Porto A.S. 1829 Hotel | A morada do amor na ponta de um sorriso
"Pois o mundo inteiro parecia ter-se dissolvido, nesta primeira hora da manhã, numa poça de pensamento, numa bacia profunda de realidade. Eles tornavam-se parte daquele irreal mas penetrante e emocionante universo que é o mundo visto pelos olhos do amor" Virginia Woolf
Sorrir é o espelho da felicidade da alma, e é por isso que criamos imediatamente uma ligação afectiva com alguém que nos retribui um sorriso. Dos mais tímidos aos "com a boca toda", passando pelos das covinhas, e sem esquecer os das bochechas vermelhas. O sorriso não tem idade nem dentes: é bonito nos bebés com dentes ausentes, nos nossos pais com dentes cansados, e nos nossos avós, com dentes ... caídos. Gostamos ainda mais, dos sorrisos puramente sinceros e incondicionais dos filhos, quando chegamos a casa e nos segredam ao ouvido: “amo-te!!!”. É aí que, diariamente, encontrámos a morada do amor na ponta de um sorriso.
Ao sorrirmos espalhamos alegria, transbordamos amor e espantamos as tristezas. É por isso que acho que aquelas plaquinhas do «Sorria, você está a ser filmado» deveriam ser todas substituídas, quando mais não seja no nosso coração, por uma que diga «Sorria, você está a viver». Sorrir também costuma significar que nos sentimos muito bem num determinado lugar. Sendo assim, o que quererá dizer este maroto da Bia, sobre o Porto A.S. 1829 Hotel? ;)
Começo por levantar a ponta da resposta, dizendo que o facto dela ter encontrado um delicioso doce de chocolate a sorrir para ela, não é ... mera coincidência ;) Este hotel surge clandestino entre a movimentada Avenida dos Aliados e a Ribeira, ao fundo da rua das Flores, assumindo-se como o ponto de partida perfeito para uma visita, em família, à invicta.
Este hotel de charme veio dar uma nova vida à histórica Papelaria Araújo e Sobrinho que ali desenvolve actividade desde 1829. É por isso que entrar neste místico e carismático hotel é fazer uma autêntica viagem ao século XIX e à papelaria mais antiga da Europa.
Os quartos foram pensados para que nos sintamos em casa. Amplos, com casa de banho privativa e, que no nosso caso incluía uma banheira clássica ;) No hotel podemos ainda encontrar o Restaurante Galeria do Largo que nos brindou com uma autêntica montra de sabores típicos portugueses, trajados de gala, com a qualidade, o rigor e a excelência que os dias de hoje exigem.
A carta (galeria) concebida e posta em prática pelo Chefe Manuel Ferreira varia consoante as estações do ano e tem em consideração não só os valores, tradições e sabores mas também as restrições na dieta dos clientes. O espaço é agradável, a arquitectura é assente em traços nobres mas discretos, complementada com uma decoração requintada e moderna. As janelas e portas escancaradas para o exterior, convidam a entrar, abrindo o restaurante aos que passam, seduzindo-os com toda a sua elegância, cultura e alegria.
O serviço procura promover sempre (e nestas coisas o sempre é muito mais que um advérbio), o conforto, a qualidade e o profissionalismo. Depois de um refrescante sweet lemon gin, o Crocante de mexilhão, pau de canela, pétala de gengibre, crumble de broa de avintes e maionese de mostarda serviu como amuse-bouche do Chefe: muito floral, gulosa e deliciosamente picante. Gostei imenso do que se seguiu: Escalope de Foie Gras sobre pão brioche, terrina de maçã assada e moscatel do nosso Douro.
Um prato rico, requintado e exuberante, no qual a maleabilidade e o sabor sedoso do foie são enobrecidos pelo molho do moscatel. A terrina de maçã acrescentava uma ligeira brisa vegetalidade, o brioche uma certa crocância, que em conjunto, domesticavam um pouco a voluptuosidade do prato. E para além disso, convenhamos, tem Foie Gras, só poderia estar bom ;) A clássica sopa de cebola gratinada foi, muito provavelmente, a maior surpresa da noite. Não se deixem enganar pela aparência, pois ela é puro glamour e aconchego à mesa. Exibe cremosidade na base, crocância na superfície e um sabor incrível composto pela cebola frita, manteiga, caldo, croutons, e o queijo gruyère, top!!! ;)
Nos peixes, quer o Bacalhau confitado em azeite e alho, puré de barata doce, favas salteadas, alho francês e azeite de ervas, quer a Corvina assada, esparregado de acelgas e rábanos com sementes de coentros e vinho do Porto, brindavam-nos com um sabor mar inspirador. Cozinhados no ponto (especialmente o bacalhau) e com os acompanhamentos pensados ao pormenor promoviam uma explosão de texturas, influências e sabores incríveis. A mineralidade, lima, salinidade e acidez Boina 2017 (82 pts.) foram um excelente acompanhamento para estes frutos do mar.
A galeria das carnes foi preenchida com dois quadros gastronómicos capazes de fazer sorrir a Mona Lisa: O Tornedó de novilho com mil folhas de batata e Portobello, legumes glaceados e molho três pimentas e o Arroz caldoso de vitela e molejas com cogumelos selvagens aromatizados com azeite de trufa. O primeiro carregado de sabor, complexidade aromática e com um delicioso suco de carne, enquanto que o segundo se materializava em sabores verdes e da terra, num doce gordo quase floral, numa adstringência e numa volutuosidade, que nos pincelaram o palato de uma forma quase irresistível. O Titular Touriga Nacional 2013 (83 pts.) acrescentou violetas, frutas vermelhas e uma vincada acidez às carnes.
O Doce vs Salgado e a Pêra com vinho do Porto envoltos em especiarias foram as propostas para a sobremesa. Quem gosta de chocolate tem mesmo de provar o Doce vs Salgado. Os diferentes sabores contrastantes, aromas e texturas tornam esta sobremesa quase tão surpreendente quanto saborosa.
O contraste de aromas também foi promovido na pêra com a crocância e untuosidade do crumble de frutos secos, a acidez do Porto, a frescura do gelado e a orientalidade sorridente das especiarias. O Quinta do Vallado 10 anos (88 pts.) pincelou frutos secos, castanha caramelizada e laranja confitada nas sobremesas.
A manhã seguinte amanheceu com um pequeno-almoço que nos fez ... sorrir ;) O que a luz do sol é para as flores, os sorrisos são para a felicidade dos que connosco convivem. Estas lamechices parecem apenas pequenas ninharias, mas estes sorrisos espalhados ao longo da vida, fazem um bem inimaginável ao modo como nos relacionámos. Podia tecer muitos comentários acerca Porto A.S. 1829 Hotel, no entanto, e como uma imagem vale mais que 1000 palavras (não concordo muito com esta frase, mas agora fez-me jeito ;)), os sorrisos das minhas princesas, com que iniciei esta publicação, são uma marca indelével do que lá sentimos.
Façam lá o favor de sorrir, o karma acabará por vos retribuir, e passarão a fazer daquele irreal mas penetrante e emocionante universo, que é o mundo visto pelos olhos do amor.
Obrigado Luís Esteves pela agradável (e sorridente) conversa durante o jantar ,)