Dona Matilde Colheita Porto 2013 | O teu Porto a teu jeito
"Trago-te em mim, mesmo que chova no verão. Queres dizer sim, mas dizes não ... vamos fazer o que ainda não foi feito." Pedro Abrunhosa
A história do vinho do Porto, começa em ... Inglaterra. ;) Como o Reino Unido não possuía as condições climatéricas adequadas para o cultivo da vinha, os seus cidadãos, normalmente, importavam vinho da França. Mas durante as guerras franco-britânicas (séculos XVII e XVIII) a Inglaterra boicotou o vinho francês de modo a tentar enfraquecer economicamente o inimigo. Havia então a necessidade de importar vinho de outro lugar...
Naquela época, os vinhos portugueses eram sobretudo vinhos baratos, sem grande complexidade e, muitas vezes, sem a robustez que lhes permitisse uma longa viagem de barco até Inglaterra. Diz-se na tradição popular que o processo de fabricação do vinho do Porto foi inventado nessa altura, acidentalmente, por dois irmãos que fortificaram o vinho com aguardente vínica para manter sua vivacidade, fruta e qualidade durante tão desafiante viagem.
Deste modo o vinho ganhava alguns aromas provenientes do carvalho, mantinha uma fruta muito fresca e uma doçura genuína, passando também a exibir aquela pujança extra resultante da adição aguardente que os ingleses tanto gostavam. Este método foi aperfeiçoado por Portugueses e Ingleses nos séculos seguintes, e é também por isso que muitos Porto carregam nomes britânicos (Taylor, Croft, Graham's, Cockburn's, Dow's, entre muito outros).
Deste trabalho conjunto resultaram 4 perfis de Porto distintos, muito genericamente: os Rubis (tintos) exibem uma cor profunda e incluem as categorias Vintage, Late Bottled Vintage, Crusted e Rubi, não passando mais de 3 anos em barrica; os Tawnys são envelhecidos em barricas por mais de 4 anos e usualmente são mais doces que os rubi e com sabores a frutos secos e caramelo; os Brancos são feitos com uvas brancas indígenas incluindo Rabigato, Viosinho, Gouveio e Malvasia; os Rosés são um estilo mais recente (e controverso) feito a partir de uvas tintas e com sabores a morango e caramelo.
Nos Tawnys, as categorias superiores são os Tawny 10, 20, 30 e 40 anos ( são produzidos a partir da mistura de vinhos do Porto de diferentes anos e o número exibido no rótulo, que os distingue, representa apenas a média de idade desses vinhos) e os Colheita (produzidos a partir de um único ano, normalmente provenientes de lotes especiais e mantidos em barrica por um período mínimo de sete anos).
Normalmente, não são "lançados" muitos Colheita com apenas sete anos de envelhecimento em barrica, um bom exemplo deste estilo é o Dona Matilde Colheita Porto 2013 (88 pts., 34 €). Resultante de uvas colhidas nas vinhas de baixa altitude da quinta e de uma posterior selecção dos lotes com maior qualidade e envelhecidos em cascos (de 600 litros) com dezenas de anos, exibe um traje vermelho-romã aloirado e aromas deliciosos a fruta vermelha compotada (ameixa, morango e cereja), doce de amora silvestre, cassis, figos secos, chocolate, caramelo, baunilha e pinhão tostado.
Se o deixarmos um pouco mais de tempo no copo surgem umas notas deliciosas a iodo, que o tornam muito complexo. Na boca é denso, longo, largo e com uma acidez muito equilibrada. Foi o parceiro ideal para um Fondant de Chocolate e cassis com gelado de baunilha e pimenta preta.
O número de aromas que lhe encontrei no nariz faz com que este vinho tenha uma alma muito própria, pois carrega a fruta intensa e pura dos Rubis e as notas deliciosas da madeira dos Tawnys. Algo que, nesta gama, ainda não havia sido feito com esta qualidade, parabéns!!! Foi por isso que "roubei" umas frases ao grande Pedro Abrunhosa para caracterizar este Porto, um vinho feito a seu jeito.
Fondant de Chocolate e cassis com gelado de baunilha e pimenta preta:
-Pré-aqueçam o forno a 180ºC e untem com manteiga 6 formas de queque. Polvilhem com chocolate em pó as paredes previamente barradas com manteiga e disponham as formas num tabuleiro de ir ao forno;
-Coloquem 90 g de manteiga e 100 g de chocolate (preto com mais de 70% de cacau) numa tigela que suporte temperaturas altas;
-Coloquem a tigela referida anteriormente numa panela de água quente (mas sem estar a ferver). Mexam frequentemente até que os ingredientes derretam e formem uma mistura aveludada. Retirem a tigela da panela e esperem até que arrefeça;
-Enquanto esperam que a tigela arrefeça, batam (usando uma batedeira eléctrica) numa tigela grande 2 ovos grandes, 2 gemas de ovos grandes e 50 g de açúcar em pó. Batam até esta mistura triplicar o volume inicial;
-Com cuidado incorporem na mistura anterior o preparado de chocolate e depois 20 g de farinha e 1-2 gotas de aroma de cassis. Distribuam esta mistura pelas formas;
-10 minutos antes de servirem coloquem o tabuleiro com as formas no forno por 7-8 minutos (este tempo depende do vosso forno e das formas que usarem, se for a primeira vez convém ir testando a partir dos 6 minutos);
-Sirvam com um gelado de baunilha e pimenta preta.