Crowne Plaza Vilamoura | Sonhos sem ter de quê
“O povo português é, essencialmente, cosmopolita. Nunca um verdadeiro português foi português: foi sempre tudo.” Fernando Pessoa
Gostam de Monty Python? Caso não os conheçam, faço-vos um resumo (muito resumido) dizendo que, muito provavelmente, este grupo de sátira britânico foi a maior/melhor escola de comédia dos humoristas, que hoje em dia e a nível mundial fazem sucesso (se gostam de Saturday Night Live, vão-se apaixonar por Monty Python).
Eohn Cleese, Graham Chapman, Terry Jones, Michael Palin, Eric Idle e Terry Gilliam compunham a trupe que decidiu denominar o projecto como "Monty Python’s Flying Circus", porque, segundo eles, “Monty Python” fazia alusão a um agente artístico manhoso. Os Monty Python revolucionaram o humor, quer na televisão quer no cinema, mais isso é pouco para os classificar justamente.
Como Lauchlan Chipman (um professor de filosofia de Oxford) uma vez disse, este grupo provocou “um corte epistemológico sísmico no humor e na comédia em geral”. Tiveram um impacto tão grande, que pessoas como eu, nascidas já após o lançamento do seu ultimo filme em 1983, continuam a achar-lhes um enorme piadão, mesmo em sketchs já com mais de 40 anos.
Mas hoje, o cerne da história não são os Monty Python (prometo que ficam "guardados" para uma próxima) mas sim um desses sketchs, na qual os Monty Python planeiam entrar em guerra com os romanos. Para "legitimar" essa violência gratuita, acabam por colocar a questão: "Não tenhamos pena deles, afinal, que raio é que os romanos nos deram?".
Até que alguém responde sarcasticamente: "Bem, tirando o saneamento, a medicina, a educação, a ordem, a justiça, a irrigação, os vinhos, as estradas, os aquedutos e a saúde pública ... nada!!!"
Uma descrição divertida, mas bastante precisa de como a Roma antiga influenciou o desenvolvimento da sociedade moderna, um pouco por toda a Europa. Mas será que também lhes devemos o Algarve e a maneira como o (vi)vemos?
A sua posição geográfica, perto de antigas rotas comerciais marítimas, fez com que o Algarve, ao longo da sua história, tivesse sido invadido e povoado por várias vezes e por diferentes tribos. Os Cónios (séc. VIII a.C.) foram os seus primeiros habitantes.
Depois chegaram os Fenícios e mais tarde os Cartagineses (que fundaram Portimão em 550 a.C.). Os romanos invadiram não só o Algarve como também toda a Península Ibérica em 218 a.C., na mesma altura em que o líder cartaginês, o temível Aníbal, marchava com as suas tropas em direcção a Itália para atacar Roma. Os cartagineses que foram deixados para trás sob o comando do irmão de Aníbal (Hanno), foram então atacados pelos romanos (rezam as crónicas que numa proporção de 2 para 1) e foram rapidamente derrotados. No entanto, os cartagineses regressaram de Roma para defender a "sua" península e recuperaram imediatamente parte do seu controlo.
A guerra continuou por mais 13 anos até 205 a.C., altura em que os romanos finalmente derrotaram os cartagineses, assumindo o controlo de toda a Península Ibérica, particularmente do Algarve e da sua posição geo-estratégica. Diz-nos a história que o Algarve foi usado como "posto de controlo" das viagens atlântico-mediterrâneas e como campo de treino dos principais oficiais do exército romano.
Perto de onde hoje fica Vilamoura ainda podemos encontrar evidências da existência de um lago e de uma "barragem" que fornecia a água preciosa aos soldados romanos. Mas para mim (bah, e também para um outro historiador ;)) existem mais dois motivos para os romanos se terem deixado ficar pelo Algarve.
Primeiro, as vinhas que trouxeram consigo deram-se muito bem com os solos e ares do Algarve, produzindo vinhos macios, aveludados e quentes. O segundo, e para não dizerem que justifico sempre tudo com o vinho, tem a ver com o facto dos romanos saberem "levar a vida".
Eles acreditavam numa espécie de terapia pela água, que podia curar quase todos os males. Não é por acaso que um pouco por todo todo o império romano havia este costume de tratar o corpo e a mente através da água e dos banhos. Esta era, aliás, uma das actividades mais comuns na cultura romana, praticada por quase todas as classes sociais.
Embora muitas culturas vissem e ainda vejam o banho como algo muito privado, realizado ocultamente em casa, o banho em Roma (e em todo o seu império) era uma actividade comunitária. Ainda que os muito ricos pudessem pagar instalações de banho nas suas casas, a maioria das pessoas tomava banho nos banhos comunitários (as termas), que em alguns aspectos se assemelhavam aos SPAs modernos.
Os romanos transformaram essa devoção à agua em cultura ao socializarem e criarem laços afectivos através desses banhos comunais. Felizmente, hoje em dia não precisamos de derrotar o temível Aníbal e o seu sangrento exército para desfrutar do poder revitalizante através da água que o Algarve nos dá.
Para honrar este legado romano com mais de 2000 anos e revigorar o corpo (e a mente) após este confinamento, nada melhor que planear o regresso à nova "normalidade", quando a pandemia o permitir, com uma visita ao Crowne Plaza Vilamoura, em pleno palco de todos estes acontecimentos históricos.
Tivemos o prazer de o visitar em Setembro passado, em segurança e segundo todas as normas da DGS (tudo está pensado para reduzir os contactos, desde o check-in/check-out online, até à higienização constante dos espaços, passando pelo distanciamento físico entre famílias/grupos nos diferentes espaços).
Este hotel tem uma localização privilegiada na cosmopolita praia de Vilamoura, encontrando-se ao lado do Casino e a curta distância da Marina. Beneficia ainda de excelentes acessibilidades, com os campos de Golfe de Vilamoura (a cerca de 5 minutos de distância) e o Aeroporto de Faro (a apenas 20 minutos de carro).
Os quartos decorados com extremo bom gosto (tons suaves de marfim, texturas naturais e uma casa de banho elegante e num ambiente open space), possuem varandas mobiladas. O nosso (Junior Suite) tinha ainda uma vista frontal para o mar simplesmente arrebatadora.
Para além de uma enorme piscina exterior de frente para o mar e um extenso areal com espreguiçadeiras e sombras, o Clube Infantil Peter Pan (que fez as delicias da Bia) disponibiliza snacks de boas-vindas e um filme de animação diário, enquanto que os adultos podem desfrutar de uma massagem relaxante no Almond Tree Wellness Spa (apenas com o intuito de honrar os romanos, nós até não gostamos muito desse tipo de coisas ;)).
Além do serviço de quartos disponível 24 horas por dia, o restaurante do hotel (Restaurante Cataplana) serve diariamente uma mistura de cozinha regional e internacional. Por sua vez, o Bar Caravela propõe uma variedade de bebidas e de aperitivos, estando ainda disponível uma esplanada de Verão com vista para o mar com snacks e churrascos. Tudo isto é claro, na companhia dos tais vinhos macios, aveludados e quentes do Algarve ;).
O pequeno-almoço (assim como todas as refeições) tem muita quantidade, variedade e qualidade, sendo servido pelos funcionários do hotel e com um acrílico que impede a aproximação excessiva dos clientes à comida. O serviço é eficaz, seguro, competente e bastante próximo, sem se tornar evasivo. Este é um hotel cosmopolita que nos faz querer ser tudo, numa relação simbiótica com o mar que o embala e adorna.
Fernado Pessoa certa vez disse sobre o mar: "Olhando o mar, sonho sem ter de quê. Nada no mar, salvo o ser mar, se vê. Mas de se nada ver quanto a alma sonha! De que me servem a verdade e a fé? Ver claro!"
Por vezes o mar é bom exactamente para isso, para além de nos purificar o corpo e a alma, tem o condão de nos fazer sonhar, ainda que por vezes, especialmente em tempos como os que vivemos, sejam sonhos sem ter de quê. Façamos como os Romanos, ganhemos primeiro esta batalha, para depois nos banharmos. ;)