Os meus melhores de 2019 | De velas içadas, desejando ... desejos
"O desejo é como o vento. Sem esforço. Se ele encontra velas içadas, arrasta-nos vertiginosamente. Se as portas e as janelas estiverem fechadas, vagueará por um certo tempo na procura incessante de gretas ou fissuras que o deixem passar. No entanto, se o desejo for associado a um objecto, condena-nos a esse bem material. Mas há outra forma de desejo, abstracta, desconcertante e muito pura, que nos envolve, quase como se fosse um estado anímico. Essa outra forma de desejo, anuncia que estamos prontos para ela, só nos restando esperar, soltar as velas e deixar que o vento sopre. É o desejo de desejar." David Trueba
Estimados amigos, Janeiro (inicio de Fevereiro conta como Janeiro ;)) costuma ser o mês em que divulgo os "melhores do ano" do No Meu Palato, porque continuo a achar que alguém deve de dar importância a isso ;) É a altura de ficar nostálgico ao rever todas as notas recolhidas no ano passado. 2019 foi um ano verdadeiramente espectacular, em todos os sentidos, até porque a "equipa editorial" passou a contar com mais um elemento, o Guilherme :) Com o aumento do número de visitas aumenta também o número de "visitados" fora dos prémios, e isso é o que, mais uma vez, me tem dado, verdadeiramente, cabo da cabeça. Janeiro é também a altura de agendar as visitas para 2020 (que são já mais de duas dezenas!!!) e de introduzir novos conteúdos no blogue. Mas ... vamos lá ao que interessa:
A melodia de um até já deu ao Wine & Music Valley 2019 o prémio de Evento Revelação. Beneficiou de uma localização única, ao estar enquadrado no cenário idílico entre a vinha e o rio - foi transversal a vários segmentos de público, desde famílias a grupos de amigos que gostam de celebrar a vida com um copo de vinho na mão, passando por crianças como a Bia que curtiu milhões ;)
Sei que este vai ser um daqueles fins de semana dos quais vou ter muitas saudades pelos momentos que passei com as minhas duas princesas, e com o pequeno príncipe, ainda dentro da barriga.
Willahelm, um nome "esquisito" de origem alemã serviu de mote para o Melhor Evento: o Christmas Wine Experience 2019. Mais de 100 produtores, de todas as regiões do país, alinharam-se pelas áreas comuns do hotel para apresentarem dois dos seus melhores vinhos para o Natal. A ideia foi a de encontrar os pares perfeitos para acompanhar os pratos típicos da quadra, do tradicional bacalhau ao peru, passando pelas sobremesas da época.
Aos melhores vinhos juntaram-se uma selecção de queijos, enchidos e prova de azeites portugueses, que completaram a experiência. Tudo isto entre amigos, e num ambiente que é muito difícil encontrar melhor ;)
A fabulosa prova "Uma viagem pela história dos Colheita da Vieira de Sousa” deu ao Enóphilo Wine Fest Porto 2019 o prémio de Melhor Prova em Evento. Parabéns Gradissímo por não te acomodares com o que já foi feito.
Quanto ao Melhor Wine Hotel deste ano ... é um repetente: Quinta da Pacheca ;)
Desde o ano passado a Quinta criou mais um inovador conceito, que nos voltou a fazer querer visitá-la: os Wine Barrels. Num cenário idílico e romântico, estes Barris de Vinho proporcionam uma experiência única de contacto com a natureza e com a realidade monumental desta região, reconhecida como um destino de excelência. Momentos únicos de descanso que se imortalizam no tempo, num ambiente de ruralidade. Resumindo esta experiência numa frase: é o sonho de um enófilo tornado realidade ;)
Excelência em constante mutação e criatividade. Na Pacheca não se dorme "à sombra da bananeira". E é isso que espero que a minha menina mais pequena tenha aprendido com esta visita: a seguir a lição do camaleão: o saber viver com tolerância, respeito e humildade ... e também o “saber estar” em comunidade.
As duas metades da vida e uma sopa seca relembram-me o Hotel Revelação deste ano, o Douro 41 Hotel & Spa. Existem pessoas e lugares que nos marcam de uma forma tão inexplicável quanto especial. E isso não acontece com qualquer pessoa/lugar.
Particularizando, no caso dos locais, aqueles que são mesmo especiais como o Douro 41 Hotel & Spa, são autênticas plataformas que nos fazem voltar a conversar, nem que seja por breves momentos, com essa criança, que felizmente ainda vive dentro de nós. E isso, amigos, é rejuvenescer, é acalmar, é perder o medo e é também recuperar a vontade de voar.
O erro mais bonito entregou o prémio de Melhor Hotel ao InterContinental Cascais-Estoril. Um novo e contemporâneo hotel, sobre a chancela de excelência e qualidade do InterContinental Group. Com 59 quartos sobre o mar, o InterContinental Cascais-Estoril oferece uma das melhores localizações e vistas sobre a Costa Atlântica. Moderno, contemporâneo e elegante, é perfeito para estadias a dois ou em família.
Mas mais do que um "simples" hotel, o InterContinental Cascais-Estoril é uma janela aberta para a memória do velho Atlântico (oceano e hotel) e para uma nova experiência de conforto, luxo e modernidade. Situado sobre o mar e a dois passos de Lisboa, tem na localização um dos seus principais atributos, proporcionando deslumbrantes e inspiradoras vistas sobre a Riviera Portuguesa. Uma ponte entre a heritage de outros tempos e a modernidade dos nossos dias, patente na excelência do serviço, quer seja na forma de receber que o distingue, quer pela forma exclusiva como somos tratados.
O Melhor Chefe deste ano, "fez-me" fazer a viagem Guimarães-Bragança por duas vezes em 2019 e é um autor que gosta do que é português, do que é autêntico, um cultor das palavras, dos sabores e das memórias transmontanas.
Ponderado e assertivo, exibe com orgulho, uma ligação ao mundo rural que o viu nascer. Poderíamos estar a falar tanto de Miguel Torga, como do Chefe Óscar Geadas, porque se Miguel Torga cozinhasse um Reino Maravilhoso, não andaria muito longe do que provamos em Bragança ;)
Uma nova interpretação à cozinha tradicional portuguesa através de combinações improváveis, de uma conjunção de sabores bastante elegante e de um uso muito próprio de texturas contrastantes atribuiu o prémio de Chefe Revelação ao Chefe Paulo Leite (restaurante Astória).
Da minha cidade chega o Melhor Restaurante 2019: a Cozinha de António Loureiro. A Cozinha, da terra, do mar e das memórias, cresceu, prato após prato, tornando-se mais pessoal e ganhando sentido: a investigação, o compromisso, o conhecimento e a felicidade estão presentes em cada criação.
Tem momentos, muitos momentos em que roça a perfeição (tenho a certeza que no céu deste Chefe surgirão mais estrelas, é só dar tempo ... ao tempo) . Nesta noite rodeou-nos por breves instantes e, no final, era chegado o tempo de continuar para outras paragens, para outras gente e para outros prémios ;)
O Miguel Laffan at Atlântico Bar & Restaurante leva o prémio de Restaurante Revelação. Este novo espaço exibe um menu com ADN nacional e de alma democraticamente ecléctica, que explora a proximidade do mar e a relação privilegiada de Miguel Laffan com pescadores, produtores e fornecedores locais.
O ambiente, no qual o Chefe também teve intervenção, é sofisticado, familiar e acolhedor. Faz com que o mar encha a sala, o coração e o olhar, inspirando a degustação "conversativa" das propostas gastronómicas, num dos restaurantes mais bonitos e bem localizados do país.
Fugindo um pouco (se calhar muito) do óbvio, o Melhor Prato do ano 2019 vai para o Arroz de Cabrito da Toca da Raposa. Merece por si só a viagem. Uma espécie de risotto de cabrito crocante ... desconcertante. Uma camada crocante e ligeiramente fumada protege um interior suculento, complexo e rico. A cada garfada a Bia repetia vigorosamente: «mais arroz» ;) Um prato que merece ser degustado com tempo, conversa e boa disposição.
Passando aos vinhos, que são sempre as decisões mais complicadas que tenho para tomar. Atribuí o prémio Vinho Revelação ao Aeternus Douro Tinto 2017 (140€, 97 pts.). Um vinho com uma cor vermelho rubi, intensa e concentrada, quase opaca. Exibe frutos vermelhos e pretos maduros com notas florais bem harmonizadas. No palato aparece com vida, poderoso e com e vigor, com boa estrutura em taninos firmes. O final é longo, persistente e sedutor.
A cereja, esteva, ameixa preta, framboesa, cacau, mineralidade (xisto), equilíbrio, elegância e precisão juntaram-se no Melhor Vinho: o Quinta do Vale Meão 2017 (85€, 97 pts.), tenho a certeza que se vai tornar numa das melhores edições de sempre.
Por sua vez, o Melhor Fortificado (não Porto): vai para o Barbeito Malvasia 40 Anos – Vinho do Reitor (400€, 98 pts). Possui um bouquet extraordinário com deliciosos figos secos, ameixa confitada (quase queimada), cedro, eucalipto, sultanas, tabaco, cacau, canela, iodo e farmácia. O final de boca picante, salino, fresco e interminável ainda não me saiu da cabeça. É por causa de vinhos como este que as revoluções valem a pena!!! Cravos? Com cravos não se fazem vinho ;)
Quanto aos melhores Vintages, ficam ambos (novo e velho) na Noval. Quinta do Noval Vintage Nacional 2017 fica como Melhor Vintage Novo (1500€,100 pts.). Este foi um dos melhores Vintage que provei. Cogumelos, morangos, ameixa, amoras, mirtilos, notas minerais, cravinho e loureiro que surgem lentamente, camada após camada. Surge ainda uma espécie de redução de compota de frutos silvestres arrebatadora. O palato é elegante, encorpado, intenso, denso, aveludado, harmonioso e fresco.
O bouquet de sabores vai crescendo com o passar do tempo, promovendo um final notável, sensual (quase indecente ;)), apaixonante e muito equilibrado. Um vinho perfeito!!! Posso estar errado, acho que não estou, mas creio que tem condições para entrar para o lote das melhores colheitas de sempre, a ver... Por sua vez, o Melhor Vintage Velho é o Quinta do Noval Vintage Nacional 1994 (2000€,100+ pts.)
Achocolatados, alcaçuz, fruta madura e uma estrutura maravilhosamente picante, com taninos macios e maduros e uma acidez crocante. Em camadas, complexo e envolvente, é um vinho incrível.
O Melhor Tawny, António Vieira de Sousa 90th Anniversary Very Old Port (2200€, 100 pts.), possui salinidade, acidez e densidade incríveis, o café que transporta é simplesmente arrebatador, o melaço é muito concentrado (quase caramelo mas com maior acidez e menos doçura) e tem ainda notas muito particulares a pinheiro, chã preto e verniz. Acaba (horas depois) com uma complexidade, textura e personalidade fascinantes. Um vinho de sonho!!!
Também por tudo isto, 2019 foi um excelente ano. Estamos os 4, de velas içadas ao vento, desejando que 2020 seja ainda melhor e que esses sorrisos nunca vos faltem ;)
Termino dizendo que, contra todas as recomendações da minha mulher, em 2020 vou criar o espaço "Não Gosto", onde falarei de vinhos de que ... não gosto. E vejam se me entendem, lá vão aparecer os vinhos que não gosto, não os que não prestem ou não estejam bem feitos. São coisas diferentes. A ver como corre, vemo-nos por aí ;)