Sunset Wine Party The Yeatman Hotel | De alma aberta e o coração a cantar
"Existia apenas escuridão na Terra e só as estrelas pequenas é que brilhavam! Mas havia também uma indiazinha que se chamava Lilandra e gostava de dançar em homenagem àquela estrelinha tão fraquinha e rosada que aparecia no céu. Muitos índios não entendiam porque ela fazia aquilo. Eles achavam que ela estava a provocar a ira dos Deuses que davam comida e abrigo para a aldeia. Por causa deste assunto foi feita uma reunião, na qual participaram também os pais dela, e decidiram que se ela dançasse de novo seria severamente punida, pois ela estava a colocar toda a aldeia em risco. De nada adiantou alertá-la, pois ela continuava a dançar e ainda dizia:
«Sabem...? Um dia aquela estrelinha será muito forte e vai iluminar todo o mundo!!!»
Isso irritou muito o chefe da tribo que decidiu puni-la, afastando-a da aldeia.
Ela foi andando para longe, e chorava muito. No meio da floresta parou perto de um riacho. Os seus olhos ainda estavam carregados de lágrimas. Olhou para a água e viu o reflexo da estrelinha. Com uma tristeza enorme, Lilandra saltou de encontro ao reflexo e nunca mais saiu daquele riacho." Lenda Indígena
O Mário Quintana escreveu uma vez que quando vamos fazer qualquer coisa que realmente gostamos, deveríamos de sair à rua como quem foge de casa. Como se estivessem abertos diante de nós todos os caminhos do mundo. Não importa que os compromissos, as obrigações, as rotinas estejam ali ao virar da esquina...
Sempre que saio em direcção ao The Yeatman Hotel carrego comigo muitos sonhos, vou de alma aberta e com o coração a cantar. Porque sei que algo bom, algo muito bom se aproxima...
A última vez que "fugi de casa" foi na semana passada aquando da primeira The Yeatman Sunset Wine Party deste Verão.
O cenário é aquele que já vos falei algumas vezes... Por muito tempo que tenhamos para contemplar a vista magnifica que tem valido ao Hotel um sem número de prémios, nunca há tempo suficiente para saciarmos a sede insaciável da alma faminta.
A organização deste tipo de eventos é das melhores que podemos encontrar em Portugal, nada falha, exclusividade, requinte e sobretudo muita qualidade. O que não é nada fácil devido ao número cada vez maior de pessoas participantes. O conceito continua a ser o vencedor, reunir uns amigos em torno de grandes vinhos, boa comida e muita, muita animação. Para que a experiência fosse arrebatadora ocupou-se todo um piso do Hotel, as suas bonitas, requintadas e charmosas salas e claro o famoso terraço com as suas sempre disputadas mesas e vista privilegiada sobre a cidade do Porto, o leito do rio, a Ponte D. Luís e para o pôr do sol. Este ano o espaço foi alargado, o que permitiu que a atmosfera fosse ainda mais descontraída e funcional.
Nas comidas, o chef Ricardo Costa continua a atingir o grau de excelência inúmeras vezes, com uma característica que penso, em Portugal, ser só dele, a complexidade e longevidade do sabor. Muita das vezes (as vezes em que toca o céu), o prato apenas fica completo na boca de quem tem o prazer e o privilégio de o provar. É uma construção mutante, um bouquet que se vai transformando, separando e diminuindo de complexidade ao longo do tempo, acabando, no final por funcionar. Um pouco como o retrogosto que podemos encontrar num bom vinho. Exemplo disto foi o seu entrecôte de boi assado com ervas, cevadinha de vegetais e molho bérnaise, muito, mas mesmo muito bem conseguido.
Poderíamos pensar que neste género de eventos a qualidade baixa, eu penso exactamente o contrário, é também em encontros mais casuais como este que mostramos que merecemos uma estrela Michelin, e o Ricardo merece-a...
Nos vinhos vou destacar um branco, um espumante, um tinto e um vinho do Porto.
Só para terem uma noção da qualidade dos vinhos que por ali são servidos, o valor total destes quatro vinhos (e estes não são os mais caros) ascende a mais de 100 euros, o bilhete custa 65...
Dona Berta Rabigato Vinhas Velhas 2015: Apresenta uma cor âmbar e muito brilhante. O nariz é delicado, vegetal, com brisas de limoeiro, maçã verde, ervas secas e a madressilva. No palato é bem estruturado e destaca-se pela deliciosa acidez citrina conferida pela Rabigato. O final é aveludado, completo, sedutor e longo. Vai adquirir complexidade com o envelhecimento. Boa para beber já, melhor ainda para guardar na garrafeira :-P
Murganheira Millésime: Apesar de não ser fã de espumantes, este encheu-me completamente as medidas. Muito elegante, delicado e dócil, adquiriu complexidade e requinte com a Pinot Noir e a Chardonnay. O aroma mostra pinceladas certeiras a citrinos, vegetais, minerais, fumo e a canela. O que mais me marcou foi o equilíbrio impressionante na boca, aguerrido mas com muita presença, classe e um toque de soberba.
A perlage é tão nobre que parece que estamos na presença de um Champange.
Quinta Nova Reserva Tinto 2013: Um dos grandes do nosso Portugal. A sua cor vermelha violeta sedutora conquista-nos logo pelo mistério que carrega. No nariz cresce de uma maneira verdadeiramente impressionante, exibindo aromas de fruta preta, azul e vermelha muito madura, com nuances de esteva, tosta e especiarias.
No boca entra com enorme densidade, taninos sedosos e bem harmonizados.
O final é complexo, dilatado, grandioso, harmonioso e bastante denso. Boa para envelhecer connosco...
Porto Taylors Tawny 20 Anos: Sem margem para dúvidas, o melhor vinho do evento. O seu traje de gala âmbar-aloirado transporta aromas poderosos, complexos e densos de fruta em compota, especiarias, mel, caramelo e frutos secos. As suaves notas a toranja e madeira de qualidade são resultantes dos 20 anos de envelhecimento em casco. No palato é voluptuoso, rico e concentrado proporcionando um final macio, harmonioso, complexo, longo e requintado.
Têm mais duas oportunidades para viverem esta experiência única e comprovarem in loco, que a profecia de Lilandra se concretizou, 25 de agosto e 29 de setembro, não as percam.
Voltando à lenda com que comecei este post, ela reza que depois do desaparecimento de Lilandra, aquela estrela pequenina tinha agora um brilho tão forte que os índios que olharam para ela ficaram cegos. Essa tribo desapareceu completamente...
Lilandra ainda está com o Sol... É só fechar os olhos quando o Sol estiver a põr-se e sentirão alguém passando em torno dele... ela estará sempre lá, para proteger aquela estrelinha que nos dá luz e calor... Penso que a senti ao contemplar o pôr do sol enquanto conversava com o Porto Tawny Taylors 20 Anos.
Um brinde a ti Lilandra, e outro a ti também Edite, obrigada pelo convite (a rima era demasiado fácil para não a fazer :-P)
#sunsetwineparty
The Yeatman Hotel
Eventos:
Créditos de algumas fotos: Flavors & Senses