Sunset Wine Party 2018 | 38 anos e um livro
"A vida podia ser apenas estar sentado na erva, segurar um malmequer e não lhe arrancar as pétalas, por serem já sabidas as respostas, ou por serem estas de tão pouca importância que descobri-las não valeria a vida de uma flor. O homem primeiro tropeça, depois anda, depois corre, um dia voará ... que seria de nós se não sonhássemos?" José Saramago
Na semana passada tiveram inicio as tão afamadas Sunset Wine Parties do The Yeatman hotel. Com uma vista idílica sobre o rio Douro e com o pôr do sol como pano de fundo, as Sunsets deste hotel são uma combinação de diferentes e variados prazeres: alguns dos melhores vinhos nacionais, petiscos variados e um DJ para animar a festa. Tudo isto, como é habitual, ocorre num lugar de ambiente descontraído, mas com muito glamour.
Este primeiro evento reuniu mais de 600 pessoas para celebrar o verão ao sabor dos melhores vinhos e petiscos nacionais. Desde 2014 que temos tido o prazer de participar em tão sedutor evento, e também por isso fomos capazes de testemunhar a subida quase vertiginosa na qualidade destas Sunsets. Acredito verdadeiramente que a epítome foi mesmo a edição de 2018: desde o aumento do espaço, até à inclusão de lugares sentados para todos, passando pelo extremo cuidado no serviço.
Mas existiram ainda mais surpresas. Para assegurar pequenos momentos de descontracção, as terapeutas do Spa Vinothérapie® Caudalie proporcionaram massagens de mãos e conselhos de beleza personalizados.
O vinho, fazendo justiça ao nome do evento, foi um dos destaques desta Sunset Wine Party 2018: desde os espumantes aos vinhos do Porto, passando pelos brancos frescos de verão e pelos tintos mais leves. Este ano, essa vertente vínica foi acentuada (e ainda bem) com um espaço de prova, em que 25 produtores puderam apresentar os seus vinhos para o verão.
Voltando à comida, para aguçar o apetite apareceu mais uma vez o Chef Ricardo Costa que, num formato bastante informal e descomplicado, apresentou uma selecção de petiscos que incluiu uma ampla selecção de saladas, queijos e enchidos, saladas, mariscos, ostras, e buffet de pratos frios e quentes, além de sobremesas, que acompanharam, na perfeição, os vinhos em prova.
Um desses vinhos, o Fagote Reserva Branco 2017 emprestou fruta tropical, citrinos, mineralidade e alegria mineral aos cachorros da Cervejaria Gazela e às sandes de cabrito, leitão e porco, que por sua vez vieram acrescentar diversidade à oferta do chefe Ricardo Costa.
Nos tintos gostei muito de dois vinhos. O primeiro, o Sagrado Reserva 2015 despertou a minha atenção devido ao perfume elegante, multifacetado, ligeiramente desenvolvido e transparente. Discreto, com frutas secas, groselha preta e cereja pouco madura.
A madeira acrescenta complexidade e "tempera" a fruta. O palato encorpado realça o aroma de ervas, sabor fumado e uma brisa a café deliciosa. Os taninos suaves trazem uma sensação de suave adstrigência e a frescura ácida completa a estrutura equilibrada. Despede-se longo, saboroso e vibrante.
No entanto, o tinto que mais destaco é o Quinta do Perdigão 2012. Uma mistura clássica do Dão, incluindo Alfrocheiro e Jaen, muito madura, firmemente tânica e bastante mineral. Tem peso e densidade, com a estrutura rica em madeira envelhecida, e embalada com taninos sólidos e equilibrada pela excelente acidez, cereja e ameixa.
Exibe ainda, com orgulho, aromas a pinho, sous-bois, chocolate e pimenta preta. É muito complexo, intenso, elegante, longo e equilibrado. Por tudo isto, acredito que o melhor deste vinho ainda está para vir.
Para último, 38 anos e um livro :-P
Em 1980 estavamos em plena Guerra Fria, surgiam os primeiros computadores, Michael Jackson, Madonna e David Bowie começavam a ser idolatrados. John Lennon, imagine-se, é assassinado, a SIDA começa a ser um problema, a jovem princesa Diana é finalmente aceite pela família real britânica e a CNN nascia como canal televisivo. José Saramago publicava o Memorial do Convento. Eram colhidas as uvas do Moscatel 1980 edição especial Siza Vieira.
Respeito todos os vinhos, mas os que me conhecem, sabem que respeito ainda mais os (vinhos) mais velhos que eu. No Memorial do Convento, Saramago questiona a natureza humana, o verdadeiro sentido da vida e de como devemos evoluir para sermos verdadeiramente livres. Todos nós, como um bom vinho, primeiro sonhamos, em seguida tropeçamos, depois andamos, posteriormente corremos, para que um dia possamos voar ( quiçá numa Passarola ;)).
É precisamente aqui, que encontro um paralelismo entre o evento, o vinho e o livro. Em todos eles somente o tempo vivido e acumulado ("e apenas ele, do ponto de vista humano, é tempo «de facto»") permitiu que se enriquecessem, complexacem e evoluíssem num crescimento contínuo. O Moscatel Favaios 1980, depois de sonhar ombrear com os grandes de Setúbal, começou agora a voar: Muito denso, cítrico, equilibrado, rico e doce, mas sem exageros. O estágio em madeira deu-lhe cedro, mel, noz, uvas passas, figos secos e cacau. Um vinho untuoso, cheio, fresco e equilibrado.
Que seria de nós se não sonhássemos? Os próximos voos já têm data marcada para 23 de Agosto e 27 de Setembro, sendo já possível adquirir entradas através do site de eventos do hotel. Apareçam e tirem umas fotos giras connosco ;)