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No meu Palato

No meu Palato

O berço das Estrelas | Largo do Paço

"Mesmo que a rota da minha vida me conduza a uma estrela, nem por isso fui dispensado de percorrer os caminhos do mundo." José Saramago

 

Depois de um período (demasiado longo) de tempo afastado do blog, retomo as publicações com um restaurante escondido sob um palácio...


Localizado na Casa da Calçada - Relais & Châteaux (cuja construção data do séc. XVI), aconchegado entre a cidade do Porto e o vale do Douro, surge o Largo do Paço  com a sua imponente e principespa paisagem e todo um cenário idílico que nos remete para os contos de fada. A casa mantem o seu estilo barroco original, preservando os elementos neo-clássicos, numa envolvente romântica de que são exemplos a ponte, o rio e o o edificado do centro histórico, que convida a embarcar no comboio do tempo, num ambiente sereno, familiar e acolhedor.


Este restaurante tem sido uma autentica nebulosa gastronómica na qual têm nascido diversas estrelas (Michelin).

José Cordeiro (que hoje em dia a faz brilhar no Feitoria, em Lisboa) foi o primeiro a deitar-lhe a mão. Depois, Ricardo Costa (actualmente no The Yeatman, no Porto igualou tal feito), mais tarde Vítor Matos manteve e reconfirmou tão nobre reconhecimento.

Hoje é André Silva que procura seguir os passos dos seus antecessores, a história diz-nos que aprendeu com os melhores, no entanto penso que a passagem foi demasiado abrupta (não por culpa dele), e isso pode prejudica-lo.

Chefe após chefe, ano após ano, moda após moda, avaliação após avaliação, o Largo do Paço mantém a estrela a brilhar por cima da Casa da Calçada, têm seguido os dois, Casa e Restaurante, de mãos dadas pelas margens do Tâmega, exibindo a mestria da sua união. A sala do restaurante é o elo mais fraco deste par, apesar de grande, luminosa e quente com as mesas cuidadosamente espaçadas para assegurar a privacidade, e  de possuir uma decoração suave e requintada, precisa de algo mais que a torne única. A Casa da Calçada é única, a localização é única, o serviço é único, a comida é única, a sala cumpre apenas...
Para uma refeição ser única, memorável e arrebatadora têm de convergir diversos aspectos que vão muito para além daquilo que é servido à mesa. A comida tem de ser harmonizada com o ambiente, a decoração, a história do local, o que nos chega quando olhamos em volta. A sala do Largo do Paço veda um pouco a envolvente romântica e idilica existente no exterior, a decoração é demasiado simples e a história inexistente. Tem o minimo, necessita de dar o salto para a excelencia.

Voltando aos pratos, esta crítica insere-se no âmbito de visitas ao restaurante em alturas distintas, tendo como anfitrião numas vezes Vítor Matos e noutras André Silva. 

Embora ambos optem pela utilização dos produtos da época, genuínos, frescos e criteriosamente seleccionados para cada prato, potencializando desta forma o seu sabor no nosso palato e serem ambos possuidores de influências mediterrânicas, aliando à tradição as tendências gastronómicas modernas (são notórios os quase 5 anos de trabalho em comum), falta a André Silva um pouco de irreverencia e risco. Das suas mãos saiem criações com quase a mesma qualidade (o quase em restauração significa muito) de Vitor Matos, mas tem que ter algo mais, uma Estrela tem de emitir luz propria, nem que para isso, no inicio, essa luz não seja tão forte. 

Voltarei esperando encontrar o chefe André Silva (o das Vieiras e presunto pata negra) e não o excelente aprendiz André Silva (o da Vitela de leite e mexilhões ). 

 

Comida: Sensorial, cultural, moderna e evolutiva. Conjuga as exigências, tendências e técnicas modernas a experiencias sensoriais relacionadas com as tradições e os costumes.

Empratamento: Dignos de uma estrela Michelin, no entanto os pratos necessitam de um pouco mais de vida e inovação.O prato precisa de ter mais interação, necessita de ficar apenas pronto após um diálogo com quem o vai desgostar, falta esta simbiose. 

Chef de cozinha: Vitor Matos: Um dos meus chefes favoritos. Concilia tradição e inovação de uma forma                                                   muito própria, usando produtos da máxima qualidade e frescura.  

                               André Silva: Uma das mais fortes promessas da alta                                                                                                        cozinha nacional. Quando arrisca acrescenta surpresa e complexidade ao prato.                                                              Controla a equipa como deve ser, estando ao lado e não por cima.

Escanção: Adácio Ribeiro: Saber de experiencia feito. Muita competencia e profissionalismo. A garrafeira precisa   de alguns vinhos e safras excepconais.

Serviço: Qualidade, requinte e subtileza com funcionários atenciosos e solícitos. Tudo na dose perfeita.

Espaço: Como já referido anteriormente, faltam pinceladas de história e contextualização. A mesa junto à    garrafeira tem isso, falta fazer o mesmo nas restantes.

Avaliação: 17/20

 

Saí da ultima vistia ao Largo do Paço, com a sensação de que algo ainda maior pode nascer naquela margem do Tâmega. 
André Silva tem tudo para conseguir algo que nenhum dos seus antecessores conseguiu, precisa no entanto de se libertar do cordão umbilical que ainda o liga a Vitor Matos. Esse cordão prende-o a uma estrela, evita no entanto, que chegue à segunda.

Um terço dos novos pratos apresentados pelo chef André deram-me a certeza que é um chef com potencial para ombrear com os melhores do país, dois terços fazem-me temer que jogue pelo seguro.

Uma nota final, apesar de ainda faltarem algumas semanas para o anuncio, parabéns pela sua primeira estrela chef André Silva, neste ano arrisque e lute pela segunda...

 

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http://www.largodopaco.com/
https://www.facebook.com/casadacalcada/
Casa da Calçada 4600-017 Amarante, Porto - Portugal
+351 255 410 830 

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