Saltar para: Post [1], Pesquisa e Arquivos [2]

No meu Palato

No meu Palato

AdegaMãe 221 2017 | Entrelinhas de expressão

"Eu gosto do estranho, do incomum. Gosto daquilo que confunde, que permite diferentes interpretações, que fica nas entrelinhas." Martha Medeiros

Adega Mãe 221 2017 A nível europeu, os "vinhos de topo" são normalmente sinónimo de vinhas especificas, produtores com pedigree ou de regiões afamadas, todos eles com um evidente terroir único. Mas não na Austrália, cujos produtores de vinho são provavelmente os mais inovadores e também os mais livres de preconceitos. Pensemos num dos vinhos australianos mais icónicos: o Penfolds Grange BIN 95...

Adega Mãe 221 2017 O intuito inicial deste Penfolds Grange era o de “ser como um dos melhores Bordéus”, capaz de envelhecer nobremente por um bom par de décadas. Em 1949, o seu criador, o enólogo Max Schubert, visita Bordéus e a Borgonha, apaixonando-se pelos blends franceses. Regressa depois à Austrália, determinado a produzir vinhos com a mesma complexidade e capacidade de envelhecimento. Para tal teria de seleccionar a melhor casta (a sua escolha recaiu na Syrah), avaliar o melhor terroir e conjugar parcelas de diferentes vinhas de modo a que se complementassem no vinho final. 

Adega Mãe 221 2017 Após inúmeras tentativas, Max Schubert apercebeu-se que só havia uma maneira de atingir o seu objectivo: tinha de misturar uvas de 3 regiões diferentes. Este vinho estranho e incomum desencadeou uma onda de inovação, optimismo e ambição na Austrália do pós-guerra, onde a ciência inovadora do químico-vínico Ray Beckwith e a vinificação irreverente de Max Schubert colidiram de frente com as forças conservadoras, resistentes e de "vistas curtas", que por vezes estão presentes no sector do vinho. A verdade é que o Penfolds Grange foi conquistando apreciadores, ganhando concursos e quebrando preconceitos. 

Adega Mãe 221 2017 Hoje em dia é um dos vinhos australianos mais caros (na casa dos 500 euros) e é mundialmente conhecido pelo seu perfume concentrado e intenso, taninos maduros e notas deliciosas a madeira resultantes do envelhecimento em barricas novas de carvalho americano durante 20 meses.  Nos seus melhores anos cresce irrepreensivelmente em garrafa durante meio século!!! É estranho que num país como o nosso, conhecido pelos seus blends, esta prática disruptiva não ter tido mais acolhimento. Uma das felizes excepções é o AdegaMãe 221

Adega Mãe 221 2017 Um vinho assinado pelos enólogos Diogo Lopes e Anselmo Mendes, num exercício que reedita a viagem desta variedade por terroirs distintos, e que integra um blend com 50% de Alvarinho da AdegaMãe (Torres Vedras, na Região de Vinhos de Lisboa) e 50% de Alvarinho de Anselmo Mendes (Monção, na Região dos Vinhos Verdes). O seu objectivo era o de expressar conjuntamente o perfil mais austero de Monção e a salinidade tão particular de Lisboa: duas regiões, dois enólogos, uma casta. Na edição de 2017, após a fermentação em madeira e seleccionadas as melhores barricas, os dois lotes, foram integrados na AdegaMãe, iniciando um estágio de três anos em garrafa. 

Adega Mãe 221 2017 Todo este tratamento VIP fez com que o AdegaMãe 221 2017 (25.00 €, 91 pts.) trajasse um amarelo palha muito sedutor, exibindo no nariz, bastante complexo, pera, casca de laranja, jasmim, lichias, mel, subtis brisas salgadas, um delicioso maçapão e umas notas fumadas muito bem integradas. No palato para além de uma textura crocante mostra um excelente volume. É muito fresco, estruturado, untuoso e muito equilibrado. Mas tem ainda mais qualquer coisa. É um vinho que "confunde", que permite diferentes interpretações, que fica nas entrelinhas e eu gosto disso. Foi o par ideal para "dançar" com um Rolo de tamboril e presunto, lentilhas e espuma de marisco

Adega Mãe 221 2017 Ressalvo ainda que esta abordagem deve, na minha opinião, apenas ser considerada para os "extremos de valor da cadeia vínica", ou para os mais acessíveis em que o consumidor não está propriamente preocupado com o conceito de terroir, ou para vinhos de topo onde o consumidor percebe que a vitivinicultura de precisão e a enologia inovadora têm necessariamente de ser reflectidas no preço final do vinho. Dito isto, aquilo que o AdegaMãe 221 2017 nos proporciona é bem maior do que aquilo que se tem de pagar por ele.  

 

Rolo de tamboril e presunto, lentilhas e espuma de marisco:

-Temperem os pedaços tamboril com sal, pimenta e um pouco de noz-moscada. Enrolem-nos em presunto e levem-nos ao forno durante 10 minutos a 220ºC;

-Cozam as lentilhas em água, acrescentando sal e uma folha de louro. Depois de estarem cozidas coem-nas e levem-nas a saltear levemente (1 minuto) em azeite, alho e um pouco de toucinho fumado. Temperem com pimenta e um pouco de brandy;

-Fervam durante 20 minutos umas cabeças e cascas de camarão em leite. Depois do preparado anterior arrefecer, façam uma espuma com um auxilio de uma varinha mágica (eu usei a Aeroccino da Nespresso).