Palácio Estoril Hotel | Ao serviço de suas íngremes majestades
"Os diamantes são eternos." Ian Fleming
A cena de abertura do filme "Ao Serviço de Sua Majestade", o sexto da famosa série James Bond, mostra Bond a salvar uma mulher muito charmosa de se afogar, propositadamente, numa praia perto do Estoril, enquanto o dia amanhece.
Depois de uma luta um pouco anedótica, com alguns vilões por entre barcos de pesca (um dos vilões acaba mesmo preso numa das redes dos pescadores), Bond regressa ao Hotel Palácio no Estoril. No filme vemos Bond a estacionar o seu Aston Martin ao lado do carro que pertence à condessa Teresa 'Tracy' di Vicenzo, a mulher que ele acabara de salvar. Assim começa um dos mais aclamados filmes deste agente secreto.
Mas que é que Bond andava a fazer por Cascais? Ou mais importante, porque é que Ian Fleming, o seu criador, escolheu uma das zonas mais glamorosas do nosso país para cenário principal deste romance? Bem, as respostas a estas duas perguntas têm mais a ver com História do que com ficção.
Durante a Segunda Guerra Mundial, Portugal manteve-se um país neutro (uma das coisas boas, poucas, que devemos ao Salazarismo). Isso fez com que o Estoril se tornasse num hub para os judeus (bem na verdade não eram apenas judeus, mas todos os que temiam Hitler) fugirem da loucura nazi em direcção à América do Norte.
Para além disto, o Estoril era também um importante centro de espionagem, com agentes e agentes duplos a vigiarem-se mutuamente, reunindo-se muitas vezes nos bares da vila. Um desses agentes era o espião sérvio e agente duplo britânico Dusko Popo (que também trabalhava para os alemães), uma personagem que imediatamente fascinou Ian Fleming quando, em 1941, os dois se conheceram no Estoril.
Após uma breve carreira no jornalismo antes da Segunda Guerra Mundial rebentar, Fleming passou a trabalhar para a Divisão de Inteligência Naval, como assistente pessoal do seu director, o contra-almirante John Godfrey. Em Maio de 1941, Fleming e Godfrey visitaram Lisboa a caminho de Washington para promover a cooperação de inteligência com os americanos.
Os serviços secretos britânicos queriam que os americanos criassem uma agência de inteligência estrangeira semelhante ao MI6. Em Washington, Godfrey encontrou-se com o presidente americano, Roosevelt, enquanto Fleming o auxiliava na elaboração de uma carta normativa para a nova agência, a ser conhecida como Escritório de Serviços Estratégicos, nascia assim a primeira versão da actual CIA.
Na viagem de regresso para Londres, já em pleno Verão, Fleming voltou a fazer escala em Lisboa, decidindo tirar umas mini-férias no Hotel Palácio do Estoril. Frequentado pela realeza, o Palácio atraiu Fleming porque era contíguo ao Casino do Estoril (os casinos eram, na época, uma raridade na Europa), onde ele poderia jogar enquanto se deliciava com os afamados cocktails do casino. Tal como Fleming, Popov era um jogador que evidenciava uma especial atracção por mulheres e por bebida (não os podemos condenar, não é verdade? ;)).
Após dizer a Godfrey que tinha conhecido um espião sérvio do Estoril, o director pediu a Fleming que este se mantivesse atento às movimentações desse arrojado agente duplo. É assim que Fleming fica a conhecer, pormenorizadamente, o homem que mais tarde o inspiraria a criar o personagem James Bond.
Já agora, o nome James Bond deve-se ao facto de Fleming também gostar de ... pássaros. Devido a essa paixão, Fleming mantinha na sua mesa de cabeceira uma cópia do livro as Aves das Índias Ocidentais. Um guia bastante preciso e muito conhecido na altura, criado especialmente para observadores de pássaros, e escrito por um ornitólogo de Filadélfia, de seu nome ... James Bond.
Como Fleming queria que o nome do seu personagem fosse misterioso, sedutor e foneticamente agradável, e que ao mesmo tempo soasse confiável, simples e directo, o escritor adoptou o nome do ornitólogo para aquele que se iria tornar no espião mais conhecido de sempre.
Todo este contexto histórico fez com que Fleming se inspirasse no Palácio do Estoril para escrever o “Casino Royale” em 1953, e para em 1968, ter sugerido o Hotel para cenário principal de “Ao serviço de sua majestade”.
O exterior do Hotel, o lobby, a piscina e alguns quartos, são parte integrante de muitas das cenas desse filme que estreou em 1969. Na altura, outros locais da região, como a Praia do Guincho, Lisboa e a Serra da Arrábida, foram também seleccionados para algumas das cenas desta longa-metragem.
Ainda há sobreviventes dessa bela época, José Diogo, actualmente um dos Chefes do Concierge do hotel, participou no filme quando tinha 18 anos. Podemos vê-lo em algumas cenas do filme, a entregar a chave do quarto ao agente secreto James Bond, na altura interpretado por George Lazenby.
O hotel parece que não saiu desses tempos, no bom sentido da expressão. Desde 1930 que este hotel espalha charme pela riviera portuguesa, por ser diferente mas também por ter sabido manter a nostalgia sem descorar o conforto e a modernidade. Quando se entra no Hotel e se é recebido com um "boa tarde Monsieur & Madame Martins" dos amicíssimo porteiros, percebemos logo que iniciamos uma viagem no tempo, viagem essa que continua a decorrer na actualidade e a projectar-se no futuro.
O Hotel conta ainda com o SPA Banyan Tree com duas piscinas interiores, que se assumem como um verdadeiro templo de bem estar e saúde; e com o Golf com 27 buracos. Sobranceiro ao Estoril e ao mar, este campo de 5200 metros de comprimento desenvolve-se entre eucaliptos, mimosas e pinheiros que lhe dão um colorido especial.
O ambiente exclusivo que se faz sentir no Hotel, inspira todos aqueles que nele entram, desde a sua impressionante fachada integralmente branca e belíssimos jardins, até à sua elegante decoração clássica, actualizada no decorrer do tempo, mas sem perder a matriz de intemporalidade, luxo e sofisticação.
Depois de termos passeado os miúdos por todo este legado histórico do mítico Hotel, e após uns belos mergulhos na piscina, era chegada a hora de re(visitar) o Grill Four Seasons, que se destaca pelo seu ambiente romântico, acolhedor e místico, perfeito para desfrutar de uma refeição com sabores clássicos.
Após as surpresas do chefe, a refeição iniciou com uma "Tarte de foie gras com morangos grelhados e avelã" (uma delicia!!!), prosseguiu com um rico e saboroso "Creme de ervilhas com gema fumada e presunto pata negra" e atingiu o seu expoente máximo no "Pregado com texturas de curgete, lagostim e açafrão", carregado de texturas complementares, sabores a mar e uma harmonia assente em contrastes sensoriais.
Seguiu-se um "Entrecôte rib eye Angus maturado grelhado com alho francês braseado, mil folhas de batata e espargos verdes", que exibia uma crocância fumada no exterior e um suco muito rico aprisionado no interior, e que em conjunto promovia uma untuosidade requintada tão generosa quanto apetitosa. Os acompanhamentos acrescentaram elegância, profundidade e camadas de sabor, numa simbiose gastronómica que acabou por funcionar muito bem.
Nas sobremesas a nossa favorita foi a "Framboesa, pistachio e brulé de baunilha de Madagáscar". É cremosa, delicada e doce. No entanto, é também fresca, untuosa e camaleónica. Com o brulé coberto por uma camada crocante de caramelo e pincelado pelo aroma floral e ligeiramente amadeirado da baunilha de Madagáscar é difícil conter a gula, garfada após garfada. A ligeira untuosidade está balanceada com a frescura do molho de framboesa e com a orientalidade do pistachio. Muito bom!!!
No final do jantar, percorremos a Galeria Real. O Palácio Estoril foi a "segunda casa" das famílias reais espanhola, italiana, francesa, búlgara e romena e, ainda hoje, continua a ser o local de eleição dos seus descendentes. Foi em homenagem a todos estes ilustres habitués do hotel que esta galeria foi criada em Fevereiro de 2011, e na qual podemos hoje apreciar memórias fotográficas de grandes personalidades da realeza europeia que se passaram pelo Hotel.
A Galeria Real entretanto transformou-se num dos pólos de atracção turística do Estoril. Com toda aquela pompa e circunstância a seguir a um jantar incrível, é difícil não nos sentirmos um pouco pertencentes à realeza... :P O dia seguinte amanheceu bonito, permitindo um agradável passeio pelo Cabo da Roca e pelos desafiantes trilhos que nos levaram à praia da Ursa.
Para a Bia esses caminhos pedestres eram bastantes íngremes (também se surpreendem/orgulham quando as vossas crianças vos surpreendem com o uso de certo vocabulário? ;)) Esta zona é um paraíso em estado bruto, emoldurado por magníficas formações rochosas, tendo sido, por diversas vezes, considerada pelo Guia Michelin como uma das praias mais bonitas do mundo e é presença assídua nas diferentes listas relativas às melhores praias desertas da Europa. É lindíssima, arrebatadora e super tranquila, mas como o adjectivo da Bia deixa transparecer ... não é para todos e há que levar a caminhada com calma!!!
Depois de tão desafiante passeio (na verdade foi a Clarisse que carregou o Gui na maior parte do tempo), o reconfortante e equilibrado pequeno-almoço "caiu que nem ginja"!!! ;). O Palácio Estoril Golf & Spa Hotel continua a ser o hotel favorito de chefes de estado, famílias reais, intelectuais, artistas, escritos, músicos, realizadores e actores.
Competência, sensibilidade, carinho e saber fazer. Por tudo isto, é que o carimbo "Grand & Cosy" dado por Carlos Pissara, relações-públicas do Hotel, lhe assenta muito bem. Esta é mais do que a assinatura do hotel, é a definição do seu ADN, grand porque emprega 160 pessoas, porque é clássico na arquitectura mas moderno nas suas funcionalidades, porque foi renovado e actualizado; cosy porque apesar de grande é acolhedor, confortável, intimista e próximo. É um grande do passado, modernizado e não desvirtuado.
Com esta história do blogue já vistamos muitos espaços, muitos hotéis, mas este teve qualquer coisa de especial. Qualquer reunião no hotel acerca da nossa visita se transformava numa amena cavaqueira, em que muitas vezes dava por mim completamente fascinado com as histórias do passado do Hotel. Fizeram-me recuar uns anos, para a altura em que o meu avô me contava histórias da sua infância. Muitas delas tinham como pano de fundo, uma lição acerca de como avaliar a bondade e grandeza das pessoas.
É pelo seu agir. Agir correctamente, é essa a inteligência verdadeira. Porque termos de querer aquilo que somos. O êxito está em ter êxito, e não em ter condições de êxito. Condições de Palácio tem qualquer terra larga (já dizia Fernando Pessoa), mas alma de Palácio, só ali, junto ao Estoril. Obrigado ao Sr. Domingos Rodrigues, Chefe de sala, pela maneira verdadeiramente incrível com que fomos tratados no vosso Palácio (isto apesar dos constrangimentos conjunturais que o sector atravessa). O coração, esse, veio carregado com mais um amigo...
O Hotel continua a estar ao serviço de Suas Majestades, que, na realidade ... são os seus hóspedes, e prova, diariamente, que também na hotelaria, a classe genuína é como os diamantes, eterna!!!