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No meu Palato

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The Yeatman | A 10ª sinfonia em amor maior

“A vida é como um piano. As teclas brancas representam a felicidade e as pretas a angústia. Com o decorrer do tempo percebemos que as teclas pretas também fazem parte da música.” Nicholas Sparks

The YeatmanPoderá um génio musical ajudar a acabar uma sinfonia, mesmo estando morto?  Ludwig van Beethoven, nascido em 1770, era conhecido em Viena como o músico mais importante que havia aparecido desde Wolfgang Amadeus Mozart (outro grande génio). Por volta dos seus 20 anos, Beethoven já havia estudado com Haydn (um dos maiores compositores do período clássico) e assumido para si o título de pianista mais virtuoso de sempre.

The YeatmanNa transição para os 30 anos, compôs alguns concertos para piano, seis quartetos de cordas e a sua primeira sinfonia. Tudo parecia estar a correr de feição para este jovem compositor, com a perspectiva de uma carreira longa e carregada de sucesso. É então que repara no aparecimento de um pequeno zumbido nos seus ouvidos. Tudo estaria prestes a mudar... Em 1800, com 30 anos, escreve, desde Viena, para um amigo de infância médico em Bonn, revelando-lhe que estava a sofrer muito: 

The Yeatman"Nos últimos 3 anos, a minha audição ficou cada vez pior. Para te dar uma ideia desta surdez peculiar, quando estou num teatro tenho que me aproximar muito da orquestra para conseguir entender os seus intérpretes. A partir de uma certa distância, pequena, não consigo ouvir as notas agudas dos instrumentos e as vozes dos cantores ... Às vezes também quase que não consigo ouvir as pessoas que falam baixinho. O som que ouço, sei que é verdadeiro, mas não as palavras."

The YeatmanCom a excepção deste amigo médico, Beethoven tentou ocultar o seu problema das pessoas mais próximas, pois temia que sua carreira fosse comprometida caso alguém se apercebesse daquilo que se passava com ele: "Por 2 anos, evitei quase todos os encontros sociais porque é-me impossível dizer às pessoas: «Estou a ficar surdo!!!» Se eu tivesse qualquer outra profissão seria mais fácil, mas na minha, este é um estado terrível."

The YeatmanCerto dia, Beethoven saiu para um passeio pelo campo com seu amigo e compositor Ferdinand Ries, algo que fazia frequentemente. Enquanto caminhavam, repararam num pastor que estava a tocar flauta. Beethoven apercebeu-se no rosto de Ries que havia uma bela música a passear-se no ar, mas ele não a conseguia ouvir. Diz-se que Beethoven nunca mais foi o mesmo depois deste incidente...

The YeatmanHá quem defenda que Beethoven ainda fosse capaz de ouvir alguns barulhos e certas notas musicais até 1812. Mas todos concordam que aos 44 anos, ele estaria perto da surdez completa e incapaz de ouvir vozes ou os sons rurais da sua bela e amada região. A causa exacta deste problema permanece desconhecida. 

The YeatmanNo entanto, e para não variar, existem inúmeras teorias que vão desde a sífilis ou tifo até ao envenenamento por chumbo, passando pelo seu hábito, peculiar, de mergulhar a cabeça em água fria para se manter acordado. Para Beethoven, a causa era outra, certo dia ele afirmou a alguns amigos próximos que em 1798 havia sofrido um ataque de raiva, quando alguém interrompeu abruptamente o seu trabalho. 

The YeatmanTendo caído no chão com o susto/surpresa provocado pelo barulho do bater na porta, levantou-se e percebeu que estava surdo. Curiosamente na sua afamada Sinfonia nº 5, escrita em 1804, procurou retratar esse momento infeliz. A sua fase inicial é frequentemente denominada como "O destino batendo à porta"; do outro lado estava a cruel perda de audição que o afligiria para o resto da sua vida. Coloquei o link desta composição para que possam perceber a carga dramática que a mesma comporta, chega mesmo a ser emocionalmente cansativa... 

The YeatmanAté esta fase de perda gradual de audição, Beethoven havia passado 30 anos a ouvir e a tocar música, quase 18 horas por dia. Toda esta "bagagem musical"  fez com que ele soubesse perfeitamente (e detalhadamente), mesmo quase surdo, como os instrumentos e as vozes iram soar, assim como se os mesmos funcionariam quando em conjunto. No entanto, esse processo degenerativo, ficou bem vincado nas suas melodias. 

The YeatmanNos seus primeiros trabalhos, quando Beethoven conseguia ouvir quase toda a gama de frequências, ele utilizou sobretudo notas mais altas. Quando começou a perder audição, ele passou a usar notas mais baixas para que as pudesse ouvir mais claramente.  Obras primas que incluem a Sonata ao Luar e seis sinfonias, foram escritas neste período.

The YeatmanAs notas altas voltaram, felizmente, a fazer parte das suas composições, numa possível Sinfonia nº 10, já na parte final da sua vida, o que parece querer indicar que ele estava a conseguir ouvir mentalmente as suas novas criações, usando não os ouvidos, mas a sua imaginação (aqui fica uma dessas composições, que Beethoven só conseguiu "ouvir" interiormente). Morre aos 56 anos antes de poder terminar esta última sinfonia, a sinfonia do (seu) adeus... Passados quase 194 anos da sua morte, as nove sinfonias de Beethoven continuam a ser maior/melhor colecção desta forma musical alguma vez criada. Para muitos, isso é o suficiente: nove peças magníficas reconhecidas como a maior conquista daquele género musical. 

The YeatmanPara outros, continua a faltar uma, provavelmente a melhor, a do adeus do génio... Esta sinfonia inacabada de Beethoven foi surpreendentemente acabada, em sol maior, através de inteligência artificial, usando um supercomputador que "aprendeu" (por machine learning) tudo aquilo que Beethoven fez, contando ainda com a preciosa ajuda dos rascunhos que o alemão deixou para esta 10ª Sinfonia.  A sua apresentação estava planeada para Dezembro passado no âmbito das celebrações do 250º aniversário do nascimento do compositor, em Viena. 

The YeatmanO COVID não deixou que isso acontecesse e a sua "primeira audição" pública foi adiada para Setembro deste ano, o que faz sentido, uma vez que é o mês no qual se celebra o aniversário de outro grande génio. :P A história da vida de Beethoven mostra-nos que tempos difíceis, como os que vivemos, exigem atitudes resilientes e persistentes, que demonstrem capacidade de adaptação e inovação, capacidade essa que transformará as adversidades em algo recompensador, viável e quiçá até vencedor. 

The YeatmanAo contrário do que a maioria das pessoas faria, Beethoven materializou a sua experiência em acção, não a escrever comentários azedos nas redes socias (até porque as mesmas não existiam ;)) ou gritar com os filhos do vizinho, mas a compor músicas que universalizaram não só os seus problemas com também as possíveis soluções. Mostra-nos ainda, que mesmo em tempos complicados, aliás, sobretudo em tempos complicados, como os que vivemos, a alegria, a vida e o amor, não devem, não podem, deixar de ser celebrados...  

The YeatmanFoi para vangloriar tudo isso e recuperar (boas) energias (e sinceramente também para fugir com as crianças desta rotina pandémica que já leva uns bons meses) que passamos uns dias maravilhosos e recompensadores no The Yeatman. O hotel vínico, ofereceu-nos uma experiência verdadeiramente epicurista, cumprindo sempre e rigorosamente todas as normas/recomendações exigidas pela Direcção-Geral de Saúde e Turismo de Portugal, de modo a nos manter seguros.

The YeatmanQuem me conhece sabe que fico sempre com umas "borboletas na barriga" quando visito o The Yeatman devido à sua essência de sempre: prazer, bem-estar, luxo casual, os vinhos portugueses, a gastronomia de excelência, o serviço exemplar e uma vista privilegiada para as margens do rio Douro. Podemos ainda usufruir da icónica piscina interior, e assistir ao pôr-do-sol sobre o rio, que pinta o céu e a cidade em tons mágicos. 

The YeatmanEm complemento, desfrutamos de um momento de pura tranquilidade e bem-estar, com os tratamentos de assinatura Caudalie no SPA do hotel, ideais para recuperar não só o corpo como também a mente. A jornada de puro prazer continuou com um momento gastronómico. Depois de já conhecermos o Restaurante Gastronómico e o The Orangerie, desta vez tivemos o prazer de experimentar o Dick’s Bar & Bistrô, com os seus generosos terraços, de onde é possível ir acompanhando o cair da noite sobre a cidade e a sua iluminação muito particular. 

The YeatmanA acompanhar os pratos de abordagem mais tradicional e com a assinatura do Chefe Ricardo Costa, a carta de vinhos abre as portas da premiada garrafeira do hotel, com mais de 1.300 referências, das quais destacamos o assombroso Croft Vintage 1960... Se achavam que os momentos gastronómicos já haviam chegado ao fim, é porque ainda não conhecem o The Yeatman. ;) Depois de uma reconfortante noite na Suite Murganheira (com um duplo terraço privado mobilado, uma espaçosa casa de banho e inúmeros sofás e poltronas), bastante luminosa, requintada e com vistas deslumbrantes sobre o rio Douro e o centro histórico da cidade do Porto, era chegada a hora do pequeno-almoço... 

The YeatmanEm sintonia com a estupenda vista sobre o Porto, o The Yeatman ofereceu um pequeno-almoço variado e rico em produtos locais, que vão desde compotas caseiras até uma apetitosa tábua de queijos, passando por uma criteriosa selecção do que de melhor se faz ao nível de pastelaria. 

The YeatmanNo entanto, e como não poderia deixar de ser, os meus pratos preferidos foram os Ovos Mexidos com espargos e bacon tostado e Ovos Benedict com molho holandês. Para finalizar de forma única e em plena consonância com o requinte do hotel, o leve aroma a peixe fumado e caviar criam o ambiente ideal na hora de brindar com uma flute de espumante, no final deste delicioso pequeno-almoço.

The YeatmanVoltando a Beethoven, o génio alemão deixou-nos ainda como legado a Ode à Alegria (criada na fase em que já sentia as complicações auditivas), com uma mensagem de alegria, esperança e optimismo, mesmo em épocas de crise, como a que vivemos. Ode essa que serviu para nos unirmos, 250 após o seu nascimento e em tempos de confinamento, para celebrar o seu aniversário, a alegria e a vida... 

The YeatmanContinuemos na nossa busca permanente pelas teclas brancas da vida como as que encontramos, felizmente, nestes dias no The Yeatman, percebendo que as teclas pretas, infelizmente, também fazem parte da música, o que importa é que não a deixemos parar de tocar, nem que seja só na nossa cabeça e executada por quem amamos ... ;)