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No meu Palato

No meu Palato

Ir Com Sede Ao Pote | Fogo que arde sem se esquecer

"Não gosto da vida em banho-maria. Gosto de fogo, pimenta, alho e ervas. É por um triz que não sou uma bruxa." Martha Medeiros

Ir Com Sede Ao Pote de Renato Cunha

Desde o horizonte temporal que a nossa memória colectiva permite alcançar, o fogo tem sido um elemento crucial na evolução da civilização humana. A habilidade de controlar o fogo, datada de cerca de 1,5 milhão de anos, marcou uma viragem significativa na história da humanidade, influenciando a nossa dieta, os nossos hábitos sociais e culturais, e até mesmo o nosso desenvolvimento cognitivo.

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Controlar o fogo foi uma das maiores inovações tecnológicas da pré-história. O uso desse elemento para cozinhar alimentos não só tornou as comidas mais seguras e fáceis de digerir, mas também permitiu uma maior absorção de nutrientes. Este avanço nutricional foi crucial para o desenvolvimento do cérebro humano, contribuindo para a nossa evolução enquanto espécie.

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Os estudos científicos sugerem que a interacção inicial dos humanos com o fogo pode ter ocorrido há cerca de 2 milhões de anos, quando os nossos ancestrais usavam as chamas causadas por fenómenos naturais, como incêndios ou relâmpagos, para cozinhar alimentos. As evidências de uso controlado de fogo incluem sítios arqueológicos como a Caverna Wonderwerk na África do Sul, datados de cerca de 1 milhão de anos, onde foram encontrados restos de ossos e plantas queimados. 

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Além disso, há sinais de fogo controlado em locais como o de Gesher Benot Ya'aqov em Israel, com cerca de 800 mil anos​. Há 400 mil anos, o Homo erectus começou a usar o fogo de maneira ainda mais controlada. Esta prática espalhou-se e aprimorou-se ao longo dos milénios, permitindo que as primeiras comunidades humanas utilizassem o fogo não apenas para cozinhar, mas também para protecção contra animais selvagens e aquecimento. 

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Além da sua importância prática, o fogo também desempenhou um papel central nas interacções sociais humanas. As fogueiras não eram apenas uma fonte de calor, protecção e luz, mas também serviam como centros de convívio social. Ao redor das fogueiras, as primeiras comunidades humanas reuniam-se para compartilhar histórias, ensinar habilidades e reforçar laços sociais. 

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Este acto de se reunir ao redor do fogo para cozinhar e comer juntos criou uma tradição de cozinha de conforto que perdura até aos dias de hoje. Os potes de ferro fundido, usados pelos nossos antepassados para cozinhar sobre o fogo, são um símbolo dessa tradição. 

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O uso do ferro fundido para fazer utensílios de cozinha começou por volta do século VII a.C. na China, e mais tarde espalhou-se para outras partes do mundo. Robustos e versáteis, esses potes permitiam cozinhar uma variedade de alimentos de forma lenta e uniforme, realçando os sabores e tornando as refeições mais nutritivas e saborosas. 

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A utilização desses potes reforça a ideia de cozinhar como um ato de paciência e cuidado, onde o tempo e o calor do fogo transformam ingredientes, por vezes simples, em pratos reconfortantes. Ir Com Sede Ao Pote de Renato Cunha

Por tudo isto, reunir-se ao redor de uma fogueira ou de um fogão a lenha, cozinhando em potes de ferro fundido, passou a ser sinónimo de um ambiente de intimidade e conexão.  É uma prática que transcende gerações, onde receitas e memórias são passadas adiante, mantendo vivas as tradições familiares e culturais. Ir Com Sede Ao Pote de Renato Cunha

Num mundo moderno onde a tecnologia muitas vezes nos afasta, esses momentos de cozinhar e comer juntos ao redor do fogo reconectam-nos bidireccionalmente, com nossas raízes e uns com os outros. Ir Com Sede Ao Pote de Renato Cunha

Assim, o fogo, desde a sua domesticação há cerca de 1,5 milhões de anos, passando pelo uso mais controlado por volta de 400 mil anos, até aos potes de ferro fundido dos nossos antepassados a partir do século VII a.C., não transformou "apenas" a nossa dieta e desenvolvimento, mas também estabeleceu o local onde se cozinha como o coração da convivência social. 

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Ao redor do fogo, encontramos conforto, memórias e tradição, elementos essenciais que continuam a moldar as nossas vidas e cultura até hoje. Eventos modernos como o "Ir com Sede ao Pote" desenhado por  Renato Cunha (Ferrugem) e a sua esposa Anabela Rodrigues Cunha, em Famalicão mantêm viva essa tradição, celebrando indelevelmente esse legado ancestral.  Ir Com Sede Ao Pote de Renato Cunha

O "Ir com Sede ao Pote", que decorre no quintal da Casa Ana Monteiro, a uns escassos metros do  restaurante Ferrugem, não é apenas um evento gastronómico, mas também uma celebração da herança gastronómica e comunitária. A Casa Ana Monteiro é uma pequena quinta da família, com uma habitação de arquitectura popular, actualmente destinada à exploração turística.  

Ir Com Sede Ao Pote de Renato Cunha

Com jardim, horta biológica e excelentes condições para a criação de animais de capoeira, é o palco perfeito para este conjunto de experiências, tanto pela beleza do espaço, como pela privacidade que a topografia do terreno lhe confere.

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 Este evento promove a prática de cozinhar ao ar livre em potes de ferro fundido, destacando a importância de técnicas culinárias tradicionais. Ao reunir os entusiastas da gastronomia genuína, o "Ir com Sede ao Pote" cria um ambiente onde a comida é preparada com paciência e cuidado, reflectindo a essência das antigas fogueiras comunitárias. Ir Com Sede Ao Pote de Renato Cunha

Destaca-se pela sua capacidade de conectar pessoas através da culinária, proporcionando uma experiência sensorial completa que envolve sabores autênticos e uma forte sensação de grupo, de família. Em cada edição do "Ir com Sede ao Pote", é escolhido um produtor vínico renomado para harmonizar as propostas gastronómicas do Chef Renato Cunha. 

Ir Com Sede Ao Pote de Renato Cunha

Esta selecção criteriosa de vinhos visa complementar e realçar os sabores dos pratos preparados, criando uma experiência enogastronómica verdadeiramente autêntica.  A colaboração com distintos produtores de vinho não só enriquece o evento, mas também destaca a diversidade e a qualidade dos vinhos das diferentes regiões, proporcionando aos participantes uma imersão completa nos aromas e sabores.Ir Com Sede Ao Pote de Renato Cunha

Eleito “Experiência Turística de 2022” nos Prémios de Inovação e Turismo do Minho, o "Ir Com Sede Ao Pote" conta com a participação de alguns chefes convidados, 9 produtores e 1 distribuidor de vinhos, desafiados pelos anfitriões a apresentarem vinhos especiais, preferencialmente colheitas mais antigas e em garrafas de grandes formatos. 

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Esta edição conta com a Adega Casa da Torre e Secret Spot Wines, Aphros Wine, Aviwor|d, Crónica, Herdade do Sobroso, Palato do Côa, Quinta das Bágeiras, Quinta de Cottas, Quinta do Crasto e Soalheiro.

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Juntam-se ainda produtores das mais variadas áreas, com destaque para a “Infusões com História”, parceiro oficial, que irá preparar um blend especial com plantas aromáticas, de edição única, para cada evento. 

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Marcámos presença no primeiro #ircomsedeaopote de 2024 a 25 de Maio cujo produtor convidado foi o Soalheiro (quanto a mim o melhor  e mais diversificado produtor da região dos vinhos verdes). Já existiriam mais três encontros: a 8 de Junho, 22 de Junho e 13 de Julho. Para o futuro estão já agendadas mais seis datas: 27 de Julho; 3 e 17 de Agosto; 7 e 21 de Setembro, e 5 de Outubro. Algumas destas datas já estão esgotadas. 

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Para abrir o apetite do repasto de dia 25 de Maio tivemos Pão de fermentação natural e farinhas bio (trigo, arroz e trigo com azeitona); Queijo de cabra de Alfeizeirão e S. Jorge 30 meses (Lourais); Paio do cachaço e paia de toucinho de porco preto alentejanoEscabeche de coelhoSalada de tomate, rúcula selvática (uma delícia) e pickles de pêra baguim; e Tripinha enfarinhada frita.

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O Soalheiro trouxe a fruta tropical e mineralidade do Primeiras Vinhas 2022 - 1.5 L, a toranja e notas vegetais do Terramatter 2022 – 3 L; a laranja e baunilha do Espumante Bruto Barrica 2019 - 1.5 L; a groselha e especiarias do Oppaco 2019 - 1.5L; o pêssego e notas fumadas do Reserva 2020 – 1.5 L; e a pedregosidade e lima do Granit 2023 - 1.5 L. 

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Nas restantes propostas gastronómicas tivemos Canja de galinha com infusão de hortelã da Infusões com História (em que a hortelã contribuía com um picante vegetal que trazia frescura); Feijoada de samos e línguas de bacalhau com feijoca branca (finalizado com paia de porco preto: rica, intensa e robusta, combinando a suavidade do bacalhau com a intensidade do feijão e a suculência voluptuosa da charcutaria) e Arroz de robalo e lavagante, gengibre, limão e infusão de lúcia-lima do Soalheiro (reconfortante mas com sabor delicado e refrescante, equilibrando a suavidade do peixe e do marisco com o toque cítrico e aromático dos temperos). 

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Como prato de carne, a Favada de rabo de boi (com batata nova e cenoura biológica:  de sabor profundo e aconchegante, onde a maciez da carne se entrelaçava com a doçura natural dos legumes frescos.); e na sobremesa Leite-creme (com leite fresco cru e ovos de galinhas de raça amarela: cremoso, com uma textura aveludada e um toque subtilmente caramelizado).

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Os Ingressos de participação deverão ser adquiridos através do +351932 012 974 ou por e-mail para restaurante@ferrugem.pt e têm o valor de €100 por pessoa (IVA incluído à taxa legal em vigor). É gratuito para crianças até aos 3 anos de idade e para crianças dos 4 aos12 anos o desconto é de 50%. Os lugares são limitados.

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O ingresso é personalizado e enviado para a morada do cliente, num elegante estojo com uma cortesia da “Infusões com História”. É intransmissível e a sua utilização está indexada à data escolhida pelo titular. Caso as previsões climatéricas obriguem ao adiamento ou cancelamento de alguma das edições, será proposto ao participante o reagendamento para outra data que esteja disponível, o valor do ingresso só é reembolsável caso o adiamento ou cancelamento seja imputável aos organizadores.

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Li há uns tempos n'O Diabo na Cozinha, de Marco Pierre White, que quando vamos a um restaurante de um Chef muito (re)conhecido, deveríamos "ter direito" a que esse Chef estivesse no restaurante a preparar os pratos aquando da nossa visita. No "Ir Com Sede Ao Pote" , além de nos podermos reconectar com o legado do fogo, da cozinha de memórias e dos potes, temos o privilégio único de degustar pratos confeccionados por Chefs predestinados, como é o caso do Renato.

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 Este evento não só nos oferece uma experiência gastronómica de excelência, mas também nos brinda com a oportunidade de conversar, trocar receitas e aprender directamente com o Chef, quase como se visitássemos a casa de um familiar. A comida é aquilo que o Chef já nos habituou no Ferrugem: produto, autenticidade, memória e sabor. Haverá melhor fogo para o apetite que este? 

Uma nota final apenas para a entrega a que o Chef Renato Cunha se predispõe nestes encontros, foi por um triz que não o confundimos com um bruxo. :P