acontecem devagar. O rio não corre: arrasta-se. As vinhas não crescem: desenham-se. Os gestos não brilham: permanecem. É um lugar onde a pressa se afoga e a memória tem corpo, temperatura e cor.

Novidades da Noval E talvez seja por isso que o vinho, por lá, se sente tão diferente. Porque há um entendimento antigo, quase cerimonial, de que nem tudo se revela quando queremos. Há frutos que só se abrem quando sabem que serão escutados. E há casas que só ousam mudar quando estão seguras da sua voz.

Novidades da Noval Crescer, neste contexto, não é abandonar, é reinterpretar. É não desistir do passado, mas reconhecê-lo com outros olhos, noutras formas. É escutar o que sempre ali esteve, mas de uma maneira nova. E é esse gesto, o de crescer sem trair, que transforma o acto de inovar num acto de fidelidade.

Novidades da Noval Porque há coisas que só acontecem com o tempo. E há raízes que, ao cantarem, não pedem ruptura. Pedem reverberação. Quase um momento, breve mas fecundo, em que o homem se reconhece não naquilo que possui, mas naquilo que evoca.

Novidades da Noval Cantar é isso: dar corpo ao que não tem matéria. É tornar habitável o invisível. É fazer do tempo um lugar e da memória um chão. E, no instante em que a voz se solta, seja em verso, em gesto, em lágrima ou em vinho, nasce a primeira raiz verdadeira: aquela que se entranha não no solo, mas no sentido.

Novidades da Noval Não há terra mais funda do que a linguagem. E, no entanto, não há voo mais largo do que aquele que se escreve com palavras sentidas. Um poema não se planta, mas dá fruto. Uma nota musical não se vê, mas preenche de espaço o corpo. Um aroma não se explica, mas constrange o tempo. A arte, no seu âmago, é essa contradição luminosa: finca-nos e transporta-nos.

Novidades da Noval O canto é isso. Não é performance, é pertença. É o lugar onde o indivíduo se esquece para se lembrar. Quando alguém canta de verdade, não se expõe, funde-se. Com o que foi, com o que é, com o que ainda poderá ser. Como a videira que floresce depois do inverno mais rigoroso, é na fissura que nasce a seiva nova.

Novidades da Noval Cantar é habitar o presente, é lembrar o futuro. É lançar um fio entre o peito e o horizonte. Porque somos ainda aqueles que viajam, mas também aqueles que regressam com as mãos carregadas de histórias. A poesia tem esse poder: não de explicar, mas de revelar. De sussurrar que somos, ao mesmo tempo, chão e céu, musgo e brisa, silêncio e voo.

Novidades da Noval E talvez seja nesse canto íntimo, quase secreto, que começamos a compreender que crescer não é deixar de ser, é tornar-se mais do que já se era. É essa melodia interna que encontramos na Quinta do Noval, lugar de raízes míticas, francas e de voos largos.

Novidades da Noval

Foi com esse espírito,  o de reacender, não de repetir, de fazer ressoar novas possibilidades sem perder o tom original, que a Noval apresentou os seus novos vinhos. Brancos e tintos conseguiram aguentar a responsabilidade de assumir o centro do palco ao lado dos lendários Portos Vintage, e com eles, um gesto claro: o de quem sabe que inovar não é mudar de língua, é aprofundar o vocabulário. Falemos então do que por lá se provou...

Novidades da Noval O amarelo-limão Passadouro Branco 2024 (15.00 €, 89 pts.) abre com um nariz cativante, dominado por fruta tropical madura, doce, mas limpa, num registo aromático envolvente que remete para ananás fresco, manga subtil e um leve toque de fruta de caroço. Na boca, o contraste é feliz: a entrada é fresca, com acidez viva e linear, e uma tensão mineral que atravessa o vinho do início ao fim, conferindo-lhe estrutura e precisão. A fruta, contida, surge envolvida por uma espinha de frescura que realça o lado mais delicado e elegante do perfil. A barrica, muito bem colocada, surge apenas como pano de fundo, arredondando o conjunto sem nunca se impor. O final é seco, com boa persistência e um eco mineral que acrescenta profundidade. Um branco desenhado para mostrar a pureza e a subtileza da fruta, com mais delicadeza do que exuberância, e isso é uma virtude.

Novidades da Noval O Cedro do Noval Reserva Branco 2024 (26.00 €, 91 pts.), de tom citrino pálido com laivos esverdeados, apresenta um nariz bonito e elegante, onde a fruta (pêssego branco, lima madura) se entrelaça com tomilho-limão e uma delicada nota floral, como se tudo tivesse sido colhido antes do calor do dia. O perfume é discreto, mas preciso, revelando-se lentamente, com a serenidade de quem não precisa de se apressar para ser notado. Na boca, a promessa mantém-se: a entrada é fresca, ampla e profundamente equilibrada. O volume é generoso, sem ser pesado, e a acidez viva conduz o vinho com leve nervo, há ecos de toranja e damasco que trazem brilho e densidade ao conjunto. A madeira, usada com moderação, não marca o perfil, mas aparece subtilmente na textura e num leve polimento tanino no final, que dá estrutura sem dureza. Termina longo, seco, mineral, com uma pegada elegante e uma ligeira tensão que dá ritmo à despedida. Um branco de grande precisão, que fala baixo, mas diz muito.

23.jpgJá o Quinta do Noval Reserva Branco 2024 (65.00 €, 92 pts.), surge no nariz contido, curioso mas firme, revelando notas florais muito finas, envoltas numa camada delicada de fruta branca madura e citrinos discretos. A madeira surge em segundo plano, com abaunilhados subtis, sem dominar o perfil, antes sugerindo complexidade e profundidade. Na boca, o vinho é sóbrio, com acidez firme e uma tensão mineral que o percorre do início ao fim. Há uma austeridade elegante no centro do palato, com fruta contida e estruturada, acompanhada de uma sensação quase texturada, onde a barrica se faz sentir por dentro, mais na espessura do que no sabor. Um registo levemente amanteigado surge no final, que é seco, prolongado e muito puro. Um branco sério, preciso, se bem que ainda tímido e reservado, daqueles que convidam mais à escuta do que à celebração imediata, e que prometem revelar mais à medida que o tempo lhe afrouxar essa contenção.

Novidades da Noval Nos tintos, o Cedro do Noval Tinto 2022 (15.00 €, 89 pts.) mostra-se desde o início com uma expressão intensa e atraente: ameixa vermelha madura, notas florais e um toque de madeira fina, envolta em apontamentos de especiarias secas e um leve eco de cacau. Há profundidade, mas também ponderação, nada se impõe em excesso. Na boca, a primeira impressão é de frescura: a fruta, agora mais crocante, revela-se com tensão e um lado austero que só acentua a sua elegância. A estrutura é firme, suportada por taninos definidos e secos, com sugestões discretas de alcaçuz que acrescentam carácter. O final é longo, sério, com uma ligeira nota amarga, quase como pétala de rosa ressequida, que acrescenta complexidade ao fecho. Um tinto surpreendente pela densidade e precisão, sobretudo tratando-se de um "entrada de gama" da Noval. Estas aspas tinham mesmo de ser colocadas. Há aqui mais verticalidade do que volume, e isso é um elogio.

Novidades da Noval Quinta do Noval Touriga Nacional 2022 (36.00 €, 92 pts.), rubi profundo, abre com um nariz cativante, onde a violeta domina com graciosidade e precisão, acompanhada por notas frescas de cereja silvestre, especiaria delicada e um leve traço limonado que confere tensão e brilho. Há algo de floral e etéreo que se equilibra com uma base de fruta bem definida, doce no aroma, mas nunca excessiva. Na boca, o vinho revela-se cheio mas fino, carnudo, sumarento e acutilante. A fruta surge limpa, quase cristalina, com uma pureza notável e uma ligação subtil à madeira, que mais do que intervir, serve de moldura. O centro de prova é mineral, amplo, com sugestões de chocolate preto e pimenta branca a surgirem em fundo. A textura é firme, de taninos finos mas presentes, que sustentam um final salivante, prolongado e vibrante. Há aqui um equilíbrio raro entre delicadeza e peso, entre elegância e profundidade. Um exemplar de Touriga que honra o Douro pela via da contenção inteligente, mais murmúrio que clamor, e por isso mesmo, memorável.

Novidades da Noval O nariz do Quinta do Noval Reserva Tinto 2022 (65.00 €, 94 pts.) é preciso e sedutor, com um perfil limpo e fresco: há fruta vermelha irreverente entrelaçada com sugestões de sous-bois, madeira nobre e um toque de Midas resinoso a louro e cedro. Não é um vinho que se revele de imediato, pede atenção, recompensando-a com nuances discretas, mas densas. Na boca, mostra uma tensão contida, como se a energia estivesse enrolada sobre si mesma. A estrutura é firme, polida, sustentada por taninos maduros que embalam a prova com elegância, sem peso. As notas de fruta escura surgem no meio do palato, ameixa preta, mirtilo, leve especiaria, com apontamentos de grafite e um eco apimentado que se intensifica na persistência final. É um vinho com camadas, precisão e tempo dentro de si. Não procura encantar à primeira prova, mas impõe respeito pela sua arquitectura silenciosa. Uma reserva que privilegia a profundidade sobre o brilho, e cuja melhor versão, adivinha-se, ainda está por vir.

Novidades da Noval O último dos tintos é um vinhaço. O Quinta do Noval Terroir Series Vinhas do Passadouro Tinto 2021 (250.00 €, 97 pts.) surge confiante, estruturado e seguro da sua identidade. No nariz, há uma combinação cativante de amora silvestre, folha de louro seca e uma nota subtil de alcaçuz, com a madeira a surgir levemente, bem integrada, sem cobrir a expressão da fruta. A intensidade é firme mas nunca ruidosa, como quem sabe o que tem a dizer e o faz sem pressa. Na boca, a prova confirma a aristocracia e seriedade do vinho: entrada suave, textura envolvente e taninos bem definidos que lhe conferem estrutura e longevidade. A fruta escura mantém-se limpa e viva, acompanhada por apontamentos de especiarias finas (cravinho e cardamomo) e cacau. Há profundidade e tensão, mas também brilho, como um tinto em estado de contemplação, cheio de camadas e promessas. O final é extenso, preciso e deixa uma impressão quase táctil no palato. Um vinho com alma duriense e ambição tranquila, feito para ser escutado com atenção, agora e nos muitos anos que virão.

Novidades da Noval Nos Portos, desde o primeiro momento, que Passadouro Vintage 2023 (95.00 €, 92 pts.) deixa transparecer a sua origem, o Vale de Mendiz, com uma assinatura aromática límpida e expressiva: fruta preta do bosque em estado puro, com camadas de cereja escura, mirtilos e uma sugestão discreta de lavanda. O nariz é intenso, mas não exuberante, guarda uma contenção que revela mais do que promete. Na boca, é onde verdadeiramente brilha: a fruta surge precisa, envolta em frescura, com uma textura quase aveludada que cobre o palato com elegância. Os taninos, polidos e presentes, sustentam o corpo do vinho sem agressividade, oferecendo uma espinha dorsal firme, mas delicada. A meio da prova, surgem apontamentos de chocolate preto e um toque balsâmico que refresca e prolonga. O final é envolvente e contínuo, com equilíbrio notável entre densidade e leveza. Um Vintage que conjuga pureza e maturidade com uma serenidade rara, já encantador agora, mas claramente com a nobreza necessária para envelhecer com dignidade e subtileza.

Novidades da Noval O Quinta do Noval Vintage 2023 (120.00 €, 95 pts.), de porte rubi profundo, opaco, com bordas violáceas surge no nariz com contenção ecléctica: apontamentos herbáceos frescos de folha de oliveira entrelaçam-se com flor seca, cereja preta e groselha, seguidos de figo maduro e um traço subtil de especiaria que desperta e instiga. É um aroma que não se impõe, convida. Na boca, a contenção do início dá lugar a uma prova vibrante e estruturada, marcada por uma fruta pura e tensa, quase lapidada. A acidez bem posicionada realça o perfil vertical do vinho, enquanto os taninos, firmes, finos, elegantes, sustentam uma prova de grande amplitude e nitidez. Há camadas de fruta preta envolvidas num registo levemente apimentado e mineral, como se o xisto falasse com delicadeza mas convicção. O final é notável: longo, sereno, profundamente expressivo. A fruta prolonga-se com clareza e frescura, deixando no palato a impressão de um vinho com alma e longevidade. Um Vintage de enorme classe e profundidade, com a firmeza tranquila de quem sabe envelhecer em grande estilo.

Novidades da Noval O cabeça de cartaz, Quinta do Noval Nacional Vintage 2023 (1200.00 €, 100 pts.) surge de manto profundamente carregado, quase opaco, impondo-se desde a primeira nota. Não pode haver dúvidas de quem se trata. No nariz, é aparentemente pouco conversador, como que a testar quem o escuta, mas bastam alguns instantes para que revele uma cascata de camadas: groselha negra, ameixa madura, cassis, jasmim e uma nota terrosa mineral que lembra pedra molhada e cacau. Há uma elegância quase austera neste silêncio inicial, como se o vinho se exprimisse através do mistério. Na boca, a tensão é notável, firmeza sem rigidez, densidade sem peso. Os taninos são amplos, envolventes, muito presentes, mas perfeitamente maduros. Há uma energia vibrante que percorre a estrutura, com fruta negra sumarenta a brilhar no centro da prova: cereja preta, amora silvestre, damasco. A acidez precisa mantém tudo em equilíbrio e oferece frescura a cada camada revelada. O final é longo, tenso, profundo e ainda assim nítido, com uma doçura medida que se dissolve lentamente em notas minerais, chocolate preto e alcaçuz. Um vinho que conjuga poder e contenção, gravidade e luz, volume e recorte. É um Nacional na sua forma mais pura: não apenas grandioso, mas meditativo, como uma partitura escrita para durar. Um vinho de culto, para envelhecer em silêncio e ser contemplado em plenitude.

Novidades da Noval Depois da apresentação desta selecção notável de vinhos seguiu-se um almoço na Noval onde podemos conversar com mais alguns exemplares desta casa.  O Quinta do Noval Tinto 2005 (ainda poderoso, exibe fruta madura e presença balsâmica, onde a madeira continua marcante, mas os taninos, embora robustos, integraram-se com elegância: um tinto que caminha com gesto leonino entre força e equilíbrio);  o Quinta do Noval Reserva Tinto 2018 (espetacularmente estruturado, denso, poderoso e fino ao mesmo tempo, com taninos firmes e fruta negra bem equilibrada);  o Vinhas da Marka Tinto 2019 (outro monstro, exibe pureza e frescura impecáveis,aA fruta é ligeiramente doce, equilibrada por uma acidez vibrante e taninos comedidos mas presentes); o Quinta do Noval Colheita 2007 (complexo no nariz, com fruta seca e elegância caramelada, a textura é sedosa, com taninos suaves, evoluindo num final longo dominado por telha de amêndoas e alcaçuz); e o Noval Vintage 2003 (um clássico antigo, amplo, complexo e mineral com uns figos, cravinho, charuto e couro deliciosos).

Novidades da Noval

Noval Vintage Nacional 2003 é uma bela metáfora para toda esta prova. Num momento de magnificência e com um bouquet profundo e envolvente, com lavanda, cassis, especiarias e um leve traço de mirtilo que acrescenta frescura. Na boca, apresenta-se cheio e cremoso, com taninos finos, perfeitamente polidos, e uma textura onde se entrelaçam notas de alcaçuz e um perfil floral delicado. A prova é estruturada, mas harmoniosa, com camadas de fruta madura sustentadas por uma tensão mineral que percorre o palato até um final longo, preciso e elegante. Um vinho imponente. Um contraponto brilhante: apesar da juventude, já coloca no copo profundidade, tensão e enorme promessa. Fruta pura, estrutura sólida e potencial para evoluir de forma ainda mais majestosa, uma ponte entre o passado, o presente e o futuro da Noval.

Novidades da Noval E talvez seja esse o grande ensinamento desta prova: que o vinho, quando é verdadeiro, não é feito apenas para o agora, mas para aquilo que o agora ainda não sabe. Que há vinhos, como há pessoas, livros, lugares, que precisam de tempo para se revelarem. E que há casas, como a Quinta do Noval, que sabem que crescer não é correr: é escutar a própria voz até que ela, mais do que ser ouvida, seja reconhecida. Porque quando aquelas raízes cantam, é o mundo inteiro que se silencia para escutar. E é aí que a tradição deixa de ser um altar de cinzas para se tornar lume vivo. Não se honra o passado repetindo-o até à exaustão, mas permitindo-lhe arder de novo, com nova lenha, nova forma, nova luz. A Noval não congela o legado: acende-o.  E nessa combustão controlada, entre memória e gesto, entre contenção e ousadia, encontramos aquilo que é mais raro: uma casa que não apenas guarda o fogo, mas sabe reacendê-lo. E isso, no vinho como na vida, é o que verdadeiramente perdura. Não o que se conserva intacto, mas o que arde de novo ... com a mesma chama.