Notas de prova tintos da Quinta do Convento | Sinfonia em elegância maior
“Minha alma é uma orquestra oculta; não sei que instrumentos tange e range, cordas e harpas, tímbales e tambores, dentro de mim. Só me conheço como sinfonia.” Fernando Pessoa
Da primeira vindima Kranemann Wine Estates no Douro, nesse ano especial que foi 2018, nasce um novo vinho que reúne mais de 20 variedades típicas do Douro, proveniente de vinhas com uma média de 50 anos de idade. Com este "parto vínico", emerge um novo grande tinto no Douro, a um preço super convidativo, e que já podemos encontrar no mercado.
O primeiro vinho Reserva Tinto da Kranemann Wine Estates, com a marca emblemática da casa – Quinta do Convento – chegou ao mercado há uns meses. Este é, igualmente, o primeiro field blend de vinhas velhas apresentado pela casa de Tabuaço. Uma referência que funde as mais distintas parcelas da mítica Quinta do Convento de São Pedro das Águias, onde evoluem vinhas com uma média de 50 anos e que integram precisamente um field blend com mais de 20 castas tradicionais do Douro.
Numa colheita singular, em 2018, ano de estreia e de excelência da Kranemann Wine Estates no Douro, que acabou por significar também a declaração Porto Vintage para a marca Kranemann, destacaram-se as parcelas de tintos que melhor expressavam a elegância e frescura característicos do terroir do Vale do Távora.
Assim, o Quinta do Convento Reserva Tinto 2018 (26.50 €, 94 pts.) após a fermentação em lagares de inox, estagiou durante 13 meses em barricas novas e de segundo ano, de carvalho francês, e mais 18 meses em garrafa antes de sair para o mercado. De cor vermelho-sangue densa, exibe notas de frutos silvestre, sous-bois, esteva, pedra de isqueiro e um ligeiro anisado que lhe fica muito bem. No palato é super elegante mas sem deixar de fazer sentir a garra de um "puro-sangue" duriense, é também cheio, fresco, complexo, equilibrado e longo.
Foram produzidas apenas 3.200 garrafas deste Quinta do Convento Reserva Tinto 2018, um vinho exclusivo, que será reeditado apenas em anos de excelência. Na minha (humilde) opinião é um vinho que merecia ser posicionado noutro patamar, aliás, estou convencido que em "prova cega" enganaria muito boa gente... ;)
Aquando da prova deste belo vinho, tive a oportunidade de experimentar também o Quinta do Convento Tinto 2019 (12.50 €, 88 pts.), que provém de um lote de Touriga Nacional (40%), Tinta Roriz (20%), Touriga Franca (20%) e de um field blend (20%), com as uvas vindimadas à mão, e que mais tarde foi fermentado em lagar a temperaturas controladas durante 8 dias. Estagiou depois em barricas de carvalho francês de segundo ano por 9 meses.
De traje rubi cristalino, exibe timidamente notas de frutos silvestres. De modo mais evidente surgem também aromas a esteva, sous-bois e pimenta vermelha. Na boca mostra carácter e é austero, fresco, intenso e harmonioso. Foram lançadas 28.200 garrafas que vieram dar sequência à primeira edição, a colheita de 2018, entretanto esgotada.
Ambos os tintos são vinhos elegantes, muito ponderados, afinados, equilibrados e com uma enologia de precisão, em que tudo está onde deve de estar, quase como numa sinfonia tocada por uma orquestra. O field-blend acrescenta-lhes algumas camadas e torna-os sedutoramente misteriosos. Recomendo vivamente!!!