Wine Fest 2017 Porto | Ali, um ammor para a vida toda
"Um dia já velhinhos cansados, sempre lado a lado ele vai poder contar, que os pais tiveram sempre casados, eternos namorados, e vieram provar... Que ali, dissemos que era amor para a vida toda, que foi contigo a minha vida toda, que era um amor para a vida toda." Carolina Deslandes
Antes de mais, não há erro nenhum no título desta publicação, quem ali esteve percebe o trocadilho, quem lá não esteve, vai ter mesmo de ler :P
A segunda edição do Wine Fest 2017 Porto juntou cerca de mil apreciadores de vinhos, no Salão Nobre do edifício da Alfândega do Porto. O evento foi um sucesso e a organização anunciou a continuidade com uma nova assinatura: Enóphilo Wine Fest!!!
O Salão Nobre do edifício da Alfândega do Porto recebeu mais uma vez o evento Wine Fest 2017 e encheu-se de apreciadores desta nobre bebida, que tanto une portugueses e tão bem representa Portugal no mundo. Luís Gradíssimo, fundador do Wine Club Portugal e organizador, não podia estar mais satisfeito e garante: “Promovemos a proximidade e a iteração entre produtores e enófilos, as nossas expectativas foram ultrapassadas”.
Estiveram presentes mais de 30 produtores com mais de 300 referências em prova, entre vinhos tranquilos, vinhos espumantes, aguardentes vínicas, Moscatéis e vinhos do Porto, vinhos criteriosamente selecionados que fizeram as delícias dos amantes de vinho. Depois de uma pequena volta pelo salão comecei pelo vinho que mais me despertou o palato.
Enquanto o muro de Berlim caía, fermentavam as uvas do DALVA Golden White Colheta 1989. Tão fresco quanto jovem, "apenas" lhe falta a profundidade e complexidade dos seus irmãos mais velhos. Tem algumas notas a casca de laranja confitada, alperce seco, mel, café, pimenta, noz-moscada e cedro. Na boca é elegante, rico e intenso. É daqueles que vai crescer (e muito) em garrafa.
Nos espumantes vou falar-vos mais uma vez do Ravasqueira Grande Reserva 2012. Continuo a achar a garrafa lindíssima, mas o que mais me encanta é o seu interior. Excelente corpo, mousse muito fina e com sabores delicados a biscoito e pão. O palato é complexo, intenso e cheio de sabores de noz torrada, chá e caramelo seguido de um acabamento bastante longo. Tornou-se no meu espumante favorito :-)
Continuando no Monte da Ravasqueira, é impossível ficar indiferente ao Monte da Ravasqueira Premium Rosé 2015, até pela cor. Parece que emite luz própria, quase como se de uma estrela se tratasse. Tem fruta vermelha bastante perfumada, fumo, nozes, e chocolate (será?). Na boca é austero, seco, carnudo, mineral, longo e cheio de vivacidade. Não deveria ser Premium deveria ser Finesse :-P
Depois a oportunidade perfeita para provar o passado, presente e futuro dos vinhos produzidos por Joaquim Arnaud, de Pavia, no Alentejo. Esta prova especial ajudou a compreender a filosofia que o move, conhecer as suas referências de topo, vinhos de baixíssima produção que reflectem o terroir, entre novidades e raridades que já não estão disponíveis no mercado. Gostei muito dos frutos pretos, cassis, chã, pimenta, tabaco e iodo do Joaquim Arnaud "Arundel 36" 2009.
Do mesmo ano veio o Quinta de Lemos Dona Santana 2009. Gostei da sua fruta preta bastante madura (ameixas e amoras), trufas, anis vegetal (em carvão), pimenta, café, couro e da sua alma especiada. É muito complexo e rico, onde as suas diferentes dimensões parecem estar a tentar um equilibrio. Por tudo isto, tem tudo para ser enorme daqui a uns anos.
Depois, um amor antigo, o Pai Horácio Grande Reserva 2013. Cerejas, morangos, framboesas, mirtilos, amoras e ameixas, todas as frutas bem maduras e sumarentas. Mas o Pai Horácio não se fica apenas pela fruta, tem também canela, noz-moscada, cravinho, resina, caixa de tabaco e sous-bois aliados à madeira deliciosa. É voluptuoso com taninos firmes mas redondos e equilibrados por uma acidez salivante.
O final é intenso, equilibrado, complexo e misterioso. As saudades que eu já estava dele. Nestes doze meses onde não falamos, ganhou uma espécie de palha, terra molhada e baunilha. Está também um pouco mais aveludado. Até daqui a uns tempos Pai Horácio... No ano passado tinha dito que provavelmente ia duplicar de preço, pois bem, duplicou :-P
Seguiu-se uma grande surpresa, tão grande que até tive necessidade de o voltar a provar, depois de já estar nos tintos, o Sem Igual 2015. Os citrinos e notas florais fizeram-me sentir a presença de um Alvarinho, mas estava enganado, numa prova mais atenta surgem notas minerais, vegetais, marmelos (há uma parte de vocês que não me vai perdoar esta nota :-P), maçã verde e maracujá. Com Arinto e Azal tem secura, acidez e corpo que lhe parecem auspiciar um bom futuro. Fiquei muito curioso com o que lhe vai acontecer em garrafa, sobretudo pelo equilíbrio de aromas que já revela.
Da Quinta das Bageiras surgiram as maçãs, laranjas, especiarias, corpo e acidez do Pai Abel Branco 2015 e elegância, cerejas, sous-bois e aromas balsâmicos Avô Fausto Tinto 2013. Dois vinhos com muita personalidade, garra, caractér, complexidade e que vieram da Bairrada muito bem acompanhados por uma deliciosa sande de leitão do Rei dos Leitões :-P
Nesta tarde-noite o meu preferido foi no entanto um blend de Petit Verdot, Cabernet Sauvignon e Touriga Nacional, com 24 meses em barrica de carvalho francês, seguido de mais 12 meses de estágio em garrafa. Mirtilos, amoras, amêndoas, tosta especiada e nozes. Tudo muito intenso. Mesmo com o nariz fora do copo, o olfacto é invadido por aromas muito complementares e impetuosos. Encorpado, complexo, equilibrado, com taninos de pulso e com um final que nunca mais acaba... Provavelmente, o melhor alentejano novo que provei até hoje...
Chama-se AMMA, e AMMA é o acrónimo dos membros da família: António, Marta e os filhos Martim e Alice. Quando o Martim e a Alice ficarem maiores, e quiserem saber melhor, como é que vieram ao mundo, os pais António e Marta vão-lhes dizer com amor, que naquela garrafa, há um ammor para a vida toda... Guardem umas garrafas para quando um dia já velhinhos cansados conhecerem as histórias que ele também guardou :-P
Este vinho é ele próprio uma história, mais uma que conheci na cidade invicta e através dos vinhos. Adoro o anoitecer nesta cidade, assistir aquela névoa fina do final do dia.
As janelas e as estrelas surgem iluminadas, uma a uma. O rio pinta-se com amor e ligeira fumaça, entregando preguiçosamente a sua água ao mar. A lua depois de se espreguiçar ergue-se para pintar tudo de melancolia. Ali, as saídas, as conversas, as gargalhadas, os vinhos e os outonos passam lentamente. Mais tarde, quando o inverno chega e arrefece o copo, é a altura de puxar-mos para o nosso lado o amor que sabemos que é para a vida toda, brindando sob a majestosa luz da cidade. Já dizia Eurípides que onde o vinho faltar não há lugar para o amor , ali houve dos dois :-P
Obrigado Luís e mais uma vez parabéns por conseguires ter sempre vinhos, que me deixam de palato caído :-P