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No meu Palato

No meu Palato

O que me vai no palato | História ou Sabor?

Um post diferente, um exercício de imaginação…

Todos nós quando procuramos um novo restaurante, colocámos nos critérios de “pesquisa” a história do mesmo ou então a competência do chef. Mas também já todos nós tivemos uma desilusão quando levamos a primeira garfada à boca…

Pensamos para nós mesmos: “há demasiada comida boa por aí, não iremos voltar cá apenas pelo nome do restaurante”

Agora, se esta experiencia acontecer com um bom vinho, temos a mesma reacção?

Dei por mim a pensar nestas coisas, há uns dias, ao falar com um amigo que tinha provado um Barca Velha 2004 e não tinha gostado (faço já uma declaração de interesses, para mim o Barca Velha é o melhor vinho Português, uns anos melhor, uns anos pior, mas sempre excelente – vai merecer um post exclusivo).

 O que é mais importante para vocês: se o vinho vos enche as medidas ou se tem uma história convincente por baixo da rolha?

 

o que vai

 

 

Faço esta pergunta, porque há uma nova corrente ideológica no sector dos vinhos que argumenta que tudo se resume à história da garrafa e nada (ou pouco) a ver com o seu conteúdo.

Esta visão é um pouco redutora, como se um humilde consumidor não podesse saborear com prazer um vinho sem que para isso necessitasse de tirar um doutoramento sobre o processo de vinha, vinificação e história dos vinhos.

Não me interpretem mal, eu adoro ouvir histórias e começo a ganhar gosto também por as contar (daí este blogue), parece-me um bom ponto de partida, usar as minhas avaliações sobre vinhos ou restaurantes como uma plataforma de lançamento para contar histórias e com isso, que me fiquem a conhecer um pouco melhor.

Voltando aos vinhos, se o sabor de um vinho não for convincente, para quê perdermos tempo com a sua história? Alguma vez comentaram com um amigo: “este bife não presta, mas a vaca de onde ele veio tinha 3 anos, era bastante elegante e a quinta onde cresceu era lindíssima”?

Para mim esta questão central resume-se a isto, para além de nos alimentarmos com vista à nossa sobrevivência, o prazer não é o aspecto essencial que nos faz procurar boa comida e bons vinhos?

 

Às vezes, nós decidimos provar algo como uma experiência ou um desafio. Pratos como perdiz, a lampreia ou o sarrabulho vêm-me agora à mente, e eu ainda me lembro da minha primeira ostra crua, horrível; agora acho-a algo sublime. Acontece o mesmo com o vinho, mas segundo um processo muito mais complexo: um porto vintage jovem não revela todo o seu esplendor, mas com experiência vamos aprender a discernir como ele vai envelhecer.

 

Mesmo com estas ressalvas, acho que é difícil comprar o argumento de que a história dos vinhos prevalece sobre tudo. A maioria dos bebedores de vinho não têm tempo ou inclinação para explorar a história de fundo da garrafa antes de comprá-lo. Eu tento contar tantas boas histórias sobre o vinho quanto aquelas que me for possível, mas quando eu avaliar um vinho nesta página, primeiro faço-o na qualidade do seu sabor, mais tarde contar-vos-ei a minha história sobre ele…


Nota: A garrafa do Barca Velha 2004 do meu amigo tinha de estar estragada, só pode :-P