Douro Boys auction 2019 | Semear o futuro colhendo memórias
Vamos soltar o Marty McFly que há em nós e viajar, no carro que o Doc Brown nos criou, até o longínquo ano de 2002? (Se não sabem quem é o Marty McFly ou o Doc Brown, podem parar de ler isto pois estão-me a fazer sentir velho ;))
O euro acabou de entrar em circulação, o Senhor dos Anéis e o Homem Aranha são campeões de bilheteira (Gollum imortaliza o "My precious"), o Michael Jackson quase deixa cair um bebé de uma varanda em Berlim, a Alicia Keys arrecada 5 Grammys, toda a gente joga o Sims e a Sanyo lança o SCP-5300, o primeiro telemóvel com câmara fotográfica (é isso meus amigos, já passaram 17 anos)!!! Por cá, em Portugal, deprimíamos com o péssimo mundial na Coreia/Japão. Mas nem tudo é mau. Cinco viticultores portugueses visionários reuniram-se com um grande sentimento de missão para fundarem o grupo "Douro Boys".
Podemos dizer com algum grau de certeza que foram os seus pais que inspiraram este passo corajoso, o de criar um denominador comum que conseguisse promover o vale do Douro, região que mais de há duas décadas, era conhecida, sobretudo em pequenos círculos de conhecedores relacionados o vinho do Porto. Os vinhos tintos tinham "bebedores" apenas em Portugal.
Os Douro Boys vieram mudar este cenário ... completamente. Francisco Ferreira e João Alavares Ribeiro (Quinta do Vallado), Dirk Niepoort, Miguel e Tomas Roquette (Quinta do Crasto), Cristiano van Zeller (Quinta Vale D. Maria) e Francisco Olazabal (Quinta do Vale Meão) conseguiram alcançar as classificações mais altas nas melhores revistas internacionais da especialidade, não com os Portos mas com os seus vinhos tintos, atraindo assim uma atenção mais abrangente para os vinhos do Douro.
Hoje, 17 anos volvidos, a região vinícola do Douro está representada em praticamente todas as listas de vinhos dos melhores restaurantes a nível mundial. Para comemorar o seu décimo quinto aniversário, criaram um vinho tinto e um Porto Vintage do excelente ano de 2017, ambos um blend de vinhos provenientes das suas propriedades individuais. Estes dois vinhos únicos foram lançados no passado dia 11 de Outubro num leilão memorável.
O Douro Boys Cuvée 2017 (1500€-3L, 97 pts.) é um vinho inspirador, caracterizado pela sua mineralidade vibrante, enorme concentração, frescura cativante e um grande potencial para evolução em cave. Exibe cereja preta, ameixa vermelha, chocolate, bergamota, esteva e taninos aveludados. Este vinho unifica a elegância estruturada do Vallado, a frescura descomprometida da Niepoort, o carácter frutado do Crasto, a mineralidade aristrocrática do Vale D. Maria e o corpo encantador do Vale Meão.
Por sua vez, o Douro Boys Vintage Porto 2017 (650€, 96 pts.) exibe fruta preta (ameixa e amora), mineralidade (xisto molhado), rosas, sous-bois, cacau e taninos muito presentes mas sem serem austeros. É voluptuoso, complexo, denso, fresco e aveludado. Tenho a certeza que é um daqueles que ficará para a história como um dos melhores anos de sempre.
Neste evento ainda houve tempo para provar os frutos do bosque, esteva, tabaco, baunilha, complexidade, frescura e intensidade do Quinta do Crasto Reserva Vinhas Velhas 2017 (35€, 94 pts.); a cereja, esteva, ameixa preta, framboesa, cacau, mineralidade (xisto), equilíbrio, elegância e precisão do Quinta do Vale Meão 2017 (85€, 97 pts.); e a fruta silvestre, ameixa preta madura, pimenta preta, sous-bois, concentração, profundidade, finesse e assertividade do Niepoort Batuta 2017 (60€, 96 pts.).
Os frutos vermelhos (ameixa e morangos), cereja preta bem madura, pimenta preta, densidade, frescura e taninos austeros do Quinta Vale Dona Maria 2017 (45€, 96 pts.) apareceram logo de seguida acompanhados pela ameixa, groselha, caruma, sous-bois, vegetalidade picante e frescura do Quinta do Vallado Vinha da Coroa 2017 (45€, 95 pts.).
Nos Portos tivemos a oportunidade de ter uma amena cavaqueira com a ameixa preta, cereja, mirtilos, ginja, farmácia, frescura, concentrarão, e densidade do Vallado Porto Vintage 2017 (50€, 96 pts.); com as cerejas em compota, amoras, esteva, canela, taninos austeros, densidade, corpo e equilíbrio do Quinta do Crasto Vintage 2017 (50€, 94 pts.); com as cereja pretas bem maduras, ameixa preta carnuda, violetas, casca de tangerina seca, cacau, pinho, secura, equilíbrio e elegância do Niepoort Vintage 2017 (100€, 98-99 pts.); e com a fruta vermelha madura (morangos e bagas), mirtilos, esteva, mineralidade (xisto), estrutura, complexidade aromática, voluptuosidade e textura personalizada do Quinta Vale D. Maria Vintage 2017 (55€, 95 pts.).
Todos estes aromas atraíram narizes licitantes do Brasil, Estados Unidos da América, Escandinávia, Grã-Bretanha, Alemanha, nações do Benelux, Suíça, Macau e, claro, Portugal. Chegaram ao elegante Six Senses Hotel no Vale do Douro para tentarem arrecadar um dos cinquenta lotes, que foram a leilão sob o martelo do famoso leiloeiro britânico Peter Mansell. Existiu ainda a possibilidade de fazer licitações ao vivo, por telefone e on-line através da plataforma www.bidspirit.com.
No total, estiveram em leilão 1115 magnums, volume que é significativamente maior do que nos dois leilões ocorridos anteriormente (em 2013 e 2007). O mais impressionante é o facto do leilão ter batido, mais uma vez, um recorde: com uma média de 295 euros por magnum.
Cristiano van Zeller comentou com satisfação: "Os resultados do leilão mostram-nos com uma clareza maravilhosa que os Douro Boys - pioneiros absolutos quando o grupo foi fundado - desfrutam do mais alto reconhecimento e que seus vinhos estão com elevadíssima procura. Não só conseguimos tornar o Douro mais conhecido, como também dar à nossa marca um alto valor sustentável ".
Os cinquenta lotes que foram leiloados eram compostos por diferentes garrafas, de magnum único a lotes de mais de noventa unidades. Alguns lotes, incluíam ainda outras ofertas exclusivas de cada um dos parceiros, tais como raras edições de colecção ou experiências especiais com os produtores.
Os detalhes deste leilão podem ser encontrados no catálogo de leilões, que permanece disponível online em www.douroboys.pt Abnegadamente, um destes lotes (composto por quinze magnums do Douro Boys Cuvée) foi doado pelos Douro Boys à organização Bagos d'Ouro.
Esta instituição tem como missão oferecer educação adicional a crianças e jovens. Com o resultado de 4.800 €, um total de trinta e três jovens pode, agora, participar em cursos educativos complementares. Este dinheiro vai ajudar ainda diminuir distâncias...
Sendo a questão do transporte bastante sensível em certas zonas do Douro, uma vez que o autocarro escolar viaja para as aldeias pouco acessíveis apenas uma vez por dia, após o final das aulas, a Bagos d'Ouro pretende aumentar a frequência destas viagens e ainda promover programas especiais envolvendo desporto, arte ou cultura, que geralmente estão inacessíveis a estas crianças.
No final do dia e a acompanhar o delicioso jantar no restaurante Vale Abraão houveram outras relíquias dos Douro Boys, dos quais destaco o Redoma Reserva Branco 2011 (40€, 94 pts.) com o ananás confitado, coco, flor de laranjeira, caramelo, cera, secura, amplitude e mineralidade fumada.
Mas como é óbvio as estrelas da noite já estavam escolhidas à partida: O Douro Boys Cuvée 2017 e o Douro Boys Vintage Porto 2017, vinhos que comprovam na prática uma velha teoria, a de que o todo, na maior parte das vezes (e quando é bem construído), é muito maior que a simples soma aritmética das partes.
Este foi um evento diferente, em que a parte se tornou todo, e no qual e tivemos a sorte, honra e orgulho de participar (thanks dear Isabella Kitzwögerer ;)) Evento esse, em que o futuro foi semeado com estes vinhos de 2017, mas onde também já puderam ir colhendo memórias de uvas colhidas na vinha de tempos passados.