Notas de prova Quinta de Monforte | O carácter de uma dicotomia
"Nunca se refugiem na falsa e enganadora segurança do consenso." Christopher HitchensA originalidade do lugar define o projecto. Oriundos de vinhas em terraços de muros de granito, uma particularidade pouco comum nos Vinhos Verdes, os novos vinhos da Quinta de Monforte são versáteis, leves, suaves e, ao mesmo tempo, complexos e estruturados. Nesta dicotomia, percebemos que a modernidade dos Vinhos Verdes passa, também, por Penafiel.
Integrada numa encosta com vista para a cidade de Penafiel, a Quinta de Monforte tem o encanto típico dos solares da região de Vinhos Verdes e ainda uma modernidade discreta. O mesmo acontece com os vinhos ali produzidos: aromáticos, leves e frescos, mas igualmente vinhos minerais e estruturados, na linha dos vinhos mais complexos que a região tem vindo, felizmente, a valorizar.
A movimentação de solos permitiu a reorientação solar das parcelas e a melhoria da estrutura do solo. A par, foi construído um sistema de drenagem em toda a quinta e preservadas zonas de floresta (a área total da Quinta de Monforte tem de cerca de 100 hectares) que favorecem a manutenção de habitats muito diversificados.
A escolha das castas a plantar recaiu maioritariamente nas típicas da região e do Vale do Sousa: Padeiro de Basto, Vinhão, Loureiro, Azal, Alvarinho e Fernão Pires, sendo que as diferentes parcelas de vinha foram plantadas numa cota entre os 300 e 400 metros de altitude.
O legado histórico do berço destes vinhos é imenso, a actual Quinta de Monforte tem registo documentado de 1683, ano de construção da capela que um dos bispos da família, D. António de S. Dionísio, ali mandou edificar. Ao longo dos séculos, a quinta, então denominada Quinta da Naia, foi mudando de propriedade, tendo pertencido a algumas famílias ilustres de Portugal.
Passando aos vinhos, o amarelo-cristalino Quinta de Monforte Loureiro 2020 (8.90 €, 85 pts.) é resultante de uma prensagem das uvas com engaço e aperto suave, de modo a preservar alguns taninos que ajudam a uma evolução harmoniosa. Tem o tradicional exagero aromático da casta controlado, exibindo aromas a tília, flor de limoeiro, limonete, pedregosidade (granito molhado), algum damasco e uma pitada de noz-moscada. Na boca é muito seco, fresco e bastante gastronómico.
Por sua vez, o Quinta de Monforte Escolha branco 2020 (6.80 €, 82 pts.) é produzido a partir de uvas próprias, maioritariamente da casta Loureiro, mas também de Alvarinho (cerca de 20%). A vinificação é feita com engaço no momento da prensagem das uvas e a data de vindima foi criteriosamente decidida, de modo a manter o teor alcoólico na linha dos brancos da região (12,5 %). De cor amarela-palha clara, este vinho emana limonete, lima, manga e ananás. No palato é directo, expressivo e muito fresco. O final ligeiramente pétillant dá-lhe um certa jovialidade que até lhe assenta bem.
Já o Quinta de Monforte rosé 2020 (13.00 €, 90 pts.) foi produzido a partir de uvas da casta Vinhão, colhidas precocemente, logo no início da vindima e que seguiram para a prensa (com engaço incluído) com intervenção mínima e sem aperto. Deste modo, obteve-se a partir do tradicional retinto da casta Vinhão o rosado suave e sedutor que personaliza o vinho. No nariz mostra muita pedregosidade (pedra partida), flores secas e uma fruta muito escondida (mirtilos e groselha). No palato é elegante, seco, acutilante e guloso, revelando uma acidez inquieta e um equilíbrio impressionante. É um rosé que tem tudo para não ser consensual e isso dá-lhe carácter. Carácter esse que é transversal a todos os vinhos que provei.