"As cores até podem ser diferentes, mas a luz é a mesma."  Jalaladim Maomé Rumi

Dionísio, o deus do vinho, da festa e do êxtase na mitologia grega, é (re)lembrado pela sua habilidade única de reunir num só copo de vinho, toda a diversidade dos sabores da vida.

Reza a lenda que, ao percorrer os vales e colinas da Grécia, Dionísio plantava videiras em cada canto do território, desde os solos secos e arenosos das ilhas até as encostas mais férteis das montanhas. 

Com o decorrer do tempo, todas essas videiras, embora criadas pelo mesmo toque divino, começaram a expressar as características únicas dos locais onde cresciam.

As uvas amadureciam sob diferentes incidências de luz solar, em solos com minerais distintos e sob influências de ventos variados. Assim, cada região passou a produzir vinhos com cores, aromas e sabores muito próprios, mas que mantinham a essência de Dionísio: o espírito de celebração e transformação que o vinho proporciona.

Essa lenda simboliza a dualidade entre diversidade e unidade essencial, onde múltiplos tons coexistem sem perder a alma que os une. E é essa mesma filosofia que inspira a crítica de hoje aos vinhos, dois brancos e três tintos, da Ravasqueira.

 Com um terroir tão vasto e complexo, a Ravasqueira explora minuciosamente cada micro clima das suas vinhas, procurando extrair o máximo de expressão de cada lote. Para tal, procura trazer à tona vinhos de expressão única, mas que compartilham o espírito e a alma do terroir da Ravasqueira.

O Ravasqueira Alvarinho 2023 (16,00€; 91 pts.), tem a particularidade de ter sido um dos primeiros Alvarinhos a ter origem no Alentejo. As uvas foram vindimadas em três zonas específicas de dois blocos da Vinha do Monte. Sem madeira e apenas sob influência de baixas temperaturas e battonage regular, este vinho encontrou a melhor maneira de exprimir toda a sua frescura, intensidade aromática, textura e potencial de guarda. De cor amarela esverdeada passa para o nariz com acácia lima, maracujá, líchia, casca de laranja, pimenta branca e ligeira pedregosidade. Na boca é seco, alegre e fresco.

Ainda nos brancos, o Vinha das Romãs Blanc de Noirs 2023 (20,90€; 90 pts.) tem origem na parcela icónico da Vinha das Romãs. As raízes da nova Vinha das Romãs encontravam-se entrelaçadas com as raízes das romãs que ali ficaram a enriquecer o solo. O que sobrou das raízes das romãs tonaram esta vinha muito particular pelo impacto que tiveram no solo. As uvas foram colocadas manualmente na prensa onde os cachos inteiros foram prensados. Fermentação até 1/3 da fermentação em cubas de inox e a partir deste momento em barricas novas de carvalho francês onde o trabalho de battonage foi prolongado durante 6 meses. De cor amarela cítrica, exibe notas muito bonitas de pêssego, frutos silvestres, tosta e baunilha. Na boca tem uma acidez acutilante, é seco, profundo e untuoso.

Passando para os tintos, o Ravasqueira Reserva da Família 2020 (20,90€; 90 pts.) é produzido unicamente a partir de zonas seleccionadas da vinha. De perfil autêntico e internacional, reflectem o carácter especial das castas no terroir da Ravasqueira, em conjunto harmonioso e com estágio prolongado em barricas de madeira. De porte violeta quase opaco mostra no nariz cassis, pimento vermelho, violetas, pimenta preta e cedro. No palato é seco, austero, fino e longo. 

Por sua vez o Ravasqueira Superior 2021 (20,90€; 90 pts.) é destinado aos consumidores que procuram diariamente grandes combinações de sabores e aromas. Com um perfil moderno e elegante, mostra todo o carácter do Alentejo e das castas em lote, em combinação com estágio em madeira. Rubi denso no copo, revela no nariz ameixa preta, amora, baunilha, pimenta preta e cacau. Na boca é seco, maduro, denso e muito gastronómico. 

Por último, o  Ravasqueira Vinha das Romãs Tinto 2020  (20,90€; 92 pts.) é proveniente da mesma vinha que vos falei no início e resulta de vindima manual, escolha rigorosa, vinificação em lagares abertos com pisa automática e elevada extracção e estágio em barricas novas de carvalho francês durante 20 meses. Todo este tratamento resultou num vinho rubi quase opaco, que nos brinca com notas de ameixa, amora, cassis, pinho, sous-bois, hortelã-pimenta  e caril. Na boca é seco, sumarento, elegante e muito equilibrado. É difícil encontrar tanto por este preço.

Assim, a cada taça de vinho Ravasqueira, seja de um tinto profundo ou de um branco mais cítrico, percebe-se a união de diversidade e essência, numa celebração à autenticidade, tal como Dionísio desejaria. Seja feita a sua vontade ;)